domingo, 29 de julho de 2012

CPMI se distanciando mais das suas atribuições


Até agora as principais informações chegadas ao conhecimento da sociedade brasileira, nas escutas telefônicas gravadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo e divulgadas pela imprensa, apontam Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, figura principal dessa operação, envolvido diretamente com políticos, só nos vídeos prometendo que deu e daria dinheiro ao deputado Rubens Otoni (PT-GO) e negociação com prefeito de Palmas, Raul Filho (PT-TO), quando candidato. Vídeos amplamente divulgados pela imprensa e internet. Gravados por ocasião das eleições municipais de 2004. Nos demais diálogos, os gravados pela Polícia Federal, onde há apenas áudio, as propinas seriam mantidas pela Delta Construções e suas subordinadas.

Tendo como referência a decisão colegiada, adotada pela Câmara Federal, que absolveu a deputada  Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, caixa pagador de propina, usado pelo DEM em Brasília,  por ter ocorrido antes que ela exercesse o mandato de deputada, foi absolvida, a Corregedoria da Câmara Federal solicitou o arquivamento da denúncia contra Rubens Otoni. Já Raul Filho, por ter sido eleito prefeito, estando no seu segundo mandato, foi convocado e prestou  depoimento à CPMI do Cachoeira para prestar esclarecimento sobre o contrato firmado pela Prefeitura de Palmas e a Delta Construções. A partir daí, a empresa  se transformou na  artéria que irrigou dezenas de escândalos com propinas, tem manchado currículos de políticos que eram tidos como respeitados e sérios.

Aos poucos a Operação Monte Carlo, com auxílio da imprensa  e pequenas novidades reveladas pela CPMI do Congresso Nacional, vai repetindo o que ocorreu na CPMI dos Correios. Naquela investigação criada para apurar um caso específico de propina a funcionário dos Correios, evoluiu para o mensalão, denunciado pelo deputado Roberto Jeferson (PTB-RJ). Salário mensal e sistemático para comprar votos de parlamentares, nas matérias do interesse do Executivo petista.  Forçados pela opinião pública, com respaldo total da imprensa livre, deputados e senadores, integrantes da CPMI, desvendaram o maior esquema de corrupção até então montado no Brasil. O que era para esclarecer fato específico de corrupção nos Correios se transformou no grande e rumoroso escândalo do mensalão do PT.

A Operação Monte Carlo veio para desarticular a contravenção de jogos eletrônicos ilegais no Centro-Oeste. Gravou esquemas comprometedores envolvendo policiais, agentes públicos e políticos, com o grupo  investigado. A grande surpresa foi a descoberta da empresa Delta Construções e suas subordinadas de fachada, empresas fantasmas, no esquema de corrupção. Novos agentes públicos e políticos das administrações municipais, estaduais e federal, a cada instante, aumentam o número de envolvidos. O que menos se houve falar nos escândalos levantados pela Operação Monte Carlo é sobre contravenção e propinas pagas pela exploração de jogos ilegais. Fala-se mais em propinas em concorrências e licitações vencidas pela Delta, que em bingos e caça-níqueis. Os grandes esquemas, as grandes negociatas até agora descobertas, contam com dinheiro da Delta e não dos jogos ilegais.

Há grande diferença entre a atual CPMI do Cachoeira e a CPMI dos Correios. Enquanto a dos Correios evoluiu para o mensalão, pela pressão popular e da imprensa, a do Cachoeira esbarra na resistência da maioria de deputados e senadores  que não aceita ouvir a figura mais importante do esquema investigado: Fernando Cavendish, presidente nacional da Delta Construções.

Mesmo com os escândalos já  denunciados  em contratos para execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); afastamento da Delta em obras contratadas em vários Estados; condenação da empresa por uso de documentos falsos para participar de concorrências públicas, como em Palmas-TO; concorrências fraudulentas, como ocorreu em Anápolis; montagem de empresas fantasmas para alimentar o esquema de propinas a governantes, servidores públicos e políticos detentores de mandato; classificação de empresa inidônea, a CPMI não marca data para depoimento de Fernando Cavendish.

Revelaria métodos de ação e nomes dos beneficiários do seu propinoduto. Poderia falar de outras empresas que usam o mesmo esquema da sua Delta. O medo de que poucos se salvem numa situação dessa avalanche de corrupção, tem evitado sua ida à CPMI.

Compensando essa ausência, a CPMI marcou para 7 de agosto o depoimento de Andressa Mendonça, atual companheira da Carlos Cachoeira. Para o dia 8 de agosto será a vez de Andréia Aprígio, ex-esposa de Cachoeira. Por certo, com ampla divulgação da imprensa, bisbilhotarão sobre assuntos particulares das vidas delas com Carlos Augusto Ramos. Contudo, não darão a resposta que o Brasil espera e exige: envolvimento de empresários corruptores com  políticos corruptos.

(Diário da Manhã - 28/07/2012)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Respeito às leis e contra privilégios


Num sistema democrático toda manifestação da vontade popular, a princípio, é válida e aceitável. No entanto, nas democracias, como exemplo a do Brasil, há um ordenamento jurídico que deve ser respeitado e cumprido por todos. É importante e fundamental que todos sejam iguais perante as leis. Esse é o maior dos mandamentos da democracia. Claro que as leis não são imutáveis. O próprio Ulysses Guimarães quando assinou a Constituição Cidadã disse que ela não era impecável e perfeita, tanto que em seu texto está prevista sua possível alteração por emendas. Mas enquanto não forem modificadas, as leis são para serem aplicadas e cumpridas por todos.

Na eleição presidencial de 1985, em que o Congresso Nacional elegeu Tancredo Neves, fazendo a travessia da Ditadura para a democracia, alegando ser “eleição indireta uma excrescência criada pela ditadura”, os integrantes do Partido dos Trabalhadores no Senado e Câmara dos Deputados foram forçados pelo comando nacional do partido a absterem-se de votar. Enquanto dezenas de ex-arenistas, suporte da sociedade civil à Ditadura, se rebelaram forçados pelo clamor popular, votando em Tancredo Neves, os petistas numa atitude ‘purista’ negaram o seu voto ao político mineiro e à própria redemocratização do País. Em nome de falsa coerência, deixaram de participar daquele momento histórico em que a nação derrubava uma Ditadura de mais de 21 anos. A alegação dos petistas para uma posição tão radical era de que não reconheciam como legítima e legal uma eleição realizada sob regras casuísticas impostas pela Ditadura.

Agora, em plena democracia, com uma representante do Partido dos Trabalhadores à frente da presidência da República,  integrantes da Central Única dos Trabalhadores – CUT, braço sindical do PT, realizaram ato público em favor de quem está sendo julgado acusado de infringir a lei, como no caso dos 38 denunciados no esquema do Mensalão, é no mínimo imprudência, forma incorreta e perigosa para todo o sistema democrático! Mesmo sendo pequeno grupelho. Desconhecer leis de exceção impostas por ditaduras é uma coisa, pressionar o Supremo Tribunal Federal para que não cumpra o seu papel democrático é coisa inadmissível.

Tudo que queríamos durante o regime ditatorial era que a lei fosse justa. Universalizada sua aplicação. Éramos contra o Ato Institucional nº 5 - AI-5 porque anulava as leis existentes à época, mesmo as de exceção. A própria Constituição Federal era por ele anulada. O AI-5 estava acima de todas as leis. O presidente era o único e exclusivo na sua utilização. As ações do presidente com base no AI-5 eram irrecorríveis, até mesmo ao Supremo Tribunal Federal. O presidente da República, um general de quatro estrelas, reinava como soberano dos sistemas absolutistas, da época das Ordenações Filipinas, em que “as leis elaboradas pelo rei, a elas ele não se submetia”.

Nossa luta foi para que líderes sindicais, como Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, não fossem presos. Que pudessem exercer com autenticidade as suas funções de líder para que pessoas idealistas não fossem sequestradas, presas, torturadas, mortas e desaparecidas por desejarem uma pátria livre; combatemos cassações de mandatos de parlamentares por pronunciamentos em favor da democracia; contra municípios serem transformados em área de segurança nacional para que governistas, permanentemente derrotados em eleições, assumissem o poder. Éramos pela liberdade de imprensa. Lutamos por eleições livres, diretas, democráticas. Lutamos pelo Estado democrático de direito.

Todos nós estamos na obrigação de lutarmos hoje pelo cumprimento das leis. Caso as leis estejam superadas, envelhecidas e fora da realidade do momento, que sejam modificadas pelo trâmite normal. Esse é direito fundamental de todos os brasileiros, mesmo daqueles que se omitiram no momento da união nacional pela derrubada da Ditadura.

Em favor dos acusados bastam as manobras protelatórias para julgamento, utilizadas por advogados muito bem informados pelas brechas existentes nas leis. Tratam-se de expedientes legais e usados apenas onde predomina a democracia.

A luta da sociedade pela derrubada da Ditadura não foi para trazer privilégio, e sim para que houvesse justiça e igualdade de tratamento para todos, independentemente da sua ideologia ou partido político.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

CPI da marmelada?


Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) foi o primeiro a falar na criação de CPI do Cachoeira. Só após colher as assinaturas necessárias e apresentar o requerimento em plenário houve a decisão do PT, por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela criação e instalação de uma CPI mista, envolvendo Câmara e Senado. A imprensa noticiou a divergência que houve entre Lula e Dilma Rousseff sobre a questão. O ex-presidente advogando sua criação e Dilma se manifestando contrária. Mas Lula e seu núcleo de poder tinham objetivo certo a ser alcançado.

Na mesma ocasião, para convencer seus companheiros de partido, Lula, de acordo com o noticiado por toda a imprensa, teria argumentado que seria grande oportunidade para desgastar politicamente o governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB). O ex-presidente Lula estava com Marconi na garganta desde que a imprensa noticiou ter o governador confidenciado e confirmado, numa viagem que os dois fizeram ao interior de Goiás, a existência do Mensalão. Lula, no máximo, admitia que durante a campanha eleitoral teria sido utilizado pelo PT o expediente do caixa dois. Como não houve recuo de Marconi, que, pelo contrário ,confirmou a confidência que teria feito ao presidente, o assunto ganhou as manchetes de revistas e jornais. Lula além de contestado, ou desmentido nacionalmente pelo governador goiano, ficou sozinho na sua tese de caixa dois.

Revelações divulgadas pela imprensa, de gravações feitas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, onde são citados em vários diálogos, principalmente entre Carlos de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Cláudio Abreu, responsável pela Delta Construções no Centro-Oeste e o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, foram vistas pelo  comando nacional petista como o momento para tentar envolver Marconi e ofuscar a repercussão do julgamento dos envolvidos no Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, a partir do dia 2 de agosto próximo. A tese de Lula foi vencedora e os integrantes da base aliada do governo na CPMI trabalham ininterruptamente para que Marconi não saia da mídia, de forma negativa, abafando qualquer notícia mais contundente contra os mensaleiros petistas.

Vital do Rêgo, presidente da CPMI, de forma estranha e equivocada, tenta minimizar a ojeriza da base lulista ao governador Marconi Perillo, alegando que a possível reconvocação de Marconi à Comissão de Inquérito se justifica “porque o núcleo da quadrilha investigada está em Goiás”.

Pelo contrário, núcleo da Delta Construções, de onde saiu todo o dinheiro para irrigar essa vasta rede de corrupção que parece não ter fim, fica no Rio de Janeiro. Sobre essa questão, a jornalista Dora Kramer, na sua coluna Coisas da Política, do jornal O Estado de São Paulo, edição de quarta-feira, dia 18 de julho de 2012, comenta:

“As explicações do governador Marconi Perillo explicam cada vez menos o que Carlos Augusto Ramos estava fazendo no dia em que foi preso na casa pela qual o tucano recebeu três cheques de empresa controlada pelo sobrinho do bicheiro... Ao mesmo tempo, vai ficando cada vez mais difícil acreditar que uma empresa daquele porte, com sede no Rio de Janeiro, negócios com a maioria dos governos estaduais, contratada pelo governo federal para executar boa parte das obras do PAC, tenha crescido como cresceu em 10 anos aplicando seus métodos exclusivamente em Goiás.

Se não aprofundar e ampliar as investigações e acabar, como já dá mostras o PT, fazendo de Perillo o Judas de plantão, a CPI terá sido uma grande marmelada.”

Digo mais! Nas conversas gravadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo diálogos entre Cachoeira e Cláudio Abreu; Cachoeira e Wladimir Garcez; Cachoeira e Edvaldo, e outros mais, reclamam das dificuldades encontradas junto ao governador Perillo para atendimento aos pleitos do seu interesse. Enquanto isso, quando se referem ao prefeito de Anápolis demonstram muita felicidade e satisfação pelo tratamento e andamento das questões relacionadas ao grupo no município. Isso fica claro nos diálogos da negociata para a compra pela Delta, ou Cláudio Abreu, do crédito da Queiroz Galvão, de 4 milhões e 500 mil reais junto à Prefeitura de Anápolis. As gravações revelam que o grupo teria acertado com o prefeito receber 32 parcelas de R$ 500 mil mensais. Há gravações de Carlos Cachoeira solicitando a Cláudio Abreu (Delta Construções) para repassar o serviço de tapa-buracos nas avenidas e ruas de Anápolis para a firma Paviart. Mesmo sem autorização expressa da prefeitura, o serviço foi transferido conforme o solicitado por Cachoeira. A prefeitura tem pago diretamente à Paviart pelo serviço feito. Inúmeras conversas comprometedoras, atingindo a honorabilidade do administrador anapolino, fazem parte das gravações. Tudo está em poder de Roberto Gurgel, procurador-geral da República, dos ministros do Supremo Tribunal Federal e dos integrantes da CPMI do Cachoeira, no Congresso Nacional.

Por que condenar antecipadamente alguém, como no caso do governador Perillo, que é citado nas conversas dos integrantes do grupo, gravadas em tom de lamúria e choradeira, por não terem sido atendidos em seus pleitos, enquanto diálogos explícitos, comprometedores, envolvendo outras figuras da política goiana, ficam sem esclarecimento e resposta?

Parece, ou não parece marmelada?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Goiás não fica bem na fita!


O jornalista Renato Grandelle, publicou na página 30 do jornal O Globo, sábado, 14, quatro casos pesquisados e comentados pelo historiador Nireu Cavalcante, mostrando que corrupção “é mazela antiga no Brasil.”Como a Justiça sempre foi lenta, passa a sensação de impunidade. Nos casos narrados por Cavalcante, fica claro que não é correto responsabilizar esses desvios de conduta, essa modalidade prática de mazela no Brasil, por ser País colonizado por portugueses. Sobre essa questão o historiador relata que quando Pernambuco foi dominado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais, seu principal líder, expoente da invasão, Mauricio de Nassau, à frente dos destinos pernambucanos(1637-1644), praticou atos ilícitos e criminosos como  tortura e suborno enquanto administrava. No entanto foi reconhecido como administrador competente e conciliador pela elite pernambucana. Nassau ao se afastar do comando, orienta seus sucessores a praticarem compra de apoio. Estimulá-os a prática da corrupção  para se manterem no poder. Isso lhes garantiriam apoio da aristocracia e ficariam longe das tropas lusitanas.

Nas orientações aos seus companheiros da Companhia Holandesa, Nassau, segundo o pesquisador e historiador Nireu Cavalcante, instrui seus companheiros: “ Convém... angariar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses particularmente dispostos e dedicados ... dos quais possam vir a saber em segredo os preparativos do inimigo.” Cita além da elite pernambucana os padres. “Isso por serem bastante influentes junto à sociedade e por aquilo que ouvem nos confessionários.”

Numa das suas pesquisas o historiador Nireu Cavalcante, constata que muitas vezes o arauto da moral e ética na atividade política, pode dependendo das circunstâncias, se transformar num marginal e corrupto. Ilustrando essa sua afirmação narra a história de um grande intelectual, autor do primeiro livro impresso no Rio de Janeiro, bacharel Luiz Antônio Rozado da Cunha. Presidente da Câmara de Vereadores daquela cidade, entre 1744 e 1750.

Luiz Antônio foi considerado um dos melhores presidentes do Legislativo do Rio de Janeiro, em todos os tempos. Avaliado por 90 representantes da elite carioca, foi considerado como “arauto da ética na política.” Isso pela lisura e competência com que despachava processos e cuidava das atividades parlamentares. Graças a esse prestígio foi indicado, para assumir a provedoria da Fazenda Real de Goiás.

Nessa nova missão, Luiz Antônio, destruiu por tráfico de influência e ações corruptas, sua fama de homem correto, moralista e ético. Nos três anos como provedor da Fazenda Real de Goiás, juntou-se ao ouvidor, ao tesoureiro e ao escrivão da Fazenda Real, além do capitão-mor, de vereadores e alguns padres, formando uma grande quadrilha que desviava ouro durante sua pesagem na alfândega e vendia  animais de transporte e mineração, a preços exorbitantes, o que era vedado a funcionários públicos. Investigação sigilosa ocorrida sob o comando do guarda-mor em Goiás, constatou essas atividades ilegais e corruptas, do homem que três anos antes era tido como exemplo de correção e honestidade pela elite da população do Rio de Janeiro. Ao deixar Goiás, voltando para o Rio, de onde embarcaria para Portugal, foi preso ao chegar à Praça XV, por ordem do governador da Capitania do Rio, seu amigo e admirador, Conde de Bobadela.

O historiador Nireu Cavalcante, com sua pesquisa comprova que trambiques e desonestidade não são atos regionalizados. Não podem também ser atribuídos à nossa descendência portuguesa. Segundo a pesquisa um arauto da ética na política pode, de acordo com as circunstâncias e falhas de caráter, transformar-se em marginal e corrupto. Nireu Cavalcante encerra sua narrativa ao jornal O Globo, de forma radical e injusta para com os goianos. Como o resto do Brasil, o historiador está  intoxicado  pela enxurrada de notícias negativas envolvendo dezenas de políticos e figuras expressivas da sociedade goiana. Pessoas acusadas de envolvimento com práticas criminosas, desvendadas pelas escutas  telefônicas da Policia Federal na Operação Monte Carlo.

Ressalta Nireu Cavalcante:

– “O provedor fez uma administração maravilhosa no Rio e, quando chegou a Goiás, transformou-se em um grande corrupto e logo conseguiu o seu lugar na quadrilha local. Foi uma mudança estranhíssima.”

Goiás e seu povo não podem ser acusados pela mudança ética e comportamental do sr. Luiz Antônio Rozado da Cunha, em 1753. Sua metamorfose se originou, com certeza, pelo seu caráter.  Dar-se-ia aqui, longe do centro do poder, ou em qualquer outro lugar, desde que tivesse oportunidade. Mas que os escândalos revelados pela Operação Monte Carlo prejudicaram a boa imagem nacional conquistada pelos goianos, não há a menor dúvida.

sábado, 21 de julho de 2012

Lições tiradas dos depoimentos na CPMI


O depoimento do prefeito de Palmas (TO) à CPMI do Congresso Nacional, na terça feira, dia 10/07/2012, não esclareceu muita coisa, mas serviu para mais uma vez demonstrar nacionalmente, que não tem havido diferença entre depoentes que respondem os questionamentos dos senadores e deputados e os que ficam calados, protegidos por habeas corpus. Até mesmo seus correligionários petistas na Comissão de Inquérito se sentiram desconfortáveis. Disseram isso à imprensa. Raul  negou qualquer envolvimento com Carlos Cachoeira e seu grupo. Com tranqüilidade, sem nenhum constrangimento, não ficou vermelho em momento algum, negou todo tipo de denúncia, mesmo sobre questões claras e verdadeiras já devidamente esclarecidas pela justiça.

Disse, por exemplo, que desconhecia que a Delta Construções S/A, venceu a concorrência para varrição, coleta e depósito do lixo em Palmas, usando documento falso. Mesmo documento, segundo o Ministério Público Federal e Justiça Federal do Tocantins, usado pela empresa para participar e vencer concorrências de varrição e coleta de lixo em Anápolis (GO), Catalão (GO) e Itanhahém (SP). Até nesse fato já desvendado pela Justiça, o prefeito se eximiu de culpa. Sua atitude, volto afirmar, envergonhou até o mais radical petista. Sem instrumento coercitivo que possa punir na hora o mentiroso, a CPMI já pode encerrar seus trabalhos se não quiser passar por outros constrangimentos.

A presença  de Raul Filho serviu, no entanto, para uma melhor compreensão dos negócios nebulosos da Delta com prefeituras, governos estaduais e federal. Os métodos utilizados  pela empresa foram até aqui, insuperáveis, por qualquer empresa que participe de concorrências com ela. Seu método é infalível. Na quase totalidade das concorrências públicas que a Delta Construções  participou e venceu,  apresentou preços inferiores aos previstos nos editais em até 27%. Em Palmas, essa “vantagem” oferecida pela Delta Construções, de acordo com denúncias do senador Álvaro Dias (PSDB-PR),  o deságio feito por ela, nos termos previstos no Edital da licitação, foram recuperados através de termos aditivos firmados entre a prefeitura e a Delta.

O esquema utilizado em Anápolis é semelhante. Só que mais agravante.  A prefeitura acaba de romper o contrato com a Delta, para o serviço de limpeza da cidade. Tomou essa decisão, assim que o Ministério Público local recebeu do Ministério Público Federal do Tocantins, toda documentação da fraude acontecida em Palmas. Aberto o Inquérito, pelo Ministério Público Estadual, em Anápolis, pela utilização pela Delta Construções S/A de atestado falso para participar e vencer a licitação em 2009, o Município de comum acordo com a empresa, rompeu o contrato. Além de documento falso a Delta apresentou alto deságio para vencer a concorrência que aconteceu em 2009.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, que congrega todas as empresas que prestam serviços de limpeza aos órgãos públicos, a Delta Construções S/A “venceu a citada licitação por conceder um desconto de 25,41 % em relação aos preços de referência do Edital. Contudo, a empresa vem praticando faturamento 5,93% superior ao previsto no Edital em conseqüência do “desmesurado superfaturamento de quantidades, o que traduzirá, ao fim do contrato, no pagamento a maior pela prefeitura de Anápolis, por serviços que, no inicio(falsamente) lhe pareciam ser mais baratos.” Garante a associação.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, “irregularidades na execução do contrato nº 456/2009, oriundo da Concorrência Pública nº 003/2009, cujo objeto é a prestação de serviços de limpeza urbana no município de Anápolis,” as quantidades mensais medidas pela Delta  a partir da vigência do contrato, fato que documentalmente denunciou ao Ministério Público Estadual em 2010, os serviços de varrição manual estavam 48,04% a maior que os previstos no Edital. Varrição mecanizada 82,81% acima do mesmo Edital. Operação – depósito do lixo coletado e depositado no aterro sanitário, 304,81% acima do fixado no Edital. Para resíduos de serviços de saúde 960,73% acima do previsto no Edital.

Esses números fantásticos de serviços superfaturados,  segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Sólidos, tiraram a vantagem “falsamente” oferecida pela Delta, á prefeitura. O que parecia vantagem se transformou em escândalo e prejuízos. Assim a Delta  venceu a concorrência com falso deságio. Na medição, por omissão ou conivência dos órgãos específicos de fiscalização da administração pública,  o  faturamento teria superado o falso deságio.

Esperamos que ao comparecer à CPMI, Fernando Cavendish, possa esclarecer essa metodologia que rendeu à Delta vitórias e mais vitórias nas concorrências públicas,  praticou superfaturamentos  aumentando indevida e ilicitamente os lucros da empresa e colocando governantes e políticos sob suspeita.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Corinthians lava a alma dos brasileiros


Sei que não sou o torcedor mais velho do Corinthians, mas sou um dos mais antigos torcedores do timão. Foi paixão à primeira vista. Criança, fanático por futebol, ouvi falar pela primeira vez sobre esse bando de loucos  em 1952. Portanto, há exatamente 60 anos, jogavam no Pacaembu-SP Corinthians e Flamengo. Ao final da partida, o alvinegro do Parque São Jorge venceu o rubro-negro carioca por 6 x 0. Goleada com direito a gol de um desconhecido Mário, depois de driblar toda defesa flamenguista entrou junto com a bola marcando o sexto gol do timão. Daqueles gols que os narradores esportivos dizem que “entrou com bola e tudo”. Era, para um estreante corinthiano, só alegria. Completou  em 1954, com Corinthians campeão paulista do 4º Centenário da Cidade de São Paulo. Gilmar (Cabeção), Homero (Murilo), Olavo, Idário, Roberto, Goiano, Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Nono (Souzinha).

Mesmo sendo até hoje o time que mais venceu o campeonato paulista (ficou de 1955 a 1977). Portanto, exatos 22 anos consecutivos sem vencer aquele que era na época o mais importante campeonato que disputava. Paulistas e cariocas se enfrentavam no Rio-São Paulo, Torneio Roberto Gomes Pedrosa, mas não era tão emocionante como o campeonato regional. Foi graças a esse jejum de títulos que o torcedor corinthiano ficou nacionalmente conhecido  como ‘sofredor’.

Nesses  60 anos de fiel torcedor, dos 102 de fundação do Corinthians, passei por muito sufoco e humilhação: 22 anos sem vencer campeonato paulista; rebaixamento para a série B do brasileirão; necessitar do auxílio valioso do São Paulo Futebol Clube para não ser rebaixado no campeonato paulista; perder para o Tolima na primeira fase da Libertadores da América; ser conhecido pela imprensa como o principal freguês do Santos Futebol Clube, na era Pelé. O que mais doía em todos nós corinthianos sempre foi a gozação por não vencermos a Libertadores da América. Quantas vezes assisti palmeirenses, são-paulinos, flamenguistas e até gremistas, donos de um boteco qualquer, desses que vendem a prazo, através das chamadas cadernetas, dizerem: “Fiado para corinthiano só quando o time for campeão da Libertadores da América.” Outros mais agressivos inventavam que era mais fácil a terra ser invadida por extraterrestres que o Corinthians ganhar a libertadores. Mesmo com tantos tropeços, o alvinegro do Parque São Jorge é, ao lado do Flamengo, os que possuem as duas maiores torcidas. Não param de crescer, ganhando ou perdendo. Para o verdadeiro corinthiano, ganhar ou perder é o que menos importa. Hoje já são mais de 30 milhões de torcedores do timão pelo País inteiro.

Essa conquista da Libertadores foi diferente. O time terminou a competição invicto. Marcou 22 gols, sofreu apenas 4. Enfrentou na final a mais competitiva equipe do futebol das Américas: Boca Juniors, da Argentina. Equipe que já havia derrotado, em finais da mesma Libertadores da América, outros times brasileiros, aqui no Brasil, como Palmeiras e Grêmio. O Corinthians foi diferente porque ganhou na base da solidariedade entre os jogadores. Dr. Sócrates, estivesse vivo, constataria que a democracia que implantou no time, na década de 70, está dando frutos agora. O Corinthians não possui medalhão, todos são iguais. Contra o Vasco da Gama, o herói foi Paulinho. Contra o Santos na Vila Belmiro, foi Emerson. No Pacaembu, Danilo. Contra o Boca, na Argentina, o herói foi Romarinho. E no Pacaembu, o título  voltou a ser de Emerson.

Corinthians quando disputa uma final importante, como essa de quarta-feira, mobiliza todos os torcedores. Os corinthianos consomem tudo o que diz respeito ao time. Os adversários fazem o restante da festa, alegrando os comerciantes, comprando produtos vendidos pelo adversário do timão. Nessa disputa de quarta-feira milhares de palmeirenses tiveram que guardar todo tipo de rojões e fogos de artifícios nas despensas de casa para serem utilizados na quinta-feira contra o Curitiba, porque não tiveram o prazer de  utilizá-los antes, durante e depois do jogo no Pacaembu. Fogueteiros do Brasil todo venderam mais que em qualquer festa junina. É o Corinthians promovendo através do consumo o desenvolvimento econômico nacional. Graças à sua fiel torcida e inveja das torcidas  adversárias.

No mesmo dia em que o timão do Parque São Jorge colocava o Brasil à frente dos demais países das Américas, vencendo a Libertadores, a Fifa rebaixava a seleção brasileira de futebol, no ranking mundial. Hoje, segundo a Fifa, estamos atrás do Uruguai. Estamos abaixo até de Portugal, de Cristiano Ronaldo. Esporte Clube Corinthians Paulista é isso. Faz o seu torcedor sofrer, mas reabilita o futebol brasileiro nos momentos mais difíceis.

(Diário da Manhã - 2012/07/06)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nova Missão Política No Congresso


Estamos registrando aqui fatos históricos pouco difundidos e, por isso mesmo, desconhecidos da maioria, ocorridos na política goiana durante a ditadura militar.

Eleito deputado federal, participei dos momentos mais dinâmicos do Congresso Nacional. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) foi revigorado pela verdadeira revolução pelo voto, feita pelo povo nas eleições legislativas de 1974. Figuras como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Magalhães Pinto, Gustavo Capanema, Jarbas Passarinho, Nelson Carneiro, Franco Montoro, Alencar Furtado, Freitas Nobre e os novatos, como Luiz Henrique, Álvaro Dias, Odacir Klein, Tarcisio Delgado, Paulo Brossard, Itamar Franco, Petrônio Portela, Célio Borja, Marco Maciel e muitos outros, fizeram parte do Senado e Câmara Federal.

Chegamos a Brasília e o MDB já se constituía das correntes moderada e autêntica. Nós fazíamos parte dos autênticos. A maioria dos emedebistas eleitos em 74, para a Câmara Federal, era de conservadores. O mesmo acontecia com os 16 senadores eleitos. Por sermos da primeira legislatura, jornalistas nos conheciam como neoautênticos. Faziam parte do grupo neoautêntico figuras como Odacir Klein, João Gilberto, Tarcisio Delgado, Álvaro Dias, Lidovino Fanton, Airton Soares, Luiz Henrique da Silveira e João Cunha. Os integrantes do grupo neoautêntico deram mais dinamismo às ações oposicionistas na Câmara Federal.

Havia, pelo excesso de voto do MDB e falta de candidatos representativos, bancada de deputados eleitos com diminuta votação. Não estavam engajados com autênticos nem moderados. Fiquei amigo de todos esses parlamentares. Os respaldava nos seus trabalhos em comissões técnicas e plenário. Por serem humildes e eleitos com pequena votação, eram desconhecidos e menosprezados pelas maiores estrelas do partido.

Por exercer, com garra e determinação, o mandato, angariei o respeito e a simpatia da maioria dos companheiros do MDB e demais congressistas. Guindado à condição de vice-líder, participava ativamente das sessões plenárias e reuniões das comissões. Tinha o respeito da imprensa nacional, divulgando, intensamente, minhas atividades parlamentares. Com frequência, participava de encontros nacionais e regionais do Partido. Participei de eventos promovidos por estudantes e dos movimentos culturais e artísticos.

Aproveitando a fase de crescimento do MDB, aos finais de semana, feriados ou dias santificados, organizava o partido nos bairros de Anápolis e Goiânia. Com frequência, viajava aos municípios do interior aonde havia o diretório emedebista e organizando aonde o partido não existia.

Em Anápolis, o vereador Walmir Bastos Ribeiro, realizava, com assiduidade, simpósios estudantis na Câmara Municipal. Colaborei para que figuras como Ulysses Guimarães, Freitas Nobre, Odacir Klein, Jayson Barreto e tantos outros parlamentares de prestígio nacional, participassem dos simpósios estudantis, organizados pelo vereador, na Cidade. Lideranças de todo o Estado vinham a Anápolis participar dos encontros do MDB. Voltavam revigoradas e prontas para a resistência democrática. Anápolis foi o maior reduto oposicionista de Goiás, durante o período ditatorial. Anápolis não deixou esfriar, em instante algum, a luta pela liberdade e democracia. Tínhamos, além de programa de rádio para orientação da população local e municípios vizinhos, a publicação quinzenal do jornal "O Estado," que encaminhávamos às principais lideranças municipais do MDB... (Continua)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Quanto Mais Velho, Melhor Amigo


A Escola de Governo Henrique Santillo modernizada e instalada, no Jardim América pela Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento, é além de resgate de compromisso de campanha eleitoral do governador Marconi Perillo ao funcionalismo público, modernização que ele oferece ao servidor estadual. Métodos de preparo técnico, intelectual e profissional aos que queiram crescer pelo conhecimento. 

Nesse mundo globalizado, a rapidez que novas informações surgem, muitas delas profundamente modificadoras doutras até então predominantes, o conhecimento é instrumento fundamental para realização de qualquer tarefa, por mais simples que seja. É pelo conhecimento que o servidor agiliza sua missão com presteza e segurança. A Escola do Governo Henrique Santillo possui esse objetivo. Cursos permanentes de aperfeiçoamento oferecidos ao servidor para atendimento à comunidade com eficiência e qualidade.

Com o resgate de mais um dos seus compromissos de campanha, instrumentalizando o Estado, para melhor qualificar o funcionalismo público, Marconi não só se aproxima ainda mais da comunidade, como atesta publicamente que para o sucesso da sua administração necessita do servidor motivado e bem preparado. Grande trunfo da sua administração, para a popularidade que desfruta junto aos goianos, que já lhe rendeu, dentre outras conquistas, três mandatos de governador, tem sido seu respeito e ótimo relacionamento com o servidor público. Com o funcionalismo motivado, melhor preparado, prestando serviço de excelência à comunidade, seu governo ganha mais destaque e apoio da sociedade por inteiro. Essa é a melhor maneira de governar:

Prestigiar os subordinados, dividir o poder e compartilhar as conquistas da administração com toda sua equipe de trabalho. Estamos num momento em que a democracia interna, a participação solidária de todo grupo, são pressupostos indispensáveis para servir à população. Servir o contribuinte. Essa forma prática, simpática de governar, tem dado a Marconi Perillo a sustentação para enfrentar com sabedoria e altivez os desafios previsíveis e extra pauta que tem experimentado ultimamente.

Nós da família Santillo, mais uma vez ressaltamos e voltamos a agradecer ao governador Perillo pelas homenagens que tem nos prestado na figura do nosso saudoso e inesquecível Henrique Santillo. Marconi Perillo permanentemente ressalta, em qualquer ambiente em que se encontre, sua ligação política e de amizade com Henrique. Desde a passagem de Marconi pela juventude do MDB e PMDB! Foram militantes do mesmo grupo autêntico.

Nas eleições de 1986, em que Henrique Santillo se elegeu governador, o assessorou durante toda a campanha. Já havia sido um dos responsáveis pela fiscalização na eleição de 1985, quando me elegi prefeito de Anápolis, após a cidade deixar a condição de Município de Segurança Nacional.

Essa fidelidade de Marconi Perillo a Henrique Santillo chama mais atenção, quando sabemos que na atividade política, são raros os casos de tamanho respeito da criatura ao seu criador. O normal, o comum, é alguém ser ajudado ou carregado por determinado líder político e depois descartar, se afastar e principalmente trair o que lhe deu apoio e estendeu-lhe a mão. Com Marconi, quanto mais o tempo passa, quanto mais se consolida como administrador, aumentando sua liderança, mais se mostra fiel e admirador do seu conselheiro e protetor político.

Traquejado com essas escorregadelas de pessoas oportunistas e pragmáticas, Ulysses Guimarães dizia da forma mais natural que “o dia do benefício é a véspera da ingratidão.” 

É justamente pelo depoimento de um líder experiente como foi o condutor das oposições durante a ditadura militar de 1964, que respeito cada vez mais a fidelidade de Marconi Perillo ao seu líder e incentivador político Henrique Santillo.

Essas constantes referências e homenagens ao nosso saudoso irmão, nos fazem admirar e respeitar cada vez mais o governador, pois sabemos que essas manifestações de apreço e consideração, não são muito comuns na vida política. È a criatura por mais que se fortaleça e se destaque nacionalmente, não se esquecendo do seu criador.

Ao governador Marconi, mais uma vez, nosso sincero agradecimento.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Paulo Maluf e o Partido dos Trabalhadores


Depois de conviver com permanentes alterações na Constituição outorgada por uma Junta Militar em 1967, verdadeiros golpes dentro do golpe de março de 1964, a sociedade resolveu reagir. Saiu às ruas lutando por eleições diretas para a Presidência da República e redemocratização do País. A Emenda Dante de Oliveira, das “Diretas Já”, não foi aprovada, decepcionando a nação inteira. Mesmo assim o povo não desistiu. Continuou pressionando os congressistas pelo fim da ditadura.

Paulo Maluf, já naquela época o político mais estigmatizado do Brasil, muito colaborou para que o fim da ditadura acontecesse rapidamente. Inconformado com a escolha do general Mario Andreazza para ser o candidato da ditadura no Colégio Eleitoral, onde o Partido Democrático Social (PDS),  partido oficial do governo, detinha a maioria, o ex-governador de São Paulo decidiu enfrentar Andreazza na convenção partidária. Derrotou Andreazza, naquele que foi o maior revés do núcleo central da ditadura, dentro da sua própria base de apoio. A vitória de Maluf, na Convenção Nacional do PDS, contrariou grande parte da base governista. Lideranças como Aureliano Chaves (PDS-MG), Marco Maciel (PDS-PE), José Sarney (PDS-MA) e outras lideranças pedessistas pelo Brasil inteiro fundaram o PFL. Aliaram-se ao PMDB comandado por Ulysses Guimarães, para que numa frente interpartidária enfrentassem no Colégio Eleitoral a candidatura Maluf.

A escolha do candidato, por sugestão dos dissidentes arenistas, recaiu sobre a figura do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB-MG). Como a Constituição Federal foi elaborada pela Junta Militar em cima do bipartidarismo, não seria possível uma coligação PMDB/PFL. Foi por isso que José Sarney se filiou ao PMDB, para ser candidato a vice-presidente, representando o PFL, usando a sigla do PMDB.

Tancredo Neves, num ato de coragem e patriótico desprendimento, renunciou à governadoria de Minas Gerais, candidatando-se à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral. Minoritário no colégio, Tancredo foi a campo em busca de apoio. Cada voto conquistado era comemorado com euforia pelas forças democráticas. Era de um a um. O povo exigia, em todos os Estados brasileiros, adesão dos seus representantes à candidatura Tancredo Neves.

Dentro desse esforço concentrado, com apoio de governistas históricos, a eleição se deu num clima de expectativa total, porque não se tinha a certeza que os que anunciaram seu apoio ao ex-governador de Minas confirmariam o voto no Colégio Eleitoral.

Surpreendentemente, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu se abster da votação. Mesmo com toda população brasileira torcendo e exigindo votação a Tancredo, os deputados petistas, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT, decidiram pela abstenção. De nada valeram os apelos dos tancredistas de que sua vitória representaria o fim do regime ditatorial. Diziam que o PT era contra qualquer tipo de eleição indireta. Continuariam contra mesmo para se pôr fim à ditadura. Três deputados petistas, Airton Soares (PT-SP), Bethe Mendes (PT-SP) e José Eudes (PT-RJ), por não concordarem com essa orientação por considerá-la equivocada, votaram em Tancredo Neves. Foram expulsos do partido. Em nome da coerência, o Partido dos Trabalhadores não participou da derrubada  da ditadura. Se dependesse só do PT, se todos fizessem da mesma forma, principalmente os ex-arenistas que ficaram ao lado da vontade nacional, votando em Tancredo, a ditadura militar duraria mais alguns anos.

Agora, toda coerência petista, que para ser diferente dos demais partidos fez o jogo de Paulo Maluf, o jogo da ditadura, se abstendo de votar no candidato Tancredo Neves,  ponte usada pelas forças democráticas para a travessia da ditadura militar para a democracia, se desmorona por completo, quando Lula vai à procura do mesmo Paulo Maluf em busca do seu apoio político e os 90 segundos de horário na TV e rádio, que o PP possui, para seu candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Essa postura nova do PT surpreendeu a todos que não conhecem a verdadeira história do partido. Gente que não conhece esse fato histórico da vida política nacional. Já naquela época, fez o jogo de Maluf. Ao não votarem poderiam, não fosse a ação firme de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Aureliano Chaves, Marco Maciel, José Sarney e tantos outros, respaldados pelo povo e imprensa livres, eleger Maluf, o candidato da ditadura. Essa atitude de agora só não surpreendeu os democratas daquele tempo e o próprio Paulo Salim Maluf, que, falando ao jornal O Globo, edição de terça-feira, dia 26, no dia em que o PCdoB anunciou apoio a Fernando Haddad, disse que não se oporá se o vice da chapa for comunista. “O PT se comportou à direita de Paulo Maluf. Eu, perto do PT hoje, sou comunista.” Igualaram-se por baixo!

(Diário da Manhã - 27/06/2012)