domingo, 31 de outubro de 2010

A reunião que não era reunião

O conselheiro Milton Alves Ferreira, do Tribunal de Contas do Estado-TCE, foi político atuante e influente no MDB de Anápolis. Quando estudante secundarista, destacado líder do grêmio literário Castro Alves, no Colégio estadual José Ludovico. Desportista, exerceu a Secretaria da Liga Anapolina de Desportos. Vereador, vice-prefeito e deputado estadual. Chegou à presidência da Assembléia Legislativa, de onde saiu para o TCE, indicado pelo governador Henrique Santillo.

Fato curioso aconteceu em 28 de agosto de 1973: Milton era o vice-prefeito de Anápolis, quando cassaram o prefeito José Batista Júnior. Transformado o município em Área de Interesse à Segurança Nacional, prefeito passou a ser nomeado pelo presidente da República. Irapuan Costa Júnior, designado o primeiro prefeito nomeado. Decreto presidencial que cassou o mandato de José Batista e suspendeu por 10 anos seus direitos políticos não fez qualquer menção ao vice-prefeito Milton Alves. Não teve seu mandato cassado, nem os direitos políticos suspensos. Não lhe deram posse com a vacância do cargo. Ele também não questionou na justiça seu direito. Truculência praticada com base no AI-5 não era apreciada pela justiça. O AI-5 estava acima da Constituição Federal. Acima do AI-5, só o presidente da República, que possuia poder de aplicá-lo indiscriminadamente! Milton candidatou-se deputado estadual em 1974, elegendo-se ao lado de Henrique Santillo.

O Movimento Democrático Brasileiro era constituído de militantes destemidos. Na Vila Jaiara, a principal referência era José Luis Có, Zé Maneco. Amigo fiel, corajoso e participativo. Quando em 1966, o juiz eleitoral de Anápolis deixou de diplomar o vereador Henrique Santillo, o mais votado naquele pleito com 1.536 sufrágios, sob a alegação de que era fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. Zé Maneco não o deixou sem companhia um minuto sequer. Só se afastou quando Henrique foi diplomado e empossado.

Milton Alves era muito ligado ao Zé Maneco. Morador na Vila Jaiara, mas com amigos por toda cidade. Cearense, conhecia toda colônia nordestina de Anápolis. Organizava as reuniões domiciliares e setoriais. Eram reuniões geralmente com pouca gente. Reuniões de líderes convictos em favor da redemocratização do Brasil. Participantes levavam para sua comunidade os ensinamentos que lhes passávamos. Graças a isso estávamos em todos os setores da cidade. Com as reuniões, o partido estava vivo e ativo. Companheiros sabiam que tinhámos argumentos sólidos contra a ditadura. Milton Alves era um dos baluartes dessa luta. Não tinha preguiça. A qualquer hora e para qualquer reunião que fosse convocado fazia questão de comparecer.

Reunião marcada para o bairro João Luiz de Oliveiro, o candidato a deputado estadual Milton Alves solicitou ao amigo José Maneco que fosse conversar com os companheiros até que chegasse. Naquele mesmo dia participaria de comício em Nerópolis. Chegaria à reunião um poucoo mais tarde.

À tarde, quando Milton já estava em Nerópolis, faleceu um vizinho do proprietário da casa onde a reunião aconteceria. Organizadores do encontro acharam prudente suspendê-la. Não havia telefone celular para que Milton fosse avisado. À noite, Zé Maneco misturou-se com a pequena multidão que participava do velório. Esperava o candidato e amigo.

Milton Alves ao chegar, vendo aquela quantidade de gente do lado de fora da casa, não sabendo tratar-se de velório, ficou eufórico. Nunca tinha participado de reunião tão numerosa. Antes mesmo que seu motorista estacionasse o carro, desceu tropeçando, quase caindo, e foi ao encontro de Zé Maneco:

- Ei, Zé Maneco! Isso que é liderança! Isso aqui não é reunião! Isso é um comício!

Muito discreto, Zé o arrastou para um canto, cochichou alguma coisa ao seu ouvido. Em seguida foram para o interior da casa, onde o corpo era velado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Religião e política, ontem e hoje

Natural de Itaguara-MG, Raimundo de Oliveira Lima, padre Raimundo, chegou a Anápolis na década de 40. Casado com a professora Zezé, também mineira, foi professor rural, na fazenda de Chico Mendonça, em Souzânia. Ao mudar-se para o setor urbano do município, trabalhou no cartório do 2° Ofício e passou a fazer parte dos congregados marianos, na Igreja do Bom Jesus. Sério, respeitado e admirado, Raimundo foi convidado por Achilles de Pina, à época maior expressão política do PSD no município, para ser candidato a vereador, nas eleições municipais de 1962. Sem pedir votos, instruindo congregados marianos nas fazendas e distritos a votarem nos candidatos representantes da sua região, Raimundo mesmo assim, foi o vereador mais votado. Em 1966, no MDB, reelegeu-se. Seu futuro era promissor e brilhante como político.

Na metade do segundo mandato, renunciou a vereança para ser ordenado diácono da igreja católica. Após conversa franca que teve com o bispo diocesano de Anápolis, dom Epaminondas de Araújo, decidiu encerrar sua curta e belíssima carreira política para dedicar-se integralmente aos trabalhos da igreja. Hoje, sem sua estimada e querida Zezé, Raimundo de Oliveira Lima é sacerdote diocesano. Com seus 95 anos, celebra missa semanalmente por inúmeras paróquias do município.

A história do diácono, hoje frei Raimundo, realça o comportamento da diocese anapolina. Alguém do comando da igreja que se envolva na luta partidária não tem apoio da diocese. Desde sua instalação, tem orientado aos católicos votarem com responsabilidade.

Votam de acordo com a consciência de cada um. Frei Raimundo que já era político militante, teve que decidir-se: diácono ou político. Para dom Epaminondas a questão não era Raimundo. Esse era homem sério, conduta ilibada. A igreja solicitou seu afastamento do mandato para se precaver. Poderia servir de pretexto a algum oportunista, no futuro. Dom Epaminondas Araújo dizia que qualquer pessoa cometendo um equívoco ou delito, a culpa não passa da pessoa do delituoso. Alguma autoridade na igreja, cometendo falha ou deslize, quem fica manchada na sociedade é a igreja. Sempre dizia ser a política necessária. Seus conselhos eram que os cristãos devem ser informados pela igreja quais valores deve defender. Candidaturas são para os leigos.

Entre os evangélicos de Anápolis, pastor Antônio Carneiro, da igreja Assembleia de Deus do Ministério de Anápolis, eleito vereador na década de 60, foi primeiro a ser eleito com o título de pastor. Católicos e evangélicos têm sido destaques na política anapolina, sem usarema estrutura da igreja a que pertencem. Frequentam missas e cultos em Honra e Louvor a Cristo. Não transformam paroquianos e irmãos compulsoriamente, em massa de manobra para comícios políticos.

No passado, os pretendentes a cargos eletivos frequentavam bastante os terreiros de Umbanda. Assistiam e participavam da cerimônia. Os chefes dos terreiros eram mais liberais. Mesmo assim, democraticamente, recebiam todos os políticos com a mesma distinção e cordialidade. Não eram ligados a partido político. Raramente uma figura de um terreiro se candidatava a cargo eletivo. Abriam as portas dos trabalhos para que os futuros govermos compreendessem melhor sobre os trabalhos que realizavam.

José Escobar era frequentador do terreiro do Raimundinho, no bairro Boa Vista. Seu pai influente líder evangélico em Anápolis.

Pastor Cavalcante, muito estimado e querido pela comunidade. Candidato a vereador, Escobar foi convidado pelo pai a assitir a culto na ingreja que pastoreava, na Vila Santa Maria de Nazareth. Conhecedor das virtudes do filho, com satisfação, o apresentou aos fiéis da igreja. Depois de realçar seus valores de cidadão, pastor Cavalvantefez questão de enaltecer os compromissos evangélicos do filho. Passou-lhe a palavra para a oração final:

"Irmãos, eu quase não tenho frequentado a igreja. Meu pai dissertou muita coisa a meu respeito. Admiro e respeito a fé e trabalho de vocês todos. Fico orgulhoso por isso... Confesso que gosto mesmo é do espiritismo!"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Merece respeito

Publicado na seção Opinião do Leitor, edição de 26/10/2010 do jornal Diário da Manhã

Nota dez para o artigo do ex-deputado Adhemar Santillo ("Deixem Henrique Santillo descansar em paz"). Merece todo respeito de todos os goianos por tudo que ele foi e fez por Goiás e pelo Brasil. Ele e seus irmãos foram os baluartes do PMDB pela democracia e pela liberdade, lutaram muito. É um homem que merece muita luz e não trevas de pessoas que têm ódio e a mágoa no coração.

Lucimaria Mendonça Santos
(via e-mail)

Deixem Henrique Santillo descansar em paz

No momento em que nos aproximamos do 31 de outubro, quando serão realizadas as eleições no seu segundo turno, marqueteiros do PMDB, partido que ajudei a fundar e ao qual pertenço, resolveram agredir a administração Henrique Santillo. Essa é tática velha, desgastada. Ofendem Henrique Santillo com o intuito de atingir Marconi Perillo. Esse diferentemente da maioria dos seres humanos, faz questão de proclamar onde quer que se encontre a gratidão que tem e sempre teve pelo seu grande líder. Atacar uma pessoa que sempre foi correta e ética no exercício dos cargos e funções políticas que desempenhou não é o melhor caminho para pessoas sérias. Agredir um cidadão que deu sua vida pela democracia e que tanto fez por Goiás, é ato mesquinho.

Lembro-me quando Henrique Santillo foi eleito governador substituindo Iris Rezende Machado, que encontrava-se licenciado ocupando o Ministério da Agricultura no governo José Sarney, várias categorias de funcionários públicos estaduais estavam em greve ou anuciando greve. Nunca denunciou a situação caótica que herdou. Mesmo quando os dois se distanciaram politicamente, não fez qualquer acusação nesse sentido ou afastou os iristas que faziam parte da sua administração. Praticamente 12 suplentes foram por ele elevados à condição de titulares da Assembleia Legislativa sem que houvesse qualquer pressão do governo para que não apoiassem Iris. Henrique Santillo era de uma retidão de comportamento exemplar. Estava decidido a se desincompatibilizar no final de governo, para concorrer ao Senado. Desistiu do seu projeto pessoal para não prejudicar o presidente da Assembleia Legislativa, Milton Alves Ferreira, que o sucederia.

Joaquim Domingos Roriz, vice-governador de Goiás, foi escolhido pelo presidente Sarney para governar Brasília. Com um eventual afastamento do governador goiano, ocuparia a governadoria o presidente da Assembleia Legislativa. Nessa mesma ocasião, José Sarney não honrou os compromissos assumidos verbais e pessoais com Henrique Santillo de financiar o Programa de Pavimentação Municipal - PPM, maior programa de asfaltamento municipal feito por um governador em Goiás. Emitiu Letras do Tesouro Estadual para honrar os compromissos assumidos com as empreiteiras. Foram tornadas nulas por Collor de Melo. Sabendo da crise que viria refluiu da idéia de se afastar do governo, para não passar o problema a Milton Alves.


Com a emissão de Letras do Tesouro Estadual, expediente legítimo e legal, usado por governos municipais e estaduais, Henrique Santillo saldou os compromissos com os empresários que executaram o asfaltamento. As letras emitidas pelo governo goiano, por Sarney não honrar os compromissos, como forma de retaliação por Henrique Santillo ter ficado ao lado de Ulysses Guimarães na campanha de 1989 para a presidência da República, venceriam a longo prazo. Com a posse de Fernando Collor à presidência, baixou decreto considerando nulas todas as letras emitidas e negociadas, obrigando o governo de Goiás a resgatá-las imediatamente, sob pena de fechar extra-judicialmente o Banco do Estado de Goiás, seu avalista. Sem reclamar ou denunciar a perseguição ao seu governo e ao Estado, preferiu ficar no governo até seu termino, resgatando as Letras do Tesouro Estadual que emitira, com recursos do Fundo de Participação do Estado. Essa foi a principal razão de Iris Rezende Machado o substituir encontrando as finanças estaduais descontroladas.

Não se tem notícia de uso indevido de Caixego, Beg, Celg, Saneago ou qualquer outro orgão público, por Henrique Santillo, no exercício das funções e cargos públicos que exerceu. Não se tem notícia de ter ele levantado a voz para acusar aos que o perseguiram de forma ostensiva e veladamente por inveja ou capricho político. Por favor respeitem a memória de quem tanto fez por Goiás e para o Brasil. Quem sofreu calado as maiores perseguições e injustiças por retaliações políticas. Inspirem-se na ética e retidão de comportamento que nortearam todas as ações de sua vida. Só assim poderão viver com a consciência tranquila.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Baioneta não é voto e cachorro não é urna

Por Bruno Hoffman, redator da revista Brasil, Almanaque de Cultura Popular
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(Fotos: Luciano Andrade)


Em 15 de novembro de 1978, os eleitores iriam escolher senadores, deputados estaduais e federais. De um lado, a Arena (partido dos militares); do outro, o MDB (de oposição). Para buscar votos, o MDB organizou uma caravana pelo Nordeste. Na liderança, o presidente do partido, Ulysses Guimarães.

Em várias reuniões, arbitrariedades e abusos deixaram o clima pesado. O momento mais tenso ocorreu em 13 de maio de 1978, em Salvador. Policiais bloquearam a sede do MDB com cachorros e fuzis com baionetas. Ulysses aproximou-se de um policial e bradou, enquanto empurrava sua arma: “Respeitem o líder da oposição!”.

Dentro da sede, fez um discurso histórico: “Meus amigos, foi uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam muito”. E encerrou com a frase que se tornou célebre: “Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna”.

Discurso de Ulysses Guimarães em Salvador (13/05/78)

Meus amigos que aqui estão,

Brasileiros que aqui não puderam vir e estão lá fora, mas que, apesar disso, em todo o Brasil, ouvem o pregão do MDB pela liberdade e pela democracia,

Soldados da minha pátria que foram aqui convocados — sei que contra a consciência de vocês, que são do povo — para impedir que o povo aqui chegassem. Mas vocês nos ouvem como assistência e são juízes de que quem defende vocês somos nós, porque a verdadeira autoridade não vem dos homens, vem da lei, que é igual para todos e não pode discriminar entre os brasileiros.

Meus prezados amigos,

Enquanto ouvíamos as vozes livres que aqui se pronunciaram, ouvíamos também o ladrar dos cães policiais lá fora. O que se falou aqui é a linguagem da História, da tradição, do passado, dos Tiradentes, dos cassados, em cuja frente está o exemplo extraordinário do líder sacrificado Alencar Furtado.

O ladrar, essa manifestação zoológica, é do arbítrio, da prepotência, que haveremos de vencer, não nós do MDB, mas o povo brasileiro.

Meus amigos, foi uma violência, foi, mas uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam e em muito. Se nós fizéssemos aqui um comício, seria um grande comício, não há dúvida, mas com uma repercussão talvez regional. Amanhã, ao amanhecer, os brasileiros vão ler os jornais, vão ver as metralhadoras e os cães, impedindo que brasileiros pacíficos exercitem um direito que está na Carta Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

Nós não temos armas. Sou Presidente Nacional do MDB e já percorri este país oito vezes, de cidade em cidade, cercado pelas multidões. Não porto arma nenhuma (batendo no bolso e abrindo o paletó). Não tenho, meus amigos, protetores e guardas (gritos: "tem o povo", "tem a povo!"). Eu não me assusto mais, meus amigos. Tive em Pernambuco os cachorros e os cavalos do governador Moura Cavalcanti: luz apagada, pedras na praça quando realizávamos as nossas concentrações. Mas, meus amigos, o MDB, é como a clara: quanto mais bate, mais cresce. Os cães ladram mas a caravana passa.

Nós temos o povo que, sem dúvida alguma, nos levará à espetacular vitória de 15 de novembro próximo. Eu não levo, meus amigos, imagem melancólica da Bahia. A Bahia são vocês que estão aqui dentro. Aquilo que está lá fora para nos oprimir representa esta situação de arbítrio e de prepotência. Isso que está lá não é a Bahia, não é o Brasil, não é povo, não é a nação, não é sociedade, não é o cidadão.

Quero dizer a vocês: 13 de maio de 1888, então o Brasil evitou a divisão de dois Brasis - o Brasil branco que oprimia e o Brasil negro que era oprimido. Mas, quase 90 anos depois, nós temos as mesmas servidões e as mesmas discriminações. Não temos política neste país porque para haver política é preciso o povo e isso que aí está não tem a substância, o respaldo e o apoio do povo.

Temos um Presidente sem povo, temos governadores sem povo e contra o povo. E, por cúmulo de audácia, numa insólita demonstração de ousadia, que é um insulto a esta nação, criou-se esta figura que foi tatuada para a História com este nome odioso de senador "biônico". E nós estamos aqui para dizer que não será aceito isso!

Na cadeira de Rui Barbosa, que representou as tradições libertárias deste estado, não podem sentar os penetras indicados pela oligarquia e pelos conchavos entre amigos e parentes.

Vocês ouvem falar do achatamento salarial. Vocês já ouviram falar e de se tomar providência do achatamento dos lucros criminosos que fazem a opulência de poucos e enchem as burras e as arcas das multinacionais, fazendo com que tenhamos uma sangria às avessas, o sangue e o suor dos trabalhadores para enriquecer outras pátrias, outros países?

Muitas vezes se pergunta: o que o MDB pode fazer pelo povo? Eu quero sintetizar essa resposta. O MDB não é munificente, o MDB não é patriarcal, o MDB não quer presentear com alguma dádiva _ porque se desse, poderia também tirar. O MDB quer dar uma arma. O povo brasileiro está desarmado da grande arma pela qual ele defende o seu pão, o seu teto, a saúde e a sobrevivência da sua família. O MDB quer dar a urna e o voto a todos os brasileiros. Não há salário justo e digno. É impossível salário digno e justo sem liberdade, porque já dizia a Bíblia que "ganharás o teu pão com o suor de teu rosto". Para ganhar o pão não é preciso só o trabalho físico e intelectual, é também reivindicar, é exigir da sociedade as vantagens econômicas para todos e não em benefício de poucos. Não há, portanto, salários justos e não existe divisão, distribuição de riquezas, sem a democracia e sem a liberdade.

Meus amigos, a discriminação, este anátema que envergonha a cultura e a educação brasileira: o 477, um dos filhos diletos do nefando AI-5. Nós do PMDB sabemos que escola e faculdade são para dar o diploma, mas somente o caráter é que faz o homem. E o jovem, sem liberdade e democracia, não será homem para servir a si, aos seus e à sociedade.

A inexistência do habeas corpus é testemunha de que há injustiça, ilegalidade, arbítrio, nesta nação.

Aqui, queremos lembrar os nossos mártires, os que caíram, com a canção da resistência francesa: companheiro, se você tombar, alguém sairá da sombra para tomar o seu lugar.

Mesmo que tenhamos divergências naturais, é preciso que nos unamos numa trincheira comum. Há um inimigo comum, um adversário comum. São aqueles que se apropriaram do poder e só através de nossa união é que poderemos reconciliar esta nação.

A data de 13 de maio é a data limpa, asseada, decente e branca da liberdade neste pais. Quiseram mas não conseguiram aqui na Bahia, que a data da liberdade fosse manchada e enodoada com o espetáculo de opressão que aqui se montou para espanto de todo o Brasil. Mas, meus amigos, aguardamos e lutamos por outra Lei Áurea, por outro 13 de maio: pela libertação. Esta libertação será no dia que está próximo e que tem este nome: Assembléia Nacional Constituinte.

E a Assembléia Nacional Constituinte só pode ser feita na base da honra, da dignidade, do dever de reparação àqueles que tombaram no sangue e no sacrifício. A base para isso é esse nome de paz e de esperança para o Brasil e seus filhos: Anistia.

Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna.

(Foto: Luciano Andrade)

Surpresas nas campanhas políticas

Com a vitória consagradora para o Senado em 1978, Henrique Santillo passou a ser, dentro e fora de Goiás, a maior liderança política do Estado. Ele, que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual, teve que adiar naquele ano, mais uma vez, seu projeto eleitoral. Com o "pacote de abril" de 1977, Geisel excluiu da Constituição Federal eleição direta para governo estadual e criou o "senador biônico", o senador sem voto. Das duas vagas disputadas em 1978, uma já era da Arena. Geisel reconduziu Benedito Ferreira, o Benedito Boa Sorte. Para a eleita pelo povo, Henrique Santillo e Juarez Bernardes pelo MDB, enfrentaram Osires Teixeira, Jarmund Nasser e Jonas Duarte, pela Arena. MDB venceu. Santillo, mais votado, consolidou sua liderança.

Em 1982, Iris Rezende, que readquirira seus direitos políticos depois de 10 anos de suspensão, decidiu ser candidato, adiando por mais quatro anos o projeto de Henrique Santillo. Iris econtrou o PMDB, sucedâneo do MDB, organizado e imbatível em todo o Estado. Onofre Quinan, empresário bem-sucedido, nosso companheiro de MDB em Anápolis, foi indicado para vice-governador na chapa de Iris.

Ary Valadão, governador do Estado, sofria com os pequenos recursos que o Estado dispunha. Precisava construir alguma coisa que marcasse sua administração. A Arena o abandonara. Estava bastante dividida. Enquanto o governador lutava pela indicação de alguém do seu grupo a maioria do partido queria Otávio Lage de Siqueira, enfrentando Iris Rezende. Alguns meses antes das eleições, Ary Valadão conseguiu autorização do Banco Central para empréstimo internacional. Os recursos seriam aplicados em pavimentação de rodovias. Principal a ser asfaltada seria a que liga Itaberaí a Itapuranga. Máquinas chegaram a iniciar os serviços de terraplanagem.

Como empréstimo externo depende de autorização do Senado, os senadores arenistas em final de governo não compareciam ao plenário para que houvesse deliberação. Em todas as sessões, a mesma cena: o presidente abria a sessão, o senador Dirceu Cardoso (PMDB-ES) pedia verificação de quorum. Não havia número para abertura. Passaram-se os dias, semanas e meses e o pedido de empréstimo do governo goiano não era apreciado. Os arenistas de Goiás espalhavam por todos cantos que os senadores Lázaro Barbosa e Henrique Santillo, do PMDB-GO, estavam impedindo sua votação, para prejudicar Ary Valadão. Essa fofoca já começava a afetar o candidato peemedebista Iris Rezende. O PMDB goiano decidiu que Lázaro Barbosa e eu, representando Henrique Santillo, iríamos a Itapuranga para esclarecer a verdade. Fomos em avião pertencente a Onofre Quinan, comandado pelo piloto Carlão. Conosco foi também o advogado Wanduir de Lima.

Ao chegarmos a Itapuranga, não havia ninguém nos esperando no campo de aviação. Carlão sobrevoou a cidade, retornando ao campo de pouso. Apenas uma pessoa no centro da pista fazendo sinais para que Carlão parasse ali, a aeronave. Era Claudion Mendes, presidente do PMDB no município, solicitando que não saíssemos do avião. Argumentou que integrantes do PMDB Jovem nos receberiam a bala caso fossemos à reunião. Apoiadores de outros candidatos do partido ao Senado e Câmara Federal não aceitavam que Lázaro e eu conversássemos com a população. Nossa missão não era buscar apoio partidário às nossas candidaturas. Além do mais, lutávamos contra qualquer tipo de prepotência. Não podíamos abandonar a luta pelo gesto tresloucado de alguns irresponsáveis! Descemos! Assim que pusemos os pés no chão, começaram os disparos em nossa direção. Sem um local mais apropriado para nos proteger, usamos a fuselagem do avião. Os disparos só cessaram quando integrantes da Polícia Militar chegaram ao local. Fomos à prefeitura, mas, com a população assustada, ninguém compareceu. A reunião não aconteceu. Cumprimos nosso papel, concedendo entrevistas à emissora de rádio local.

A campanha não podendo parar, na manhã seguinte, fui com Maria Dagmar e Paulo Silva, candidatos a vereadora por Goiânia e a deputado estadual, à Vila Redenção. Primeiro conjunto de casas populares contruído por Iris, em Goiânia. Nos acompanhou na visita, casa a casa, Tarcísio, primo de Dagmar e comerciante de materiais de contrução, na região. Depois que fizemos dezenas de visitas, chegamos à casa de dona Bárbara, matriarca de grande família. Tarcísio entrou pelo corredor, indo direto à cozinha. Nós o acompanhamos. Fez a apresentação de praxe. A anfitriã, atenta, ouviu a identificação de cada um de nós. Esgotados os argumentos, Tarcísio completou:

- "Dona Bárbara, a senhora não está surpresa de estar recebendo em sua casa o deputado Adhemar Santillo? Esse é o homem que denunciou as mordomias do ministro do Trabalho!"

A mulher, com olhar fixo ao chão da cozinha, categórica, afirmou:

- "Tarcísio, depois que Toninho, meu filho caçula de 19 anos, se casou com uma mulher velha de 69 anos, que nem INPS tem, nada mais me surpreende!"

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Luta Marcante

No período em que estivemos submetidos aos rigores e prepotência do regime ditatorial imposto pelo golpe militar de 1964, principalmente na década de 70, a fidelidade partidária dos emedebistas era coisa obrigatória, natural. Deixar o Movimento Democrático Brasileiro, aderir à Arena, quase sempre levava o adesista á derrota na eleição seguinte. Principalmente nas cidades do interior, os emedebistas nem sequer tomavam café em lanchonetes freqüentadas por arenistas. Radicalismo espontâneo. Posicionamento imutável. Os detentores de mandatos pelo MDB ou aceitavam as regras estabelecidas pelos companheiros interioranos ou perdiam o apoio.

Nas eleições de 1970 para a Assembléia Legislativa, foram eleitos 12 deputados pela legenda do MDB. Iniciados os trabalhos, Clarismar Fernandes aderiu à Arena. Os onze que restaram decidiram se retirar do plenário todas as vezes que Clarismar assomasse a tribuna. Com o passar do tempo esse comportamento da bancada passou a ser compulsório. Ele começava o discurso os emedebistas iam para o cafézinho.

Habituado a essa convivência partidária sem concessões, fui eleito deputado federal. Ao chegar ao Congresso Nacioanl notei que o relacionamento entre integrantes dos dois partidos era de harmonia completa. Realizávamos encontro sociais em nossos apartamentos, quando compareciam os emedebistas e arenistas que representavam Goiás. Muitas vezes ficava bom tempo conversando com o senador Benedito Ferreira, o Benedito Boa Sorte e deputado Rezende Monteiro, ouvindo as hitstórias de fatos pitorescos acontecidos na política goiana. Ambos extrovertidos e ótimos contadores de causos. Ao nos despedirmos, Rezende, sem maior protocolo, me dava seu infalível beliscão na barriga. Gustavo Capanema, Plínio Salgado, José Bonifácio, Magalhães Pinto e Wilmar Guimarães, alguns dos experientes integrantes da bancada da Arena, afirmavam com grande convicção, que Rezende Monteiro era deputado desde o tempo em que federal se escrevia com "ph", deputado phederal. Gozação, é claro. Nem esse cordialidade nacional me autorizava modificar os costumes dos companheiros do interior.

Em Anápolis, cidade goiana mais resistente à ditadura, fazíamos a mobilização popular através dos encontros domiciliares. Durante o ano inteiro, em época de eleição ou não. Passávamos de 2ª a 6ª em Brasília e aproveitávamos os finais de semana para as reuniões políticas em Anápolis e no interior. Quando em 1973, cassaram nosso prefeito José Batista Júnior (MDB) e transformaram o município em Área de Segurança Nacional, tirando dos anapolinos o direito de escolherem pelo voto o seu prefeito, nossa luta foi mais intensa. Aí fazíamos três ou até quatro reuniões por noite.

Numa dessas ocasiões fui convidado para realizar, no mesmo horário, uma reunião no Bairro Jardim Gonçalves, casa do Anfilófio e outra no Bairro São Lourenço, casa de dona Benedita. Como não poderia estar nas duas ao mesmo tempo, solicitei a José Escobar, nosso fiel companheiro, que fosse à casa de dona Benedita enquanto eu falaria aos amigos do Anfilófio. Assim que encerrasse minha participação iria dar o encerramento ao encontro comandado pelo Escobar.

Ao chegar à residência de dona Benedita, encontrei todos de olhos fixos na televisão assistindo a novela das 20 horas, da Globo. Inclusive Escobar que dizia não gostar de novela. Cheguei, eles foram logo desligando a tv, enquanto dava início ao debate. Só alguns minutos depois fiquei sabendo que o Escobar não havia conversado com o pessoal. Assitira o Jornal Nacional e calma e pacientemente estava assistindo a novela. Encerrada a reunião o chamei separadamente:

- Escobar, lhe peço para conversar com o pessoal até que eu chegasse, e você fica assistindo televisão?

Prontamente me esclareceu:

- Ao chegar, fui logo dizendo: "Bem, gente!" Imediatamente aquele senhor que está sentado ali na frente, fumando cigarro de palha, pôs o indicador da mão direita sobre os lábios e disse: "Psssiu, Jornal Nacional!" Depois disso, não tive coragem de cortar nem propaganda de Coca-Cola.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Que falta faz Henrique Santillo


Por Orisvaldo Pires, jornal Estado de Goiás, 7/7/2010
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O momento político de Anápolis, porquanto a cidade busca reconquistar sua força e representatividade política exige posições e ações eficientes, maduras, rápidas, decididas. Ao analisarmos nossa história política contemporânea, percebemos que para alcançarmos este objetivo estamos cada dia mais necessitados da força e da visão de homens como Henrique Antônio Santillo, de saudosa memória. O político que em vida se tornou mito e após a morte se perpetuou como figura sui generis na condução de Goiás rumo ao desenvolvimento.

A política é uma prática democrática, mas movida a partir de decisões tomadas por homens de pulso forte. No momento em que a delicadeza se faz necessária nas discussões, de sua boca brotam orientações que nos tocam como a brisa leve de uma manhã de primavera. Mas, se o posicionamento exige firmeza, de seus atos e decisões emanam relâmpagos que clareiam a noite e prenunciam a chuva que fecunda a terra. Deste chão nascem idéias transformadoras, forjadas na experiência de quem sabe a hora de dizer sim e de dizer não.

Os caminhos do amadurecimento político não são cobertos de flores e perfumes, desenhados com raios de sol ou animados pela melodia dos sorrisos. Na maioria das vezes é pedregoso, cheio de espinhos e não menos livre de cizânia. Atravessar esse caminho exige habilidade e sapiência. Nesses momentos sentimos a falta de homens como Henrique Santillo. No período de 23 de agosto de 1937 a 25 de junho de 2002, esse paulista de Ribeirão Preto de nascimento, e anapolino de Sant’ Ana das Antas de coração, acumulou a maior riqueza que um ser humano pode almejar: conhecimento e respeito.

Henrique Santillo, exemplo para muitos políticos da atualidade, exerceu praticamente todas as funções públicas de destaque. Foi de vereador a ministro de Estado. De um lado teve habilidade e firmeza para conduzir, enquanto governador, o processo de desmembramento de Goiás e Tocantins; e de outro exteriorizou a humildade de espírito ao caminhar pelas ruas pedindo votos na campanha para prefeito de Anápolis, logo depois de comandar as ações da Saúde no Brasil como Ministro. Uma comovente demonstração de amor por Anápolis, cidade cujos interesses colocava acima de qualquer outro.

A trajetória que começou em 1965, quando se elegeu para a Câmara de Vereadores, passando pelo mandato de prefeito (1969-1972), deputado estadual mais votado (1975-1979), senador da República por Goiás (1979-1987), governador de Goiás (1987-1991), ministro da Saúde (1993-1995), secretário estadual de Saúde (1999), conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (1999-2002) órgão que presidiu em 2002, rendeu frutos essenciais para o desenvolvimento de Anápolis, de Goiás e do Brasil. Santillo participou de forma corajosa na campanha pelas Diretas, tem participação efetiva no advento dos genéricos no País e priorizou projetos históricos na defesa de uma saúde de melhor qualidade principalmente dos mais pobres.

As marcas de Henrique Santillo na saúde em Anápolis são indeléveis. Não precisamos enumerar todas. Basta falar da concepção do Hospital de Urgências, que leva seu nome, projeto executado pelo discípulo Marconi Perillo; a construção dos Centros de Atendimento Integrados de Saúde (Cais) do Jardim Calixto e Progresso, e algum tempo depois a implantação do sistema de atendimento 24 horas; o laboratório do Teste do Pezinho (Apae); o Hospital Oncológico Dr. Mauá Cavalcanti Sávio; aquisição de equipamentos e construção de novas alas da Santa Casa de Misericórdia; Hospital da Criança na Vila Jaiara; apoio ao Hospital do Hanseniano no Bairro Novo Paraíso; entre outros.

Que sentimentos movem um homem que, imediatamente após deixar o Ministério da Saúde, volta a atender normalmente como médico, de graça, em seu consultório no Hospital da Criança na Vila Jaiara? Que se compadece com o pobre que precisa de assistência médica? Que exemplos nos deixa um político que, depois de 37 anos ocupando os mais importantes cargos políticos nos âmbitos municipal, estadual e federal, na gestão de orçamentos bilionários, com a força de poderes imensuráveis, chega ao fim da vida com simplicidade, sem riquezas materiais e referenciado como um dos mais respeitados políticos do Brasil? Em momentos como agora, quando nos vemos tentando equilibrar na tênue linha que separa um passado de sonhos de um futuro de realizações, passamos a entender a importância de homens como Henrique Santillo.

sábado, 9 de outubro de 2010

Presidente do PMDB de Anápolis abre fogo contra Iris e petistas‏

Por Alexandre Bittencourt, Editor de Política & Justiça do Diário da Manhã

Adhemar Santillo, ex-prefeito do município, diz que o governadoriável do seu partido só ajudou “chacrinha da prefeitura”, reclama que o PT não ajuda nem os seus próprios candidatos e insinua anunciar apoio a Marconi já na próxima semana.

Em entrevista à rádio Manchester FM, de Anápolis, o presidente regional do PMDB de Anápolis e ex-prefeito do município, Adhemar Santillo, fez duras críticas na manhã de ontem ao candidato do seu partido ao governo de Goiás, Iris Rezende, e não poupou a administração do ex-governador e atual prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. Santillo acrescentou que PMDB e PT em Anápolis não se misturam e fez pesadas acusações à legenda, que, segundo ele, apesar de se vangloriar da administração bem avaliada de Antônio Gomide, não conseguiu dar a vitória na cidade em 3 de outubro a nenhum dos seus candidatos. “Nem estou falando do Iris não, que é do PMDB, mas da candidata dele a deputada estadual (Doutora Dinamélia), do Pedro Wilson (candidato ao Senado) e da Dilma (presidenciável). Todos perderam aqui”, frisou.

O ex-prefeito, que não escondeu em nenhum momento sua mágoa contra o PT de Anápolis, disse que na próxima semana vai anunciar seu apoio neste segundo turno das eleições, deixando a entender que vai ficar ao lado do candidato da Coligação Goiás Quer Mais, Marconi Perillo.

Segundo ele, o governadoriável do PMDB, quando vai ao município, não dá, sequer, um telefonema para os líderes do seu partido na cidade e só participa de carreatas ao lado dos petistas. “Iris está equivocado. Acha que não precisa do PMDB de Anápolis, mas não recebeu nada do PT. Não adianta ficar abanando a mão para as pessoas de cima dos carros. Tem de sair pegando na mão do povo, fazendo reunião, entregando santinhos como fazemos aqui”, criticou.

Adhemar acrescentou que não recebeu qualquer apoio estrutural ou financeiro da campanha de Iris para trabalhar pelo candidato em sua cidade. “Não ganhamos um santinho. Bancamos toda campanha. Contratamos até carro com alto-falante próprio”, reclamou. “Iris só teve na cidade os votos que nós tivemos potencial de dar a ele”, arrematou.

O estopim para o desabafo de Adhemar foi uma declaração do prefeito de Anápolis justificando a baixa votação de Iris no município - 22% contra 65,1% de Marconi Perillo. Segundo Antônio Gomide, mesmo tendo avaliação positiva de cerca de 90% da população, o governadoríavel peemedebista perdeu votos em função das administrações do partido mal avaliadas em Anápolis (incluindo a de Adhemar).

O ex-prefeito reagiu lembrando que sua mulher, Onaide Santillo, quando disputou a Prefeitura de Anápolis em 2008, teve 22% dos votos válidos no primeiro turno – exatamente o mesmo percentual de Iris Rezende em 3 de outubro. O mesmo resultado foi obtido pela dupla Maguito Vilela/Onaide Santillo na disputa pelo governo de Goiás em 2006. “Onde estão os votos do PT? Iris só recebeu os votos que, historicamente, o PMDB tem na cidade”, disparou. Santillo destacou ainda que Onaide teve quatro mil votos a mais que Doutora Dinamélia, única candidata com o respaldo da Prefeitura de Anápolis – que não passou de 11 mil votos. Pedro Wilson, candidato petista ao Senado, teve cerca de 43 mil votos em Anápolis, contra, aproximadamente, 92 mil de Lúcia e 134 mil de Demóstenes.

O ex-prefeito negou que suas administrações sejam mal avaliadas na cidade e acrescentou que o mesmo não pode ser dito das gestões peemedebistas à frente do governo de Goiás. “Nós de Anápolis é que fomos contaminados pelas coisas ruins que o PMDB estadual fez. Foi como uma varicela. Ninguém em Anápolis fala que eu fechei a Vicunha ou levei a Perdigão para o Sudoeste” – disse se referindo a fatos atribuídos pelos anapolinos à gestão de Maguito Vilela (1994-1998).

Santillo chegou a narrar um fato ocorrido na gestão de Iris Rezende. “Iris era governador, Otoniel Carneiro, irmão dele, era secretário de Governo. Fomos ao gabinete de Otoniel e, na frente da impressa de Anápolis, ele disse que a cidade não precisava de nada. Que tudo que precisava o Santillo (Henrique, ex-governador e irmão de Adhemar) já tinha feito.”

“PMDB virou um partido restrito a Goiânia”

Diário da Manhã – Está confirmado que o senhor apoiará a candidatura de Marconi?
Adhemar Santillo – Não é bem assim. Eu e Onaide vamos nos afastar do comando da campanha do Iris Rezende, porque o PT, através dos irmãos Gomide, o Rubens (Otoni) e o Antônio (Gomide), está dizendo que o Iris não teve votos em Anápolis em função da fragilidade do PMDB. Eles falarem isso é um direito deles, são nossos adversários históricos aqui dentro de Anápolis, mas na medida em que eles falam e o candidato Iris, que tem conhecimento do que eles estão falando, não nos defende...

DM – O partido está fragilizado?
Adhemar – Se há um diretório do PMDB organizado, este é o diretório de Anápolis. Ao longo do tempo, o PMDB de Anápolis tem enfrentado um desgaste muito grande, mas que foi provocado pela esfera estadual, e não por nós. Os votos que Iris consegue em Anápolis resultam do trabalho do PMDB, e ele sabe disso. Mas, na medida em que insiste em só reconhecer o trabalho de Antônio Gomide, Iris está nos colocando de lado. Se ele realmente acredita que o PMDB de Anápolis atrapalhou, nós vamos sair do comando da campanha dele para que o PT de Anápolis possa dar para ele os votos que no primeiro tuno não deu.

DM – O senhor já expôs sua insatisfação a Iris?
Adhemar – Não. Entendo que ele, como candidato, deveria ter nos telefonado para agradecer os votos que recebeu em Anápolis. Eu ir atrás dele por quê? É ele quem ainda precisa de votos. Deveria, como companheiro, ter agradecido e dito: “Adhemar, reúna o diretório de Anápolis e peça para redobrarem o trabalho”, e não simplesmente ignorar a gente e mandar um terceiro escalão da prefeitura me convidar para participar do encontro que ele teria na quarta-feira em Anápolis.

DM – E se o candidato procurar o senhor e tentar contornar a situação? Pode mudar de ideia?
Adhemar – Não, eu não mudo de ideia. Qualquer movimento que vier agora será um movimento fabricado. Iris fez apenas um comício no primeiro turno em Anápolis, e lá estiveram PT e PMDB juntos. Olha, eu tenho prestígio em Anápolis. Fui prefeito duas vezes, tenho 40 anos de vida pública, assim como ele tem 50, e ele nem sequer convidou a gente para discursar. Isso é uma prova de que ele nem se interessava por nossa presença. Eu não quero ser um estorvo para ninguém. Tenho, na minha biografia, uma lista enorme de serviços prestados ao partido e ao Estado. Então ele pode ficar onde está, na posição dele, que eu vou ficar na minha, de cá, torcendo para que o PT dê a ele os votos que não deu no primeiro turno.

DM – Os seus companheiros de partido, em Anápolis, compartilham da sua insatisfação?
Adhemar – Eles estão dizendo o seguinte: se Iris faz isso conosco agora, que precisa do nosso voto, nos ignora, o que não fará depois que tiver o mandato na mão? Esse é o primeiro aspecto. O segundo aspecto é que há uma revolta dentro do PMDB de Anápolis, por ele ter formado uma bancada com oito deputados estaduais que são de Goiânia. O interior não participa. Catalão perdeu representante, Porangatu perdeu representante, Goianésia perdeu representante, Jataí perdeu representante, Anápolis não elegeu representante. Nós temos oito elementos que são quase uma Câmara de Vereadores de Goiânia. O PMDB virou um partido restrito a Goiânia.

DM – Por que o senhor não reclamou antes e foi para a campanha com estes problemas?
Adhemar – A Onaide teve quase 20 mil votos em Anápolis. Em qualquer outra legenda estaria eleita. Não estou reclamando do partido porque os outros candidatos tiveram votação maior, mas é fato que os deputados eleitos tiveram facilidade para vencer porque estiveram umbilicalmente ligados à prefeitura durante seis anos. O que houve foi um excesso de votos para quatro ou cinco, ou oito que seja, e o resto ficou num limiar de voto grande, mas sem condições de ir para a Assembleia. Candidatos da Capital foram favorecidos.