domingo, 28 de novembro de 2010

Baluartes do partido, Adhemar e Onaide saem e levam mais 70

Por Cezar Santos, Editor Assistente do Jornal Opção
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Uma saída mais do que anunciada. Na semana passada, o ex-prefeito Adhemar Santillo e sua mulher, a ex-deputada Onaide Santillo, se desligaram oficialmente do PMDB anapolino. São perdas significativas, considerando que Adhemar e Onaide são os dois políticos mais conhecidos da sigla e talvez de Anápolis. Adhemar, por sinal, era o presidente do PMDB, responsável pela organização e, pode-se dizer, coesão interna do partido na última década. Mas a campanha eleitoral que terminou no dia 31 de outubro evidenciou por demais a situação muito difícil do partido em Anápolis, que vem impondo duríssimas derrotas aos peemedebistas.

“Nós nos desligamos oficialmente na tarde segunda-feira, 22, quando entregamos a renúncia”, explica Adhemar Santillo. Mas o casal não saiu sozinho. “Fomos acompanhados por 72 companheiros, que seguiram o mesmo caminho nosso. Desses, 53 pertencem ao diretório. Dos 45 membros oficiais do diretório, saíram 29, além de 13 dos 15 suplentes”, contabiliza.

Teria sido uma desfiliação em massa? Adhemar diz que não: “Nós não fizemos desfiliação em massa do partido, fizemos só a desfiliação dos membros do diretório. Os filiados comuns vão ter outra oportunidade de migrar para onde nós formos. Então ficou a minoria. Mas isso agora é uma questão interna corporis do PMDB de Anápolis.”

Ao falar de seu rompimento com a sigla, o tom de voz de Adhemar trai certa mágoa, mas ele não menosprezo seu ex-partido. “Esperamos que aqueles que ficaram, até por imposição legal, já que quem tem mandato não pode sair, façam o trabalho deles. Eu vou fazer a política que sempre fiz. Espero entrar num partido onde eu possa pelo menos ter condição de dialogar de igual para igual com seus integrantes.”

E para onde iriam Adhemar, Onaide e companhia? Segundo e ex-prefeito, não falta destino. “Posso dizer que desde o partido comandante da política goiana hoje, do qual Marconi Perillo é o maior líder, que é o PSDB, até os outros aliados, qualquer um pode ser nossa opção. Resolvemos sair, em primeiro lugar, e agora vamos começar a discutir nosso destino.”

Adhemar Santillo diz que não há pressa em procurar abrigo partidário neste momento. “Não temos muita pressa para isso, porque vários dos companheiros que nos acompanharam querem ser candidatos em 2012, mas o prazo para estar filiado a um partido é até outubro de 2011, para poder disputar a eleição em 2012. Então até janeiro estaremos dialogando para escolher o melhor caminho a seguir.”

O ex-prefeito e ex-presidente do PMDB de Anápolis informa que os dissidentes anapolinos já foram procurados por várias siglas partidárias. “Temos alguns convites. Vários partidos nos procuraram, mas tenho dito aos companheiros que qualquer decisão só será tomada depois que tivermos uma conversa com o governador eleito Marconi Perillo, a quem apoiamos no segundo turno da eleição.”

Uma coisa é certa, Adhemar e Onaide Santillo devem ter a companhia de peemedebistas ilustres de outros municípios na nova sigla que vierem a escolher. Ele informa que já conversou com Juarez Magalhães Júnior, ex-prefeito de Cristianópolis (1997-2000 e 2001-2004), e com Ney Moura Teles. “Só não falei ainda com o Luiz Bittencourt, mas a tendência é que eles tomem uma posição em conjunto, idêntica à que vamos tomar em Anápolis.”

Segundo o ex-prefeito, o momento é de dialogar. “Vamos conversar muito não só com partidos, mas também com esses companheiros, para seguir um mesmo rumo. Aliás, várias lideranças do PMDB no Estado estão apenas esperando a nossa decisão para também se manifestar. Não temos feito nenhum proselitismo nesse sentido, mas sabemos que há essa tendência. Vamos trabalhar entre nós e escolher em conjunto aquela que for a média do pensamento do pessoal, para definirmos um partido.”

Peemedebistas históricos, Adhemar e Onaide Santillo, que tinha sido candidata a deputada, aderiram ao tucano Marconi Perillo, que disputava com Iris Rezende, da coligação PT-PMDB. E por que o apoio ao adversário do PMDB? “Apoiamos Marconi em função das divergências que tivemos pelo comportamento de Iris Rezende. Na campanha ficou claro que Iris tem a síndrome da velhice. Ele faz novas amizades e simplesmente descarta os antigos companheiros, foi o que aconteceu em Anápolis.”

Adhemar reclama do que considera ingratidão de Iris Rezende. “Demos um duro danado na campanha, fomos a cada lugar pedindo voto para Iris e para Dilma Rousseff. E passado o primeiro turno ele nem sequer nos deu um telefonema para agradecer pelo menos o trabalho que a candidata a deputada Onaide fez por ele, que o diretório fez.”

O ex-presidente deplora o comportamento do comando do PMDB estadual, que segundo ele se juntou a Antônio Gomide numa campanha insidiosa feita pelo prefeito e por outros petistas, de que o PT teria sido prejudicado porque o PMDB de Anápolis está desgastado. “Não, o PMDB de Anápolis está desgastado pelo desgaste a nível estadual e federal. Ninguém fala aqui que nós fechamos Caixego ou que participamos de rolo com o BEG, que vendemos Cachoeira Dourada. Não tem nada disso contra nós de Anápolis, vem tudo de cima para baixo e atinge a nós todos.”

Outro motivo de mágoa para Adhemar foram as contas feitas por Antônio Gomide e companhia depois do desastre eleitoral do primeiro turno, quando a vitória de Marconi foi acachapante. “O PT ainda veio alegar que os votos que Iris teve no primeiro turno foram votos do PT. Ora, o PMDB desde 1998 tem 22% dos votos em Anápolis, e foi isso que Iris teve no primeiro turno. Isso fez com que nós tomássemos um posicionamento coerente de sair. Não estávamos pedindo cargos, só queríamos respeito por parte dele.”

O ex-prefeito de Anápolis faz um breve histórico para justificar seus motivos em romper com o PMDB. “A derrota do partido em 1998 para Marconi foi natural, qualquer um pode ganhar ou perder. Mas acompanhadas da derrota vieram à tona denúncias que estigmatizaram o partido no Estado todo. Se são verdadeiras ou não, isso fica para a Justiça. Aquelas questões de Caixego, BEG, que foram tão exploradas pela imprensa, tudo aconteceu em função do PMDB ter perdido o poder. Então pior do que a derrota foi o estigma jogado sobre o partido.”

E continua: "E o comportamento do PMDB a nível nacional, hoje muito mais um partido de aluguel do que propriamente que visa chegar ao poder, piorou tudo. O PMDB hoje está satisfeito com os cargos que tem e vai continuar apoiando quem lhe der cargos. É uma política diferente da que aprendi a fazer. Fui formado na oposição, de combate à ditadura. Esperávamos que a democracia nos levasse ao poder e que colocaríamos o poder em função do povo. Infelizmente, a nível nacional não aconteceu. Tudo isso afetou Anápolis, que era o polo da resistência democrática, do qual eu fiz parte, com Fernando Cunha, Henrique Santillo, essa turma toda.”

Adhemar diz que hoje, com essa imagem do PMDB, o partido está fadado a inúmeros insucessos em Anápolis. "Mas nós resistimos, estivemos na trincheira o tempo todo. Eu, por exemplo, cheguei a me distanciar do meu irmão Henrique Santillo, com quem fiz política todos os dias no melhor da minha vida, para ficar ao lado de Iris Rezende e do PMDB. Eu achei que Henrique estava equivocado ao romper. Ele tinha os motivos dele, mas eu não via motivo para afastamento. Mas agora não dá mais, tivemos de sair.”

O alinhamento com o tucano Marconi Perillo é líquido e certo, segundo Adhemar. “Vou conversar com Marconi e procurar um partido da base aliada dele para continuarmos fazendo política em Anápolis. Com já disse, temos um leque de opções. Nos encontramos quando ele veio visitar o túmulo de Henrique Santillo, não tivemos tempo de conversar. Depois ele viajou, eu também. Creio que depois que ele passar pelo burburinho da formação de sua equipe, vai sobrar tempo para que possamos trocar uma ideia sobre a questão partidária e política.”

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (Final)

Contando com 40% do diretório nacional do PMDB e percentual teoricamente semelhante junto aos delegados estaduais, José Sarney imaginou que aquele era o momento certo para impor candidato seu à presidência da República, uma vez que os ulyssistas estavam divididos em três pré-candidatos: Valdir Pires, Álvaro Dias e o próprio Ulysses Guimarães. Sarney acreditava que seu indicado ficaria em primeiro lugar.

Foi escolhido Iris Rezende para representar o grupo Sarney e compor o quarteto que disputaria os votos dos convencionais. Ulysses mesmo com sua base de apoio dividida, continuava o preferido dos aliados. Era o grande líder da resistência democrática. Iris Rezende carregava o estigma da fraca administração de José Sarney. Saiu dos quadros da Arena, onde sempre militou, para se transformar em peemedebista, e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Tancredo Neves. A Constituição Federal, não permitia coligações entre partidos. Os arenistas que haviam formado o PFL e não apoiavam Paulo Maluf, só poderiam participar da chapa de Tancredo, caso o candidato a vice-presidente se filia-se ao PMDB. Assim o udenista bossa nova e empedernido arenista José Sarney se transformou em peemedebista. Ulysses Guimarães, por ser o mais idoso entre todos os candidatos dentro e fora do PMDB, sofria a discriminação do eleitorado, traumatizado com a morte repentina de Tancredo Neves, antes mesmo de tomar posse. A síndrome da velhice o prejudicava.

Realizado o seu lançamento por Brasília, Iris Rezende passou a contatar com as lideranças estaduais do PMDB. O primeiro que visitou foi Henrique Santillo, governador de Goiás. Sonhando com a unidade do PMDB, Santillo lhe disse que não se comprometeria com nenhuma das pré-candidaturas, para ter mais condição de diálogo com todos. Entendia que para o partido ter alguma viabilidade eleitoral naquele pleito teria que marchar unido. Embora se transformando em peemedebista por arranjo, Sarney desgastou tremendamente o partido em todo o Brasil.

Para discutir a pretensão de Iris, várias vezes conversei com Henrique acompanhado de Joaquim Roriz ou sozinho. Em todas as conversas repetia que tudo fez para manter a unidade do PMDB em Goiás e que batalharia pela unidade nacional com força redobrada. Era amigo pessoal de todos os candidatos, mas que nenhum dos postulantes uniria o partido. Defendia a substituição dos quatro postulantes por um único nome que pacificasse e representasse todo o partido. Ulyssista convicto tinha noção que o comandante das Diretas Já, não possuía viabilidade eleitoral. Não queria assistir pacificamente a derrota do PMDB. Para o governador goiano o partido dividido, qualquer que fosse seu candidato sua derrota seria inevitável. Acreditava que naquele momento, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, seria o ideal para aglutinar novamente o PMDB, evitando uma derrota para Collor de Melo.

Enquanto isso Iris Rezende viajava pelos Estados em busca de apoio. Todas as vezes que conversei com ele, reclamava da indagação que lhe faziam:

- E o governador do seu Estado, está lhe apoiando?

Respondia que Henrique Santillo estava lutando pela unidade do partido, com o lançamento de uma única candidatura.

O tempo passava e a unidade pregada e trabalhada por Henrique Santillo não se concretizava. A disputa cada vez mais acirrada e radicalizada. Na quinta feira que antecedeu a convenção, Iris Rezende me procurou para que acertasse o apoio do governador à sua candidatura, pois a unidade pregada por ele não aconteceu. As quatro chapas foram registradas. Fui ao Palácio das Esmeraldas falei com Henrique sobre a solicitação. Me autorizou a dizer que seu voto pessoal seria de Iris Rezende. Essa informação lhe dei num encontro em Brasília, com convencionais favoráveis a sua candidatura, em Águas Claras, residência oficial do governador Joaquim Roriz.

Na convenção Henrique e sua esposa Sônia, ambos delegados titulares, não compareceram. Cedaram as vagas a eleitores de Iris. Aos dois primeiros suplentes, deputados Sólon Amaral e Rubens Cosac, que votaram a favor de Iris Rezende. Encerrada a votação Ulysses Guimarães e Valdir Pires foram os dois mais votados e formaram a chapa peemedebista.

Vencido, Iris Rezende ficou magoado. Disseram-lhe que peemedebistas ligados à fundação Pedroso Horta teriam comemorado sua derrota, num hotel em Brasília. Desse espisódio em diante, conhecidos os resultados da Convenção Nacional do PMDB, o presidente José Sarney perseguiu Henrique Santillo, administrativamente. Não honrou compromisso feito com o governador de financiar o asfaltamento nos municípios de Goiás, pelo programa de Pavimentação Municipal. Esse financiamento foi garantido por Sarney a Henrique Santillo antes da Convenção Nacional. Naquela época a convivência entre Henrique e Iris era boa. Essa atitude do governo federal obrigou o governador a saldar os compromissos com as empreiteiras que realizaram o PPM, emitindo Letras do Tesouro Estadual.

Na disputa para a presidência da República, os peemedebistas goianos liderados por Sarney ficaram contra a candidatura de Ulysse Guimarães. O abandonaram. Apoiaram Fernando Collor de Melo.

Assumindo a presidência, Collor por não ter tido apoio de Henrique Santillo, o persiguiram ainda mais. No primeiro turno Henrique ficou com o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães. A ala de Sarney a favor de Collor. No segundo turno Henrique Santillo esteve ao lado de Lula, enquanto o PMDB de Sarney continuou em Goiás apoiando Collor. Foi Fernando Collor de Melo quem desferiu o tiro final na administração Santillo, ao exigir o pagamento imediato das letras emitidas pelo governo estadual. O governador teve que comprometer quase todo Fundo de Participação do Estado, no resgate das letras. Para completar a persiguição, por capricho político, Collor fechou a Caixego, extrajudicialmente.

Na campanha para sua sucessão ao governo do Estado em 1990, Henrique liberou seus companheiros, mas não participou da campanha. Terminado o pleito, Iris Rezende eleito, Henrique Santillo deixou o PMDB.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (II)

Ulysess Guimarães confirmou a Henrique Santillo que Iris Rezende Machado e Joaquim Domingos Roriz estavam vetados de participarem da sua chapa para o diretório nacional do PMDB. Vetados porque ocupavam cargos de confiança na administração José Sarney. Visando evitar que os vetos afetassem a unidade do partido em Goiás, o governador Henrique Santillo, programou reunião com Iris e Roriz, para decidirem o que fazer.

Não havia muito o que fazer, pois os vetos foram anunciados pela figura mais importante do partido, o presidente Ulysses Guimarães. Até aquele instante se discutia chapa única. Tradicionalmente o diretório nacional era formado por consenso. Não se acreditava que alguém tivesse disposição para desafiar Ulysses Guimarães.

Ficou acertado no encontro de Henrique Santillo, Iris Rezende Machado e Joaquim Domingos Roriz, que o governador não participaria do diretório nacional. Gesto de solidariedade do governador para com os companheiros vetados. Os três ficariam fora para que não houvesse ressentimentos e constrangimentos que pudessem afetar a harmonia existente no PMDB de Goiás.

Contrariado com os vetos, o presidente José Sarney decidiu bater chapa com Ulysses Guimarães. Organizou sua chapa branca. Encabeçou a chapa palaciana, a chapa Sarney, o paraense Jader Barbalho, ministro da Reforma Agrária. Todos os peemedebistas que forma vetados teriam que fazer parte compulsoriamente, da chapa de oposição a Ulysses Guimarães. O governador Henrique Santillo foi comunicado por Iris Rezende e Joaquim Roriz da decisão tomada por Sarney.

Após ouvi-los, o governador argumentou que o que haviam decidido valeria também em relação a chapa comandada por José Sarney encabeçada por Jader Barbalho. Henrique não participaria da chapa de Ulysses Guimarães enquanto Iris e Roriz não figurariam na chapa oficial de Sarney, para que o PMDB garantisse a sua unidade que era sólida em Goiás. Iris e Roriz disseram ao governador Santillo que a presença deles na chapa de Sarney era exigência do presidente. Se eles ficassem fora teriam que deixar os cargos que ocupavam: ministro da Agricultura e governo do Distrito Federal. Henrique Santillo, sentindo o drama dos companheiros vetados por Ulysses, não participaria da chapa oficial do PMMDB, ficando fora do diretório nacional para garantir a unidade do PMDB em Goiás.

As duas correntes fizeram campanha em todo País. A chapa organizada por Sarney obteve praticamente 40% dos votos válidos na Convenção. Isso garantiu as presenças dos auxiliares do presidente da República no diretório do PMDB. Henrique Santillo ficou fora. A partir daquele instante iniciava a divisão profunda no PMDB em todo Brasil. De um lado, Ulysses Guimarães, o grande líder da redemocratização, das Diretas Já e da Assembleia Constituinte; e do outro, o ex-arenista José Sarney, com o poder da máquina adminstrativa e cargos para oferecer aso afilhados políticos.

Com essa nova composição peemdebista foi feita a discussão interna para a a escolha do candidato que representaria o partido na eleição daquele ano, à Presidência da República. A disputa interna para a formação do diretório nacional do PMDB, embora vencida por Ulysses Guimarães, enfraqueceu bastante sua autoridade junto aos peemedebistas. Companheiros históricos, como Waldir Pires e Álvaro Dias, que fizeram parte da sua chapa, pleitearam a pré-candidatura à Presidência da República pelo PMDB, em confrontoa Ulysses Guimarães, candidato natural do partido.

Divisão na base autêntica do PMDB deu a José Sarney chance de lançar candidato seu à presidência. Contando com os 40% dos integrantes do diretório nacional do PMDB e mais os convencionais de todo Brasil que votaram na chapa encabeçada por Jader Barbalho, previa que aquele era o momento de destronar Ulysses Guimarães. Para Sarney não importava a viabilidade eleitoral do seu candidato. O importante era enfraquecer Ulysses dentro deo PMDB. Ou até desmoralizá-lo caso viesse a perder a convenção. Sarney acreditava que Ulysses deixaria a presidência ou se afastaria do PMDB. Sem Ulysses, os adesistas e oportunistas que hoje comandam o partido nacionalmente assumiriam sua direção. Ulysses era estorvo para os que queriam um PMDB para Sarney.

Por isso cresceu o movimento entre os sarneystas para que fosse lançado pré-candidato à Presidência da República...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (I)


Quando em 1980 o Movimento Democrático Brasileiro - MDB foi transformado em Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, Henrique Santillo era o político mais respeitado e influente da oposição em Goiás. Sua vitória ao lado de Juarez Bernardes ao Senado pelo MDB foi espetacular. O triunfo dos dois consolidou a supremacia da oposição junto ao eleitorado no Estado e Henrique Santillo como seu principal líder. Ele que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual era o candidato natural em 1982.

Na organização de PMDB, como Henrique Santillo nunca se preocupou em mandar no partido, ter maioria no diretória regional, embora sendo sua maior expressão política regional, por isso foi marginalizado. Lideranças mais próximas ao senador, principalmente estudantes, professores, artistas, líderes sindicais, intelectuais, líderes comunitários e grupos de esquerda foram ignorados na composição do diretório. Ficaram de fora apesar de todo seu potencial político-eleitoral. Tudo porque Iris Rezende queria a formação de um diretório onde tivesse ampla maioria, pois desejava ser candidato do partido ao governo, em 82. Contrariados com a desconsideração, resolvemos deixar o PMDB para organizarmos o PT.

Após reunião de São Bernardo do Campo, onde o PT fez seu grande encontro nacional, constatamos que embora Lula reprovasse em conversas reservadas a ação dos grupelhos incrustados dentro do partido, na prática os apoiava. Os grupos trotkistas a princípio não aceitavam a via parlamentar. Queriam ser um partido revolucionário. Qualquer político, por melhor que fosse sua atuação, era menosprezado e até desdenhado pelos grupelhos. Mesmo sendo minoria, davam as cartas, definindo o caminho a ser trilhado pelo partido. O Partido dos Trabalhadores, no seu início, era fechado e sem perspectiva de poder. Defendia métodos revolucionários, Nós, os santillistas, retornamos ao PMDB. Optamos desde a primeira hora lutar pela redemocratização dentro dos estreitos limites da lei. Nunca o grupo discutiu a possibilidade de enfrentar o autoritarismo na clandestinidade. Questão de convicção. Não seria em 1980, quando a abertura começava a surgir, que abraçaríamos outro tipo de resistência.

Reingressamos ao PMDB. As articulações internas no partido para que Henrique Santillo fosse o candidato a governador, pelas forças oposicionistas de vanguarda continuaram. Contatos que fizemos junto às lideranças do interior, estudantes, intelectuais, líderes classistas e sindicalistas, sentimos mais uma vez o respeito e confiança que tinham na nossa prática política. Aos poucos notamos que Henrique Santillo mantendo a candidatura, sem maioria entre os convencionais que escolheriam os candidatos do PMDB, dividiria o partido. Os ânimos estavam acirrados e isso poderia provocar divisão irreconciliável. Não queríamos divisão. Nosso adversário não era Iris Rezende Machado, mas sim o representante da ditadura. O candidato da Arena. Henrique decidiu refluir de uma possível candidatura ou simples disputa na convenção que escolheria o candidato a governador do PMDB. Comunicamos essa decisão aos companheiros. Apoiamos integralmente a candidatura de Iris Rezende Machado ao governo, com o empresário Onofre Quinan, em sua vice. Derval de Paiva que estava cogitado para a vice-governadoria na chapa de Iris Rezende, entendeu o valor do acordo, abrindo mão imediatamente da sua postulação. Disputou reeleição para deputado estadual. Sólida parceria foi mantida por algum tempo.

Quando o PMDB nacional foi realizar sua Convenção Nacional para a renovação do diretório, Ulysses Guimarães estava rompido com o presidente da República, José Sarney. A orientação do partido foi para que os integrantes do PMDB que faziam parte do ministério de Sarney, deixassem seus cargos. Iris estava licensiado do governo de Goiás, ocupando o ministério da Agricultura. Apenas Luiz Henrique da Silveira, ministro da Indústria e Comércio, se afastou. Iris Rezende, Roberto Cardoso Alves, Carlos Santana e Jader Barbalho, também ministros peemedebistas, ficaram em seus postos. O mesmo aconteceu com Joaquim Roriz, governador nomeado de Brásilia.

Alguns dias antes da Convenção Nacional, o deputado Hélio Duque (PMDB-PR) encabeçou movimento para que peemedebistas que ocupassem cargos de nomeação no governo Sarney não fizessem parte do diretório. Preocupado com o desdobramento que isso poderia provocar em Goiás, Henrique Santillo foi a Brasília conversar com Ulysse Guimarães. Depois das suas poderações sobre o risco de quebra na unidade do partido no Estado, caso Iris Rezende e Joaquim Roriz ficassem de fora do diretório nacional, Ulysses o tranquilizou:

- Fique tranquilo, isso é apenas um movimento da juventude! Agradeço a manifestação, mas não interfirirá no fortalecimento do PMDB. Estaremos todos juntos.

O governador voltou certo de que tudo não passava de reação isolada de um pequeno grupo de descontentes.

Alguns dias depois, Ulysses Guimarães comunicou a Henrique Santillo:

- Governador, sou obrigado a lhe comunicar que infelizmente não vou poder colocar Iris e Joaquim Roriz no diretório. A pressão é grande e os companheiros não concordam que os que ocupam cargos de confiança no governo sejam integrantes do diretório nacional. Alegam que ficou claro que os que não se afastaram estão muito mais preocupados com os cargos que com a trajetória de lutas do PMDB. Desde já o convido para fazer parte do diretório nacional, representando Goiás.

Querendo de qualquer maneira preservar a unidade do PMDB em Goiás, Henrique Santillo procurou Iris e Roriz para que juntos resolvessem o impasse...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MDB e a volta por cima

A vitória de Lázaro Barbosa para o Senado, em 1974, foi inacreditável. As cassações de mandatos, como a do prefeito de Anápolis, José Batista Júnior; processos e prisão, como os que ocorreram contra o deputado federal Francisco Pinto, por ter discursado contra a presença do ditador do Chile, Pinochet, no Brasil; e as constantes mudanças da Constituição alterando a data para o retorno das eleições diretas para escolha dos governadores, desanimavam até os mais convictos integrantes das oposições. Em 1974 o desânimo abateu companheiros como Anapolino de Faria e José Freire, nossos principais líderes do MDB. Não quiseram disputar as eleições. Participaram ativamente da campanha apoiando outras candidaturas.

Lázaro aceitou ser candidato a senador. No início, adversários, a imprensa e até companheiros o consideravam "candidato simbólico".Com o passar do tempo, sua candidatura foi crescendo, crescendo e, no final, ninguém tinha mais dúvida de sua vitória. Com a eleição de 16 senadores do MDB as esperanças retornaram e o lema de toda a sociedade brasileira passou a ser o de que "vale à pena lutar".

Nas eleições municipais de 1976 o crescimento do MDB, em todo o território nacional, foi gigantesco. Aqui em Goiás, conquistamos importantes prefeituras e a maioria em dezenas de Câmaras Municipais. Em algumas cidades, como Uruaçu, tivemos de lançar mão de três sublegendas para agasalhar as correntes que internamente já começavam a aparecer no partido. Em outras, como ocorreu em Mara Rosa, município vizinho de Uruaçu, disputamos sem nenhuma esquematização. Companheiro foi ao pleito apenas para dar chance aos descontentes.

Fato digno de registro, na campanha de 76, ocorreu em Niquelândia. Jovino Conder, hoje encontrado, com freqüência, nos corredores do Congresso ou gabinetes de deputados e senadores, nos procurou, Henrique Santillo e eu, mostrando-nos seu desejo de disputar a prefeitura daquele município. No dia seguinte, às 18 horas, encerraria o prazo para o registro de candidatura. Queria que indicássemos alguém para providenciar a papelada necessária ao registro. Indicamos o professor Lucas Gonçalves, integrante do Diretório do MDB de Anápolis, que lhe desse assistência técnica e jurídica. Mesmo não sendo advogado, Lucas aceitou o desafio. Na madrugada, saíram para Niquelândia. Quando se aproximavam do local denominado "quebra-linha", Conder, também motorista do Aero Willys, parou o carro, virou-se para Lucas e lhe disse:
-- Agora, você dirige, vou ficar deitado no banco detrás, porque não posso ser visto. Tenho muitos inimigos na cidade.
-- Como você quer ser candidato se você não pode andar pela cidade. Questionou Lucas.
Conder se justificou e Lucas foi para o volante.

Quando chegaram na residência do senhor Manoel Dourado, Jovino saiu rápido do carro e entrou cada adentro. Tentou convencer o anfitrião a se candidatar à vice-prefeito em sua chapa. Diante da resistência de Dourado, passaram a analisar outros nomes. Debruçados que se encontravam, sobre a lista de um possível candidato, apareceu ao local um lavrador, que já tinha vivido tudo que tinha direito e um pouco mais. Convidado por Jovino Conder, aceitou o convite para figurar na chapa emedebista.

Quando o professor Lucas Gonçalves estava começando a preparar os papéis para o registro do vice-prefeito, a esposa do lavrador chegou ao local para dizer, dentre outras coisas, que se ele candidatasse ela o abandonaria. A discussão foi longa. Quando a mulher saiu do local, o lavrador confirmou sua candidatura. Resolvida a questão do candidato a vice-prefeito, era o momento de consolidar a chapa oposicionista com a regulamentação dos documentos do candidato a prefeito. Lucas solicitou a Jovino Conder seu título eleitoral. Surpresa total para o professor e nosso enviado à Niquelândia: o título eleitoral do pretenso candidato era de Rio Maria, no Pará.

Marconi exalta Santillo

Por Nilton Pereira, Editor do Jornal Contexto
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“Estou aqui para prestar mais uma homenagem ao grande estadista que foi Henrique Santillo. Devo a ele muito do que aprendi na lida política e não me canso de enaltecer o grande homem que ele foi”. Com essas palavras, o Governador eleito Marconi Perillo (PSDB) falou a dezenas de pessoas que compareceram ao Cemitério “São Miguel”, na tarde da terça-feira 02, feriado de Finados. Marconi tem na figura de Santillo, seu “padrinho” político, com quem trabalhou desde jovem e pelas mãos de quem ingressou na política disputando, e vencendo, a primeira eleição para deputado estadual.

De acordo com o senador e Governador eleito, Henrique Santillo simbolizava a luta dos “irmãos coragem”. Uma alusão, à época, a “João”, “Duda” e “Jerônimo”, vividos pelos atores Tarcisio Meira, Cláudio Marzo e Cláudio Cavalcante, personagens principais de uma novela da Rede Globo (Irmãos Coragem, de Janete Clair-1970), comparação feita à trajetória política de Henrique e de seus irmãos Adhemar e Romualdo Santillo. “Ele era a materialização da coragem, da bravura e do destemor, enfrentando o forte regime militar que cassou, torturou e perseguiu muitos brasileiros. Santillo sofreu, na pele, a perseguição dos governos militares e, nem por isso, se rendeu, ou foi omisso”, disse Marconi Perillo. Ele lembrou, também, que foi pela instrumentalidade de Henrique Santillo, então vice-presidente do Senado Federal, que ocorreu a histórica vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República, na retomada da democracia no Brasil, com o fim da Ditadura Militar. “Era um homem íntegro, honesto, de um senso humanístico incomparável, além de humilde e solidário para com todos. É por isso que me espelho nele”, alegou Marconi em sua fala.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desrespeito e Ingratidão

Deve ser tática de marqueteiros, mas as constantes agressões de Iris Rezende Machado a Henrique Santillo, usadas para obtenção de prestígio e votos, não tem dado certo. Os eleitores antigos que apoiavam o MDB têm verdadeira adoração pelo político anapolino. Se orgulham até hoje da forma destemida que combatia a ditadura. Foi referência nacional da resistência democrática exercida pelos autênticos do MDB. Os que já o conheceram como governador da mesma forma se orgulham da sua luta, enfrentando com altivez e competência o maior acidente radioativo ocorrido em território brasileiro. O acidente com o Césio 137, em Goiânia, em 1987. Enquanto alguns políticos goianos fugiram do Estado, abandonando a população goianiense, Henrique Santillo enfrentou a catástrofe brava e heroicamente. Enquanto os congressistas em Brasília, discutiam interminavelmente para onde deveria ser levado lixo atômico espalhado pelas ruas de Goiânia, Henrique Santillo determinava sua retirada de madrugada, para o depósito provisório em Abadia de Goiás. Até hoje, depois de 23 anos do acidente, o Congresso Nacional não encerrou a discussão. Não há lei regulamentando a matéria e os rejeitos radioativos continuam no depósito provisório. Na defesa dos goianos discriminados, Henrique Santillo procurou a grande imprensa nacional, protestando contra o crime que estava praticando contra Goiás. Revista Isto É, com sua manchete de capa: Goiânia Nunca Mais! Por baixo um homem ardendo em chamas radioativas, foi exemplo dessa discriminação. Foi duro na resposta à apresentadora Hebe Camargo, que se atrevia a discutir assunto desconhecido até mesmo pela comunidade científica. Henrique Santillo, tão envolvido na solução da catástrofe em Goiânia, não teve tempo para comemorar a realização da etapa do campeonato mundial de motociclismo que aconteceu na mesma época, em Goiânia. Pelo seu excelente conhecimento cultural e comprometimento com os avanços sociais, é o mais querido e admirado político goiano, pela juventude. Agredir um cidadão ético e responsável como foi Henrique Santillo, denigre o detrator e empobrece seu currículo.

Anápolis é um capítulo a parte. Desde a primeira vitória de Marconi ao governo estadual, em 1998, os anapolinos se sentiram atingidos pelas agressões a Henrique Santillo, aplicando a Iris Rezende derrotas cada vez maiores. Grande parte do prestígio de Marconi Perillo no munícipio se deve à sua lealdade a Henrique Santillo. A rejeição que os anapolinos nutrem por Iris Rezendetem tem sido pela forma descortês que tem tratado Henrique Santillo.

No domingo quando ia votar no Colégio Antesina Santana, fui abordado por Divino Eurípedes Batista, antigo companheiro de MDB, indignado com os ataques gratuitos a Henrique Santillo, no último debate com Marconi Perillo, na TV Anhanguera. Depois de lamentar as agressões de Iris, de quem já foi eleitor, acrescentou:

"Quando Iris foi cassado como prefeito de Goiânia, em 1969 e teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, todos nós choramos e lamentamos pelo ostracismo em que foi colocado compulsoriamente pela ditadura de 1964. Iris ficou até 1980 cuidando da advocacia e seus bens pessoais. Não militava ou participava de atividades políticas. Foram vocês do MDB, comandados por Henrique Santillo, que combateram a ditadura e organizavam o partido pelo Estado inteiro. Venceram o pessimismo dos que queriam o fim do MDB em 1974. Deram a volta por cima elegendo pela primeira vez no período ditatorial a eleição para o Senado, com Lázaro Barbosa. Henrique Santillo desde 1974 era o candidato natural da oposição ao governo do Estado. Em 1978, com o "pacote de abril" de 1977, mais uma vez tiraram de Santillo o direito de disputar o governo. Eliminaram ainda uma das vagas ao Senado que foi preenchida por senador sem voto, senador biônico. Henrique Santillo e Juarez Bernardes foram candidatos em sublegendas pelo MDB, enfrentando os arenistas Osires Teixeira, Jarmund Nasser e Jonas Duarte. O MDB venceu e Henrique eleito por ter sido o mais votado. A partir daquele instante não tínhamos mais nenhuma dúvida que o MDB venceria qualquer eleição majoritária em Goiás e que Henrique Santillo era a maior liderança política do Estado. Como nunca se preocupou em ser coronel e dono de partido, quando Henrique Santillo acordou, tinha a liderança e os votos, mas Iris Rezende Machado controlava o diretório estadual do PMDB. Henrique Santillo humildimente, para não estragar as pretensões de Iris desistiu da sua candidatura. Henrique poderia, se quisesse, ser candidato pelo PT. Como não queria fazer concessão à Arena, apoiou Iris, adiando por mais quatro anos seu projeto ao governo. Entregou para Iris partido imbatível em Goiás. Partido que vocês e os companheiros construíram durante os 10 anos em que Iris esteve afastado por força do arbítrio. Agredir Henrique Santillo é agredir quem lhe construiu a casa para voltar a militar seguro na política. Agredir sua memória? É desrespeito! É ingratidão!"

Abraçou-me e foi embora.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Marconi presta homenagem a Henrique Santillo

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Foto: Wagnas Cabral

Debaixo de chuva, Marconi visitou à tarde o túmulo do ex-governador Henrique Santillo, no Cemitério São Miguel de Anápolis.



Depois de repetir o gesto de depositar flores e orar, o governador eleito fez um breve pronunciamento em homenagem àquele que considera o maior inspirador de sua vida pública.

Marconi lembrou do idealismo de Santillo e da sua importância na luta pela redemocratização do Brasil. “Poucos homens tiveram a coragem que ele teve. Foi corajoso e destemido no combate ao regime arbitrário que se instalou no Brasil a partir de 1964. Foi um governador de idéias avançadas, de quem extrai muitos ensinamentos", enfatizou o governador eleito.

"Ele marcou a minha vida pela postura correta e pela retidão de caráter. Morreu pobre porque usou a política para servir e não para dela se servir. Espero poder continuar honrando a herança que tive dele. Sem ele jamais teria conseguido chegar aonde cheguei. Hoje já rezei por ele e o faço sempre porque o admiro e o tenho como um exemplo a ser seguido”, declarou Marconi.

Adhemar Santillo, irmão do homenageado, agradeceu “a solidariedade que o senhor tem tido com a nossa família. Ele certamente está alegre agora com a sua visita e o seu triunfo. Todos nós estamos alegres e satisfeitos por você ter tanta consideração com a nossa família”, agradeceu.