sexta-feira, 12 de março de 2010

Os bons e fortes também morrem

Publicado na edição de 31/12/2009 do jornal Diário da Manhã

Somente o mistério dos desígnios de Deus, para aceitarmos acontecimentos que a todo instante ocorrem nas nossas vidas e que não podem ser explicados pela razão. Aceitamos porque são reais, verdadeiros, mesmo que não tenhamos respostas lógicas para eles. Há pouco tempo o médico e político anapolino, Oscar Soares de Azevedo Júnior, depois de passar alguns dias de descanso em Saquarema-RJ, morreu ao receber cabeçada num choque involuntário com um companheiro de viagem. Fato doloroso, de difícil esclarecimento. Agora, na semana passada, outro fato triste, misterioso, sem nenhuma lógica, abalou a cidade.

O advogado Paulo Antônio Lopes, figura respeitada e admirada em Anápolis, depois de ter vencido doença misteriosa que o consumia paulatinamente, perdeu tragicamente a vida numa fazenda de Porangatu. Paulinho, cidadão exemplar e humilde, desde cedo trabalhou para ajudar a família e manter seus estudos. Enfrentou durante a vida toda desafios grandiosos. Formou-se em direito e com sabedoria e competência exerceu a profissão. Em 1986, na minha primeira administração como prefeito de Anápolis, contei com a colaboração de Paulo Lopes na secretária de Estradas de Rodagens. Foi o tempo em que as rodovias municipais tiveram maior assistência, facilitando o escoamento da produção rural. Era o primeiro a chegar ao serviço e não tinha hora para retornar à casa. Sereno, fala baixa e pausada, firme em suas decisões, comandava com competência sua secretaria. Era amado e respeitado por todos seus subordinados. Desempenhava qualquer missão, mesmo as difíceis e de alto risco, com sabedoria de um veterano no assunto.

Antes de deixar a prefeitura, Paulo Lopes adoeceu. Emagreceu, ficou pálido e anêmico. Sua fraqueza orgânica era indisfarsável. Passou pelos consultórios dos mais competentes e renomados profissionais da medicina no Brasil. Depois de anos de sofrimento e angústia, conseguiu interromper o definhamento causado pela doença. Recuperando a saúde lenta e progressivamente, Paulinho tinha ânimo e prazer em trabalhar.

Esse homem por vários anos esteve entre a vida e a morte e nunca se entregou. Resistiu heroicamente a enfermedidade desconhecida. Num dos raros momentos de descanso, encontrou a morte de forma inesperada e violenta. Foi massacrado por furiosos touros nelores, numa fazenda entre Porangatu e Novo Planalto, no norte de Goiás. Estava lá atendendo convite dos proprietários, que são seus primos. Mesmo não tendo a força de um jovem e traquejo de vaqueiro, fez questão de acompanhar a vacinação do gado no curral. Desconhecia a fúria dos bois que lá se encontravam, atentos às vacas e novilhas no cio, no pasto ao lado. Ao adentrar o curral, a porteira foi fechada. Paulinho não teve como esboçar nenhuma reação de defesa quando os touros partiram na sua direção. Foi praticamente esmagado, ao ser chifrado e pisoteado pelos animais.

Sua vontade de viver, dessa vez foi menor que ferimentos sofridos. Rcebeu os primeiros socorros em Porangatu e de lá foi deslocado para o Hospital de Urgências de Anápolis, onde morreu na tarde de 21 de dezembro. Fatos estranhos e misteriosos como os ocorridos com Oscar Soares de Azevedo Júnior e Paulo Antônio Lopes provam que os bons e fortes também são mortais.

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