quinta-feira, 29 de julho de 2010

Credibilidade conquistada no dia a dia

Publicado na edição de 29/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Em 1986, nos meus primeiros dias como prefeito, decidi construir um novo presídio em Anápolis. A cadeia pública não atendia as necessidades do município. Foram expedidas cartas convite a cinco empresas que prestavam serviço ao governo estadual. Fiquei surpreso quando foram abertas as propostas. A ganhadora dentre as cinco correntes, propunha realizá-la por quase três vezes mais que o seu verdadeiro custo e recursos disponíveis pela prefeitura. O Ministério da Justiça já construíra em outros estados, edificação idêntica à de Anápolis, por dois milhões e quinhentos mil cruzeiros. A firma que vencedora a orçou em seis milhões de cruzeiros.

Não a homologuei, determinando outra licitação. Convidei empresas de Anápolis. O secretário do Planejamento da prefeitura, engenheiro Jader Barbosa, estabeleceu preço máximo e mínimo para a sua execução. A empresa vencedora foi a Emisa, dos jovens engenheiros João Batista Emidio e Amador. Executaram o projeto com acréscimo de itens importantes, como cabines para sentinelas, dentro do orçamento e recursos que dispúnhamos.

Adotando a técnica de preços máximo e mínimo fixados pela secretaria municipal do Planejamento, a Emisa construiu o Mercado do Produtor, feirões cobertos, kartódromo, biblioteca pública, terminal rodoviário urbano, recuperação do asfalto urbano cortado pela implantação da rede de esgoto e uma série de empreendimentos nos setores da saúde e educação realizados pela prefeitura. Aprendi bem cedo que a licitação, por carta convite ou qualquer outra modalidade, não impede que empresários se reúnam, fazendo conchavos que invariavelmente dobram ou até triplicam o valor obra.O recurso é estabelecer valor máximo e mínimo para execução do serviço. Podem fazer o conluio que quiserem que o valor justo será preservado.

Hoje a Emisa que executou serviços para a prefeitura, dentro de excelente padrão de qualidade, competência e honestidade, se consolidou como incorporadora e maior construtora de edifícios verticalizados em Anápolis. Com mais de 400 profissionais e trabalhadores na área da construção civil, só executa empreendimentos particulares. Não tem participado das licitações para obras públicas.

Em seus 33 anos de existência, granjeando a confiança dos anapolinos, a Emisa construiu dezenas de edifícios verticais, quase todos de 20 andares, por todas as regiões da cidade. Tem na Caixa Econômica Federal, forte parceira. A Facilidade encontrada pela população na obtenção de crédito para o setor imobiliário tem sido o motor que a impulsiona.

Depois construir vários edifícios no Jundiaí e Setor JK, a Emisa anuncia para o início de agosto próximo, a realização de ambicioso plano. Vai edificar cinco prédios verticais, todos dentro de uma mesma área de terra, com vinte andares cada um, na Vila Jaiára. O terreno fica na parte mais alta da cidade, que pertencia à empresa Vicunha. Serão cinco torres com 300 apartamentos, na vista mais privilegiada de Anápolis. Melhor, são apartamentos populares, para o povão.

A Vila Jaiara é o principal bairro do município. Maior que mais de 200 municípios goianos. A Emisa provou que vale a pena trabalhar com honestidade. Cresce com segurança e respeito. Nestes 33 anos de existência, faz parte da Anápolis que tem dado certo!

domingo, 25 de julho de 2010

O atleta esperto e o árbitro leigo

Publicado na edição de 25/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Com a fundação da Liga Anapolina de Desportos em 1949, a Associação Atlética Anapolina sagrou-se tetracampeã da cidade ao vencer os campeonatos de 1949, 1950, 1951 e 1952. Em 1953, no seu terceiro ano de fundação, o campeão foi o São Francisco, ligado ao Colégio São Francisco de Assis, da irmandade franciscana.

Anápolis Futebol Clube, sucessor da União Esportiva Operária, só se transformou numa equipe competitiva no final de 1953, para a disputa do campeonato do ano seguinte. Formado por atletas vindos de outras cidades do Estado e mesmo do interior de Minas e São Paulo, o tricolor montou um time forte para a temporada de 1954. Os irmãos Túlio e Osvaldo Cintra vieram de Pires do Rio. Migues, zagueiro de origem espanhola, completava a defesa. Jogavam ainda Nera, Nilo, Saul, Carne Seca, Felinho e outros consagrados craques do futebol anapolino.

João Beze, Amim Antônio, Didi Castanheira, Rubens Porfírio, José de Lima e grande parte da colônia Sírio-Libanesa do Município, torciam pelo tricolor e investiam no fortalecimento da equipe. Nesse clima de euforia o Anápolis contratou um jogador de grande categoria para capitanear o time. Cidadão extrovertido, conhecedor profundo das técnicas e regras futebolísticas da época. Negro, alto, jogava no meio campo. Excelente cobrador de faltas. Odair Tito era o seu nome. Conhecia a maioria dos craques profissionais do Rio e São Paulo. Possuía coleção de noticias sobre sua atuação como atleta em inúmeros clubes. Dentro de campo ganhou o respeito dos adversários e admiração dos tricolores. Para os companheiros Odair era o professor. Para a imprensa esportiva anapolina, catedrático. Em inúmeras ocasiões repórteres, comentaristas e cronistas recorriam a ele para elucidarem uma questão esportiva mais complexa. Sua palavra era lei!

São Francisco tinha equipe fortíssima. Flavio Santos, Américo, Walquinho, Zezé, João Campos, Hugo e Olegário faziam parte do seu elenco. Campeão anapolino de 1953, desbancando a Associação Atlética Anapolina que conquistara os quatro primeiros campeonatos patrocinados pela LAD, o São Francisco era a nova sensação da cidade.

Os tricolores sabiam que vencer a equipe dos padres seria meio caminho para a conquista do campeonato. Jogo definido pela tabela da Liga Anapolina de Desportos, não se falava em outra coisa nas rodas esportivas da cidade. Todos queriam ver Carne Seca, Odair Tito e toda máquina anapolina enfrentando o campeão. Gigante, o árbitro escolhido. O “melhor árbitro- sem diploma,” do futebol goiano.

Ao tomar conhecimento que Gigante seria o árbitro, Odair Tito se reuniu com os companheiros de equipe e prometeu desestabilizar sua arbitragem. Iniciada a partida, Anápolis atacando mais, o São Francisco jogava no contra-ataque. Foi num contra-ataque de João Campos, Walquinho e Hugo que a equipe chegou à linha da grande área. Hugo foi barrado faltosamente pelo zagueiro Migues, fora da área, próximo à meia lua.

Odair Tito veio às pressas, colocou a bola no local exato que acontecera a falta. Deu um passo à frente chamando mais dois colegas para com ele ficarem na barreira. O árbitro contou os passos onde deveria ficar a barreira. Odair, a menos de um metro da bola, determinou:

- Autorize a cobrança, senhor juiz!

Gigante ordenou que saíssem da frente. Odair engrossou:

- Temos direito à barreira. Isso é de lei!

- Barreira é barreira! O que o senhor está fazendo é obstrução. Ninguém vai chutar com vocês a menos de um metro da bola! Retrucou o árbitro.

- Professor, essa é a nova regra da CBD. É a barreira xang-xang. Argumentou Odair.

Empurrando os atletas para o local exato que deveriam ficar, Gigante ainda murmurou:

- Xang-xang é coisa de quatro mil anos atrás. Vem da China antiga!


Adhemar Santillo foi atleta do Ypiranga, cronista esportivo e presidente da Liga Anapolina de Desportos (adhemar@santillo.com)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O início de uma dura caminhada (Final)

Publicado na edição de 22/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Em 1978, quando fui reeleito para a Câmara Federal, Henrique Santillo se elegeu senador, na vaga que restou ao povo escolher pelo voto. Continuamos inabaláveis na defesa dos marginalizados e oprimidos. Protestamos da tribuna, contra a expulsão do padre Vito Miracapillo, que trabalhava na Diocese do Pernambuco, dirigida por dom Helder Câmara. Defensor convicto dos miseráveis camponeses sem terra do interior pernambucano, padre Miracapillo foi expulso sob a acusação de ter se negado a celebrar missa em homenagem ao 7 de setembro.

Da mesma forma denunciamos da tribuna do Congresso Nacional a proibição ao bispo dom José Maria, celebrar missa aos posseiros do interior da Paraíba. Ameaça de expulsão ao bispo de São Felix do Araguaia, dom Pedro Casaldaliga. Ameaça de expulsão do padre Henri dês Roziens. Sequestro do missionário Nicola Arpone e processo contra o pastor Orvandil Barbosa, da Igreja Metodista de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Reverendo Orvandil Barbosa, seguindo o Credo Social da Igreja Metodista, transformou-se na maior liderança eclesiástica do interior do Rio Grande do Sul em defesa dos excluídos. Levava ensinamentos puros, esclarecedores, autênticos, e acima de tudo libertários, por onde passava. Foi perseguido e hostilizado pelos detentores do poder ditatorial, porque praticava o verdadeiro cristianismo. Não se acovardou. Recebeu apoio integral da igreja e do povo de Santa Maria.

Nos solidarizamos com ações corajosas e patrióticas como a do professor Elias Boaventura, reitor da Universidade Metodista de Piracicaba, que correndo todos riscos de repressão cedeu o campus da Unimep, para que os universitários realizassem ali o XXXII Congresso da União Nacional dos Estudantes – UNE. Numa democracia sua atitude seria normal. Ocorre que sua ação destemida ocorreu quando os que davam apoio aos movimentos universitários eram enquadrados como subversivos e inimigos da pátria. Sob todos os riscos colocou a Universidade Metodista de Piracicaba a serviço das liberdades democráticas.

Desse período, é nosso livro : És tu ó perturbador? Como na fábula de La Fontaine, O lobo e o cordeiro, os ditadores brasileiros cometiam os crimes e culpavam suas vítimas. Insultavam, maltratavam, agrediam e se diziam agredidos. Faziam como fez o Rei Acabe, ao profeta Elias, acusando-o de perturbador, quando este lhe chamou a atenção por estar se distanciando de Deus. Ficamos ao lado dos democratas, contra prisões arbitrárias e torturas.

Ainda no Congresso Nacional, denunciamos a grilagem de terras por governantes do Estado. Expulsão de humildes posseiros por grileiros gananciosos na região de Araguaína, hoje Tocantins. Tudo documentado, com certidões e processos oficiais do Idago – órgão estadual que tratava de questões fundiárias em Goiás.

Revelamos à Nação o escândalo feito por governantes da época, no Banco do Estado de Goiás e Caixa Econômica do Estado de Goiás. Pessoas privilegiadas tomavam dinheiro emprestado no BEG de Goiânia, e aplicavam o produto do empréstimo no próprio BEG em São Paulo, com rendimento maior que o que pagariam ao mesmo banco em Goiás, pelo empréstimo.

Relatório do Banco Central mostra que, em 1981, a Minascaixa, a Caixa Econômica de Minas Gerais, possuia ativo circulante de 26 bilhões e 60 milhões de cruzeiros. Seu Crédito em Liquidação foi de 52 milhões e 967 mil cruzeiros. Enquanto isso, a Caixego, com Ativo Circulante de 7 bilhões 514 milhões de cruzeiros, seu Crédito em Liquidação foi de 528 milhões e 469 mil cruzeiros. Quebraram a Caixego.

Políticos ligados à Arena tomavam dinheiro emprestado da Caixego, não pagavam. Os empréstimos não honrados iam para crédito em liquidação, com prejuízo total. As execuções foram extintas por falta de interesse da empresa em verdadeiramente executar os devedores. Conforme despacho, em centenas de ações de execução, o juiz de Direito Francisco Rodrigues de Souza, ressaltou esse desinteresse da Caixego em dar sequência às ações de execução. Invariavelmente, para extinção do feito, o juiz exarava em seus despachos: “Sendo evidente a inércia da autora (Caixego), por longos anos, e não podendo o feito se eternizar, decreto-o extinto. Dê-se baixa na distribuição e arquive-se. P.R.I. Goiânia, dia, mês e ano. Ass. dr. Francisco Rodrigues de Souza, juiz de Direito.”

Foram milhões e milhões de cruzeiros que viraram fumaça. Prejuízo colossal à Caixego. Lucro a políticos oportunistas. Tudo com documentos expedidos pelo Banco Central. Essas denúncias estão publicadas no livro Escândalos: os frutos do regime. Cumprimos com nossa obrigação no parlamento nacional.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O início de uma dura caminhada (II)

Publicado na edição de 15/07/2010 do jornal Diário da Manhã

O ano de 1974 foi decisivo para o MDB. A princípio grandes líderes do partido, com a supressão das eleições diretas para os governos estaduais, queriam sua extinção. Alegavam que o Movimento Democrático Brasileiro estava legitimando a ditadura. Para eles os ditadores jamais entregariam o poder. A ação enérgica de Ulysses Guimarães, presidente nacional do partido, foi fundamental para eliminar essa posição pessimista dos que tinham pressa em chegar ao governo.

Em Goiás, os dois principais líderes da velha guarda emedebista, Anapolino de Faria e José Freire, decidiram não disputar a reeleição a deputado federal. Foram dois desfalques incalculáveis. Henrique Santillo que estava se preparando para concorrer ao governo em eleição direta, resolveu não pleitear cadeira para deputado federal. Não queria afastar-se da atividade de médico pediatra no Hospital Santa Paula. Foi quando abri mão da reeleição a deputado estadual, cedendo oportunidade a ele. Disputei uma vaga na Câmara Federal.

Fizemos a campanha juntos. Da mesma forma usamos o horário eleitoral gratuito, que se fazia ao vivo, com a apresentação do “ping-pong da verdade.” Vencemos. Na Câmara Federal e Assembleia Legislativa trabalhamos em sintonia. Defendemos o retorno imediato da democracia, fazendo duro e implacável combate à ditadura.

Em agosto de 1976, com base na Tomada de Preços n° 8/75, de 17 de abril de 1975, para compra de gêneros alimentícios e material de limpeza, mensais, para a residência oficial do ministro do Trabalho. Foi um duro golpe na propalada ética e moralidade do gasto do dinheiro público no regime ditatorial. A residência do ministro Arnaldo Prieto recebia por mês mercadorias equivalentes ao estoque de um pequeno supermercado. Entre carne bovina, suína, frango, peixe ou crustáceos e dobradinha eram 956 quilos; 600 quilos de arroz; 300 quilos de açúcar; 150 quilos de feijão; 135 quilos de macarrão; 201 quilos e mais 436 dúzias de frutas; 432 quilos de manteiga; 90 latas de óleo de soja e 32 latas de óleo de oliva; 885 quilos de legumes e verduras; 1296 garrafas de refrigerantes; 144 garrafas de sucos de fruta e uma infindável lista de outros gêneros alimentícios e material de limpeza. Os principais chargistas da grande imprensa brasileira fizeram alusão à mordomia do ministro. Candidatos emedebistas, principalmente dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, usaram o“ rancho do ministro”, por mim enunciado, em suas propagandas políticas.

O cronista Eduardo Carlos Novaes, em seu livro Quiabo Comunista, faz referência à denúncia. Propalou-se na ocasião que teria meu mandato cassado, pela repercussão da denúncia. Nada aconteceu e exerci normalmente o mandato. Dessa denúncia surgiu o livro "Da mesa farta à subnutrição", cujo lançamento foi na Universidade Católica de Goiás.

No final de 1976, candidatei-me internamente no MDB para concorrer à 2ª vice-presidência da Câmara, em substituição a Alencar Furtado. Era a principal função do partido na Mesa Diretora da Câmara Federal. Concorreram ao mesmo cargo, Juarez Bernardes, de Goiás, apoiado por Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Nelson Carneiro e outros moderados; Getúlio Dias, do Rio Grande do Sul, apoiado por Alencar Furtado, Fernando Lira, Jarbas Vasconcelos; Freitas Nobre e outros autênticos; Fabio Fonseca, ex-presidente da Comissão de Saúde, presidente do Atlético Mineiro; Hélio de Almeida ex-ministro do governo João Goulart e Emanuel Waisseman, da bancada do Rio de Janeiro. Getúlio Dias e eu fomos os mais votados no primeiro escrutínio. Na segunda votação fui o mais votado. A mesa diretora eleita em plenário ficou composta por Marco Maciel, presidente; João Linhares, 1° vice; Adhemar Santillo, 2° vice; Djalma Bessa, 1° secretário; Jader Barbalho, 2° secretário; José Camargo, 3° secretário; João Clímaco, 4° secretário. Vencíamos mais uma batalha elevando a força política de Goiás...

terça-feira, 13 de julho de 2010

O início de uma dura caminhada (I)

Publicado na edição de 08/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Em 1973, disputei meu primeiro mandato eletivo na política partidária. Eleito ao lado de 11 companheiros do MDB, a uma vaga na Assembleia Legislativa de Goiás. Havia participado antes de várias disputadas eleitorais, mas na política estudantil e esportiva. Duas vezes presidente do Grêmio Literário Castro Alves, do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida; primeiro presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis – Uesa, pelo voto direto; três vezes presidente da Liga Anapolina de Desportos-LAD. Votação consagradora dentre todos os candidatos que concorreram à Assembleia Legislativa e Câmara Federal, em Anápolis. Pela legenda do Movimento Democrático Brasileiro o deputado estadual mais votado e o terceiro dentre os integrantes do legislativo goiano.

A honraria que me foi conferida nas urnas, consolidou o compromisso que tinha de lutar com todo ardor pelo retorno à democracia. Com muita responsabilidade o mandato foi exercido sem concessões à ditadura. Perplexos percebemos que nós, os santillistas, enfrentaríamos os usurpadores do poder e grande parte do MDB anapolino, formado por adesistas e oportunistas incrustados no partido. Presenciamos a fuga de quase todo MDB de Anápolis, abandonando o nosso candidato José Batista Júnior, em 1972, para apoiar o candidato arenista. Camuflando o adesismo se autointitularam “MDB- Positivo”. Eles que esperavam com a vitória arenista nos sufocar, sentiram a força popular, que deu estrondosa votação a Batista Júnior. Apenas o deputado Anapolino de Faria e meia dúzia de “gatos pingados” ficaram com a candidatura emedebista, comandada por Henrique Santillo. Sofremos quando no dia da posse de José Batista a Rádio Carajá, pertencente a integrantes do MDB, foi invadida e sua direção afastada pela força das armas da Polícia Militar do Estado, a mando do Dentel. Com indignação e revolta, demos conhecimento aos goianos, no dia 28 de agosto de 1973, pela tribuna da Assembleia Legislativa, a cassação do mandato do prefeito José Batista Júnior e perda da autonomia política de Anápolis, por decreto do general Emílio Garrastazu Médici. Ao lado de Derval de Paiva e toda bancada do MDB, passamos uma noite inteira lutando contra aprovação de projeto de lei, elaborado sorrateiramente na calada da madrugada, transformando a cidade de Goiás, em Estância Hidro-Mineral. Com isso, os governistas tiraram do povo o direito de eleger o sucessor do prefeito Dário de Paiva-MDB. Soltamos e defendemos companheiros humildes do interior presos por estarem organizando o MDB em seus municípios. Assistimos e denunciamos os sequestros de Godofredo Sandoval, Jalme Fernandes, Valdivino Pereira e Eles Nogueira, por forças da repressão, levados para local e prisão ignorados.

Toda bancada emedebista nos seus protestos e denúncias sempre contou com o respaldo do jornal Cinco de Março, dirigido pelo jornalista Batista Custódio. Nas edições do jornal, um semanário vibrante e compromissado com a democracia e a verdade, dava à bancada do MDB, o mesmo espaço que oferecia aos governistas. Como a imprensa diária desconhecia ou minimizava os acontecimentos por nós denunciados e a televisão garroteada pela censura federal, se omitia completamente, o Cinco de Março exercia o extraordinário papel de bem informar a população goiana. O jornal semanalmente, mesmo nas cidades mais distantes, era repassado de mão em mão, atingindo os leitores e formadores de opinião. Assim como o MDB de Goiás foi contundente no combate à ditadura, o jornal de Batista Custódio, com muita coragem e responsabilidade manteve a sociedade goiana bem informada, sem qualquer tipo de censura. Em inúmeras ocasiões, a grande imprensa do eixo Rio-São Paulo, se valia de informações divulgadas em primeira mão, pelo jornal Cinco de Março, para repercutir algum fato ocorrido na política goiana. Naquele momento foi importante meio de comunicação e o único a oferecer espaço à oposição no Estado...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O mais organizado nem sempre é o melhor

Publicado na edição de 11/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Os jogos de futebol entre equipes varzeanas são ricos em lances pitorescos. Normalmente a condição precária dos campos onde os jogos são disputados ajuda nas dificuldades para que os atletas tratem bem a bola. Para os que vão como expectador, sem interesse no resultado, essas competições são alegres.

Descompromissado o cidadão manda a fadiga para bem longe. Se desintoxica com as jogadas em campo e a reação dos torcedores. Sempre que posso vou a esses espetáculos em Anápolis e no interior.

Romualdo Santillo era candidato a deputado estadual. Fomos convidados pelo Abadío, comprador de cereais e vereador em Pirenópolis, para presenciarmos a partida decisiva de um quadrangular que estava sendo disputado na região da Babilônia, naquele Município, entre o Botafogo e Gueiroba. Quem vencesse seria o campeão. Em caso de empate o jogo seria decidido nos pênaltis. O campo seria o do Botafogo. Durante a semana o fazendeiro, que também presidia o alvinegro, determinou que patrola fizesse a limpeza do terreno, para maior brilhantismo do espetáculo.

Chegamos ao local quando Botafogo entrava em campo. Uniforme novo, adquirido para a grande decisão. Moças dançavam ao som da charanga contratada para animar ainda mais a festança. Os torcedores do alvinegro tomavam todas as laterais do campo. Apenas alguns gueirobenses, tímidos, acanhados mesmo, ficavam atrás de um dos gols. A festa era botafoguense. Ronqueiras fizeram barulho ensurdecedor com quase 5 minutos de foguetório. Numa mesa, debaixo de frondosa arvore, caldeirões enormes com quentão e caipirinha para que os presentes bebessem à vontade. Uniformizado, aguardando que seu time completasse os onze, o goleiro do Gueiroba , foi o que mais aproveitou das bebidas.

Enquanto os botafoguenses faziam o aquecimento e aguardavam organização do adversário, o técnico do Gueiroba implorava para que Carlos Wilson Martins, que fora conosco, participasse do jogo. De nada valeram os argumentos do Carlão. Tinha problema visual. Não enxergava nada da vista esquerda e com a direita só enxergava 20%.

- Você é grande. Vai dar mais segurança à defesa! Argumentou o treinador.

Carlão foi a campo, com chuteiras emprestadas e apertadas nos pés. O uniforme do Gueiroba, todo desbotado, calções e meias de cores variadas. Finalmente a equipe pode entrar em campo. Com muita dificuldade Carlos Wilson conseguiu levar o goleiro ao seu posto. Durante os 90 minutos não houve gol. 0 x 0, placar final. Carlão como pensara seu treinador foi barreira intransponível.

O inicio da cobrança dos pênaltis foi pelo Gueiroba., Nos quatro primeiros os dois times marcaram todas as penalidades cobradas. Na última e decisiva, os gueirobenses marcaram o quinto gol. O craque mais expressivo do Botafogo foi o encarregado da quinta cobrança. No momento, vento mais forte jogou o boné do goleiro ao chão. Sem saber o que fazer, já embalado pelo quentão mesclado com caipirinha, cambaleou o corpo no instante em que o juiz apitou. O artilheiro alvinegro bateu no momento que o goleiro caiu para pegar o boné. A bola bateu em sua cabeça, saindo pela linha de fundo. Nem viu o que aconteceu. Tristeza geral dos botafoguense e alegria dos poucos gueirobenses. Repórteres esportivos da emissoras de Anápolis especialmente convidados pelos botafoguenses, ouviram o perdedor do pênalti:

- Ta certo que quem entra num jogo sabe que pode ganhar ou perder. Mas perder para o Gueiroba, com goleiro bêbado, é muita humilhação!

domingo, 4 de julho de 2010

Fanatismo e paixão no futebol

Publicado na edição de 04/07/2010 do jornal Diário da Manhã

A mobilização dos povos, principalmente das nações que participam da Copa do Mundo de futebol, é fantástica. A reação do público é idêntica em todos os continentes. Ganhou, é aquela alegria contagiante que emociona até o mais frio e apático dos assistentes. Quando perdem é só tristeza, choro e muitas lágrimas. É a verdadeira confraternização mundial, para sorrir ou para chorar. Futebol é o mais apaixonante de todos os esportes. Japoneses, africanos, ingleses, franceses, coreanos falam a mesma coisa. Sentem as mesmas emoções. O futebol tem o poder de fazer homens e mulheres de todas as nacionalidades sentirem as mesmas alegrias e decepções.

Governantes e cientistas do mundo todo não conseguem mobilizar a humanidade, para a preservação do meio ambiente. Devemos refletir um pouco mais sobre métodos modernos e revolucionários de combate à destruição da Terra. Com o engajamento de todos os clubes de futebol na defesa dessa causa, tenho certeza que a questão, se não resolvida, melhoraria substancialmente. O futebol realiza milagres que os governantes e a ciência não conseguiram resolver, por não contarem com o poder de mobilização das massas.

Essa adoração, principalmente dos brasileiros, pelos seus craques não é coisa de agora, em que o Brasil é campeão mundial por cinco vezes, estando em busca do seu sexto título.

Em 1957, um ano antes do primeiro campeonato conquistado em campos da Suécia, o Jornal do Brasil trouxe uma charge ilustrando esse fanatismo de integrante de toda e qualquer camada social pelo futebol. Um cidadão com a roupa esfarrapada, rodeado de moscas atraídas pelo odor exalado pelo corpo sem banho, sapatos com o solado estragado pelo uso, verdadeiro mendigo, sentado em um banco à beira mar no Rio de Janeiro. Lia a notícia de primeira página do jornal. Comentava sobre a quantia solicitada pelo atacante Quarentinha, um dos ídolos do Botafogo, para renovar seu contrato. O alvinegro aceitara a proposta do jogador, em bases milionárias. Ignorando sua condição de pedinte, como bom botafoguense, se sentiu realizado,ao tomar conhecimento do acordo. Sorrindo e falando sozinho:

– É isso aí, com a gente não tem miséria!

Esse fanatismo não ocorre só entre os torcedores de grandes times. O futebol é apaixonante entre clubes grandes, pequenos, varzeanos ou rurais. Os desabafos contra as arbitragens, desespero pelo gol perdido, alegria pelo gol marcado ou vitória conseguida e a tristeza pela derrota são idênticas entre pequenos e grandes clubes. Até as encrencas são semelhantes!

Certa vez jogavam Anhanguera e Maracanã, duas grandes forças do futebol amador de Anápolis na década de 60. As torcidas das duas equipes se misturavam no estádio Manoel Demóstenes. Em um determinado lance, Hado Hajar, presidente do Anhanguera, fanático pelo seu clube e pelo Anápolis Futebol Clube, se desentendeu com um torcedor do Maracanã, equipe do Mauro Gonzaga Jaime, o Pastinha. Lance, natural, sem nenhuma maldade. Enquanto os atletas se abraçavam, se desculpando mutuamente, a discussão do lado de fora só ganhava dimensão. Antônio Senhorinho dos Santos, o Tonho Gaguinho, amigo dos dois contendores, entrou entre eles para apaziguá-los. Hado deu guinada de corpo e desferiu soco rumo ao adversário. Com rápido movimento de corpo esquivou-se do murro que acertou a orelha esquerda do Tonho Gaguinho, o qual caiu desacordado ao chão. Cleto, o Manaíba, massagista da Anapolina, passava pelo local no momento. Carregando sua inseparável garrafa com óleo alcanforado, colocou no lenço para que Tonho o cheirasse. Aos poucos se recuperou, indagando aos que lhe assistiam:

– Que foi que aconteceu! Só vejo passarinhos cantando e estrelinhas rodando na minha frente.

São os milagres realizados pelo futebol. Até na hora da dor e do sofrimento se transformam em beleza e poesia.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Persistência do frei Raimundo de Oliveira

Publicado ne edição de 01/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Raimundo de Oliveira Lima, o frei Raimundo, filho de Joaquim Oliveira e dona Fiuta, nasceu em l° de julho de 1915, em Itaguara, Minas Gerais. Noventa e cinco anos de vida profícua e coerente. De família humilde, passou a infância e juventude na roça. Trabalho duro e permanente. Sua mãe, muito católica, viveu intensamente o cristianismo. O queria padre. Pelo alto custo que ficariam os estudos no seminário, não assistiu em vida a realização dos seus sonhos. A família, embora humilde e desprovida de recursos financeiros, repartia o pouco que possuía com os mais pobres e necessitados.

Alfabetizado em uma pequena escola rural, distante de onde morava, ia e vinha descalço, para não desgastar as botinas. Na volta, quando se aproximava de casa, lavava os pés e se calçava. Mesmo sem condição financeira para se tornar padre, Raimundo sempre foi baluarte nas atividades e serviços das igrejas que frequentou. Em Itaguara, nos seus momentos de descanso, ajudava padre Gregório e posteriormente padre Viegas, como coroinha.

Apaixonado pela prima Zezé, professora primária, Raimundo com ela se casou no início dos anos 40. Algum tempo depois, com o nascimento do seu primeiro filho, Waldir, a família mudou-se para Goiás, indo residir no distrito de Souzânia, em Anápolis, na fazenda de Francisco Mendonça. Lá, Raimundo lecionou em uma escola rural, mantida pelo fazendeiro. Encerrado o contrato de trabalho, mudou-se para Anápolis, indo trabalhar no Cartório de 2° Ofício, cujo titular era Almiro Amorim.

Ao mesmo tempo em que prestava serviço no cartório, Raimiundo auxiliava a monsenhor Pitaluga na Igreja Matriz do Bom Jesus, ao lado de congregados marianos e vicentinos. Ministrou cursos, especialmente para jovens e casais. Surgindo como líder respeitadíssimo e carismático, em 1962, elegeu-se vereador pelo PSD, comandado em Anápolis pelo cel. Achiles de Pina. Sem recursos para fazer a divulgação da sua campanha, recebeu um cheque de 10 mil cruzeiros do cel. Achiles de Pina, como doação. As cédulas que usou foram confeccionadas em máquina de datilografia. Foi eleito, com consagradora votação.

Como gastara apenas um mil e oitocentos cruzeiros, dos dez mil recebidos de Achiles, o vereador Raimundo de Oliveira Lima foi até sua casa devolver-lhe os oito mil e duzentos cruzeiros restantes. Impressionado com a simplicidade e honestidade do seu mais novo vereador, Achiles o elogiou bastante pela forma correta e ética como procedeu, mas lhe disse que com aquele dinheiro mandasse confeccionar o terno para a posse. Isso foi atendido. O terno sendo feito por Boulanger Brossi.

Em 1966, já consagrado como grande líder anapolino, Raimundo de Oliveira Lima foi reeleito vereador, agora pelo MDB. Ao mesmo tempo, cursava o diaconato por solicitação do bispo Epaminondas de Araújo. Encerrado o curso, renunciou ao mandato de vereador, que estava pela metade. Depois de conversar com o bispo, chegaram à conclusão não ser correto exercer as duas atividades simultaneamente. Preferiu deixar a política e ficar com a igreja.

Com a morte de sua companheira, após a missa de sétimo dia foi comunicado por frei Silvestre que seria convidado a ser padre. Surpreso, conversou com seus filhos Waldir, Emanuel e Walter, que o incentivaram a aceitar o convite, quando formulado oficialmente. No dia 30 de maio de 1993, o bispo de Anápolis, dom Manoel Pestana, o ordenou frei.

Hoje, esse cidadão queridíssimo de todos os anapolinos completa seu nonagésimo quinto aniversário de nascimento, 95 anos de uma existência exemplar. Cercado de carinho de filhos, noras, netos e bisnetos. Continua celebrando normalmente as missas, nas paróquias da Vila Jaiara, onde é estimado por todos. Frei Raimundo de Oliveira Lima: uma vida abençoada e repleta de realizações.