segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As coisas estão mudando!


Não há nenhuma dúvida, o círculo para candidato ficha suja está ficando cada vez mais apertado. Mesmo que haja uma escapada aqui outra acolá, muita gente foi excluída ou se auto excluiu das eleições municipais deste ano. É verdade que muitos fichas sujas usaram o prestígio que ainda têm com o eleitor, burlaram os efeitos da lei, lançando filhos ou outros integrantes do grupo familiar. Foram eleitos. Mas como nas nossas leis, as penalidades por um determinado crime só atingem a figura do réu, outros ligados a ele, até mesmo  filhos, familiares e amigos, são inocentes até que seja provada alguma coisa em contrário; estão garantidos pela própria lei. A eleição de candidatos nessa situação é estranha, mas quem deveria promover essa limpeza seria o eleitor.

Prova de que a lei evita que praticantes de corrupção, estelionato, peculatos e tantos outros crimes, sejam postulantes à reeleição, mas os partidos políticos deveriam ser os primeiros a excluir das suas listas de candidatos, aqueles que por um motivo ou outro podem ser detectados como um futuro ficha suja. Examinar a vida da pessoa no seu relacionamento comercial e social na comunidade a que pertence pode dar indicativos claros se o cidadão será honesto ou desonesto no desempenho de alguma função eletiva. Neste caso, o partido político deveria ser obrigado a exclui-lo antes de lhe oferecer vaga a qualquer tipo de candidatura, sob pena do presidente do partido ser processado como coresponsável.

Avançamos muito. O Diário da Manhã, na sua principal manchete da edição de sábado, 13 de outubro, ao noticiar o drama vivido por milhares de candidatos ficha suja, expõe com grande transparência a magistral limpeza que está sendo feita na política brasileira: “Os eleitores brasileiros não sabem se 2.830 candidatos poderão assumir cargos de prefeito, mesmo sendo eleitos no dia 7 de outubro. Depois de aprovados nas urnas, o futuro de vários postulantes a cargos públicos depende agora da Justiça”, noticia o jornal. Sinal dos novos tempos.

Saudamos com euforia as novas regras. Nas eleições de 2008, a legislação eleitoral não tinha poder para afastar ficha suja. Mesmo aqueles que no desenrolar da campanha cometessem crimes eleitorais, sendo eleitos, raramente perdiam o mandato por condenação pela Justiça.

Em Anápolis, um vereador foi denunciado pelos quatro integrantes do Ministério Público que serviram às quatro zonas eleitorais do município. A alegação foi a de que ele teria distribuído bilhetes para pessoas concorrerem a milhares de brinquedos, além de bicicletas,  mochilas e piscina, numa festa que aconteceria no dia 12 de outubro, após passado o primeiro turno das eleições. No dia 12, Dia das Crianças, conforme o prometido, a festa aconteceu no feirão coberto do Bairro de Lourdes. Mais de 7 mil pessoas compareceram ao evento. O vereador eleito transformou a festa da criança em mais um evento político, ao pedir votos para o candidato da sua preferência:  ‘No primeiro turno votamos no 14. Agora nosso candidato é o 13’.”

O juiz eleitoral de Anápolis, responsável pelo processo, entendeu que as infrações à lei eleitoral haviam acontecido. Como os sete mil eleitores presentes à festa política do dia 12 de outubro, mesmo que tivessem votado na adversária do prefeito eleito, não tirariam a vantagem alcançada pelo eleito nas urnas, o juiz o absolveu. Não lhe foi aplicada qualquer penalidade, mesmo sendo reconhecido em sua sentença que ele fora beneficiado pela distribuição irregular de brinquedos, bicicletas, mochilas e piscina.

O juiz condenou o vereador. No seu entendimento, os sete mil presentes à festa estiveram em número maior que na sua votação total. Neste caso, o juiz entendeu ter sido ele beneficiado com a distribuição dos brindes e suspendeu seus direitos políticos por três anos. Não cassou seu mandato e nem suspendeu sua diplomação. O vereador recorreu da sentença ao TRE.  Está cumprindo integralmente seu mandato de vereador, mas foi candidato a deputado federal em 2010 pelo PTB e candidatou-se a vereador agora, não sendo reeleito.

Com a Lei da Ficha Limpa, as coisas mudaram. Estamos caminhando com firmeza rumo à volta da credibilidade na atividade política. Agora vai depender muito dos partidos políticos e os eleitores fazer a parte que lhes competem.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Nica se assustou como nunca


Nossos lideres, até aqueles mais experientes como Valdivino Pereira, Bertolino Santana e Nica, que enfrentaram as mais duras perseguições nos tempos mais tenebrosos do regime ditatorial, não estavam habituados a agressões pessoais. Resistiam sem perder a compostura. Naquela viagem, a primeira que faziam em forma de excursão, saíram de casa alegres e preparados para uma nova empreitada. Organizarem um partido que se anunciava diferente. Queriam Henrique Santillo no Governo, por que acreditavam na sua luta e suas propostas administrativas. Seguiam o nosso caminho por que sempre estiveram ao nosso lado enfrentando o regime militar. Já haviam sido presos, mas não abriam mão do ideal de melhores dias para o povo brasileiro. Foram rumo a São Bernardo do Campo felizes e satisfeitos. Era a viagem mais importante de todos eles.

Nica, nossa companheira de primeira hora na formação do bloco emedebista autêntico em Anápolis, grande líder comunitária dos anos 70/80, moradora no Bairro Nova Capital, me relatou o acontecido e que tanto a tinha desgostado, amedrontando a
turma de Anápolis:

“Por volta das duas horas da madrugada - disse - estávamos dormindo quando o arquiteto Wilmar Cardoso, pegou o microfone do serviço de som do ônibus, especial para turismo, acordou todos os passageiros. Iniciou, com o serviço de som na maior altura, a fazer entrevista com o pessoal da caravana, que ia para o encontro em São Bernardo do Campo:”

Wilmar - E, aí, Professor Athos Magno, por que você está no PT?

Athos - Estou no PT, porque é partido puro! Partido do trabalhador que se encontra explorado por esta minoria capitalista, magnatas burgueses. Sanguessugas do suor e sangue da classe proletária...

Wilmar - Escavu, esta grande liderança rural da região de Itauçu, por que você é PT?

Escavu - Sou PT porque acredito na força do trabalho. Já é hora de a gente sair dessa escravidão imposta pelo capital! Vamos operários, rumo ao governo dos trabalhadores...

Wilmar - Você Narciso Sapateiro, você optou pelo PT por quê?

Narciso Sapateiro - Como líder em Goiânia, tenho lutado por que acredito na força do povo. Estes exploradores, grandes capitalistas estão com os dias contados. Não resistirão a marcha do proletariado pelas ruas do Brasil inteiro. Fugirão como os ratos fogem quando sentem a presença do gato...

Wilmar - E, você, professor Martiniano, por que PT?

Martiniano - Porque o PT é o novo. É a estrela que surgiu no cenário nacional para brilhar mais alto e com maior intensidade. É o povo chegando ao poder...

Nisso, disse-me Nica, Wilmar Cardoso chegou à poltrona em que estavam ela e seu cunhado Bertolino. Nica sentava-se na cadeira do corredor. Por isso seria a primeira do grupo petista anapolino a ser entrevistada.

Wilmar - Qual o seu nome?

Nica - Divina da Silva Rodrigues! Sou mais conhecida por Nica!

Wilmar - Nica, nome de guerra desta mulher combatente e revolucionária. Nica, mulher à frente das mulheres do seu tempo. Nica, essa guerrilheira e revolucionária para que a classe operária assuma o lugar que é seu. Para que o proletariado assuma o poder no Brasil, expulsando essa elite que nos domina pelas armas e poder econômico... Nica, diga para todos nós, por que você está no PT?

A imprensa apenas informa acontecimentos do dia


Interessante como agredir a imprensa é o hobby preferido daqueles que são cobrados por ela para que tenham correção nos seus atos, respeito às leis e coerência no  comportamento. Algumas figuras que estiveram na linha de frente no combate à ditadura militar que se instalou no País de 1964 a 1985, imaginavam que aquela imagem positiva, de amor às liberdades democráticas e Estado Democrático de Direito, lhes daria salvo conduta  para todos os tempos. Que seriam eternizados como benfeitores da humanidade. Seriam inatacáveis, pois haviam sido lideres no combate à ditadura. Nunca serão esquecidos do bem que fizeram pela redemocratização do Brasil. Porém, com o fim do regime de exceção, imperando o respeito à Constituição e à leis, retorno à liberdade de imprensa, todos os brasileiros, tenham ou não participado do combate ao absolutismo que tanto infelicitou a nação, são iguais nos seus direitos e deveres. Não há como gozar de privilégios num País democrático. Aí está o valor da democracia. Cada um vale o quanto pesa. Pelo mérito, coerência, respeito às leis, crescem os mais competentes, esforçados e dedicados. As oportunidades  devem e têm que ser iguais. O valor individual é a principal e única medida que deve ser usada e observada.

Nesse caso do mensalão, em julgamento no Supremo Tribunal Federal, é o maior exemplo que que atos heróicos praticados no passado não credenciam ninguém a descumprir a Constituição e as leis.  As coisas não podem ser misturadas. Figuras como José Genoino e José Dirceu, foram importantes no combate à ditadura. A história daquela fase triste da nossa história política, sempre há de registrar o serviço que prestaram em favor da liberdade. Essa luta, contudo, não lhes dá  direito de  abusarem das normas democráticas que regem a sociedade brasileira. Usaram da estrutura do poder comprando apoio de parlamentares e partidos, para aumentar base de apoio ao governo ao qual pertenciam. O mensalão foi isso!  Tudo ficou claro, não só na CPMI, como nas votações do Supremo Tribunal Federal (STF).

Atribuir à imprensa o resultado das votações e condenações de pessoas influentes do Partido dos Trabalhadores (PT), é lhe atribuir  força desmedida que ela não tem, e nem pretende ter. A imprensa só não deixou, e isso é seu dever, que os fatos prescrevessem ou caíssem no esquecimento. Tem noticiado os debates intensos e acalorados que ocorrem a cada sessão do STF, mas não influência no seu resultado final. Quando notícia que “o esquema do mensalão foi uma trama contra a democracia,” ou “tentativa do Partido dos Trabalhadores em querer ficar no poder, por dezenas de anos” apenas levam ao conhecimento público o que ministros como Celso de Mello ou Ayres Brito, externaram ao proferirem seu voto sobre os réus, no processo. Fica no entanto a lição: na verdadeira democracia, ninguém está acima da lei. Nem aqueles que num determinado momento praticaram ações históricas e heróicas.

Da mesma forma, nas eleições agora do 2º turno, em São Paulo, o candidato do PSDB, José Serra experimenta do veneno que seus marqueteiros usaram contra o candidato petista, Fernando Haddad, no primeiro turno das eleições. Para captarem votos, principalmente de evangélicos pentecostais, difundiram nas igrejas e nos programas de rádio e televisão, que Haddad como ministro da Educação, quisera difundir a “Cartilha Anti-Homofobia”, no Brasil. Nesse momento os marqueteiros de Haddad, devolvem a acusação a Serra, que como governador de São Paulo, em 2009, defendera a idéia de distribuir cartilha nas escolas públicas paulistas sobre o mesmo assunto.

Ao abordar o assunto, segundo o jornal Folha de S.Paulo, do último dia 17, Serra criticou o modo como a imprensa trata o assunto. Após discutir com jornalista da CBN, disse que essa é uma “pauta petista furada”. Depois, falou a jornalista do UOL, do Grupo Folha, que ela deveria “trabalhar com Haddad”. Nos dois casos a imprensa noticia os fatos. Bem melhor que na época da ditadura em que era forçada a esconder os acontecimentos, publicando receitas de bolo ou previsão do tempo! Foi para isso que lutamos. Só desaprova essas conquistas quem não é democrata!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Enfrentando o radicalismo interno no PT


Nossa presença na organização do PT, em Goiás, alcançou grande repercussão pelo Brasil inteiro. Ulysses não queria que deixássemos o PMDB. Por várias vezes conversamos sobre isso. Nos encontros pelos corredores e plenário do Congresso Nacional. Ele lamentava que tivéssemos deixado o Partido. Ulysses não se cansava de repetir aos jornalistas, do grande serviço que havíamos prestado à causa democrática no Brasil. Tinha a maior admiração e respeito pelo grupo emedebista e depois peemedebista de Anápolis. Mas, ao mesmo tempo, o presidente Ulysses reconhecia como legitima nossa revolta. Sabia da força do grupo autêntico e santilista em Goiás. Torcia para que o grupo chegasse ao governo no Estado.

Depois de inúmeros contatos com a direção nacional do Partido dos Trabalhadores, chegou o momento de participarmos do grande encontro com militantes do Brasil inteiro, no Colégio Monte Sião, em São Bernardo do Campo. Lula e as mais expressivas lideranças trabalhistas, gente que combateu a ditadura, intelectuais e, nós, parlamentares, nos juntávamos às delegações de quase todos os estados brasileiros, num grande encontro comandado por Lula.

À exceção de Goiás e São Paulo, representados por lideranças preocupadas em organizarem um partido político diferente, pronto para disputar eleições, os demais estados estavam representados por grupos trotskistas, que detestavam a luta parlamentarista, a luta institucional. Repudiavam o ingresso no partido dos que não fossem operários. Patrão? Nem pensar! Até vendedores de quitanda, churrasquinho ou pamonha, que trabalhavam por conta própria, eram, no entendimento desses grupos, patrões. Tinham que ser vetados. Conviviam e nos respeitavam por que conheciam nossa atuação na Câmara Federal e Senado. Sabiam da nossa ação permanente contra a ditadura. Não se sensibilizavam, contudo, com a via congressual... Queriam, porque queriam, a luta revolucionária. Luta sem acordo ou concessão com a elite dominante. Queriam impor, fosse lá por que meio fosse, a ditadura do proletariado.

A delegação goiana foi composta de professores, profissionais liberais, intelectuais e lideranças comunitárias urbanas e rurais. Lideres de bairros, principalmente da cidade de Anápolis. Companheiros como os vereadores Walmir Bastos e Valdivino Pereira e, lideres comunitários como Bertolino Santana e sua cunhada Nica, foram a São Paulo, para o encontrão do PT, representando nossa militância. Henrique, a vereadora por Goiânia Maria Dagmar, eu e outros detentores de mandato, ex-integrantes do PMDB, fomos à frente para ajudarmos na organização do evento.

Nossa delegação, nas primeiras horas da manhã da convenção, chegou ao local do encontro. Valdivino Pereira, Bertolino Santana e Nica, não quiseram descer do ônibus. Fui informado disso pelo vereador Walmir Bastos, que estava no mesmo ônibus. Como se tratava de companheiros autênticos, sem “frescura”, fiquei preocupado. Fui ao encontro deles. O ônibus estava estacionado longe do Colégio Sião.

Amuados nas últimas poltronas resistiram muito para dizer o que acontecera. O que os levaram a ter receio até de descer, para participarem do encontro. Por fim, Nica, nervosa e trêmula, se dispôs a contar o ocorrido durante a viagem noturna de Goiânia a São Bernardo do Campo:

- Adhemar você sabe que nós somos amigos seu e do Dr. Henrique. Nós nunca fomos humilhados como fomos nessa viagem. Pessoal esquisito. Não respeita ninguém. Cada um, acha que é mais que o outro. Faço política com vocês há muito tempo, e para dizer a verdade, só estou vendo essa gente pela primeira vez, agora... (Continua)

PT aprendeu com o mensalão


O mensalão, cujo julgamento está assustando e indignando muita gente que jamais acreditou que poderosos poderiam ser condenados e correrem o risco de ir para trás das grades, começou com um funcionário dos Correios recebendo propina. Só que tudo foi gravado clandestinamente e levado ao ar pela televisão. Para se defender, o Marinho, pego em flagrante, disse que ocupava a função indicado por Roberto Jeferson, presidente nacional do PTB. Afirmou ainda que todos os comissionados indicados pelo PTB tinham que agir como ele agiu, para fazerem caixa para o partido. Jeferson, da mesma forma, para se desfazer da “batata quente”, denunciou o escândalo do mensalão. Mesmo com maioria esmagadora na CPMI do Congresso Nacional, tendo como presidente o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e relator, o deputado José Serraglio (PMDB-PR), a base governista foi forçada a ter uma atitude isenta, imparcial, dando no que deu.  Condenações agora, pelo STF, de   João Paulo Cunha, José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares.
A CPMI do Cachoeira também foi criada para investigar a prática de jogos ilegais por grupos contraventores. Tudo gravado na Operação Monte Carlo, pela Polícia Federal. Fluiu normalmente dentro do imaginado pelos integrantes da base de sustentação do governo, até que apareceram os primeiros resultados das quebras de sigilo telefônico, bancário e fiscal de pessoas e empresas envolvidas no esquema. Chegou-se ao núcleo do grupo. A contravenção passou a ser insignificante diante do envolvimento da Delta Construções e mais 12 empresas fantasmas, descobertas até agora, que abasteciam o sistema de corrupção por esse Brasil a fora. Com os levantamentos em andamento, os desvios, segundo o senador Álvaro Dias (PMDB-PR), ultrapassam os R$ 400 milhões.
Já escaldados, como acontecido na CPMI dos Correios, que evoluiu para a CPMI do mensalão, a base governista não quer pagar para ver. Prefere até não entregar o relatório do que já foi investigado a prorrogar seus trabalhos, como querem os oposicionistas. No máximo, admitem ampliar o prazo de funcionamento por mais 30 dias. Nada mais que isso. Os independentes e oposicionistas não aceitam essa proposta porque só serviria aos interesses governistas. Por mais evidências e documentos que não param de chegar à CPMI, os mais de 500 requerimentos requerendo convocação de empresários, governadores, prefeitos e políticos ligados ao governo, com indícios claros de envolvimento com o esquema Delta, não serão votados.
Não havendo mobilização popular para que a CPMI tenha seu curso normal e verdadeiro, ao final, o seu resultado acabará desabando sobre integrantes do PSDB, especialmente sobre o governador Marconi Perillo. Aliás, essa CPMI só entrou em funcionamento porque o Partido do Trabalhadores, por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, imaginava, e a imprensa noticiou isso insistentemente, uma oportunidade de se vingar de Marconi. Isso porque o governador goiano, depois que estourou o escândalo do mensalão, disse ao presidente Lula que o esquema realmente existia. 
Enquanto em Brasília os governistas tudo fazem para evitar o estouro de um escândalo maior que o do mensalão, abafando na marra o prosseguimento dos trabalhos investigativos da CPMI, a CPI da Assembleia Legislativa de Goiás pode se transformar, pela falta de investigação contra prefeitos envolvidos com a Delta, em mais um instrumento para atingir o governador. O deputado Mauro Ruben (PT) já revelou à imprensa “que o relatório da CPI tem que incluir a influência da quadrilha liderada por Cachoeira na Secretaria de Segurança Pública, no Detran e na Agetop”. Era só o que faltava. Já não basta o desgaste político que a CPMI de Brasília pode provocar, por se negar a investigar as mazelas provocadas pela Delta Construções para debaixo do tapete, a de Goiás, onde o PSDB é maioria, não investigou contratos nebulosos de prefeitos aliados do governo federal com a Delta, e ainda corre o risco de colocar o governo goiano mais uma vez na berlinda. De forma negativa.

O apoio decisivo do “padrinho político”

Embora tenham predicados – capacidade política, poder de articulação, boa oratória e espírito público – a maioria dos políticos que conquistaram mandato de governador, senador, deputado federal, prefeito e vereador, nas últimas décadas em Goiás, se ancoraram em um padrinho.

Levantamento feito pelo Diário da Manhã mostra que, nos últimos decênios, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e vereadores foram vencedores nas urnas, graças ao apoio que receberam de seus protetores político-eleitorais, normalmente um influente parente.

Essa interferência direta do líder político, em benefício de um correligionário ou mesmo de um filho ou filha, ocorre em todas as siglas partidárias, no passado e no presente. E com resultados surpreendentes, não só na época dos “currais eleitorais”, assim como nos tempos atuais, conforme revela esta reportagem.

A família Caiado, que teve como principal expoente político o ex-senador Totó Caiado, lançou vários políticos desde o início do Século 20 que conquistaram mandatos eletivos em Goiás. Para citar apenas alguns: Emival, Elcival, Edenval, Brasílio, Sérgio e Ronaldo Caiado chegaram à Assembleia Legislativa e Câmara Federal. Há outros exemplos de caiadistas que fizeram carreiras políticas na UDN, Arena, PDS, PFL e agora DEM.

Apartir da década de 60, Pedro Ludovico Teixeira, a maior expressão política do Estado e líder do forte PSD, lançou o jovem Mauro Borges, seu filho, na vida político-partidária, que elegeu-se deputado federal, governador, senador e novamente deputado federal. Paulo Borges Teixeira, irmão de Pedro, também chegou à Câmara Federal, pelo voto direto.

Mais tarde, Mauro Borges elegeu o filho Mauro Borges Júnior deputado estadual e outro filho, Pedro Ludovico Estivalet Neto, vice-prefeito de Goiânia.

O ex-governador Iris Rezende, outro expoente na liderança política do Estado, também exerceu e exerce forte influência na eleição de correligionários do PMDB e até parentes. Alguns exemplos: em 1994, foi o principal responsável pela eleição de Maguito Vilela a governador e a de Mauro Miranda a senador. Depois, Otoniel Machado chegou ao Senado como suplente do irmão, Iris. Dona Iris Araújo conquistou o primeiro mandato de deputada federal, na garupa e no prestígio do marido. Também o primo, Lívio Luciano, chegou à Assembleia Legislativa.

O ex-governador Henrique Santillo, que também construiu uma carreira política expressiva em Goiás pelo MDB e PMDB, deu respaldo aos irmãos Adhemar e Romualdo. Adhemar chegou à Câmara Federal e à Prefeitura de Anápolis. Romualdo à Assembleia Legislativa. Mais tarde, Carla Santillo, filha de Henrique, elegeu-se deputada estadual.

Marconi Perillo, três vezes governador de Goiás pelo PSDB, foi decisivo na eleição do primeiro mandato de senador de Demóstenes Torres (DEM). Mais uma vez, o apoio de Marconi desequilibrou a sucessão estadual e Alcides Rodrigues Filho (PP) conquistou o governo de Goiás. Para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa, Marconi deu respaldo a diversos candidatos vencedores e o exemplo mais destacado é o de Carlos Alberto Lereia (PSDB).

Maguito Vilela, ex-governador, senador e hoje prefeito de Aparecida de Goiânia pelo PMDB, turbinou as carreiras políticas do sobrinho, Leandro Vilela, deputado federal, e do filho, Daniel Vilela, deputado estadual.

Lúcia Vânia, que também conquistou, com brilhantismo, dois mandatos ao Senado da República e três à Câmara Federal, teve em Irapuan Costa Júnior, ex-governador e então marido, o principal cabo eleitoral no início da carreira, na década de 80.

O ex-governador Ary Valadão foi o responsável pela eleição do professor Anisio de Souza, à Câmara Federal. Maria Valadão conquistou dois mandatos à Câmara Federal, com o respaldo determinante do marido, ex-governador Ary Valadão (PDS).

Luiz José Bittencourt (PMDB), filho do ex-vice governador José Luiz Bittencourt, elegeu-se deputado estadual e deputado federal.

O ex-prefeito Hélio Seixo de Brito contribuiu diretamente para a eleição de dois filhos a vereador em Goiânia: Hélio de Brito Júnior e Ronaldo de Brito.

O deputado federal Jovair Arantes (PTB) lançou o filho, Henrique Arantes, hoje deputado estadual e seu provável sucessor na carreira política.

Thiago Peixoto, que elegeu-se deputado federal, pelo PMDB, teve como principal “cabo eleitoral” seu pai, o ex-ministro Flávio Peixoto.

Isaura Lemos (PC do B), deputada estadual, conquistou diversos mandatos tendo o marido, ex-vereador Euler Ivo, como principal “mentor” de suas campanhas.

Wagner Siqueira Júnior (PMDB) é deputado estadual em primeiro mandato. É filho do ex-deputado estadual e ex-deputado federal Wolney Siqueira.

Ademir Menezes (PSD) chegou à Prefeitura de Aparecida de Goiânia, por dois mandatos, com o apoio decisivo do deputado federal e empresário Sandro Mabel.

Lincoln Tejota (PSD) exerce o primeiro mandato de deputado estadual, com o respaldo dos pais – ex-deputado estadual Sebastião Tejota e da ex-deputada estadual Betinha Tejota.

Francisco Gedda, deputado estadual em primeiro mandato, tem como principal incentivador o ex-governador Alcides Rodrigues.

Frederico Nascimento (PSD), também deputado estadual, é filho do ex-deputado Oton Nascimento.

Flávia Morais (PDT), deputada federal, é esposa do ex-prefeito de Santa Bárbara e Trindade, George Morais.