sexta-feira, 30 de abril de 2010

Morte brutal por causa nobre

Publicado na edição de 30/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Antonio Luiz Pereira e Elza de Oliveira Pereira, dois pernambucanos esperançosos num futuro melhor, decidiram vir para Goiás, mais precisamente a Anápolis, por orientação de amigos. Há 14 anos, deixaram Araripina trazendo o filho Luiz Carlos, a roupa do corpo e pequena reserva em dinheiro. Habituados ao trabalho duro, trabalharam na limpeza de lotes, plantio de hortas, servente de pedreiro e todo tipo de serviço que pudesse lhes dar o sustento.

Luiz Carlos de Oliveira, rapaz trabalhador e muito responsável, enxergou na coleta de material reciclável a forma de se sustentar. Mal sabia que estava evitando a contaminação do meio ambiente. Iniciou recolhendo o material em saco plástico, passou para carrinho de mão e chegou ao que era agora, um catador de reciclável motorizado: Gol velho e carretinha. Assim equipado, rodava todos os lixões e entulhos existentes a céu aberto na cidade.

Casado com Creusa de Oliveira, portadora de deficiência mental, pais de dois filhos, a família usava o veículo para pequenos passeios, nos momentos de descanso. Luiz Carlos era exemplo de amor à família. Sua vida sempre foi trabalhar e cuidar da esposa e filhos.

No sábado, 17 de abril, Luiz Carlos, como de costume, levantou-se bem cedo, antes do sol aparecer, beijou carinhosamente mulher e as duas crianças saindo para lixão no Setor Industrial Munir Calixto, numa cascalheira nos fundos da Hyundai. Ficara sabendo que naquele local algumas empresas do Daia descartam parte de material imprestável.

Ao chegar ao lixão, sozinho, distante dos olhares dos moradores do Munir Calixto que ainda não haviam se levantado, viu 11 tambores metálicos, de 200 litros cada um, jogados entre restos de construção e muito gesso. Colocou três na carretinha. Ao colocar em pé o quarto tambor, percebeu pelo barulho no seu interior, que portava resto de material líquido. Não querendo carregar peso desnecessário, aproximou o carro com a carretinha e abriu o tambor, retirando-lhe o ferrolho que o mantinha trancado. Assim que o destrancou, gás incolor saiu com muita pressão causando combustão com o oxigênio externo, provocando enorme labareda. O produto, como se fora jato spray, numa chama incandescente saia do interior do tambor e de forma assustadora atingia todo seu corpo. Mesmo queimado teve força de afastar a bola metálica que rolou esparramando fogo para todos os lados.

Luiz Carlos mesmo com mais de 90% do corpo com queimaduras de terceiro grau, telefonou para o seu pai, narrando-lhe o acontecido. Acionados Corpo de Bombeiros e Samu foram ao seu encontro. Evitando dar mais trabalho aos que viriam lhe dar assistência, corpo totalmente dilacerado, provocando dor insuportável e alucinações, dirigiu seu gol, por mais de 4 quilômetros, até a margem da estrada Anápolis-Leopoldo de Bulhões, quando sua força física acabou. Levado pelo Samu ao Hospital de Queimaduras, não resistiu, falecendo na segunda feira, exatamente 36 horas após o acidente.

Não se sabe que material inflamável e tão agressivo existia no tambor. Não se sabe quem foi o responsável pelo descarte desses tambores contendo resíduos de produto poderosamente inflamável a céu aberto, numa região densamente habitada. Quem é o irresponsável que poderia ter causado tragédia com número maior de vítimas caso crianças do Setor Industrial tivessem descoberto antes, esses tambores? Quais os órgãos técnicos e públicos responsáveis pela fiscalização do uso desse e de outros produtos tão perigosos e mortais? Quais empresas do Daia utilizam esse tipo de material que o matou? São questões que exigem respostas claras e urgentes.

Luiz Carlos Oliveira, um mártir que deu a própria vida, morrendo de forma dolorosa e cruel, por causa nobre: evitando que material reciclável, muitas vezes, levando séculos para se desintegrar, fossem para aterros sanitários. Foi vítima dos tambores contendo líquido mortal, criminosamente deixados no descampado do Daia. Tambores que, após o acidente, foram misteriosamente retirados e levados para lugar incerto e não sabido.

O gol, deixado de herança para a família, por estar com o IPVA atrasado, encontra-se recolhido ao pátio da Ciretran. Sendo liberado, Antonio Luiz, pai da vítima, o venderá para pagar conserto de uma moto que abalroou no momento em que o desesperado se dirigia ao Hospital de Queimaduras, para visitar o filho. Deixa, no entanto, exemplo de trabalho e honradez, muita saudade e os três tambores sobre a carretinha, na casa em que reside a família, no Setor Sul, em Anápolis.

domingo, 25 de abril de 2010

No futebol pouco se fala sobre o massagista

Publicado na edição de 25/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Na terra do futebol pentacampeão do mundo, que já exportou milhares de craques para equipes grandes e pequenas de todos os continentes, Mário Américo, massagista da seleção brasileira nos anos 50, foi um dos poucos profissionais da área a ter espaço na imprensa esportiva e reconhecimento do público. Normalmente o massagista não é lembrado nem quando um atleta sofre contusão, pois os detalhes da gravidade ou não da lesão, são dados pelo departamento médico do clube.

De 1965 para cá, ano em que o Anápolis Futebol Clube sagrou-se campeão goiano, apenas o massagista Joverci Leão, no final dos anos 70, foi notícia de destaque nos noticiários esportivos. Assim mesmo não foi pelo trabalho que realizava como massagista. Sua ampla e repentina divulgação por todos os informativos esportivos de Anápolis, foi porque Leão quis defender a habilidade e força física dos homens da cidade, num desafio feito pelo lutador de box, Zulu. O lutador apareceu, hospedou-se num hotel, e anunciou que estava desafiando qualquer voluntário de qualquer tamanho e peso, para uma luta no Clube Recreativo Anapolino, na quinta feira à noite.

Leão incentivado por amigos e indignado com o atrevimento do visitante, foi ao hotel se inscrevendo para disputa. No mesmo dia, Joverci desfilou pelas ruas centrais de Anápolis, em caminhão com potentes alto-falantes, noticiando sua disposição de defender a força do box anapolino: “será a luta do século!” Dizia. As emissoras de rádio, a televisão local e jornais e revistas que circulavam em Anápolis deram grande destaque ao embate.

Zulu, impressionado com a disposição e carisma de Leão, o convidou para um jantar . Na conversa, o desafiante, prático em espetáculos dessa natureza, propôs ao massagista que fizessem apresentação “corpo mole”, uma “marmelada”, que pudesse levá-los ao empate por pontos, sem nocaute. Com o empate, a renda do primeiro combate seria repartida em partes iguais, argumentou Zulu. Caso houvesse um vencedor no combate da quinta feira, não teria condição para uma segunda apresentação. A renda de quinta- feira seria dividida em 80% para o vencedor e 20% para o perdedor. Melhor seria empate porque dividiriam em partes iguais a arrecadação e empolgariam o público que se sentiria motivado a comparecer no sábado para o combate decisivo, disse o visitante.

Na quinta feira, dia da luta, por volta das 11 horas, Leão foi à casa de Romualdo Santillo, narrou-lhe a proposta que recebera de Zulu, concluindo que sentira na proposta do lutador visitante, toda sua fraqueza. Não daria colher de chá, partiria para vencer a luta, pois Zulu mostrara que estava com medo.

– Vou acabar com esse malandro! Vou jogá-lo ao chão no primeiro assalto. Ressaltou Leão.

À noite, quadra do CRA lotada, o árbitro deu início à luta. Zulu, experiente boxeador, se livrava dos ataques desordenados de Leão. Num desses lances, o árbitro paralisou o espetáculo, chamando a atenção do massagista. Leão se fez de desentendido acertando golpe forte no baço de um Zulu desprevenido. Reiniciada a luta, o visitante, enraivecido pela agressão sofrida, desferiu potente e certeiro golpe de esquerda no rosto de Leão, que caiu desacordado ao tablado. Recebeu os 20% da arrecadação a que tinha direito, na sala de emergências do Hospital Evangélico.

Mesmo com a descortesia recebida em casa pelo desconhecido Zulu, o anapolino Joverci Leão tomou gosto pelo box. Quis trazer Maguila para um amistoso na cidade. Depois de muito se esforçar, conseguiu falar por telefone, com a esposa do lutador paulista, também sua empresária. Assim que descreveu para ela seu porte atlético, a empresária foi clara e sincera:

– Maguila luta contra peso pesado, musculoso e forte. Ele não enfrenta gente gorda e barriguda!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Água e esgoto em Anápolis podem ser privatizados

Publicado na edição de 22/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Durante a campanha nas eleições municipais de Anápolis, em 2008, apenas a candidata do PMDB, Onaide Santillo, ao falar sobre o crônico problema da falta de água e esgoto a grande parte da população, debateu com coragem e transparência o problema, propondo que daria prazo de um ano para que fosse resolvido ou municipalizaria os serviços. Os demais candidatos defendiam a Saneago ou ignoravam o assunto. Já se passaram l6 meses da atual administração e os serviços prestados à população estão cada vez mais precários. O que se fez até agora foi com recursos federais ou empréstimo junto à CEF, pela prefeitura.

Uma nova estação de captação de água prevista para a bacia dos córregos Anicuns e Capivari, que dobraria a capacidade de atendimento à cidade, mesmo sendo imprescindível e inadiável, até hoje continua na estaca zero. Para não inviabilizar a construção de casas pelo projeto Minha Casa, Minha Vida, o município de Anápolis teve que contrair empréstimo na Caixa Econômica Federal, 56 milhões de reais e repassar à Saneago.

Quando se questiona essa forma absurda do Município de contrair empréstimo, esgotando sua capacidade de endividamento, para resolver problemas de terceiros, os protetores da empresa alegam que “ Saneago está em crise financeira! Está falida.”

Que a Saneago está passando por momentos críticos todos sabem, mas a culpa não é da população anapolina. A cidade de Anápolis tem sido a tábua de salvação da empresa há muito tempo. Do município saem por mês mais 6 milhões de reais. Caso os demais municípios servidos pela empresa fossem lucrativos como é Anápolis, por mais que investisse na melhoria dos serviços que presta, não seria deficitária.

Transferindo a crise para o município, o Executivo municipal enviou proposta à Câmara de Vereadores autorizando que a Saneago explore por 30 anos os serviços de forma direta ou os repassem a empresa particular.

O projeto propõe dentre outras coisas, só permitir novos empreendimentos imobiliários na cidade se ficar provado que no local há serviços de água e esgoto. Essa é a maior prova de que não há compromisso com novos investimentos. São incontáveis os loteamentos já habitados que não contam com água tratada ou esgoto sanitário. Para esses casos o projeto em tramitação na Câmara Municipal prevê que, “na ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas soluções individuais de abastecimento de água, afastamento e destinação final dos esgotos sanitários...” Sem rede pública para a execução dos serviços, seria retornar às cisternas com sarilho, corda e balde, pois tratam-se de regiões pobres. Para os condomínios a solução seria a construção de poço artesiano. No caso esgoto, ambos teriam que se virar com as fossas. O projeto também garante à empresa particular que exploraria água e esgoto, em caso de acidente imprevisível na rede dos serviços, que o usuário seria o responsável pelo pagamento do estrago, com aumento de tarifa.

O convênio atual entre prefeitura e Saneago que vigorará até 2023, seria revogado e assinado outro com vigência até 2040, podendo ser prorrogável por acordo entre as partes. Só que o atual contrato não admite entrada de empresa particular para exploração dos serviços. O novo contrato daria esse direito à Saneago. Afronta à Constituição Federal, que não permite qualquer tipo de concessão pública sem licitação. Em momento algum o projeto fala de obrigações dos empresários da exploração dos serviços de água e esgoto para com o Tesouro municipal. Até mesmo os 4% da renda bruta auferida pela Saneago em Anápolis, previstos no convênio atual, seriam excluídos.

Vencidos os 30 anos de exploração pelos particulares, caso o município não queira mais continuar com a parceria, teria que indenizar, em valores atualizados, os bens que constituem o patrimônio da empresa em Anápolis. Na prática o contrato que deveria ser de 30 anos, passaria a ser infinito, pois o município não teria recursos para essa indenização.

Houvesse essa cláusula no convênio de Catalão, os serviços não teriam sido municipalizados. Na justiça a prefeitura de Catalão ganhou o direito de se apossar do patrimônio, sem indenização. Já há inúmeras jurisprudências na justiça brasileira que garantem ao poder concedente, todo o patrimônio de empresa que explorou o serviço de água e esgoto. O investimento feito pela concessionária é pago com a taxa que cobra do usuário, mensalmente.

Não há no projeto nenhum compromisso com a constitucionalidade, legalidade e zelo com a coisa pública. Se a Saneago não tem dado conta do recado, o que se pode esperar de empresa particular contratada por ela? Concretizado o que estabelece o projeto em apreciação na Câmara Municipal, o prejuízo para Anápolis seria incalculável.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O homem que dava nó em goteira

Publicado na edição de 20/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Depois de jogar futebol na equipe varzeana do Araguaia, ao lado de Jair Braz, Menezes, Manoel, Vicente, Evandro, Roque, Zé das Velhas, Geraldo Canseira e outros, comandados pelo técnico João Maquinista, fui para a equipe juvenil do Ypiranga, atuando ao lado de Roosevel, Zanoni, Pepei, Roberto, Roldão, Dadá, Teotônio e Ronaldo Sabag, dirigida por Anastácio Ferreira Barbosa. Conquistamos inúmeras vitórias, ganhamos incontáveis trofeus e medalhas.

Em 1959, realizei o sonho de jogar pelo time principal do Ypiranga, presidido por David Esteves de Azevedo, o Santa Luzia, treinado por Geraldo Bacalhau. Saindo da equipe juvenil ao lado de Zanoni, Roberto, Pepey e Dadá, compunhamos com Issinha, Tibico, Edson Galdino, Glicério, Luiz Pavão, Aires e Guerrinha o elenco alvinegro, campeão anapolino daquele ano, pela Liga Anapolina de Desportos.

O jogo final do campeonato foi contra nosso maior rival, Anápolis Futebol Clube. As duas equipes estavam com a mesma quantidade de pontos ganhos. Quem vencesse seria o campeão. Empate levaria a decisão para disputar melhor de quatro pontos. Naquele tempo, cada vitória representava dois pontos. O empate dava a cada time um ponto.

A decisão estava marcada para o Estádio Manoel Demóstenes. O tricolor anapolino possuía forte equipe, formada, dentre outros, por craques como Jair Braz, Osvaldo, Nera, Nilo, Girico, Aluísio, Carlinhos e Paulo Choco. Ypiranga e Anápolis jogariam com seus principais atletas. No círculo esportivo da cidade, só se comentava sobre a decisão do campeonato anapolino.

Surpreendentemente faltando 24 horas para a partida, a Junta Disciplinar Desportiva, da Liga Anapolina de Desportos, por solicitação feita pelo presidente do Ypiranga, David Esteves, marcou reunião extraordinária para julgar Paulo Choco, do Anápolis, expulso de campo num dos jogos anteriores, pelo campeonato.

O julgamento aconteceu no sábado, poucas horas antes da final, no auditório do Hospital Evangélico Goiano, na Praça James Fanstone. Atletas expulsos de campo, normalmente eram condenados, no mínimo, a duas partidas oficiais. A suspensão por uma partida não era automática, como acontece hoje. Enquanto não houvesse o julgamento, poderia jogar.

Encerrada a sessão de julgamento do maior craque da equipe tricolor, a estrela do Anápolis, a JDD, por maioria dos seus integrantes, suspendeu Paulo Choco por uma partida. De nada valeram os apelos e protestos dos anapolinos. Paulinho, como era mais conhecido, ficou fora do clássico decisivo, no domingo. No outro dia, portanto. O Ypiranga venceu a partida por 1 x 0, gol de Guerrinha, e foi campeão.

Quando os jornalistas perguntaram ao presidente alvinegro, após a reunião extraordinária da JDD, menos de 24 horas antes da decisão, como conseguira que fosse realizado o julgamento algumas horas antes do jogo, derrotando a forte equipe de advogados que defendia o tricolor, tirando da final a maior estrela do Anápolis, David Esteves, que possuía apenas o curso ginasial, respondeu com leve sorriso:

– Em futebol, 10% são letras; 90% são tretas!

Na festa de colocação da faixa de campeão, enfrentamos e vencemos o Goiânia, no Estádio Manoel Demóstenes, por 2 x 1.

David Esteves de Azevedo, longe do futebol, mora hoje em sua fazenda, no distrito de Souzânia, em Anápolis. É considerado um dos maiores dirigentes que o futebol anapolino teve em todos os tempos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Os 38 anos da base aérea de Anápolis

Publicado na edição de 15/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Com a interiorização da Capital Federal em abril de 1960, o Ministério da Aeronáutica iniciou estudos para implantação de uma unidade de defesa do espaço aéreo do Planalto Central. Nos levantamentos geográficos e técnicos feitos por especialistas da área, definiu-se que a instalação dessa nova unidade militar seria em solo goiano. Planaltina de Goiás e Anápolis foram classificadas para estudos preliminares. Por sua situação geográfica privilegiada: entroncamento de rodovias que cortam todo território nacional e centro do maior contingente populacional, num raio de mil quilômetros, Anápolis foi a escolhida.

Em 1968, o Tenente Coronel Aviador Lauro Ney Menezes, integrante do gabinete do Ministro da Aeronáutica, ficou sabendo que era excepcional a localização do aeroporto de Anápolis. Ponto ideal para instalação da nova Unidade da Força Aérea Brasileira. Relatório elaborado pelo Tenente Brigadeiro do Ar, Marcus Herndl, oficial responsável pela escolha da área em que a unidade militar seria edificada, ressaltou a potencialidade de Anápolis e localização estratégica do aeroporto local, que já havia sido palco, numa madrugada chuvosa da década de 50, da histórica assinatura, pelo presidente Juscelino Kubitschek, da mensagem criando a Nova Capital.

Em seu relatório ao comando da Aeronáutica o Tenente Brigadeiro do Ar, Marcus Herndl, ressalta: “Chamou-me atenção a subutilização do aeroporto de Anápolis, no estado de quase abandono; de apreciável infraestrutura aeroportuária, localizado próximo à Capital Federal... Entroncamento rodoviário, servido de ferrovia, em região de importância econômica...”

Sem recursos suficientes para ampliação e reforço da pista de 2 para 3 mil metros, o que faria a Base Aérea mais próxima da rodovia Anápolis-Goiânia e o exagerado ruído causado pelo caça inglês, Lightning MK 55, utilizado pela Força Aérea Brasileira naquela época, o oficial encarregado dos estudos para implantação da Base Aérea de Anápolis, excluiu o aeroporto. A área próxima ao aeroporto já era densamente habitada.

Em abril de 1970, foi definido o local para a instalação da Primeira Ala de Defesa Aérea, próxima à Br 153 – Anápolis-Belém e Br 414, Anápolis-Corumbá. Em abril de 70, a Força Aérea Brasileira decide comprar o caça supersônico francês F-103 Mirage. No dia 15 de setembro de 1970, foi assinado o decreto criando a Primeira Ala de Defesa Aérea. Em outubro daquele ano, representantes do Ministério da Aeronáutica visitam o prefeito de Anápolis Henrique Santillo e o governador de Goiás, Otávio Lage de Siqueira, comunicando oficialmente a instalação futura da Unidade da Força Aérea em Anápolis. Em abril de 1972, o Major Aviador Piragibe Fleury Curado assume o Comando da Unidade da Força Aérea em Anápolis. No dia 23 de agosto, o Brigadeiro do Ar Paulo Costa inaugura a pista da Base Aérea pilotando um C-45. No dia 1° de outubro de 1972, chega a Anápolis o primeiro Mirage F-103. No dia 23 de outubro do mesmo ano, assume o comando da Base Aérea o Coronel Aviador Antônio Henrique Alves. Em abril de 1973, seis aviões Mirage F-103 fazem o primeiro voo sobre Brasília, sob o comando do Coronel Antônio Henrique.

A parceria dos militares integrantes da Base Aérea com a sociedade anapolina sempre foi excelente. Oficiais, sub-oficiais e soldados participam intensamente dessa integração realizando grandes projetos comunitários, esportivos e sociais. Campanhas de saúde pública são constantemente realizadas em parceria com o poder público e clubes de serviço. Todos os anos os portões da Base Aérea são abertos ao público, recebendo milhares de visitantes. A mais importante e movimentada festa junina do município acontece anualmente na Base Aérea, numa confraternização contagiante. Milhares de crianças dos bairros periféricos participam dos programas esportivos sob o comando de militares, geralmente mulheres, preparadas para essa integração.

Nem mesmo a manobra política pretextando a presença da Base Aérea em Anápolis para cassar o mandato do prefeito José Batista Júnior, em 28 de agosto de 1973 e transformar o município em Área de Segurança Nacional, pelo AI-5, tirando do povo o direito de eleger seu prefeito por 12 anos, dificultou a convivência harmoniosa dos anapolinos e militares da Base Aérea. Em momento algum, se envolveram em questões políticas partidárias.

A Base Aérea de Anápolis, que antes tinha como função exclusiva proteger o espaço aéreo da Capital Federal e a região central do Brasil, passou a desempenhar importante trabalho de vigilância da Amazônia Legal, ao abrigar o 2º GAV, com objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Ao completar seus 38 anos de existência a Base Aérea de Anápolis é comandada pelo Coronel Aviador Alcides Teixeira Barbacovi. Motivado e cheio de projetos inovadores no campo da defesa aérea e envolvimento total com a sociedade civil, lidera seus 1.472 integrantes, com idealismo, competência e dedicação.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Xata, o segundo time de todos

Publicado na edição de 13/04/2010 do jornal Diário da Manhã

A Associação Atlética Anapolina, a Rubra ou Xata, como carinhosamente é conhecida, no passado foi um time de poucos adeptos. Seus próprios torcedores a classificavam como a equipe de 33 simpatizantes. Só a família Puglisi representava mais da metade de toda sua torcida. Simpática, formada por atletas dedicados, torcedores do São Francisco, Induspina, Anápolis e Ypiranga, se uniam aos poucos torcedores rubros quando o time enfrentava outra equipe que não fosse a sua. Dessa forma quando jogavam Anápolis e Anapolina, torcedores do Ypiranga torciam freneticamente pela Xata. O mesmo acontecia com os torcedores do Anápolis quando a Rubra enfrentava o Ypiranga. Por isso nunca se soube exatamente o tamanho da sua torcida.

Juca, Pedruca, Arnaldo, Joãozinho, Nego, Iberê, Fogueira, Célio Sabag, Zeca, Laudo, Celso Campos, Sergio, foram algumas das figuras importantes da Xata no tempo do amadorismo. Já próximo ao surgimento do profissionalismo fizeram parte da equipe Patinho, Calango, Ferracioli , Teles, Roberto e Roberto Bim, dentre outros vindos de Minas e São Paulo.

O mais emblemático torcedor de futebol em todos os tempos, em Anápolis, foi Caetano, da Anapolina. Mineiro de Uberaba, trazido para o município pelo seu sogro Garibaldi Paulino, que se encontrava na cidade desde 1933, a convite do prefeito dr. Valente, para o ajardinamento das praças Americano do Brasil, Bom Jesus e a Chácara das Rosas. Antes de vir para Anápolis, Antônio Caetano Júnior, o Caetano, já era torcedor fanático do Clube de Regatas Flamengo e do Uberaba Esporte Clube. Admirava tanto o Uberaba que o presidente da Xata, Anapolino de Faria, quando assumiu a prefeitura em 1982, acertou com o maestro da Banda Lira de Prata de Santana, que a banda iniciasse e finalizasse suas apresentações com marcha Uberaba Esporte Clube.

Cunhado do goleiro Juca, um dos craques mais queridos da Anapolina em todos os tempos, Caetano se simpatizou logo com a Xata, participando integralmente das suas atividades esportivas. Era show à parte. Chamava os torcedores de Anápolis e Ypiranga,seus principais adversários e cujos uniformes eram listrados, de “vestidos de zebra.” Onde quer que se encontrasse no Manoel Demóstenes fazia a alegria dos torcedores. Para Caetano, os atletas da Anapolina não tinham defeito. Adversário chutando errado, gritava “ Óh o pé dele Carpaneda!”.

Carpaneda era um ferreiro que tinha sua oficina em Anápolis. Quando alguém precisava de serviço de ferragem, principalmente que usasse bigorna, procurava a oficina do Carpaneda. Na base da bigorna, forno de alta temperatura e pesadas marretas, tudo se resolvia na ferraria do Carpaneda. Duelo extra-campo extraordinário acontecia quando jogavam Anapolina e Anápolis. Caetano do lado rubro enfrentando Mané Padeiro e Teodora, símbolos marcantes da torcida tricolor. Terodora comparecia aos jogos do Anápolis impecavelmente vestida, sempre carregando sua inseparável sombrinha, geralmente nas cores do seu time. Ficavam distantes um dos outros, se respeitando mutuamente.

Num desses jogos o atacante Zeca Puglisi driblou toda defesa do Anápolis, marcando gol de placa. Caetano foi ao delírio. Como havia evitado o tempo todo Teodora e Mane Padeiro, resolveu se aproximar dos dois, extravasando sua alegria pela frente no placar e beleza do gol marcado. Quando menos esperava, Teodora saiu do meio da torcida tricolor e partiu para cima dele quebrando a sombrinha na sua cabeça. Caetano socorrido pelo médico da Anapolina, já recuperado do susto e da agressão sofrida, foi abordado por Teodora lhe cobrando uma nova sombrinha. Não querendo briga, muito menos com uma dama, lhe deu a sombrinha.

Caetano faleceu em 18/11/1961, deixando lacuna impreenchível, nos estádios da cidade. Grande parte da simpatia que torcedores de outros clubes tinham pela Associação Atlética Anapolina, vinha da figura carismática de Antônio Caetano Jr., o Caetano de “Óh o pé dele Carpaneda”. Mais de 90% dos torcedores do Ypiranga torcem hoje pela Xata, a maior torcida de Anápolis.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Diferença entre Santillo e Alcides

Publicado na edição de 08/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Depois de enfrentar e resolver até mesmo o local para o armazenamento do lixo radioativo, do terrível acidente com o césio 137, em setembro de 1987, sem qualquer participação do governo federal, Henrique Santillo ainda sofreu dura retaliação política da dupla José Sarney e Fernando Collor de Melo, no final do seu governo.

Sarney se comprometera a financiar pela Caixa Econômica Federal o programa que o governador realizou asfaltando ruas e avenidas dos municípios goianos. Não honrou o compromisso, obrigando o governador a se utilizar de Letras do Tesouro Estadual para saldar a dívida com as empresas que realizaram a pavimentação. Collor, em seguida, exigiu que as letras emitidas fossem resgatadas pelo governo estadual alguns dias após a emissão, comprometendo grande parte do Fundo de Participação do Estado – FPE. Desequilibrou a finança estadual, inviabilizando o final da administração Henrique Santillo.

Cidadão responsável, o governador abriu mão do seu projeto eleitoral pessoal para 1990, não passando o governo ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Milton Alves. Entendeu que seria deslealdade entregar administração desequilibrada ao companheiro. Ficou no cargo até o último dia do seu mandato, enfrentando o caos financeiro-administrativo, criado por Sarney/Collor.

Na escolha do candidato do PMDB à sua sucessão, Henrique Santillo optou por Antônio Faleiros, secretário da Saúde. Queria homenagear o companheiro que lhe foi solidário no episódio com o césio 137. Incumbiu-me de conversar com Iris Rezende Machado, que ocupava o Ministério da Agricultura, sobre sua decisão. O ministro disse-me que não tinha nenhuma restrição política ou pessoal a Faleiros, mas que na sua avaliação o PMDB goiano possuía outros companheiros que, no seu entendimento, possuíam mais serviços prestados ao partido. Henrique, escolhendo um desses nomes, o apoiaria.

O governador e alguns assessores chegaram à conclusão que Iris Rezende queria ele próprio ser o candidato. Qualquer outro nome que fosse aventado seria pelo ministro descartado. Insistiu com o nome de Faleiros. Convocou as lideranças peemedebistas a Goiânia para ouvi-las. A maioria se mostrou de acordo.

Ao mesmo tempo Iris Rezende Machado em outro ponto de Goiânia se reunia com o mesmo pessoal. Mostrava-se disposto a disputar o governo, desde que todos lhe dessem o apoio integral. Só seria candidato com o partido unido.

Sendo Iris Rezende conhecido de todos e que, com ele, a vitória era certa, as lideranças foram abraçando seu projeto, afastando-se de Faleiros. Eram amigas e respeitavam Henrique Santillo, mas queriam ganhar a eleição. Fui a voz isolada que trabalhou junto ao governador para aceitar a candidatura de Iris ao governo. Os chamados “luas pretas”, dos dois lados, não queriam conciliação. Queriam tirar vantagem pessoal com a divisão.

Sentindo que era impossível enfrentar Iris, que tinha maioria no diretório regional do PMDB, maioria dos delegados municipais e maioria nas bancadas de deputados estaduais e federais que formariam a Convenção do partido, o governador refluiu da ideia de lançar Faleiros.

Henrique Santillo liberou seus companheiros para apoiarem Iris Rezende e continuou administrando a crise que lhe foi montada por Sarney/Collor. Não teve sequer o direito de mostrar aos goianos a violência perpetrada contra seu governo. Por absoluta falta de condição política não participou do horário eleitoral gratuito. Sofreu tudo calado! Só lhe restou deixar o PMDB após as eleições.

Hoje o governador Alcides Rodrigues vive situação semelhante a que viveu Henrique Santillo em 1990. Seus companheiros, esmagadora maioria, preferem Marconi Perillo a Vanderlan Cardoso. Entendem que se há alguém na base governista que possa enfrentar de igual para igual Iris Rezende, este é Marconi Perillo. Além de governar Goiás por oito anos, Marconi participou da eleição municipal ao lado deles. É natural que não se deixem afetar pelos desentendimentos pessoais dos caciques. Desejam governar por mais quatro anos. Sabem ser muito mais fácil conseguir essa proeza com Marconi que com Vanderlan.

Por pertencer a outra legenda, o que interessa a Alcides Rodrigues é mostrar para a população a herança recebida e o que fez como governador. Aproveitará o horário eleitoral gratuito para defender sua administração. Essa a grande diferença entre Henrique Santillo e Alcides Rodrigues: mesmo que por pragmatismo eleitoral perca companheiros, terá horário no rádio e televisão para fazer sua prestação de contas aos goianos!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Coadjuvante de uma grande causa

Publicado na edição de 01/04/2010 do jornal Diário da Manhã

A primeira vez que disputei eleição por partido político foi em 1970, como candidato a deputado estadual pelo MDB. Meu irmão Henrique Santillo já havia disputado e vencido as eleições para vereador em 1966 e prefeito em 1969, também pelo MDB. Fiz parte dos 12 que formaram a bancada emedebista na legislatura de 1971/1975, reduzida logo no início, com a adesão de Clarismar Fernandes à Arena.

Com a cassação das principais lideranças oposicionistas no Estado, sendo a mais traumática delas a do prefeito de Goiânia, Iris Rezende Machado, o prefeito de Anápolis surgia como a grande esperança da oposição goiana. Ao mesmo tempo em que Iris Rezende era cassado e direitos políticos suspensos por 10 anos, foram suspensas as eleições diretas para os governos estaduais, substituídas por eleições indiretas pelas Assembleias Legislativas. Como a Arena possuía maioria nos Estados, só ficou sem o governo do Rio de Janeiro, onde a maioria era do MDB.

A frustração do eleitorado goiano com a cassação de Iris e suspensão das eleições diretas para o governo em 1970, foi pouco a pouco cedendo lugar ao otimismo que contagiou o Estado inteiro, pela resistência que partia de Anápolis. Seu povo dava vitórias consecutivas e cada vez mais expressivas ao MDB.Isso ficou claro em 1972, com a vitória maiúscula de José Batista Júnior à prefeitura, contra todas as forças governistas.

Nem mesmo a cassação de José Batista Junior, em 28 de agosto de 1973, transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional e outra vez a suspensão da eleição direta para governador em 1974, tiraram a motivação dos goianos pela redemocratização. A maior prova foram as eleições dos emedebistas Lázaro Ferreira Barbosa ao Senado, cinco deputados federais e Henrique Santillo para a Assembleia Legislativa, com mais de 32 mil votos, naquele ano.

De toda essa maratona cívica participei como coadjuvante de Henrique Santillo, na sua luta pela redemocratização do Brasil e chegar ao governo do Estado. Por conhecê-lo, acreditava nele. Em 1974, como candidato natural a deputado federal, Henrique no último instante disse que só lhe interessava ser candidato a deputado estadual, porque não queria abandonar sua atividade de médico, o que aconteceria se fosse para Brasília. Mesmo me tendo preparado para ser candidato à reeleição, disputei a cadeira de deputado federal para que ele não se afastasse das disputas. Fui reeleito mais duas vezes para a Câmara Federal, sempre dentro do projeto de consolidar sua candidatura ao governo.

Minha eleição para a 2ª vice-presidência da Câmara dos Deputados, 77/78 , foi visando seu projeto político. Assumi a secretaria da Educação em 1983, primeira administração de Iris Rezende, para fortalecer seu nome junto às lideranças municipais.

Com emoção vi em 1982, Henrique Santillo, a maior liderança política goiana naquele instante, forjada na oposição e combate à ditadura, abrir mão da sua natural candidatura ao governo, para Iris Rezende Machado, entregando-lhe um eleitorado motivado, organizado e imbatível. Essa força peemedebista goiana foi demonstrada na disputa para o Senado em 1978, quando a dupla Henrique/Juarez derrotou os arenistas Osires/Jarmund/Jonas.

A partir daquele resultado, não havia a menor dúvida, em qualquer eleição majoritária que ocorresse em Goiás, o PMDB venceria. Pelo trabalho prestado e vitórias obtidas, Henrique Santillo era a maior liderança política em Goiás. Como o grande nome, apenas adiava um pouco mais seu sonho de governar o Estado. A alegria seria em dose dupla em 1986: ser governador de Goiás depois de sepultada a ditadura. Participei com muito orgulho dessa tarefa cívica e patriótica em prol dos brasileiros.