quarta-feira, 30 de março de 2011

Eurico Barbosa revigorou nossas energias

O advogado, político, escritor e jornalista Eurico Barbosa, no seu artigo “Desolação,” publicado pelo Diário da Manhã, na edição de 15 de março, afirma que a representação popular nos parlamentos brasileiros é abaixo crítica. Ressalta que não é um problema exclusivo do Brasil, mas fenômeno mundial.

Ao citar algumas figuras folclóricas eleitas na atual legislatura para o Congresso Nacional, Eurico deixa claro que pior que esses, são aqueles que foram eleitos pelo poder econômico, pela malversação do dinheiro público e pela propinagem. O oportunismo de donos de partidos, lançando candidatos, figuras folclóricas do mundo artístico, ou expressões consagradas no meio esportivo, escancarou as portas dos parlamentos para o descrédito da atividade política. Lançam os chamados puxadores de votos, para que possam ir às suas costas.

Dentro desse quadro desolador e pouco republicano descrito pelo jornalista em “Desolação,” depois de lamentar pela exclusão de figuras reconhecidamente dotadas de responsabilidade moral e intelectualmente bem preparadas, cedendo lugar aos representantes do populismo de big brother ou da propinagem, lamenta a mediocridade de muitos que têm assento nas casas legislativas.

A citação ao nosso trabalho como políticos que honraram o mandato popular, nos emocionou. Revigorou nossas forças para prosseguirmos nessa caminhada em busca da justiça social, de uma sociedade cada vez mais liberta e democrática. Eurico Barbosa, em “Desolação,” ao lamentar que o poder econômico tenha substituído o mérito moral e intelectual nas disputas eleitorais, arremata: “Parece que nunca mais teremos os Afonso Arinos, os Almino Afonso, os Aleomar Baleeiro, os Franco Montoro, os Ulysses Guimarães, os Simão da Cunha, os Vasco dos Reis, os Paulo Campos, os Celestino Filho, os Peixoto da Silveira, os Wagner Estelíta, os Henrique e Ademar Santillo, centenas de outros políticos pobres mas intelectualmente brilhantes que honraram o Congresso Nacional.”

Essa declaração, verdadeiro manifesto público, nos enche de orgulho e satisfação, porque Eurico, como deputado estadual em 1966, ao lado de Iturival Nascimento, foram as duas únicas vozes que se levantaram a favor de Henrique Santillo, eleito o vereador mais votado de Anápolis, não foi diplomado, por perseguição política, com a conivência da Justiça Eleitoral do Município. A ditadura militar de 64 não aceitava contestações. O MDB de Anápolis de estrutura conservadora não tinha motivação para defender seu membro perseguido. Sabia que Henrique impedido de exercer o mandato os votos ficariam com a legenda. Poucos externaram seu protesto. O MDB estadual, sucessor do PSD, ainda atordoado pela derrota de Peixoto da Silveira e cassação de inúmeras lideranças, simplesmente ignorou o episódio de Anápolis.

Os deputados Eurico Barbosa e Iturival Nascimento formalmente protestaram contra a violência, colaborando para que o TRE reformasse a decisão do juiz eleitoral de Anápolis, diplomando e empossando Henrique Santillo. Essa ação política permitiu que a caminhada prosseguisse. Não morresse no nascedouro. Muitas outras perseguições enfrentamos nestes 45 anos que nos separam daquele fatídico acontecimento.

Processos dolosos montados por adversários e órgãos da repressão, tentativa de cassação dos nossos mandatos, prisões em massa de companheiros, cassação do mandato de José Batista Júnior e transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional, fechamento de emissora de rádio... A tudo resistimos, sempre contando com o apoio popular. Valeu a pena lutar. Uma avaliação como essa feita por Eurico Barbosa é o maior galardão que um político pode receber.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Julgamento que pode firmar jurisprudência

Inúmeros processos envolvendo questões eleitorais ocorridas em Goiás, nos pleitos de 2008 e 2010 tramitam pela Justiça Eleitoral. O de Anápolis, relativo às eleições municipais de 2008, é muito importante. No TRE, está com o Ministério Público para oferecer seu parecer.

Perguntas que precisam de respostas: podem ser distribuídos presentes e outros “agrados” aos eleitores, no período eleitoral, sem que sejam considerados abuso do poder econômico, desde que bancada por um supermercado ou qualquer outra empresa jurídica, mesmo que pertencente a alguém que seja candidato? Estando presentes representantes, candidato e esse ausente, sua propaganda pode ser feita abertamente, com festa, distribuição de presentes, discursos e pedidos de votos? Para ser crime, o público presente à concentração tem que ser superior aos votos que o vencedor teve de frente sobre o adversário, para que seja infração eleitoral?

Isso não se trata de hipótese. Aconteceu no 2º turno das eleições municipais de Anápolis, em 2008. No dia 12 de outubro, no feirão coberto do Bairro de Lourdes, o Supermercado Cedro, pertencente a Domingos Paula de Souza, eleito vereador pelo PTB, realizou festa em homenagem às crianças, com distribuição de 3.412 itens entre bolas, bonecas, mochilas, 11 bicicletas e uma piscina, para um público presente de sete mil pessoas. Além da distribuição dos prêmios e refrigerante à vontade, houve agradecimentos pelos votos dados a Domingos, no primeiro turno, e pedido de votos para o candidato do PT, Antônio Roberto Gomide, no 2º turno.

Tudo ficou amplamente documentado com as provas materiais e testemunhais acostadas ao processo. Domingos Paula de Souza, em depoimento, confirmou a distribuição de 3.412 itens entre brinquedos, bicicletas e piscina. O que não foi distribuído às crianças foi sorteado pelos organizadores e dirigentes do evento. Presentes, além de Domingos e seus assessores, estiveram Frei Valdair, candidato do PTB à prefeitura, no lº turno, e apoiando Gomide, no 2º; Céser Donizete, ex- presidente do PT e Edmar Silva, presidente municipal do PT. O locutor da festa, o tempo todo, dizia: agora é 13. Agora, é Antônio Roberto Gomide. Quem votou em dominguinhos e Frei Valdair agora vota em Antônio Roberto Gomide. Toda festa foi filmada e faz parte de DVD entregue à Justiça.

O PMDB denunciou o crime, no seu programa eleitoral pela televisão e rádio. Entrou com representação junto à Justiça Eleitoral. Passado o 2º turno, com a vitória de Antônio Roberto Gomide, a candidata do PMDB, Onaide Santillo, também presidente municipal do partido, retirou a representação. Alegou que apresentara a representação para impedir que novas festas continuassem sendo realizadas. Como democrata, se dobrava à decisão do eleitorado, reconhecendo a vitória do adversário.

No seu relatório sobre o acontecido no dia 12 de outubro de 2008, no Bairro de Lourdes, realizado pela Polícia Federal de Anápolis, a pedido do Ministério Eleitoral, o delegado Humberto Evangelista, classifica a distribuição de brindes como “agrados” aos eleitores e fazem parte do marketing de campanha. Não viu crime eleitoral no evento festivo. Foi mais longe: pediu que o denunciante - dirigente do PMDB seja processado criminalmente por ter exposto injustamente (Antonio Gomide), o denunciado.

O Ministério Público continuou com a Investigação Judicial Eleitoral. Os quatro promotores eleitorais, diante da contundência das provas e gravidade do ocorrido, ofereceram denúncia pela cassação de diplomas e suspensão dos direitos políticos de Antônio Roberto Gomide e Domingos Paula Souza, por abuso do poder econômico.

O juiz eleitoral da 144ª Zona Eleitoral reconheceu, em argumentações na Sentença, que a festa foi eleitoreira, havendo, portanto, farta distribuição de brindes e infringência à Lei Eleitoral. Suspendeu os direitos políticos de Domingos Paula de Souza, por três anos, mas não cassou seu mandato. Quanto a Antônio Gomide, mesmo reconhecendo infração eleitoral por ele cometida, o absolveu. Para o juiz, o número de eleitores presentes à festa não seria suficiente para alterar o resultado final das eleições, no 2º turno. Só haveria, de acordo com o juiz eleitoral, probabilidade de cassar o mandato do prefeito e suspender seus direitos políticos, caso houvesse continuidade desse tipo de infração. Como foi apenas uma festa, na qual compareceram aproximadamente sete mil pessoas, mesmo que esses votos fossem retirados da sua votação, o petista seria eleito. Como o PMDB já havia saído da ação e o Ministério Público não recorreu da decisão dojuiz Algomiro Carvalho Neto, a ação não subiu ao Tribunal Regional Eleitoral, no que se refere a Antônio Roberto Gomide.

O TRE deve julgar o recurso impetrado por Domingos Paula de Souza, que recorreu da sentença que suspendeu seus direitos políticos por três anos. Na sua decisão, a Justiça diz que Domingos foi beneficiado. Teve menos de dois mil votos. Neste caso, os sete mil presentes à festa alterariam o resultado eleitoral a seu favor. O julgamento desse processo pelo Tribunal Regional Eleitoral, mesmo que parcial, só envolvendo o vereador Domingos Paula de Souza, pode criar jurisprudência para as próximas eleições.

domingo, 20 de março de 2011

Discos que me fazem voltar ao passado

Recentemente fui presenteado pelo amigo José Moreira, o Zuza do Agenor de Uruana, com uma coleção de uns 500 discos 78 rotações por minuto, das décadas de 50/60, com Orlando Silva, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Nora Nei, Francisco Alves e muitos outros astros e estrelas da música popular brasileira e internacional, de todos os tempos. Para ouvi-los, reformei a vitrola que se achava encostada junto a bagulhos, que ainda não encontrei coragem para descartá-los. Ainda bem! Algumas vezes, como agora, podem nos tirar do sufoco.

Vou convidar Mauro Gonzaga Jaime, o Pastinha, para que possamos apreciar alguns clássicos que fazem parte da coleção que ele incentivou Moreira a me presentear. Mauro Pastinha é fanático por música. Maior colecionador goiano das canções de Altemar Dutra, Roberto Carlos e Beatles. Pastinha sabe tudo sobre eles. Conhece as letras e como e para quem foram compostas. Nesse mundo cada vez mais selvagem em que vivemos, valores intelectuais perdendo o sentido, há os que classificam esse conhecimento e gosto por músicas populares do passado, como cultura inútil. Para mim, não. Volto ao passado com prazer e alegria. Passado de criança pobre, com experiência que os meninos de hoje, ricos ou pobres, dificilmente viverão.

Hoje as letras para fazerem sucesso têm que narrar fracassos e frustrações no amor. Fazem apologia à bebida. Quanto mais “ dor de cotovelo” e alusão à bebedeira, mais sucesso alcançam. Não possuem, contudo, a sabedoria e fineza poética de Lupicínio Rodrigues, o inventor da expressão “dor de cotovelo.” Poucos são os poetas, inteligentes e espirituosos, como Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Chico Buarque, Humberto Teixeira, Pena Branca e Xavantinho e tantos outros que enriqueceram e enriquecem nosso acervo musical. Para muitos, canções do passado ou música de protesto só servem para museu e relatos históricos.

Os discos que incorporei à minha discoteca, levaram meu pensamento ao passado. Passado já bem distante, mas que para mim parece ter sido ontem. Lembranças gostosas e prazerosas. Lembranças da adolescência quando por falta de outras opções de lazer em Anápolis, Jayro Rodrigues, Oara Silva, Altair Garcia Braguinha, Mauro Pastinha, Geraldo Divino, Romualdo e eu, íamos à noite ao parque de diversões do Bené Silva, o Goiá-Parque, instalado à Rua Leopoldo de Bulhões, ao lado da estrada de ferro. Carrosséis, barquinhos, balanços, jogos de argola e músicas, eram suas atrações. Seus potentes alto-falantes ouvidos por todo setor central da cidade, que ainda era pequena. Goiá-Parque, local preferido por jovens de ambos os sexos darem recado à pessoa amada ou pretendida.

Com os chavões até hoje usados nos parques de diversões por todo interior do País, Bené Silva, que além de dono era locutor, fazia isso com precisão e competência: “Ouviremos agora – Empresta-me Teus Olhos -, com Carlos Galhardo. Essa música é dedicada a alguém, esse alguém sabe quem, com amor e carinho!” Ou: “A moça de vestido estampado oferece – Nós Queremos Uma Valsa – com Carlos Galhardo, ao charmoso rapaz de camisa branca e calça preta, com respeito e admiração.” Depois dessas dedicações, a garotada tentava descobrir quais eram os protagonistas daquelas declarações de afeição e amor. Bené era também produtor e redator das propagandas e mensagens que difundia no parque “A, E, I, O, URCA! URCA, o melhor café!”

As atividades no Goiá-Parque se encerravam por volta das 23 horas. Sempre com show do Porã e seus Bonecos Falantes. Timóteo, jogador do Anápolis Futebol Clube, à noite se transformava em Porã. Levava consigo os bonecos Crispim e Marieta. Ventríloco, criava histórias diárias para seus bonecos falantes. Timóteo, ou melhor Porã, Crispim e Marieta eram espetáculo à parte, engraçadíssimos. Bené Silva, antes de encerrar as atividades, fazia propaganda do seu parque:

“Seja belo como galã, forte como Tarzan, balangando nos balangos do Goiá-Parque!”

quarta-feira, 16 de março de 2011

Respeito e amor à vida

O maior terremoto da história do Japão, provocando tsunami com ondas de até 12 metros nas águas do Oceano Pacífico, só não foi mais arrasador, ceifando centenas de milhares de vidas humanas, pelo preparo do seu povo em lidar com esse tipo de catástrofes. Na escola, no trabalho, pelos meios de comunicação de massa e até em casa, a população japonesa é orientada como proceder quando há tremor de terra, o mais frequente dos desastres naturais que ocorrem no país. Mesmo com seu amor à vida, o povo não consegue fugir das destruições naturais. Seria infinitamente pior se não houvesse sua permanente vigilância. Graças a essa preocupação, o terremoto de 8,9 na escala Richter, o maior registrado já no Japão, provocou menos mortes que o de 2004, na Indonésia, em que mais de 200 mil pessoas morreram, num terremoto de menor magnitude. Os desastres constantes têm feito com que a população a cada abalo sísmico adquira novos conhecimentos, se resguardando do perigo futuro, graças aos investimentos permanentes feitos pelo governo e conscientização do povo japonês.

Enquanto essa catástrofe que impressionou a população mundial com suas imagens aterrorizantes, ceifando vidas humanas, arrasando cidades, avariando usinas nucleares, destruindo plantações, engolindo navios, carros, estradas, pontes e viadutos, no colossal acidente natural equivalente à detonação de milhares de bombas atômicas, uma outra silenciosa, provocada pela incompetência governamental, aconteceu no Brasil, passando quase desapercebida. Sem maior destaque até mesmo na imprensa nacional, antenada que estava na destruição do Japão, 213 pessoas, a maioria jovem, perderam a vida em acidentes nas rodovias federais, durante os festejos do último carnaval.

Se computássemos as mortes que ocorreram no mesmo período em rodovias estaduais e hospitais, daqueles que foram resgatados com vida, esse número de pessoas mortas no feriado do carnaval, dobraria.

Essa catástrofe que enlutou inúmeras famílias, deixou milhares de pessoas gravemente feridas, superlotando hospitais e causando alguns milhões de reais em prejuízo material, poderia ser reduzida drasticamente, caso houvesse investimento no sistema de orientação aos motoristas e sua fiscalização nas estradas.

Numa das suas últimas edições, o jornal O Globo, ao mesmo tempo que destacou o esforço hercúleo das autoridades japonesas para preservarem vidas diante de mais um desastre natural, informa para a tristeza e vergonha de todos nós, que no período de carnaval, o Departamento Nacional de Trânsito só fez campanha de prevenção de acidentes em três capitais: Rio, Recife e Salvador. Ressalta ainda que “o Ministério das Cidades alega que faltaram recursos para uma campanha nacional contra violência nas estradas. O Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito teve 72% do orçamento de 2011, contingenciados”.

Esse descaso para com as famílias que usaram as rodovias no carnaval , além de vergonhoso é irresponsável e criminoso. Sem orientação e fiscalização, as estradas foram usadas como pista de corrida e campo de guerra por motoristas despreparados e irresponsáveis. Beberam em demasia, praticaram rachas, deram “cavalos de pau”, não respeitaram sinalizações, ultrapassaram em locais proibidos, morreram e também mataram dezenas de inocentes. Ao tomarem conhecimento que as rodovias estavam sem policiamento, aguçaram seu instinto à violência, transformando o que era para ser alegria, em choro e tristeza para centenas de famílias.

Chorar seus mortos por catástrofes naturais, como choram hoje os japoneses enlutados, é lamentável e triste, mas plenamente compreensível. A natureza tem sido mais forte que o homem. Mas chorar mortos por falta de policial rodoviário, equipamentos de segurança, falta de orientação e fiscalização aos motoristas de vocação suicida é despreparo e irresponsabilidade. Chorar os mortos por contingenciamento de recursos orçamentários que preservariam a vida, combatendo a violência nas estradas, é crime inaceitável.

domingo, 13 de março de 2011

Anapolino de Faria, uma vida de coerência


Anapolino de Faria, médico, filho de família tradicional em Anápolis, sempre conciliou sua atividade profissional com a participação política. Coerente, sincero e sistemático, referência positiva e fez escola na política goiana e nacional. Democrata, mas anticomunista convícto, mesmo assim era admirado e respeitado pelos esquerdistas que o conheceram. Seu compromisso com a democracia foi mais forte que sua ideologia. Desde a primeira hora, se colocou contra o golpe militar de 1964. Nas tribunas da Assembleia Legislativa, Câmara Federal, praças públicas, concentrações simpósios e palestras, se firmou como uma das vozes mais importantes no combate à ditadura.

Anapolino de Faria era respeitadíssimo como cirurgião. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trouxe para Anápolis a técnica de operação de bócio, que por aqui era endêmico. A hipertrofia da tireoide fazia com que os “papos”, dos mais simples aos de corda, aqueles bem compridos, surgissem deformando as pessoas. Além de afetar-lhes a saúde, diminuía intensamente sua autoestima. Com o médico Anapolino de Faria, o sonho de vida normal, recuperação da beleza estética, sorriu para centenas de indivíduos que foram restaurados como que por milagre.

O respeito e amor que dedicava aos pacientes, maioria oriunda das camadas mais pobres da população, fez com que Anapolino de Faria percebesse que poderia ajudar o povo de forma mais abrangente, através da política partidária. Elegeu-se vereador e foi presidente da Câmara Municipal de Anápolis. A partir daí sua carreira política decolou repleta de vitórias: deputado estadual, deputado federal, prefeito de Anápolis...

Anapolino de Faria foi um dos responsáveis pelo fim do coronelísmo em Anápolis. Em 1969, ficou a favor da candidatura do vereador Henrique Santillo à prefeitura, contra as forças tradicionais e conservadoras do município que queriam Thales Reis, genro do cel. Achiles de Pina. Embora nacionalmente fizesse parte do grupo moderado do Movimento Democrático Brasileiro – MDB, no município, esteve sempre ao lado dos progressistas, ou autênticos, liderados por Henrique Santillo.

Quando foram cassadas lideranças tradicionais da política goiana, como Pedro Ludovico, Olimpio Jayme, Iris Rezende Machado, João Abraão e outras figuras expressivas do MDB, assumiu a presidência regional do partido.

Em 1996, quando me candidatei à prefeitura de Anápolis, ficou ao meu lado, no PSD, mesmo pertencendo ao PMDB. Não concordou com o comando do seu partido em Anápolis, que apoiou Pedro Canedo (PFL) tendo a deputada federal Lídia Quinan(PMDB) na vice. Deixou de apoiar seu amigo e líder de inúmeras eleições, Henrique Santillo, por ser candidato pelo PSDB.

Em 1983, cumprindo dispositivo constitucional o governador Iris Rezende Machado o indicou para assumir a Prefeitura de Anápolis. Assim a prefeitura ficaria com o PMDB, amplamente majoritário em Anápolis e no Estado. A princípio rejeitou totalmente a ideia:

– Não aceito! Não quero carregar essa mancha na biografia.

O convencemos que à frente da prefeitura seria mais um instrumento do povo, pelo retorno de eleição direta no município.

Aceitou a indicação. Deixou o cargo quando o substituí. Fui eleito pelo voto direto em 1985, depois de Anápolis ter perdido por 12 anos sua autonomia política ao ser enquadrada como do interesse à Segurança Nacional, em 28 de agosto de 1973.

Anapolino, eterno apaixonado pela educação, contatava com os mestres de forma direta. Mesmo que o intermediário fosse o sindicato. Egmar José de Oliveira (PCdoB), vereador e presidente do sindicato dos professores, precisava discutir assuntos da categoria com o prefeito. Por não conseguir agendar a audiência, decidiu pressioná-lo, fazendo seu enterro “simbólico.” A manifestação aconteceu em frente ao seu gabinete, na Praça Abílio Wolney. Encerrado o protesto, enterro “simbólico” do prefeito realizado, caixão abandonado no saguão da prefeitura, Egmar foi ao gabinete na tentativa de acertar a audiência. Tomando conhecimento que o presidente do sindicato estava à sua procura, determinou ao secretario Nelson Gomes que o conduzisse à sua presença. Egmar adentrou à sala todo sorridente. Anápolino, em pé, atrás da sua mesa de despacho, antes que houvesse o aperto de mãos:

– O senhor deseja marcar audiência, não é?

– Sim, prefeito! Há questões importantes que precisam ser discutidas.

– O senhor deveria saber que defunto não concede audiência...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ainda há tempo para salvar hospital psiquiátrico

Os noticiários diários dos jornais e das emissoras de televisão e rádio são cada vez mais frequentes e estarrecedores sobre crimes praticados por jovens com transtornos mentais, por uso de produtos químicos. Casos que revelam o caos na assistência ao dependente químico e mental, por uma política equivocada e perversa praticada pelo SUS, contra os hospitais psiquiátricos.

Em 7 de outubro de 2009, Marival Severino da Costa, presidente da Associação dos Familiares de Doentes Mentais no Brasil – AFDM Brasil, denunciou à nação o genocídio de doentes mentais no País. Em dezembro de 2008, a associação realizou seminário, cujos debates não deixaram dúvida da ocorrência de uma tragédia silenciosa atingindo os que dependem do SUS.

“A política de reforma psiquiátrica antimaniconial do Ministério da Saúde vem matando milhares de doentes mentais pelo País afora. Isto é consequência de uma política desumana e cruel que reduziu as internações no SUS e ainda não escuta a voz dos familiares e amigos dos doentes mentais. O discurso da desospitalização irresponsável dos antimaniconiais prega a volta para casa. Nós familiares e amigos de doentes mentais perguntamos: que casa? Essa política oficial levou milhares de doentes mentais para as ruas, os presídios e os cemitérios.”

Eduardo Quadros Spinola, médico presidente do Departamento de Psiquiatria da Federação Brasileira de Hospitais, usando dados oficiais do governo, confirma que crescimento da mortalidade por transtornos mentais e comportamentais é muito acima da evolução demográfica da população brasileira. Isso faz com que doentes mentais superlotem as cadeias e presídios, bem como as Casas de Tratamento e Custódia. Milhares de doentes mentais abandonados perambulando pelas ruas e estradas deste imenso Brasil.

De 1997 a 2007 a população do Brasil saltou de 153.536.297 habitantes para 189.335.191 habitantes, crescimento de 18%. Nestes mesmos dez anos, as internações psiquiátricas pelo SUS caíram de 410.003, em 1997, para 248.968 em 2007. Redução de de 40%. Dados oficiais do Ministério da Saúde, no período de 1997/2007, Datasus e IBGE, pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade, registram que a mortalidade anual por transtornos mentais saltou de 4.984 óbitos em 1997 para 10.948 em 2007. Aumento de 119,66%, ao ano. Esse genocídio não pode continuar.

O Hospital Espírita de Psiquiatria de Anápolis, fundado em 23 de abril de 1950, um dos mais conceituados no atendimento aos portadores de transtornos mentais e dependências químicas em todo o País, está passando pela maior crise financeira desde sua fundação. Até agora, o Sanatório Espírita de Anápolis, seu mantenedor, com enorme sacrifício, tem garantido seu perfeito funcionamento e qualidade do serviço prestado.

Em 2010 o Hospital Espírita de Psiquiatria de Anápolis atendeu pacientes de 107 municípios brasileiros. 78 municípios de Goiás e 28 de outros 11 Estados, inclusive Brasília. Média de 242 internações mensais. Mais de mil encaminhadas pelo Samu. Centenas por decisão judicial. Ao mesmo tempo, ainda em 2010, o hospital realizou 17.630 consultas psiquiátricas e 1.800 exames de eletroencelografia, com a média mensal de 150 exames. Destaca-se que na região é o único a atender esses exames pelo SUS.

Com a população que assiste de 67 municípios pactuados com a Secretaria Municipal de Saúde de Anápolis, pelo Sistema Único de Saúde, o Hospital Psiquiátrico teria direito a 1.683 leitos, levando em conta orientação do Ministério da Saúde de 0,045 leitos por grupo de 1.000 habitantes. Hoje só estão pactuados 360 leitos. Destes, 120 são ocupados por portadores de dependência química. 63 são permanentemente ocupados por doentes crônicos, que estão no sanatório há 25 ou 35 anos.

A superação da crise atual pode ser minimizada efetuando pagamento ao hospital das internações por dependência química no valor fixado pelo SUS. No momento o hospital recebe por qualquer tipo de internação o valor mínimo. Isso o tem tornado deficitário permanente. Atualizando o pagamento, o déficit mensal será eliminado ou diminuído substancialmente. Caso contrário, o hospital corre o sério risco de encerrar suas atividades, depois de 61 anos de existência, deixando a população da região totalmente desassistida.

domingo, 6 de março de 2011

Onça e coruja perturbaram o secretário

Oscar de Azevedo Júnior foi secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Anápolis de 1997 a 2000. Médico competente e muito conceituado, sempre se preocupou com a preservação da natureza. Na sua propriedade rural, no Tocantins, não admitia corte de árvores e nem caçadas. Os vizinhos o conheciam e nem sequer andavam armados na sua propriedade. Geralmente avisava aos seus auxiliares quando ia à fazenda. Todos que sabiam do seu amor aos animais e à natureza o respeitavam.

Sem ter como contatar seus subordinados, resolveu passar final de semana no Tocantins. Chegando, encontrou no quintal uma onça pintada estirada quase à porta da cozinha. Os vizinhos mataram o animal que vinha devorando bezerros e carneiros, na região. A onça morreu no pequeno pomar da fazenda. Ficou bastante contrariado, mas aceitou a violência dos confrontantes. Pediu aos auxiliares que tirassem o couro do animal. Depois de curtido e seco o levou para sua residência, em Anápolis. Todos que o visitavam ouviam a história da morte da pintada e a razão do seu couro na sala.

Simples e solícito, era querido por todos da secretaria. No seu aniversário, os amigos convidados pela Toninha, sua esposa, foram à sua residência. Oscar estava eufórico com a surpresa que Toninha lhe preparara. Durante a festa, soube que seus companheiros de secretaria haviam convidado o diretor estadual do Ibama para a confraternização. A partir desse instante Oscar desapareceu. Quando Toninha sentiu sua ausência, o procurou no quarto do casal, encontrando-o:

– Oscar, os convidados estão aí e você some ?

– Toninha, matar animal silvestre é crime inafiançável!

– Qual é o problema ?

– O diretor do Ibama está vindo aqui e vai ver o couro da onça estendido na sala.

Toninha guardou o couro no guarda roupa e o trancou. Só assim o aniversariante voltou a participar da festa em sua homenagem.

No outro dia, sábado, foram ao casamento do filho de um casal amigo em Goiânia. Ficaram até tarde participando da festa. Retornando a Anápolis às 4 horas da manhã. Cansado e com sono, Oscar vedou toda claridade que pudesse passar pela janela e alertou a esposa que só acordasse na hora do almoço. Fez tudo que achava necessário para ter sossego e paz. Esqueceu-se de pequeno detalhe: desligar o telefone fixo da tomada. Assim que pegou no sono o telefone tocou:

– É da casa do secretário municipal de defesa do Meio Ambiente?

– Sim, é da casa do secretário.

– Aquí é Isabel. Preciso falar com ele com urgência!

– Dona Isabel, a senhora está conversando com ele.

– É o dr. Oscar, não é?

– Sim...

– Dr. Oscar, essa noite eu cheguei tarde em casa e encontrei uma coruja no jardim...

– Parabéns, a senhora a protegeu de gato ou qualquer outro perigo...

– Parabéns coisa nenhuma! A coruja está com a asa quebrada. Telefonando para minha vizinha, ela disse que essa noite assistiu a um programa de televisão em que uma pessoa foi presa no Paraná por ter matado um pássaro. Me disse ainda que para esse tipo de crime não há fiança. Me garantiu que nesse caso é prisão mesmo...

– Dona Isabel a senhora procure uma delegacia de polícia perto da sua casa e faça o registro do ocorrido e assim estará livre...

– Já estive na delegacia, mas o plantonista me afirmou que esse tipo de ocorrência não é com a polícia civil...

– A saída então é acionar o Corpo de Bombeiros...

– Já entrei em contato com os Bombeiros, mas me esclareceram que eles só atuam quando algum animal está aprisionado em condição de risco ou pondo a vida de alguém em risco. Me disseram que esse não é o caso, pois a coruja depende é de atendimento médico veterinário...

– A senhora vai telefonar para o presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente, Amador Abdalla...

– Foi ele que me forneceu o telefone para que conversasse com o senhor.

Nessa altura já aceso, sono espantado para muito tempo, sem saber a quem indicar dona Isabel, que desde às 22 horas daquela noite não parara um minuto na incansável luta para se desfazer da coruja acidentada, Oscar deu a solução:

– Dona Isabel, investido da autoridade que o cargo me dá, autorizo a senhora a ficar com a coruja em sua casa. Caso aconteça o pior, assumirei inteiramente perante às autoridades legais a responsabilidade pelo acontecido.

Deitou-se quando já havia passado das 5 da manhã. Antes de dormir teve o cuidado de desligar o telefone da tomada.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Beleza da natureza está sendo destruída

Quando criança em Anápolis, até por falta de outras opções de lazer, o que mexia com a adrenalina da meninada era visitar ou tomar banho na represa dos Fanstone, na saída para Nerópolis. Parte mais larga e profunda do Antas, principal córrego que corta o setor central da cidade, com suas águas cristalinas e caudalosas tornava-se atração irresistível. De nada valiam as admoestações dos pais ou a bronca dos administradores da chácara. Conseguíamos com muita criatividade vencer os empecilhos. Nosso medo, verdadeiro temor, sempre foi de ser retirado da represa sem roupa, pelo Cazuza. Inspetor de criança e adolescente, designado pelo juiz da Comarca, cumpria com rigidez suas atribuições. Levava o infrator à sala do juiz para ser advertido. O herói das crianças e adolescentes à época, o menino Bengala, garoto destemido e gozador, tinha como principal passatempo desafiar Cazuza. Fazia a alegria dos que não tinham a mesma coragem e disposição. Esse temor da garotada a Cazuza, nasceu com a história, verdadeira lenda que corria entre a garotada, garantindo que ele levara um menino, totalmente nu, apreendido na represa, ao gabinete do juiz.

Com o passar do tempo, por estar situada em local estratégico no Município, a represa se transformou no primeiro reservatório para captação e distribuição de água tratada em Anápolis. O serviço municipalizado realizado pela Superintendência Municipal de Saneamento – Sumsan, funcionou até 1972, quando o serviço foi transferido à Saneago, por imposição do governo federal. Com a chegada do progresso, locais cobertos por Cerrado e pequenas reservas de mata nativa, cederam lugar à expansão urbana. Foi retirada toda vegetação. Loteamentos como Nações Unidas, São Joaquim, Parque das Primaveras, Novo Paraíso, Paraíso, Calixtolândia e Polo Centro I e II, os mais antigos próximos à nascente do Antas, assorearam o leito do córrego, levando cascalho, terra, lixo e entulho à represa. Em pouco tempo, a reserva caudalosa de águas cristalinas, ornamentada pelas aves multicoloridas, desde a brejeira saracura aos sofisticados curiós e bicudos, com suas infindáveis e afinadas sinfonias, desapareceu. Surgiu um depósito de lama fétida num pântano colossal. Degradação total da maior riqueza natural do município. Córrego que saciou a sede de tropas e tropeiros que abrigavam às suas margens, para descanso nas incontáveis viagens que faziam de Jaraguá e Pirenópolis, rumo a Bonfim, hoje Silvânia.

Como prefeito da cidade, assistindo na memória o que o tempo não apagou, reprise do DVD das imagens bonitas da infância, decidi recuperar a área degradada. Adquiri mais de 90 mil metros quadrados em toda extensão da antiga represa. Milhares de toneladas de lama podre retiradas, até que ganhasse sua forma original. Através do escultor Laerte Gariboti, responsável pelas principais esculturas particulares e públicas da cidade de Caldas Novas, um conjunto dessa obra de arte foi construído no local. Cascatas, cavernas e até uma ilha no centro do lago. Portal de entrada do parque é uma verdadeira obra de arte. A lagoa recebeu peixes próprios da região. Pista para passeio de pedestres, ciclistas e um trenzinho que levava as crianças nas visitas, sempre acompanhadas de guia, narrando a história do Antas e necessidade de se preservar a natureza. As escolas públicas e particulares, de Anápolis e municípios vizinhos, faziam programação antecipada de visitação ao parque. Árvores centenárias preservadas. Havia parque infantil e prédio que abrigava a Polícia Interativa. Para evitar assoreamento do lago principal, construímos aterro com passagem para os pedestres de uma margem à outra. Demos à obra o nome do empresário e político Onofre Quinan.

Hoje, o Central Parque Onofre Quinan, “cartão-postal” de Anápolis. Local de visitação e orgulho dos anapolinos, é apenas uma caricatura do que foi. A represa voltou a ser assoreada por terra e cascalho lançados ao leito do córrego, principalmente pelas obras da Ferrovia Norte-Sul. As cascatas secaram, as flores desapareceram, o trenzinho virou fumaça, sua escuridão noturna é paraíso de desocupados e usuários de drogas, as pistas deterioraram, os peixes morreram, os macacos famintos foram transferidos do local por agredirem os visitantes. Até o busto do homenageado Onofre Quinan foi roubado. É o descaso total com uma das partes mais importantes e bonitas da história de Anápolis.