segunda-feira, 29 de março de 2010

Histórias de Cronistas e do Futebol

Publicado na edição de 27/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Nunes Macedo, grande repórter de pista dos anos 60/70, na Rádio Brasil Central, antes de ser cronista trabalhava como encanador, em Anápolis. Fanático por futebol e pretendendo mudar de profissão, fez curso de árbitro, na escola da Liga Anapolina de Desportos. Foi aluno brilhante.

Sua estreia foi no jogo Serraria x Castilho, pelo Campeonato Anapolino. Estádio Manoel Demóstenes lotado. Nunes Macedo se impunha pelo conhecimento das regras, imparcialidade e acompanhamento das jogadas. Jovem, com muito vigor físico e amando a nova profissão, estava onde a bola ia.

Num lance violento praticado pelo lateral esquerdo Batata, do Serraria, jogador de estatura mediana, forte e corpulento, Nunes não teve dúvida, apitou pênalti e expulsou o zagueiro de campo. Antes que Aluísio, artilheiro do Castilho, fizesse a cobrança, Batata desferiu um torpedo de braço esquerdo na testa do árbitro, jogando-o ao chão.

Só recobrou os sentidos 40 minutos depois, no Pronto Socorro do Hospital Evangélico. Nunes Macedo nunca mais apitou nem pelada de rua, preferindo continuar como encanador. Só retornou aos estádios, retomando o gosto pelo futebol, bem mais à frente, como repórter, pela Rádio Imprensa, sob o comando de Jayro Rodrigues.

Petrônio Cruz, comentarista esportivo da Rádio Santana, só chegava ao jogo no final do segundo tempo. Fazia seu comentário intermediário por telefone, depois de ouvir nossa narração enquanto fechava o caixa do matinê, no Cine Vera Cruz, onde era gerente. Muitas vezes, quando a frequência ao cinema era maior, não ouvia a transmissão. Comentava sem ao menos saber quais os times que jogavam.

Gedeon Camargo, hoje militando na crônica esportiva de Uberlândia, começou a carreira como repórter na equipe da Rádio Carajá. Num jogo Anapolina x Anatex, pelo campeonato da LAD, entrevistou o zagueiro Orlando, da Anapolina. A xata não vencia há quatro partidas. Quis saber do zagueiro o porquê de tantos tropeços:

– Orlando, como você explica essa hecatombe que ocorreu na Anapolina ?

Como o zagueiro se confundiu completamente com a pergunta, respondendo coisa sem nexo, como “não é verdade que tenha comido feijoada...”, Gedeon o cortou:

– Orlando, parece que não fui entendido. Gostaria que você explicasse como justificar a debacle da Anapolina no campeonato?

Antônio Afonso de Almeida foi o pioneiro locutor esportivo em Anápolis. Da escola de Valdir Amaral da Rádio Globo do Rio de Janeiro narrava os lances de forma lenta e detalhada.

Para gravar no Estádio Pedro Ludovico, em Goiânia, partida entre as seleções de Goiás e Mato Grosso, com ele foi Clovis Guerra, chefe do departamento de Jornalismo da Rádio Carajá. Gravador grande, fitas trocadas com frequência, monitorado por Clovis. Faltando 20 minutos para o término e a última fita de que dispunham chegando ao final, Clovis, desesperado gritou para Afonso:

– Acelere, narre mais rápido! Seja como Pedro Luiz, da Bandeirantes! Lento assim a fita não vai dar.

A Rádio Carajá funcionava na parte superior de um prédio do Banco Estado de Goiás na Praça do Bom Jesus. Na parte superior externa do imóvel havia um possante alto falante, transmitindo toda programação da emissora. Às 11 horas, no seu programa esportivo, desportistas lotavam a praça em frente à emissora para se inteirar das últimas do esporte.

Mané Padeiro, que fazia a entrega de pães e roscas em sua carroça tipo baú, era presença cativa. Chovesse ou fizesse sol, às 11 horas lá estava ele com sua carroça. Torcedor fanático do Anápolis, naquele dia estava impaciente ao saber que Nilo, Carlinhos e Felinho, jogadores do tricolor, poderiam se transferir para o Ypiranga, maior adversário do Anápolis. Deixou a carroça no acostamento da calçada e foi para o meio da plateia.

Antônio Afonso, o radialista, fez a pergunta a um dos atletas que estavam na relação dos que poderiam mudar de time:

– É verdade que você está deixando o Anápolis, se transferindo para o Ypiranga?

O “não”, dito pelo jogador, foi com o som emitido pelo contato da língua com os dentes superiores:

– Dhi, dhi, dhi, dhi... Idêntico ao que os carroceiros utilizam para que o cavalo vá em frente.

Aquele som, velho conhecido do animal que servia Mané Padeiro, ampliado pelo alto-falante, fez com que o cavalo saísse em disparada carreira pela Rua Barão do Rio Branco, despejando pães e roscas pelo caminho. Só parou quando foi contido por populares na Praça Santana.

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