sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Henrique Santillo e o Atraso de Salários

Num momento como o que estamos passando, é comum pessoas comentarem sobre atrasos no pagamento de salário do pessoal do Estado. Tem sido frequente afirmações como “Henrique Santillo atrasou o pagamento ao funcionalismo público de 4 a 6 meses. Iris Rezende levou um ano para pôr o pagamento em dia, ao substituir Santillo.” Na verdade Henrique Santillo ao deixar o governo no dia 15 de março de 1991, deixou sem ser pagos os salários de janeiro, fevereiro, 15 dias do mês de março e o décimo terceiro salário referente a 1990. Três meses e meio de atraso. Se houve alguns poucos casos com atraso superior, foi por questões burocráticas, insignificantes diante do valor total da folha. Necessário que se diga que o governador e todo seu secretariado também deixaram o governo com seus salários atrasados.

Não quero justificar. Nada justifica deixar quem trabalhou sem receber seus vencimentos. No caso de Henrique Santillo, sua administração efetuou o pagamento de 53 folhas e meia. Sua obrigação legal seria de saldar 52 pagamentos, 48 salários, correspondendo os 4 anos de administração, mais 4 décimos terceiros salário. Que aritmética foi essa de pagar uma folha e meia a mais que o devido e ainda deixar o governo devendo três folhas e meia? Isso ocorreu porque recebeu do seu antecessor, saudoso Onofre Quinan, vice-governador do Estado, substituto de Iris Rezende, licenciado para ocupar o ministério da Agricultura no governo Sarney, com atraso. Quando Santillo assumiu o governo, o funcionalismo estadual estava em greve por atraso de salário.

A administração Henrique Santillo foi a única de toda história administrativa de Goiás que cumpriu a lei do gatilho salarial. Todas as vezes que a inflação chegava a 10% era obrigatório o gatilho para reajustar vencimentos. Vivíamos momento de disparada inflacionária. Estávamos na administração José Sarney, cujo governo não controlou a inflação. Quase todos os meses o servidor estadual tinha reajuste nos seus vencimentos. Na administração Henrique Santillo o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) era depositado normalmente, no momento em que o trabalhador recebia o salário. Henrique Santillo não desviou deliberadamente recursos do Tesouro para pagamento de propaganda oficial da sua administração. Cumpriu rigorosamente a lei estadual que obrigava o governo pagar juro e correção monetária quando havia atraso no pagamento salarial.

O mais violento de todos os percalços enfrentados pelo seu governo, e que culminou atrasando pagamento dos vencimentos aos servidores, foi de responsabilidade do presidente José Sarney. Não cumpriu compromisso acertado com o governador de financiar o Programa de Pavimentação Municipal (PPM). Programa responsável pelo asfaltamento de mais de 10 milhões de metros quadrados de ruas e avenidas nos municípios goianos. O presidente da República havia se comprometido a financiar o programa por intermédio da Caixa Econômica Federal. Como Santillo não se submeteu às suas exigências de apoiar seu candidato à presidência da República, decidiu retaliá-lo. Henrique queria a unidade do PMDB. Se negou a fazer a campanha de Iris Rezende ou qualquer um dos demais pré-candidatos: Ulysses Guimarães, Waldir Pires e Álvaro Dias. Para Henrique Santillo o PMDB só teria chance de vitória se saísse unido em torno de uma candidatura. Dividido, perderia. Pela posição adotada, Sarney o perseguiu. Depois de muito insistir e não lograr êxito em seu pleito de financiamento, Henrique Santillo emitiu Letras do Tesouro Estadual para efetuar pagamento às empresas que realizaram a pavimentação. As letras emitidas pelo governador, legais pela legislação em vigor, seriam resgatadas a longo prazo. Foram avalizadas pelo Banco do Estado de Goiás e colocadas no mercado.

Tão logo Fernando Collor de Melo assumiu a presidência da República, em substituição a Sarney, baixou resolução proibindo Estados e municípios de emitirem letras, ao mesmo tempo que decretava o vencimento e resgate imediato das já emitidas.

Henrique Santillo por não dispor de recursos em caixa e não levar o BEG à falência e seu fechamento extra-judicial, por ser avalista das letras vencidas, foi ao Banco Central acertando com o presidente Ibrahim Eris, o pagamento de todas elas até o final da sua administração. Para tanto, parte do Fundo de Participação do Estado (FPE) foi retida mensalmente pelo BC, para o resgate das letras. Com isso faltou no final da sua administração caixa para investimentos e manutenção do pagamento em dia da folha de pessoal.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Democracia: Conquista de Todos Nós

Quando cheguei a Brasília, em fevereiro de 1975, para exercer o mandato de deputado federal, meu primeiro ato foi visitar o ex-deputado Chico Pinto, do MDB da Bahia, cassado pela ditadura e preso nas dependências do Exército. Cassado e preso porque havia feito pronunciamento da tribuna da Câmara Federal, no pequeno expediente, protestando contra a visita ao Brasil do ditador do Chile, Augusto Pinochet, que foi recebido com honras militares enquanto milhares de chilenos sofriam todo tipo de violência. Nesse clima, iniciei meu primeiro mandato como integrante do MDB goiano.Para exercer bem o mandato, precisava ter coragem e espírito de luta. Na mesma legislatura, assisti a cassações de mandatos dos valorosos companheiros Marcelo Gato, Marcos Tito, Amaury Muller, Nadir Rosseti e Alencar Furtado. Cassações por motivação político-ideológica. Esse era o risco que nós corríamos e o preço que pagávamos por querermos liberdade e democracia.

Lysâneas Maciel era uma das figuras mais lúcidas e inteligentes da Câmara Federal na legislatura 1975/78. Revoltado e indignado com as cassações dos colegas gaúchos, Nadir Rosseti e Amaury Muller, leu os discursos que os dois fizeram num comício para as eleições municipais de Palmeira das Missões, interior do Rio Grande do Sul, e que deram origem às cassações. Ao terminar a leitura, teve seu mandato cassado. Os três, da mesma forma que Chico Pinto, faziam parte do grupo autêntico do MDB.

Com Marcos Tito, do grupo autêntico de Minas Gerais, a cassação do mandato não foi menos folclórica e revoltante. Usando o grande expediente da Câmara, discorreu sobre a economia brasileira. Fez críticas à política econômica conduzida pelo ministro Delfim Neto e apresentou sugestões para correção de rumo. Foi aparteado pelas principais figuras da Arena em plenário. Ao descer da tribuna, foi cumprimentado efusivamente pelos deputados presentes. Dois dias depois, vice-líder da Arena apresentou da tribuna um exemplar do Jornal Voz Operária, órgão oficial do proscrito Partido Comunista Brasileiro-PCB. Leu o editorial da sua primeira página, argumentando que Tito baseara nele o seu discurso.Foi cassado depois de ter ficado alguns dias em banho maria.

O líder do MDB na Câmara, deputado Alencar Furtado, também do grupo emedebista autêntico, cassado porque fez críticas à ditadura no horário eleitoral reservado pelo Tribunal Superior Eleitoral –TSE ao MDB. Marcelo Gato, cassado sob alegação de ter sido apoiado pelos comunistas de Santos e litoral paulista.

Pessoas amantes da liberdade, que lutaram intensamente contra a ditadura militarista imposta ao País por meio do golpe de 1964, estão satisfeitas e eufóricas com a solidez da nossa democracia. Lutaram contra a ditadura que garroteou os sindicatos livres, movimentos estudantis e forças populares. Ditadura que marginalizou, alienou, perseguiu, prendeu, matou e desapareceu com jovens e trabalhadores. Golpe que impediu o surgimento de verdadeiros lideres, substituídos que foram por elites dominantes e aproveitadores.

Eleição e posse de uma mulher na presidência da república, substituindo o maior líder sindical brasileiro em todos os tempos, mostra que hoje nossas instituições estão sólidas. Não correm risco de golpes pelo poderio econômico ou pelas armas. No entanto, isso não veio de mão beijada ou pelo acaso. Esse momento só foi possível pela luta dos que resistiram e acreditaram que um dia a ditadura seria derrubada.

Tenho o maior orgulho de ter participado e ajudado na construção desse momento que estamos vivendo. Afastado compulsoriamente que fui da militância estudantil em 64 – presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis (UESA) –, ingressei no MDB, partido que ajudei formar e que tanto auxiliou na luta pela redemocratização. Batalha difícil. Contamos, na primeira hora, com pessoas humildes, os chamados descamisados. Sem terem nada mais a perder, nos seguiam numa jornada que parecia não ter fim. Posseiros, índios, garimpeiros e desempregados desesperançados foram nossos fiéis seguidores na organização do MDB inicial. Em Goiás, papel importante desempenharam os companheiros e advogados Vicente de Paula Alencar e Altair Garcia Pereira, o Braguinha, defendendo os injustiçados e espoliados.

No início dos anos 1970, fomos a Formoso defender um grupo de posseiros. Depois de ouvi-los, caminhávamos pela rua central da cidade, quando Jair, o líder do grupo e do diretório do MDB local, exclamou:

– Ali naquele Cartório Eleitoral acontecem os maiores escândalos!

– Que tipo de escândalo, Jair ? Perguntei

– Título de eleitor com fotografia trocada é o que mais tem!

- Quem lhe disse isso Jair ? Indagou, Alencar.

– O meu mesmo, está com fotografia que não é a minha!

– O nome que está no titulo é o seu e a fotografia de outra pessoa? É isso?

– Pior doutor! Nome também não é o meu.

– Nesse caso Jair, antes de denunciar alguma coisa, vá amanhã cedo ao cartório e troque o título. Você está com título de outro eleitor! – Arrematou Alencar.

Mesmo com esses líderes muitas vezes inocentes e desinformados, criamos um MDB forte e fizemos a resistência democrática.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Quase que o cachorro pagou o pato

Embora não sendo ano eleitoral, vivíamos a expectativa da eleição direta para governador do Estado, no ano seguinte. Era março de 1977. Na Câmara Federal, acertei com os colegas Freitas Nobre, Odacir Klein, Tarcisio Delgado e Luiz Henrique da Silveira que viessem a Goiás para encontro do partido que faríamos na Assembleia Legislativa. Henrique Santillo, deputado estadual, organizou forte grupo de voluntários ao seu projeto político, entre estudantes, profissionais liberais, intelectuais, líderes sindicais e comunitários. Era pré-candidato ao governo. O encontro com esses novos líderes emedebistas nacionais seria para que os companheiros goianos ganhassem um novo alento, visando a disputa programada para 1978.

No mês seguinte, veio o “pacote de abril” editado pelo presidente Geisel, eliminando do texto constitucional a eleição direta para governador. Pior, criando a escandalosa figura de um senador nomeado. O senador biônico. A mudança nas regras do jogo não foi surpresa para nós, democratas. Em Goiás, a alteração das regras eleitorais serviu apenas que fosse adiada em mais quatro anos a chegada do MDB ao governo do Estado e para que a Arena recebesse, de mão beijada, uma cadeira no Senado da República.

Para o encontro de março, as regras que valiam eram de eleições de dois senadores e governador. Tínhamos que mobilizar o pessoal para o encontro em Goiânia. As tarefas foram distribuídas entre os companheiros. Deixamos para Vicente de Paula Alencar, presidente do MDB anapolino, vereador Walmir Bastos Ribeiro e Romualdo Santillo contatos em Anápolis e região do Vale do São Patrício. À minha responsabilidade ficaram as regiões da Estrada de Ferro, Entorno de Brasília, Médio Norte Goiano e algumas lideranças de Goiânia.

Final de semana, retornando de Brasília, passei em Anápolis, convidei um amigo para irmos a Goiânia. Iríamos à casa do professor Reinaldo Pantaleão, residente do Conjunto Itatiaia, próximo ao campus da UFG. Sabia que morava naquela região, mas não em que rua e casa. Telefonei para o amigo José Moreira, o Zuza, que conhecia Pantaleão, sabia onde morava. Fomos na Variant do Moreira. Dois dos seus filhos, Éric e Ludmila nos acompanharam. Levavam seu cachorro de estimação. Assim, partimos nós cinco mais o cachorro para a visita.

Com sua costumeira fidalguia, professor Pantaleão nos recebeu se colocando pronto a formar o grupo de voluntários que trabalharia para arregimentar a plateia que lotaria as dependências da Assembleia Legislativa. Na ida à casa do professor, o tempo estava firme com muito sol. Calor intenso. Moreira fez todo o trajeto com os vidros da Variant abertos. O ar refrescou a temperatura e arejou o ambiente. Na volta fazia o mesmo calor, mas caiu de repente, chuva fina e forte. Fomos forçados a fechar todos os vidros. Á medida que as vidraças foram levantadas, o calor interno ficou insuportável.

Odor azedo exalou pelo interior do carro, para piorar a situação. Incomodado pelo o mau cheiro, Moreira gritou para os filhos que carregavam no colo, o cachorro de estimação:

– Éric e Ludmila, por favor, ao chegarem em casa, lavem esse cachorro!

– Pai, nós o lavamos hoje, minutos antes de sairmos!

– Por favor, lavem esse cachorro pelo menos duas vezes ao dia.

– É isso que fazemos! Lavamos cedo e à tarde.

– Então, quando forem dar banho nele, usem shampoo!

– Nós usamos shampoo.

A discussão entre eles continuou até chegarmos ao local onde havia deixado meu carro. Nos despedimos. Eu e o companheiro retornamos para Anápolis. Quando cheguei em casa, antes mesmo de tomar banho, telefonei para Moreira:

– Moreira, não deixe seus meninos matarem o cachorro com tanto banho, shampoo e desinfetantes. O provocador daquele odor era meu companheiro. Quando há qualquer evento político, ele transpira demais e se esquece de tomar banho.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Dom Manoel Pestana Filho Cumpriu Sua Missão

Lembro-me do dia em que o bispo Manoel Pestana Filho foi apresentado aos católicos e a toda sociedade anapolina, em substituição a dom Epaminondas de Araújo. Estava implantada a diocese de Anápolis e seu primeiro bispo, dom Epaminondas, seguia para a Paraíba, dando seqüência ao seu trabalho pastoral. Num palanque montado à frente da Igreja do Bom Jesus, o povo, tomando conta da praça na Avenida Goiás, emocionado, se despedia, carinhosamente, do bispo que saía e vibrava com o novo que chegava. Ruas enfeitadas, banda de música, coral cantando músicas sacras e muitos discursos de boas vindas. Eu estava lá.

Transcorria o ano de 1979. Exercia meu segundo mandato como deputado federal. Fazia parte da bancada do MDB. Um dos representantes do meu partido em Santos, Athiê Jorge Cury, presidente do Santos Futebol Clube, estava presente às festividades. Dele recebi as melhores referências sobre o novo anapolino que chegava. Por ser amigo de dom Manoel Pestana Filho e toda sua família, fez questão de saudar o padre, seu amigo, agora sagrado bispo. Dom Manoel foi o segundo bispo da diocese e só se afastou das funções depois de 25 anos de bispado. Afastou-se cedendo o lugar a com João Wilk, mas continuou residindo em Anápolis como bispo Emérito. Grande expoente da ala conservadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mesmo assim, foi sempre discreto nas suas ações políticas partidárias. Defensor intrasigente da vida, da família e seus valores morais e das liberdades democráticas. Pró-Vida foi idealizado e criado por ele para, principalmente, combater o aborto. Quando se debatia na Câmara dos Deputados a descriminalização do aborto, o grupo de Anápolis, liderado por dom Manoel Pestana, por meio do padre Lodi, teve papel de destaque na vanguarda anti-aborto. Em muitas ocasiões teve mais destaque nos noticiários nacionais e internacionais que os próprios parlamentares. Ficou famosa aquela cena em que padre Lodi discursava com um garotinho ao seu lado, fruto da violência sexual de um estuprador contra a mãe do garoto:

"Nesse caso, se a lei tivesse sido usada não teríamos essa criança saudável e inteligente aqui"- diziam os integrantes do Pró-Vida. Dom Manoel Pestana Filho não fazia concessão.

Como deputado, secretário da Educação ou prefeito, sempre tive boa convivência com ele. Pequena divergência ocorreu quando montamos em Anápolis o mais avançado programa de saúde da mulher, por meio do Centro Integrado da Mulher - CIM. Além de cuidar da prevenção ao câncer de mama e do cólo do útero, o CIM assistia às mulheres no seu planejamento familiar, oferecia várias modalidades de anticonceptivos e métodos aprovados pela classe médica, Anvisa e recomendados pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde. Dentre eles o Dispositivo Intra Uterino - DIU.

Contra sua utilização no planejamento familiar, padre Lodi se insurgiu. Ganhou dimensão extraordinária e incontrolável, pondo em rsico todo o serviço prestado pelo Centro Integrado da Mulher. Especialistas em saúde da mulher, como José Aristodemos Pinotti, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, faziam as melhores referências e avaliações do programa. Sua extinção lançaria ao abandono e risco a vida de milhares de mulheres, principalmente de baixa renda, que dependiam dos serviços de saúde prestados pelo CIM.

Fomos, Onaide e eu, conversar com dom Manoel Pestana. Tomamos do seu café. Nos ouviu atentamente. Ao final, lhe perguntei:

- Dom Manoel, o senhor quer que a prefeitura desative o CIM?

- Não! Ele presta relevante serviço social em favor da saúde da mulher.

- Por que então essa campanha de combate sistemático aos serviços prestados por ele? O senhor é contra o planejamento familiar?

- Adhemar, somos contra o DIU, ele é abortivo! Você está aí de terno, muito bem trajado. Se ao tomar café deixar que caia no seu paletó, ninguém vai prestar atenção na elegância da sua roupa. Todos prestarão atenção na mancha deixada pelo café.

Dom Manoel Pestana Filho já tinha feito seu juízo de valor. Para ele o DIU era abortivo e tinha de ser combatido. Para não extinguir um programa de grande alcance social, programa qie já havia detectado precocemente câncer em centenas de mulheres que foram curadas pelos serviços prestados pelo CIM, enviei um projeto de lei à Câmara Municipal excluindo o DIU dos métodos de anticonceptionais fornecidos pela rede de saúde pública municipal.

Quando concorri, e não venci, a eleição de 2000 para a prefeitura de Anápolis, recebi correspondência de dom Manoel, timbrada com sinete da diocese, me parabenizando pelo trabalho realizado em favor do município, lamentando o insucesso na disputa.

Dia 8 de janeiro, no seio da sua família em Santos, dom Manoel nos deixou desta para outra morada. Tão concorrida quanto sua chegada, foi sua despedida, dia 10, na Igreja do Bom Jesus. Diferença que quando chegou a comunidade católica o saudava alegre e eufórica. Debaixo de sol escaldante, ele silenciosamente enxugava o suor que descia do rosto se misturando às lágrimas que derramava. Na sua partida, os fiéis, com soluço engasgado na garganta, derramavam lágrimas de dor e saudade. Ele, ao contrário, mostrava no semblante serenidade e alegria por estar indo ao encontro do Pai.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O conforto

Nas eleições de 1978, uma das duas vagas ao senado foi preenchida por senador biônico. Senador sem voto. Senador escolhido pelo partido que tivesse maioria de deputados nas Assembleias Legislativas. O MDB só tinha maioria no Rio de Janeiro. Nos outros Estados, inclusive Goiás, a maioria era da Arena. Aqui, o biônico foi Benedito Vicente Ferreira, o Benedito Boa Sorte. Eleito em 1970, seu mandato estava terminando em 1978.

O outro arenista eleito em 1970, cujo mandato terminava, era Osires Teixeira. Osires, Jonas Duarte e Jarmund Nasser compuseram as três sublegendas da Arena para enfrentar, pela vaga a ser preenchida pelo voto popular, os emedebistas Henrique Santillo e Juarez Bernardes.

Nos preparativos para a campanha eleitoral, a região mais problemática para Henrique Santillo foi o Entorno de Brasília. Juarez, por ser de Formosa, era tido como candidato natural da região. O diretório municipal do MDB de Luziânia se reuniu decidindo que, apesar de Juarez e Henrique serem do MDB, só apoiaria Juarez. Joaquim Domingos Roriz, que fora vereador, saiu candidato a deputado estadual. O MDB estava à procura de alguém que representasse o município para se contrapor a Jesus Meirelles, deputado pela Arena daquele município. Joaquim Roriz foi o escolhido para essa tarefa.

Como deputado federal, fui visitado em meu gabinete em Brasília, pelo saudoso vereador Carlos Melo, meu grande amigo e representante dos autênticos naquela cidade. Queria saber se não seria possível uma conversa nossa com Zequinha Roriz, irmão de Joaquim. Não só conversamos como acertamos apoio a Joaquim Roriz em alguns municípios que apoiaram Henrique Santillo a deputado estadual, em 1974. Imediatamente contatei companheiros dos municípios da estrada de ferro e outros mais próximos de Anápolis. O acordo político foi firmado entre nós. Em Luziânia, Henrique também teria o apoio do diretório. A ele seria dado o mesmo tratamento dispensado a Juarez Bernardes. Com a escolha de Helio Roriz, também de Luziânia, para ser suplente de Henrique Santillo o acordo ficou consolidado.

A princípio, no diretório de Luziânia, o apoio que estávamos dando à candidatura de Joaquim Roriz a deputado estadual não envolvia apoio à minha candidatura a deputado federal. Pela dedicação que tive com a candidatura de Roriz, acabei sendo apoiado naquela cidade. Recebi esmagadora votação. Henrique Santillo foi o mais votado em toda região. A dupla Henrique Santillo/Juarez Bernardes derrotou o trio arenista. Mais votado, Santillo foi aclamado senador, Juarez Bernardes o primeiro suplente e Helio Roriz segundo suplente. Joaquim Roriz e eu fomos os deputados mais votados, em Luziânia e Goiás.

Fatos marcantes e históricos aconteceram quando fui apresentar Roriz aos diretórios da região da Estrada de Ferro. A Leopoldo de Bulhões foram comigo Vicente Alencar, advogado do MDB anapolino e o vereador Walmir Bastos Ribeiro. A reunião aconteceu na casa do Ivo, por sugestão de Agenor, presidente municipal do MDB. Como tesoureiro, Ivo estava mais familiarizado com campanhas eleitorais. Fiz a apresentação do nosso indicado, ainda desconhecido do mundo político goiano, narrando suas qualidades de empresário em Brasília e fazendeiro. Falei da importância da sua eleição pelo fortalecimento da região do Entorno e da vantagem que representaria para Leopoldo Bulhões.

Enquanto fazia a apresentação, sem nenhuma cerimônia, cansado, Walmir Bastos dormia de roncar na cadeira ao fundo da sala. Aberto o debate para que os companheiros de Leopoldo Bulhões se manifestassem, Ivo falou em nome de todo diretório:

– Dr. Joaquim Domingos, nós aqui de Bulhões seguimos Adhemar e Henrique Santillo. Como o Adhemar está lhe apresentando, estamos de acordo em apoiá-lo...

– Obrigado! – agradeceu Roriz.

– Só que até agora nós os apoiamos sem pedir nenhuma ajuda financeira...

– Para que vocês querem ajuda financeira? – brincou Roriz.

– Para a gente fazer uma campanha com mais conforto!

– Rá, rá, rá, rá! – gargalhou Walmir Bastos, que acabara de acordar.

A partir daquele instante, Walmir só se referia ao ex-governador de Brasília como “Joaquim Conforto”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Thiago Peixoto Poderá Dar Novo Caminho à Educação

Na solenidade em que a professora Milca Severino transmitiu o cargo de secretária estadual da Educação para Thiago Peixoto, novo titular da pasta, tive a satisfação de reencontrar muitos dos que me auxiliaram quando passei pela mesma secretaria. Ao ver Thiago cheio de ideias e planos, relembrei de quando fui convidado pelo governador Iris Rezende Machado para assumir o cargo. Os servidores da educação como de resto todo funcionalismo público estadual, estavam com seus vencimentos atrasados. O famoso decretão baixado pelo governador Iris Rezende, só na educação, atingiu mais de 12 mil servidores. Rara foi a escola que não teve alguém afastado pelo decreto. Iris exonerou todos que foram contratados após o dia 2 de abril de 1982. Por ser ano eleitoral, os contratos teriam que ser feitos até dia 2 de abril. A partir daquela data, infringia a lei eleitoral. Ouvindo a voz rouca da comunidade estudantil e educacional, decidi que todos os que estavam em sala de aula, ou prestando serviço em unidades escolares, não se afastassem dos seus postos. Continuassem trabalhando normalmente. Ao examinar a documentação, por amostragem, concluí que a totalidade, tinha sido contratada depois do dia 2-4-1982, mas já prestava serviço às escolas estaduais, no mínimo, desde o início do ano letivo, fevereiro de 1982. Não recebiam pró -labore, mas estavam em seus postos “segurando vaga”. Levada a questão ao governador Iris Rezende, me autorizou a retornar com todos que provassem vínculo antes do dia 2 de abril. Praticamente todos foram beneficiados. Só não continuaram os que não quiseram.

Foi grande a revolta de parlamentares e lideranças municipais do PMDB – prefeitos, vereadores e diretórios – que queriam o afastamento, para nomearem companheiros e cabos eleitorais. Naquela época, isso era possível porque não havia a obrigatoriedade de concurso para ingresso no serviço público. Essa obrigatoriedade aconteceu a partir da Constituição Federal de 1988. Resistimos às pressões e lamúrias.

Quando vagas surgiram, inovamos os costumes para o preenchimento. Mesmo podendo escolher a dedo, como usualmente se fazia, preferimos admitir pessoal por concurso público. Em encontros regionais programados por Iris Rezende, defendiamos a ideia do concurso. No início, a resistência dos companheiros de partido foi unânime. Levamos exatos seis meses para convencer as lideranças que o concurso era a forma mais democrática e própria para melhorar a educação estadual. Realizamos concurso regional. Cada delegacia de ensino foi responsável pelo concurso na sua região. Com isso, evitamos que profissionais dos grande centros, como Goiânia e Anápolis, assumissem todas vagas do interior e posteriormente buscassem pistolões políticos para se transferirem para as cidades maiores.

Criamos e implantamos as faculdades de educação em Porangatu, Porto Nacional e Araguaína, no Norte do Estado, melhorando a qualidade dos recursos humanos na região. Com o extraordinário trabalho do professor Sebastião França, implantamos mais seis cursos novos em Anápolis, criando o embrião da futura Universidade Estadual de Anápolis, hoje UEG. Promovemos acesso e promoção aos professores e educadores. Com a participação do CPG, implantamos o Estatuto do Magistério, o mais avançado para a época. Reformamos e construímos escolas. Construímos mil salas de aula, no sistema de mutirão. Realizamos inúmeros cursos de aperfeiçoamento na educação. Para isso, Iris Rezende Machado, como governador, deu apoio integral aos investimentos e transformações. Respaldado pelo histórico de vida, todo voltado pelas causas justas, prioritárias, e mandato de deputado federal, tive o apoio de toda sociedade.

Hoje, Thiago Peixoto chega à secretaria da Educação, respaldado pelo mandato de deputado federal e com a bagagem de ser educador. Apesar da sua pouca idade, é uma das maiores autoridades educacionais, em Goiás. Cheio de vontade, assume o cargo respaldado pelo apoio dos educadores e prestigiado pelo governador. Com conhecimento da área que vai dirigir, força política e projetos inovadores já esboçados, será a grande novidade da administração de Marconi Perillo. Goiás pode não ter o único administrador capaz nessa área, mas com certeza, possui um dos mais competentes secretários de Educação de todo Brasil.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Por Não Se Dobrar, Foi Perseguido

O vereador Walmir Bastos Ribeiro foi o grande sacrificado pela briga interna no MDB de Anápolis. Nas eleições de 1970, Walmir Bastos Ribeiro se candidatou à reeleição. Apoiou minha candidatura a deputado estadual e Fernando Cunha Júnior a deputado federal. Fiz dobradinha com Anapolino de Faria que buscava sua reeleição a deputado federal. Wolney Martins de Araújo e Ronaldo Jayme, também candidatos a deputado estadual, apoiaram Fernando Cunha. Raul Baduíno, que antecedeu Henrique Santillo na prefeitura de Anápolis, foi candidato a uma das três vagas ao Senado. Vagas abertas com o final do mandato de José Feliciano Ferreira e as cassações de Juscelino Kubitschek e Pedro Ludovico Teixeira. Pedro Ludovico Júnior e Gerson de Castro Costa completaram o trio emedebista. Pela Arena, participaram e foram eleitos Osires Teixeira, Benedito Vicente Ferreira ( o Benedito Boa Sorte) e Emival Caiado. Terminadas as eleições, o grupo mais conservador do MDB rompeu politicamente com Henrique Santillo. Três dos dez vereadores que pertenciam à bancada, Lincoln Xavier Nunes, Pedro Sergio Sobrinho e João Divino Cremonez passaram a votar com os cinco arenistas na Câmara Municipal. Com isso, a bancada de apoio ao prefeito que representava 2/3 dos vereadores, passou a ser minoritária de 7 contra 8. Os adversários de Henrique Santillo queriam a presidência da Câmara Municipal. Era preciso co-optar Wlamir Bastos, o presidente.

Convidado para um almoço com os emedebistas que conspiravam contra Santillo, Walmir, bom de garfo e estômago, comeu muita leitoa, churrasco de picanha e contra-filé. Bebeu whisky (18 anos) de várias marcas. Ouviu música ao vivo e recebeu infinidade de cumprimentos e tapinhas nas costas. Ao final da confraternização, seus organizadores e líderes do movimento, vendo que o vereador estava no ponto, passaram ao que lhes interessava. Apanharam assinaturas dos presentes num manifesto de contra Henrique Santillo. Ao solicitarem a assinatura de Walmir:

- Não sou golpista! Não faço jogo da ditadura! Fico com Henrique.

Desgostosos com sua atitude, Walmir passou a sofrer perseguição dos orgãos de repressão em Goiás. Foi preso pela Delegacia de Ordem Política e Social - DOPS e Exército, em Brasília.

Preso por agentes de polícia do Estado, ficou encarcerado em Goiânia por mais de duas semanas. Em liberdade, continuou exercendo normalmente seu mandato, presidindo o Legislativo. Na segunda vez, estava distribuindo panfleto sob o título: "Uma voz que não se cala diante das ameaças." Nesse panfleto, Wlamir denunciava ao povo de Anápolis as ameaças que vinha recebendo e pressão para renunciar a presidência da Câmara. Na terceira vez, estava comigo num Volkswagem, quando chegaram integrantes da Polícia Federal, fortemente armados, retirando-o do carrosob a alegação de que seria levado para prestar depoimento na sede da PF em Anápolis. Foi para o setor de investigações criminais do Exército, em Brasília, ficando preso por mais de 30 dias. Só foi solto quando assinou, ao major Leopoldino, responsável pelo inquérito, carta-renúncia do mandato. Para surtir os efeitos legais o documento teria de ser lido em sessão plenária da Câmara Municipal. O pedido de renúncia nunca apareceu. Walmir Bastos desempenhou seu mandato até o final.

Os golpistas queriam a renúncia ou afastamento do presidente, para que pudessem eleger um novo presidente para a Câmara, já que possuíam 8 dos 15 votantes. Com isso, pretendiam afastar Henrique Santillo da prefeitura. A resitência de Walmir Bastos, a toda violência contra ele, foi reconhecida por todos os democratas, como ato de bravura e heroísmo. Papel importante tiveram no desmantelamento dessas ações criminosas, Ulysses Guimarães, presidente Nacional do MDB e Jayro Brun, líder do partido na Câmara Federal.