sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vale a pena lutar (Parte I)

[Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina]

Meus amigos,

Eu escrevi algumas palavras aqui, mas eu quero deixar que meu coração fale. Vocês poderão dizer que até pode significar um ato demagógico, mas eu estou realmente emocionado e extremamente agradecido por esse acontecimento.

Já tive oportunidade de experimentar emoções enormes, participar de fatos que foram marcantes na minha vida. Mas, não há dúvida que, esse de hoje, é o coroamento de um trabalho de quase 40 anos - ou mais de 40 anos - na cidade de Anápolis, sempre contando com o apoio total e irrestrito da nossa população.


Éramos meu pai, Virginio Santillo, minha mãe, Elydia Maschietto Santillo, o Henrique (estava com seis anos de idade), eu (com quatro anos) e o Romualdo (com dois anos). Em 1944, nós chegávamos à cidade de Anápolis. Chegávamos à cidade de Anápolis para daqui não sair mais. Só saímos uma única oportunidade. E essa oportunidade foi em 1949, quando nós saímos da sede do município e fomos para o distrito de Matão, hoje considerado município de Ouro Verde. Lá nós fomos trabalhar na zona rural, numa fazenda do Chefinho, na mata dos Criolos. Foi a única vez que saímos e ficamos quase um ano fora - ou um ano aproximadamente - e retornamos para a cidade de Anápolis.

Não é fácil falar a respeito da luta do meu pai. Foi uma luta titânica. Uma luta realmente destemida, violenta, podemos assim dizer, para enfrentar todas as adversidades. Meu pai era um homem simples, de poucos estudos, que veio para Anápolis em 1944 sem saber exatamente o que é que nos esperava aqui nessa cidade. Ele trabalhou aqui em Anápolis e Goiás como ambulante, visitando as cidades de Abadiânia e Trindade, vendendo pernete e outras bebidas para os festeiros, de um modo geral. Depois foi trabalhar em pequeno comércio, com a venda de batatinha e outros legumes. Terminou a sua vida sendo um pequeno comerciante, ali na rua Rui Barbosa, esquina com a rua Quintino Bocaiúva.

Meu pai foi realmente um batalhador, um homem realmente destemido. E, ao seu lado, a minha querida mãe, que também trabalhou bastante. Ela era costureira e ajudava na renda familiar. Eu, Henrique e Romualdo, nós fazíamos parte dessa família. Só nós, mais niguém. Mais nenhum outro parente nosso veio para o estado de Goiás. Só nós cinco. Aqui nos instalamos e fomos extraordinariamente bem recebidos pelo povo, tanto nas atividades profissionais quanto na atividade maior que nós podíamos fazer, que era a atividade política. Por isso, nós somos imensamente gratos ao povo de Goiás e, especialmente, ao povo de Anápolis.

Galgamos os postos mais importantes que poderíamos ter em nossa vida. Henrique foi vereador, prefeito, deputado estadual, senador, governador e ministro da Saúde. Romualdo, deputado estadual por dois mandatos. Eu tive a honra de ser deputado estadual, três vezes deputado federal, duas vezes prefeito, secretário de governo e secretário da Educação. É muito, para uma família sem tradição no estado, que aqui chegou anonimamente. E anonimamente procuramos trabalhar toda nossa existência, a não ser no momento que tínhamos que levar o nosso nome à consideração e à apreciação do eleitor do nosso estado. Assim, essa atividade foi espetacular.

Eu quero falar um pouco de minha vida política. Comecei politicamente no Grêmio Literário Castro Alves do Colégio Estadual. Fui eleito em 1960 numa memorável eleição, em substituição ao queridíssimo e, já saudoso, companheiro Gil Xavier Nunes, quando fui eleito presidente do Grêmio Literário Castro Alves. Contando com o apoio dos estudantes, nós fizemos um trabalho pela valorização da educação. Fizemos um trabalho para equipar a nossa escola, principalmente na área para o atendimento ao ensino de biologia. Fizemos um trabalho para a contrução da quadra de esportes do colégio e todo o equipamento ali existente. Graças a esse trabalho contínuo nosso, fui re-eleito presidente do Grêmio Castro Alves logo em seguida.

Em 1962, nós acabamos com o isolamento do estudante secundarista de Anápolis que era filiado a UIEA, União Independente dos Estudantes de Anápolis. Eu, Jacy Fernandez e Levi Eschetini, fundamos a UESA, da qual eu fui o seu primeiro presidente, na eleição direta feita pelos estudantes secundaristas de Anápolis em 1963. Não terminei meu mandato. Estava apenas no início da administração quando veio o Golpe Militarista de 1964; e eu, pelas minhas posições políticas, fui afastado daquela entidade. Passei então a militar com mais intensidade na área esportiva.

Fui trabalhar, antes disso, na Rádio Carajá, ao lado do companheiro Habib Issa. Comandávamos toda a programação de esporte da Rádio Carajá, tendo também ao lado o companheiro Antônio Afonso de Almeida. De lá, fui fazer o trabalho para a Liga Anapolina de Desportos. Os clubes maiores de Anápolis - Anápolis, a Associação Atlética Anapolina, Ipiranga Atlético Clube - tinham deixado a liga para se increverem diretamente na Federação Goiana de Desportos. Nós criamos a liga só com os clubes de Anápolis. Fui, naquela oportunidade, eleito presidente da entidade, numa eleição onde apenas eu apresentei-me como candidato. Fui re-eleito para o segundo mandato e, mais uma vez, eleito para o terceiro mandato, sempre como candidato único da Liga Anapolina de Desportos. Fizemos o entrosamento total do esporte varzeano de Anápolis com o esporte de Goiânia. Trabalhamos junto a Raul Balduíno para contruir o Estádio dos Amadores, que foi concluído na minha primeira gestão em 1968.

Daí, eu saí para ajudar o meu irmão. Em 1966, foram extintos os partidos políticos, criados apenas dois: A Arena, que dava sustentação ao governo; e MDB, que era o partido contrário. Fui dos primeiros filiados, ao lado do Henrique e Romualdo, no MDB. Naquele mesmo ano de 1966, Henrique foi eleito vereador, o mais votado na história de Anápolis em todos os tempos. Isso a 38 anos atrás, quando ele obteve 1.536 votos num eleitorado que era pouquinho superior a 12 mil eleitores. Teve uma votação fantástica.


A votação que ele teve despertou a ira dos adversários. No dia de sua diplomação, apareceu um calhamaço apócrifo sobre a mesa do juiz eleitoral. O juiz eleitoral diplomou 14 vereadores e mais dois suplentes de cada um dos dois partidos, mas não fez a diplomação do Henrique. Através de questão de ordem, ele (Henrique) quis saber o porquê da sua não diplomação. O juiz simplemente respondeu: "O senhor é comunista! Fichado no G2 da Polícia Militar de Belo Horizonte!" Os companheiros ficaram atônitos. Dois anos apenas após o Golpe, ainda o movimento era efervescente. A caça às bruxas existia. Mas eu me dispús a ir a Belo Horizonte para buscar a documentação para defendê-lo.

Fui a Belo Horizonte. Fiquei dois dias lá, postado a porta do Comando da Polícia Militar. Saí de lá com documento dizendo que, na G2 da Polícia Militar de Belo Horizonte, não havia qualquer registro que desabonasse a figura do Sr. Henrique Santillo. Trouxe o documento e entregamos para o nosso advogado de defesa. Ele fez a anexação dele junto ao processo que estava no Tribunal Regional Eleitoral. Marcaram a audiência para daí uns dias na frente.

No dia do julgamento, nós estávamos lá. O Dr. Rômulo Gonçalves, nosso advogado - advogado de presos políticos do estado de Goiás - estava lá para nos defender. Quando nós chegamos no auditório, fomos informados que, do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, chegara para o Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, de Israel Pinheiro, em Minas Gerais, para Otávio Lage, em Goiás, um telex - naquela epoca não havia fax - dizendo que era para tornar nula a certidão dada pela G2 da Polícia Militar, por que o Henrique estava realmente fichado lá como comunista.

Aí teve, então, um papel importantíssimo, um papel decisivo, o juiz federal de Goiás, Dr. José de Jesus. Ele determinou a formulação da defesa junto aos demais integrantes do Tribunal, quando ele derrotou qualquer argumento, dizendo que não se pode anular uma certidão assinada pelo Comandante da Polícia Militar de Belo Horizonte, com sinete da Corporação, dizendo que nada há contra Henrique Santillo. Essa certidão não pode ser anulada por um telex vindo diretamente do Palácio da Liberdade em Belo Horizonte. Henrique foi por isso mesmo absolvido, e, consequentemente, determinada a sua posse como vereador, isso já em abril do ano seguinte. Mesmo assim, o juiz eleitoral se negou a dar a ele a posse. Foi preciso que o Tribunal Regional Eleitoral determinasse que o Dr. Cir Roriz fosse indicado, e foi dada a posse ao Henrique a vereador.


Então, já foi uma batalha inicial enorme. Mas nós, acreditando na Justiça e sabendo que valia a pena lutar, lutamos para que ele pudesse garantir o seu mandato. Em 1969, ele foi eleito prefeito municipal. Antes de ser eleito, eles impugnaram a candidatura dele; impugnaram a diplomação e impugnaram a posse. Mas nós conseguimos fazer que ele assumisse a Prefeitura Municipal.

Vale a pena lutar (Parte II)

[Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina]

Já em 1970, eu me candidatei pela primeira vez como deputado estadual. Fui o mais votado do MDB e o terceiro mais votado do estado. Na Assembléia Legislativa, praticamente dediquei meu tempo a defender o meu irmão, que estava sofrendo uma pressão nunca vista aqui na cidade de Anápolis. Nós elegemos dez vereadores. A Câmara era formada por quinze. Nós elegemos dez vereadores contra cinco da Arena. Passada a eleição de 70, três vereadores do MDB aderiram a Arena. Passamos a ter minoria de sete contra oito na Câmara Municipal. Era presidente da Câmara Antônio Marmo Canedo. Sofria de um mal realmente muito grave. Acabou morrendo no exercício da presidência da Câmara Municipal. Assumiu a presidência Valmir Bastos, que era o vice-presidente.

Como eles queriam de toda maneira deturpar o processo eleitoral de Anápolis, fazer uma reviravolta na política anapolina, queriam que Valmir renunciasse ao mandato. O Valmir não renunciava ao mandato. E, por não renunciar ao mandato, Valmir foi preso três vezes. Injustamente, sem qualquer justificativa, sendo que a última prisão do Valmir Bastos ocorreu na minha presença, no meu carro. Foi retirado do carro a base de metralhadora e levado para Brasília, onde ficou lá nas dependências do exército por mais de trinta dias. De lá só saiu quando assinou um documento para o Major Leopoldino, renunciando a presidência da Câmara e renunciando seu mandato. Só que para valer, teria que ser lido no plenário da Câmara Municipal. Esse documento nunca apareceu. Valmir terminou o mandato dele como verador, terminou o mandato como presidente da Câmara Municipal, e o Henrique terminou o seu mandato como prefeito da cidade de Anápolis. Nós estavamos lá na Assembléia, diariamente fazendo a defesa e fazendo também as denúncias gravíssimas do que os nossos adversários aqui queriam fazer contra a Democracia.

Então, foi realmente um trabalho enorme. Em 1972, quando elegemos José Batista Júnior, mais da metade do MDB se auto-entitulou "MDB Positivo." Pulou para o palanque da Arena e foi trabalhar para a candidatura arenista. Nós ficamos do lado de cá, meia-dúzia de gatos pingados. Anapolino de Faria, eu e Henrique Santillo, ficamos na defesa de José Batista Júnior, e tivemos uma vitória extraordinária, com mais de quatro mil votos de frente.

No dia da posse de José Batista Júnior, a Rádio Carajá - que nós haviamos adquirido do Dr. Plínio Jayme, que havia sido deputado estadual - foi invadida por policiais militares, na madrugada, no seu transmissor e nos seus estúdios. Veio uma ordem diretamente do DENTEL, em Brasília, determinando que a emissora voltasse para o seu antigo proprietário. Embora o Dr. Plínio não quisesse isso, foi obrigado a aceitar a emissora de volta, sendo que nós haviamos adquirido o controle da rádio em 1967. Fazíamos, todos os dias, eu e o Romualdo, o programa "O Povo Falou, Tá Falado". Não nos demos por satisfeitos. Fomos e adquirimos a Rádio Santana. Começamos a trabalhar com ela imediatamente. Em 1975, a Rádio Santana foi fechada. Não permitiram mais que nossa voz fosse levada ao ar. Mas nós continuamos a nossa tarefa com o povo de Anápolis.

Estou fazendo isso, amigos, pra dizer da minha satisfação, e como é gostoso poder trabalhar na política. Como deputado estadual, a minha tarefa foi de defender a Democracia, os princípios democráticos. Coloquei quase que todo o meu mandato na defesa do nosso prefeito, meu irmão, que era perseguido aqui em Anápolis. Graças a Deus, ele terminou o seu mandato.

Em 1974, eu era candidato a re-eleição a deputado estadual. Mas, meu irmão, que havia deixado a prefeitura em 1972, querendo re-organizar a sua vida no hospital Santa Paula, me disse: "Adhemar, não tenho condição de sair daqui e ir para Brasília. Portanto, não vou disputar a eleição." Eu falei: "Então vamos fazer o seguinte: eu vou candidato a deputado federal, e você vai candidato a deputado estadual." Ele respondeu: "Deputado estadual dá para mim, dá para eu ir e voltar a Goiânia. Você quer?" Aceitei, e, na última hora, saí candidato a deputado federal. Foi o primeiro ano que tivemos a discussão e debate na televisão, a propaganda gratuita. Então nós fomos fazer o trabalho, eu e ele, através de programas de rádio e televisão, onde fizemos o "Pingue-Pongue da Verdade." O que realmente tomou conta do estado de Goiás, e nos deu realmente uma dimensão maior, e nós fomos eleitos. Ele, deputado estadual de 1974, com 33 mil votos, e eu, deputado federal, com 48 mil votos.

Mas, quando foi fazer o registro da candidatura, o procurador de justiça do estado, no governo Leonino Caiado, simplesmente quis impugnar a nossa candidatura. Terminada a eleição de 70, os nossos adversários fizeram uma informação de que nós, eu e Anapolino de Faria, teríamos usado máquina da prefeitura no município de Goianápolis, no município de Ouro Verde e no município de Petrolina, para nós nos elegermos. Eles, então, mandaram para a Polícia Federal. A Polícia Federal fez um inquérito; não constatou nada. Mas estava preparada para oferecer argumentos para eles. Como ele não tinham condição de nos pegar, deixaram isso amoitado.

Em 74, na hora do registro da candidatura - por que naquela época existia um lei em que o cidadão, para poder ser impugnado, bastava o promotor, o ministério público, oferecer a denúncia e o juiz receber; feito isso, ele já estava impugnado; não precisava ser condenado, bastava oferecer a denúncia e ela ser recebida pelo juiz - tentaram fazer isso em Petrolina. Mas o promotor daquela cidade, o Dr. Decildes Sá Abreu, não aceitou fazer a denúncia por que não havia como oferecer a denúncia. Aí, o processo veio para Anápolis. E, aqui em Anápolis, ele encontraram um promotor que oferecesse a denúncia. O promotor ofereceu a denúncia contra mim e contra o Henrique. Mas ai, o Dr. Clementino Alencar, juiz da cidade, responsável pelos feitos, não concordou e mandou o processo para o arquivo.


Como deputado federal, procurei honrar também os nossos compromissos com a nossa população. Não tegiversar, não dar tréguas ao adversário. Estar permanentemente lá, fazendo um trabalho nas nossas três passagens. Está registrado no livro "Da Mesa Farta à Subnutrição", que falava a respeito das desigualdades sociais. Inclusive, fiz a denúncia contra o ministro do Trabalho daquela ápoca. Foi divulgada nacionalmente pelos principais jornais e revistas, onde o ministro do Trabalho pedia ao povo que "apertasse o cinto", por que ainda não era a hora de dar um salário mínimo digno, e ele consumia por mês mais de mil quilos de carne bovina, suína, frango, peixes e crustáceos. Mais de mil quilos! A ponto do jornal O Estado de São Paulo o publicar carregando uma bandeja e um touro em cima, dizendo que era a refeição do ministro. Foi um trabalho extraordinário que nós realizamos. Em todo o Sul do país, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do SUl, estados em que fui chamado para participar, os candidatos a prefeito e vereador da eleição de 76, apresentavam, atrás de sua propraganda eleitoral, o nosso pronunciamento e a denúncia que fizemos na Câmara Federal.

Fui eleito Vice-Presidente da Câmara no segundo ano do mandato, enfrentando o "Grupo Autêntico" com Getulio Dias e enfrentando o "Grupo Moderado" com Juarez Bernardes. Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros mais apoiavam Juarez, enquanto Alencar Furtado, Isâneas Maciel e outros mais do "Grupo Autêntico" apoiavam Getulio Dias. Trabalhei no meio deles e, ao final, estava eleito Vice-Presidente da Câmara Federal, o mais alto posto reservado a bancada oposicionista. Por isso, quero dizer aos amigos que vale a pena lutar. O que não vale é querer o poder pelo poder, e querer ser poder de qualquer jeito. Vale a pena lutar! A luta é dignificante!

Em 78, fui eleito deputado pela segunda vez, e o Henrique, senador. Em 82, o Henrique não foi candidato por que tinha um mandato de senador. Eu fui eleito deputado federal; o Romualdo, deputado estadual. o Henrique continuou como senador, e Íris foi eleito governador do estado de Goiás. Em 86, o Henrique se elegeu governador do nosso estado.

Eu quero dizer que, nessas lutas todas, para mim a grande batalha foi a batalha pela Democracia, a batalha para voltar novamente a ter o direito a escolher nossos representantes, o direito de falar aquilo que quer, o direito de explanar o seu ponto-de-vista da forma que quer. Por isso eu sou um democrata autêntico. Eu não aceito o cidadão falar que é democrata, usar nos discursos a palavra democrata, mas no exercício do poder ser um autoritário, perseguidor. Foi contra isso que nós lutamos e conseguimos fazer com que houvesse a derrocada total dessa qualidade de pessoas, que não podem continuar convivendo no regime democrático.

Vale a pena lutar (Parte III)

[Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina]

Desta forma, quero dizer ao meus amigos, que passei por outros cargos importantes, como na Secretaria de Educação do Estado. Assumi a Secretaria Estadual da Educação em 1983. Íris Rezende Machado baixou um decreto, chamado "Decretão", onde mais de doze mil funcionários da Secretaria da Educação foram exonerados sumariamente. Eles foram exonerados por que foram contratados no período pré-eleitoral. Naquela época não havia proibição da constituição que alguém pudesse ser contratado, mas o período eleitoral tinha que ser respeitado. Eu, então, comecei o meu trabalho para defender os professores. Mas não defender o professor por interesse de ordem pessoal ou política, por justiça. Falei ao Íris: "Esse professores trabalham há muito tempo nas escolas. Eles estão prestando serviço sem receber sequer pró-labore. Não tem nada que impeça que eles sejam contratados sem concurso. Agora, se eles foram contratados no período pré-eleitoral, eles não tem culpa disso. Por que muitos deles estão aí há mais de dois, três, quatro anos prestando serviço. O seu afastamaneto vai representar uma dupla punição: a punição que foi feita e a punição agora, através do seu decreto." O Íris compreendeu a situação. Nós, então, fizemos com que todos voltassem. Fizemos com que todos os professores atingidos pudessem voltar. Aqui mesmo na cidade de Anápolis, temos algumas das centenas daqueles professores que não perderam o emprego, já estão aposentados e tiveram seu direito garantido, através do trabalho que fizemos na Educação.

Fizemos o plano de cargos e salários, e o mais avançado estatuto do magistério até então existente no estado de Goiás. Realizamos o primeiro concurso público, que foi também uma tarefa enorme para a sua realização. Companheiros do MDB do interior diziam: "Adhemar, nós ficamos esse tempo todo vendo nossos adversários nomearem seus companheiros. Agora que você pode fazer a nomeação dos nosso amigos, você vai fazer concurso?" Adiamos o concurso até que a gente convencesse a todos. Fizemos um concurso para a admissão de mais de doze mil professores em todo o estado de Goiás e do Tocantins, que naquela época pertencia tambem a Goiás.

Fizemos, ainda dentro do nosso trabalho, mil salas de aula através do Multirão. Dobramos o número de salas de aula aqui dentro da cidade de Anápolis. Levamos o segundo grau a todos os bairros mais importantes. Aqui está o companheiro Zé Vieira, que sabe quando levamos lá para o Gomes de Souza Ramos o primeiro e segundo grau, lá na Vila Jaiara. Levamos para a Boa Vista, no colégio Carlos de Pina. Levamos também para o Plínio Jayme, no Recanto do Sol. Levamos para o Padre Fernando, na Vila Formosa. Levamos o segundo grau para o Adolfo Batista, na Vila Fabril. Levamos o segundo grau para todos os setores importantes de Anápolis naquela época.

Acho que a questão mais importante que realizamos foi levar de um para sete os cursos da FACEA, dando o embrião para a formação da futura UNIANA. Henrique, no (seu) governo, criou mais quatro cursos, totalizando os onze, indispensáveis para que fosse criada a universidade. Através de uma lei de autoria do Romualdo Santillo, ele criou a UNIANA, a Universidade Estadual de Anápolis. Fizemos também o trabalho de melhorar a educação no resto do estado. No Tocantins, que não tinha sequer curso de magistério. Fizemos a Universidade de Porangatu, a Universidade de Porto Nacional e a Universidade de Araguaína.


Cheguei à prefeitura de Anápolis. Na prefeitura de Anápolis, nós pudemos fazer um grande trabalho. Fizemos quatro mil metros quadrados de asfalto. Através de um trabalho com o governo estadual, fizemos o esgoto sanitário e levamos a água para bairros como a Jaiara, Alexandrina, Boa Vista, Santa Izabel, que não tinha água naquela época. Levamos água potável através do trabalho com a Saneago. Fizemos na prefeitura municipal um trabalho magnífico também, de outras conquistas para a população. Praças como a Badia Deyer, parque como o parque Onofre Quinan, Mercado do Produtor, feriões cobertos.

Mas aonde nós pontificamos mesmo, foi na área social. E aí eu contei com a ação decisiva da Onaide. Na área social, através da Sociedade Dom Bosco, através do trabalho da minha amiga Diná Murici, Secretéria Municipal de Serviços Sociais, da Angela Faria, que também nos ajudava na Sociedade Dom Bosco, fizemos um trabalho magnífico. Levamos mais de 1.200 meninos para o mercado de trabalho na nossa última administração, no comércio, na indústria e na prestação de serviços. Retiramos os meninos da rua. Não tínhamos meninos pedindo pelas ruas de Anápolis. Mas nunca usamos a violência. Nunca usamos a polícia. Apenas usamos a solidariedade, o amor e a mão estendida. Levamos esse meninos para todos nossos programas, e lá os agasalhamos através de vários programas da Sociedade Dom Bosco. Dávamos 4,000 refeições por dia, na minha última administração, a criancas que estudavam nas escolas do município e também criancas dos bairros de nossa cidade, através do programa AME.

Fizemos o Cursinho Universitário. Quanta gente estudou no Cursinho Universitário gratuitamente e passou nos exames ao vestibular, principalmente aqui na UEG! Estão estudando e alguns já concluiram seu curso. Fizemos o trabalho com a Mulher, o Centro Integrado da Mulher. Fizemos o trabalho com os idosos, através dos clubes de idosos. Então, o trabalho social foi a função mais importante que nos pudemos realizar. Por isso, vale a pena lutar! Vale a pena acreditar! Vale a pena acreditar na vontade popular!

Para todo esse trabalho, eu quero dizer, sempre tive o respaldo da imprensa, do povo de Goiás e, especialmente, do povo de Anápolis, a quem eu quero render a minha mais imorredora gratidão. Na derrota ou na vitória, na vitória ou na derrota, só tenho a agradecer ao povo de Anápolis pela sua independência e pela sua firmeza de comportamento. Não tenho nenhuma mágoa e nenhum ressentimento. Só tenho a agradecer a Deus, em primeiríssimo lugar, ao povo da minha cidade e do meu estado, de forma complementar. Chegamos em lugares jamais imaginados. Chegamos a setores que jamais pensávamos que um dia chegaríamos. Chegamos, acreditando na força do povo e acreditando no valor da luta.

Eu quero nesse instante encerrar minha participação, amigos, agradecendo essa horaria que recebo. Algumas pessoas me perguntam: "Adhemar, eu não sabia que você não era de Anápolis! Trabalhar tanto quanto trabalhou para Anápolis... Você não é de Anápolis e tem toda essa vontade de trabalhar pela cidade!" A nossa vontade de trabalhar nunca parou. Nós sempre procuramos fazer o melhor. Nós sempre estivemos aí, dando o melhor de nossos esforços. É responsabilidade nossa. Para mim, então, é um dever. Quando assumo uma responsabilidade, tenho que cumprir com toda altivez e com toda determinação. Eu era um cidadão anapolino, nunca mudei daqui, sempre lutei por Anápolis. Sempre procurei dignificar Anápolis. Na época da Ditadura, era um prazer viajar para fora e alguém falar: "Anápolis! Cidade de um povo realmente extraordinário! Se dependesse o Brasil de Anápolis, a Ditadura não prosperaria um dia, por que aí ela nunca ganhou." E não ganhou mesmo.

Quero dizer que me sinto envaidecido. Esse título, que me foi dado por solicitação do vereador André Almeida, e apoiado por senhores veradores que aqui se encontram e compõe essa casa, para mim é de um valor inestimável. Eu estou na chapada. Não tenho cargo ou benesse para oferecer. Recebi um título que me foi dado de coração e espontâneamente pelos vereadores. E, principalmente, num momento difícil, como o que nos estávamos atravessando, e, mais do que isso, num instante em que é dificil homenagear um político.

Quero agradecer em meu nome, em nome da Onaide, dos meu três filhos, André, Luis Augusto e Claudio, pela homenagem que vocês me prestam no dia de hoje. Eu sempre recebi o apoio e a homenagem do povo anapolino nestes quase quarenta anos de vida pública em nosso estado. Agora também recebo, dos políticos dos mais diferentes partidos, a homenagem para ser cidadão dessa cidade, o que é um honra extraordinária para mim. Talvez um dos maiores títulos, uma das maiores homenagens, que tenha recebido através de um poder constituído.

Muito obrigado, senhores vereadores! Vamos trabalhar por Anápolis! Obrigado!


Adhemar Santillo
Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina
28 de abril de 2004
Plenário Teotônio Vilela
Câmara Municipal de Anápolis

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Políticos que confiam na retaguarda

Na atividade de parlamentar, como a que exerci nas décadas de 70 e 80, em pleno regime militar, eram vividas emoções permanentes, tensões constantes. O que deu origem ao "pacote de abril" foi momento histórico de altivez e coragem, exercido pela oposição ao regime militar.

Em 1977, o presidente Geisel encaminhou ao Congresso Nacional projeto de reforma do Judiciário que, de acordo com as principais lideranças do mundo jurídico brasileiro, era agressão total ao Estado de Direito. Para que a matéria fosse aprovada, a bancada do MDB teria que votar favoravelmente. Duas correntes logo surgiram entre deputados e senadores: Tancredo Neves, embora contra, mas preocupado com o retrocesso institucional, defendia que se votasse pela aprovação da reforma. Paulo Brossard, advogado militante, dono também de notável saber jurídico, era totalmente contra a aprovação. Em reunião de bancadas unidas do Senado e Câmara, no auditório Nereu Ramos, após discursos emocionados das forças que defendiam e as que repudiavam a aprovação, a matéria foi à votação e a maioria do MDB foi pela rejeição. No plenário a Arena votou a favor e o MDB contra. Matéria foi para o arquivo.

No dia seguinte, o Congresso Nacional foi fechado por uma semana. Nosso líder, Alencar Furtado foi cassado, tendo os seus direitos políticos suspensos. As eleições diretas para governador, em 78 foram, mais uma vez, transformadas em nomeação e criaram a figura do senador "biônico", ficando para o povo o direito de eleger apenas um dos dois que seriam escolhidos nas eleições de 78.

Na ditadura sabíamos que para cada ato de ousadia de nossa parte, surgiria reação dura da parte contrária. Era preciso resistir. Para ser oposição precisava ter patriotismo, coragem e nenhum tipo de fisiologismo.

Nem só de tensão e sufoco vive o Congresso Nacional. Há momentos de tranqüilidade e até hilariantes.

Quando vivíamos o desdobramento do "pacote de abril de 77", tomei conhecimento, pelo deputado Epitácio Cafeteira, que na década de 50, numa reunião noturna da Câmara dos Deputados, estava em votação projeto de revolução que concedia reajuste de subsídios aos deputados. A votação era nominal, do Sul para o Norte. No início da votação, os parlamentares foram orientados pelo presidente da casa sobre o teor da matéria e os que votassem "Sim" estariam aprovando o aumento e os que fossem contra, votariam "Não". Quando a bancada de Minas Gerais estava votando, o plenário foi surpreendido pelo voto, solitário, de "Não", do deputado Último de Carvalho. O presidente ficou assustado, paralisou o processo de chamada, depois de repetir todas as instruções do início da sessão, entendendo que Último de Carvalho não estava em plenário no início dos trabalhos, voltou a perguntar:

– "Deputado Último de Carvalho, como vota?"

– "Não!"

Agora já não havia dúvida, seu voto foi consciente. O que teria feito o deputado não querer um reajuste de subsídios? Mal terminou a votação da bancada mineira, quatro colegas do PSD mineiro foram ao seu encontro e lhe indagaram:

– "Último, até agora estamos tontos com sua atitude. Você não é pessoa muito rica que possa dispensar aumento de subsídio, qual é a sua?"

– "Eu confio na retaguarda", respondeu.

Até hoje ainda há muita gente confiando na retaguarda. No regime ditatorial de 64 não havia espaço "para fazer de conta" e confiar na retaguarda. Cada um era verdadeiramente responsável pelos seus atos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hilton Lucena e Altivo - Exemplos a serem seguidos

Ser oposição no período da Ditadura Militar dependia de coragem, idealismo e muito amor à Democracia. Era difícil para parlamentares e prefeitos exerceram seus mandatos. As perseguições eram constantes e infundáveis. A organização do MDB em alguns municípios era quase que impossível.

Certa vez, numa madrugada, em pleno ano de 1971, fui acordado pelo Romas, Chico Maneco, Eduardo Jorge e outros integrantes do Diretório Municipal do MDB de Estrela do Norte. Hilton Lucena, hoje trabalhando no Tribunal de Contas do Estado e Altivo tiveram prisão preventiva decretada pelo Juiz de Direito local. As Alegações para o Juiz decretar a prisão foram que eles estavam filiando pessoas ao MDB e que se não fossem presos poderiam fugir do município. Foi a primeira vez que percorri a Belém Brasília após a cidade de Ceres.

Chegamos a Estrela do Norte, eu e Dr. Hiram Bezze, no dia seguinte. Fomos direto à cadeia pública, encontrando Hilton, na única cela existente naquele presídio juntamente com outro presidiário, que dias antes havia matado quatro crianças à machadada, no vizinho município de Mutunópolis. Com nossa presença, sabendo que recorreríamos ao Tribunal de Justiça o Juiz relaxou a prisão, colocando nossos "subversivos" em liberdade.

Com nossa ida ao então Médio Norte e o sucesso da missão, passamos a ser procurados pelos companheiros que se sentiam injustiçados. Alguns meses após fui chamado pelo Jair Sapateiro, pessoa humilde que se dispunha a fazer parte do MDB de Formoso. A Arena local era comandada por Felipe Cardoso, o Felipão, pai do atual Deputado Marcos Cardoso. Felipão era líder e bastante querido do povo formosense. Para lá me acompanhou o Dr. Vicente Alencar, um dos mais importantes advogados de Goiás contra a ditadura militar.

Quando andávamos pelas avenidas e ruas de Formoso, o Jair nos relatou o que, no seu entendimento, era falha gravíssima do sistema eleitoral daquela cidade:

– Eu chamei vocês aqui para que denunciem a esculhambação do sistema eleitoral aqui em Formoso.
– Qual é o problema? Indagamos.
– Trago como exemplo o que está acontecendo com meu Título Eleitoral.
– O que está acontecendo? Perguntei:
– Meu Título está com a fotografia de outra pessoa.
– Mas o nome é o seu, não é Jair? Disse Alencar.
– Não. O nome também é de outra pessoa.
– Você já votou com esse Título? Perguntamos.
– Não. Ele é novo!
– Então, Jair vá ao Cartório Eleitoral, deixe lá o Título que está em seu poder e peça ao escrivão o seu, porque você está com Título de outro eleitor.

Assim foi feito e tudo voltou à normalidade, em Formoso.

Quando precisamos hoje, políticos com ou sem mandatos, não resistindo aos favores oficiais dos governantes buscando, a qualquer pretexto forma de adesão, temos que voltar as nossas vistas e atenções ao passado, para rendermos nossas homenagens a companheiros como Altivo e Hilton Lucena, pela coragem e destemor que sempre demonstraram em sua conduta de cidadão e político. Contamos com muita gente como eles, para derrubarmos a ditadura.

domingo, 10 de abril de 2011

APA do Ribeirão João Leite modificando comportamentos

A Área de Proteção Ambiental (APA) do Ribeirão João Leite foi criada em 27 de dezembro de 2002, com cerca de 720 km². Dela fazem parte os municípios de Anápolis, Campo Limpo de Goiás, Goiânia, Goianápolis, Nerópolis, Ouro Verde e Terezópolis de Goiás. Sua implantação levou muita intranquilidade aos proprietários rurais da região. Restrições para o livre manejo da terra os revoltaram. Sem uma clara especificação do que se podia ou não ser feito, trouxe descontentamento geral aos hortifrutigranjeiros. A ideia que se tinha é que o proprietário era o dono, mas não mandava. Deram a volta por cima. No momento a APA já está apresentando resultados positivos.

Para driblarem os impedimentos e restrições, criaram o Consórcio Intermunicipal da Área de Proteção Ambiental do Ribeirão João Leite, incluindo produtores dos municípios de Campo Limpo, Ouro Verde, Nerópolis, Terezópolis e Goianápolis. Embora sendo criado só a partir de 2009, o consórcio coleciona grandes vitórias: estradas vicinais dos cinco municípios estão sendo recuperadas, evitando erosões; as nascentes catalogadas para a preservação e recuperação das matas ciliares; construção de aterros sanitários individuais ou compartilhados, como o de Ouro Verde e Campo Limpo de Goiás; produção de hortaliças sem agrotóxicos e luta incansável para a implantação da rede de esgoto sanitário no setor urbano de todos municípios, são algumas das conquistas obtidas.

O consórcio, presidido pelo prefeito de Terezópolis, Uilton Pereira dos Santos, decidiu que por ocasião da Exposição Agropecuária de Goiás, a ser realizada no próximo mês de maio, em Goiânia, neutralizará toda emissão de carbono, produzida pelos animais expostos à feira, plantando árvores na região da APA do Ribeirão João Leite, acima da quantidade do gás emitido. Querem os integrantes do consórcio conscientizar a população que todo empreendimento econômico, que degrade a natureza, seja imediatamente restaurado.

A Área de Proteção Ambiental do Ribeirão João Leite está modificando também a forma de agir dos ceramistas. A região que vai de Anápolis a Ouro Verde é rica em barro para cerâmica. Durante muitos anos as indústrias produtoras de tijolos, telhas, telhões e lajotas extraíram milhares de toneladas de argila de maneira predatória. Retirando o barro, deixando para trás o rastro de destruição. Crateras abertas e abandonadas. Sob a liderança de Laerte Simão, vice-presidente do Sindicato Estadual dos Proprietários de Cerâmicas e proprietário de cerâmica em Campo Limpo, representantes de 30 indústrias de tijolos localizados na APA do Ribeirão João Leite, se reuniram no dia 30 de setembro do ano passado, aderindo ao projeto para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), na região. Sem a elaboração do EIA/Rima, as cerâmicas não conseguiriam obter a renovação de licença de funcionamento. Agora só trabalharão nessa atividade as empresas que atenderem o Plano de Manejo Estadual visando a exploração sustentável do minério. O projeto do EIA /Rima foi contratado e pago pelos proprietários das cerâmicas ao custo de R$ 600 mil. Os empresários da APA que não aderirem ao projeto, não terão suas licenças renovadas.

O Sindicer-GO, presidido por Henrique Wilhelm Morg de Andrade, com base no que ocorre na APA do Ribeirão João Leite, decidiu cadastrar todas as cerâmicas do Estado, para que da mesma forma venham o mais rápido possível usar o manejo correto da argila.

Além de Henrique Wilhelm de Andrade, presidente do Sindicer-GO, muito tem trabalhado para mudar os costumes e hábitos dos proprietários de cerâmicas em Goiás, o vice-presidente do sindicato, Laerte Simão. Defensor incansável do desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. Para os ceramistas preservar a natureza é obrigação de todos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O glamour e a realidade da prostituição

Depois do sucesso com seu livro O Doce Veneno do Escorpião, verdadeiro best-seller com mais de 300 mil exemplares vendidos, a ex-garota de programa, Raquel Pacheco, hoje com 26 anos, faz o maior sucesso de bilheteria com o filme de sua história de vida na prostituição. Mais de dois milhões de expectadores já assistiram Bruna Surfistinha. A previsão é que chegue aos três milhões. Um punhado de fatores tem colaborado para isso: a forma espontânea e autêntica de Déborah Secco. Apresenta-se com notável talento artístico. A diferença da história de Raquel em relação a outras prostitutas. Jovens, grande parte dos seus expectadores, querendo saber mais sobre a vida da garota de programas que só teve sucesso como prostituta. Motivos para se assistir o filme não faltam. Corinthianos fanáticos, vibrando com Dentinho, sentado à beira do colchão, apreciando a beleza de Déborah Secco...

Nascida em Sorocaba, interior de São Paulo, Raquel Pacheco foi adotada por uma família da classe média. Tinha uma vida aparentemente feliz e cheia de regalias. Passeava com os pais, ia com a família à praia e estudava nos melhores colégios da cidade. Alegando ser discriminada na escola e ridicularizada pelos colegas, decidiu aos 17 anos abandonar todo conforto do lar que a adotara para ser garota de programa. Até aí nada de extraordinário. Os classificados de quase todos os jornais estão repletos de jovens universitárias se apresentando como acompanhantes, massagitas e para programas. Muitas não abandonaram o lar, mas vieram de outras cidades ou Estados. Alegam aos pais que ganham vida noutras atividades.

O que impressiona nessa história, mais que a interpretação de Déborah Secco, é o fato de Surfistinha não ter sofrido nenhuma agressão ou violência. O filme todo a retrata respeitada, querida, paparicada, desejada e aparentemente feliz. Viveu as aventuras que quis. Verdadeiro mar de rosas. Ganhou projeção na atividade e saiu numa boa. Vida de sucesso e satisfação. Agressões, mesmo que verbais, só das companheiras de profissão e de um parente. Deixou de ser prostituta no instante em que desejou, para casar-se com um ex-cliente. História linda e repleta de glamour. Digna das melhores produções de Hollywood. Sonho que pode induzir milhares de jovens à busca da mesma aventura.

Enquanto Bruna Surfistinha arrasta milhões para conhecerem a vida de sucesso e luxo da prostituta interpretada por Déborah Secco, o rapper paulistano Emicida mostra em seu videoclipe Rua Augusta, o outro lado da prostituição. O lado verdadeiro. Tanto em Santa Efigênia, rua do sexo, em São Paulo, como Vila Mimosa, onde há o maior centro de prostituição no Rio de Janeiro, Emicida mostra imagens reais, impressionantes, de prostitutas narrando seu dia a dia. Reúne depoimentos dramáticos das jovens relatando a violência que sofrem e as mortes que assistem: “Elas trampam com nome falso, ninguém conhece a família delas. O que resta é chamar o IML e enterrar como indigente. Não tem nada de neon nisso”, afirma. Nos versos de Rua Augusta, tema do seu videoclipe, Emicida, enfatiza a vida da garota de programa:

“A maquiagem forte esconde os hematomas na alma. Fumando, calma, ela observa os faróis que vêm e vão. Viver em vão. Os que vêm e não te têm. São, se necessário, homem de bem, fujão. Que não aguentou ser solitário. A mesma grana que compra o sexo mata o amor. Traz a felicidade, também chama o rancor. As madrugas que testemunha. Vermelho sangue na unha. Sem nome, várias alcunhas...”

domingo, 3 de abril de 2011

Precisamos repensar a segurança pública

A questão da segurança pública em Anápolis está chegando ao fundo do poço. Se alguém, integrante da Secretaria Nacional dos Direitos humanos, chegar de surpresa à Delegacia Geral, principalmente à noite, encontrará, sem dúvida nenhuma, pelo menos uma mulher, geralmente usuária de drogas, algemada, sentada à cadeira, passando a noite assim, nessa maneira desumana, aguardando momento de ser deslocada para o presídio de Aparecida de Goiânia. Por certo ficará escandalizada. Não havendo presídio feminino em Anápolis, essa é maneira que são tratadas as detentas. Mas não é só isso. Ai está apenas uma das questões que comprometem o sistema prisional anapolino. Desde o ano passado tem sido debatido o problema, que com R$ 15.000 seria resolvido. Por falta de interesse o assunto não é solucionado, humilhando dezenas de mulheres, geralmente das camadas mais pobres da população, desrespeitando o mais elementar dos direitos da pessoa humana. Presídio que foi construído para abrigar 60 presidiários à disposição da Justiça, na prática abriga mais de 320 presidiários já condenados. Vivem numa situação desumana. Barril de pólvora pronto a explodir a qualquer hora.

O índice de criminalidade, motivado pelo excessivo uso de drogas, principalmente entre os jovens, é cada vez maior. É comum ao andarmos pela cidade encontrar jovens armados, principalmente com facas peixeiras, livremente, sem nenhuma preocupação. A facilidade que encontram para cometer os crimes e deles se livrarem com facilidade, tem servido para o aumento da violência.

Ontem, sábado, dia 2 de abril, a ação dos marginais chegou ao máximo que se pode esperar dos bandidos. Nestor Fernandes de Medeiros, motorista da Rádio Manchester de Anápolis, ao sair da Vila Formosa, onde reside, para pegar a funcionária Renata, da mesma emissora, no Bairro São João, mesma região em que se encontra instalado o Batalhão da Polícia Militar, foi abordado por um cidadão, armado de revolver 38, anunciando ser um assalto:

– Passe os documentos, celular e carteira, rápido! Você é motorista da rádio que critica a gente. Isso é para não falar mais de nós.

Nestor, homem trabalhador, por certo teve todo seu trajeto diário acompanhado pelo bandido que, sozinho, sem veículo, agiu com a certeza da impunidade. O simples assalto já é fato inusitado, por ser praticado contra um motorista cujo carro estampa nas portas da viatura o nome da emissora de rádio. A agressão teve o objetivo de intimidar. Intimidar quem os atrapalha pelo simples fato de noticiar os crimes que cometem. Sabia o assaltante que um motorista de emissora de rádio, de manhã, 6h40, não poderia lhe render bons lucros materiais. O ato teve apenas um motivo: intimidar. O recado foi dado pelo bandido.

Quando até um motorista de emissora de rádio é assaltado à luz do dia, num bairro densamente povoado, bem perto do batalhão que comanda a Polícia Militar, é o fim de tudo. Ou vamos esperar que os bandidos assaltem e prendam integrantes da polícia para reagirmos? Não é só em Goiânia e Entorno de Brasília que a criminalidade cresce. Ela cresce em todo Goiás. É hora de repensar a melhor forma de defender o cidadão goiano. Não se pode esperar mais.