segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As coisas estão mudando!


Não há nenhuma dúvida, o círculo para candidato ficha suja está ficando cada vez mais apertado. Mesmo que haja uma escapada aqui outra acolá, muita gente foi excluída ou se auto excluiu das eleições municipais deste ano. É verdade que muitos fichas sujas usaram o prestígio que ainda têm com o eleitor, burlaram os efeitos da lei, lançando filhos ou outros integrantes do grupo familiar. Foram eleitos. Mas como nas nossas leis, as penalidades por um determinado crime só atingem a figura do réu, outros ligados a ele, até mesmo  filhos, familiares e amigos, são inocentes até que seja provada alguma coisa em contrário; estão garantidos pela própria lei. A eleição de candidatos nessa situação é estranha, mas quem deveria promover essa limpeza seria o eleitor.

Prova de que a lei evita que praticantes de corrupção, estelionato, peculatos e tantos outros crimes, sejam postulantes à reeleição, mas os partidos políticos deveriam ser os primeiros a excluir das suas listas de candidatos, aqueles que por um motivo ou outro podem ser detectados como um futuro ficha suja. Examinar a vida da pessoa no seu relacionamento comercial e social na comunidade a que pertence pode dar indicativos claros se o cidadão será honesto ou desonesto no desempenho de alguma função eletiva. Neste caso, o partido político deveria ser obrigado a exclui-lo antes de lhe oferecer vaga a qualquer tipo de candidatura, sob pena do presidente do partido ser processado como coresponsável.

Avançamos muito. O Diário da Manhã, na sua principal manchete da edição de sábado, 13 de outubro, ao noticiar o drama vivido por milhares de candidatos ficha suja, expõe com grande transparência a magistral limpeza que está sendo feita na política brasileira: “Os eleitores brasileiros não sabem se 2.830 candidatos poderão assumir cargos de prefeito, mesmo sendo eleitos no dia 7 de outubro. Depois de aprovados nas urnas, o futuro de vários postulantes a cargos públicos depende agora da Justiça”, noticia o jornal. Sinal dos novos tempos.

Saudamos com euforia as novas regras. Nas eleições de 2008, a legislação eleitoral não tinha poder para afastar ficha suja. Mesmo aqueles que no desenrolar da campanha cometessem crimes eleitorais, sendo eleitos, raramente perdiam o mandato por condenação pela Justiça.

Em Anápolis, um vereador foi denunciado pelos quatro integrantes do Ministério Público que serviram às quatro zonas eleitorais do município. A alegação foi a de que ele teria distribuído bilhetes para pessoas concorrerem a milhares de brinquedos, além de bicicletas,  mochilas e piscina, numa festa que aconteceria no dia 12 de outubro, após passado o primeiro turno das eleições. No dia 12, Dia das Crianças, conforme o prometido, a festa aconteceu no feirão coberto do Bairro de Lourdes. Mais de 7 mil pessoas compareceram ao evento. O vereador eleito transformou a festa da criança em mais um evento político, ao pedir votos para o candidato da sua preferência:  ‘No primeiro turno votamos no 14. Agora nosso candidato é o 13’.”

O juiz eleitoral de Anápolis, responsável pelo processo, entendeu que as infrações à lei eleitoral haviam acontecido. Como os sete mil eleitores presentes à festa política do dia 12 de outubro, mesmo que tivessem votado na adversária do prefeito eleito, não tirariam a vantagem alcançada pelo eleito nas urnas, o juiz o absolveu. Não lhe foi aplicada qualquer penalidade, mesmo sendo reconhecido em sua sentença que ele fora beneficiado pela distribuição irregular de brinquedos, bicicletas, mochilas e piscina.

O juiz condenou o vereador. No seu entendimento, os sete mil presentes à festa estiveram em número maior que na sua votação total. Neste caso, o juiz entendeu ter sido ele beneficiado com a distribuição dos brindes e suspendeu seus direitos políticos por três anos. Não cassou seu mandato e nem suspendeu sua diplomação. O vereador recorreu da sentença ao TRE.  Está cumprindo integralmente seu mandato de vereador, mas foi candidato a deputado federal em 2010 pelo PTB e candidatou-se a vereador agora, não sendo reeleito.

Com a Lei da Ficha Limpa, as coisas mudaram. Estamos caminhando com firmeza rumo à volta da credibilidade na atividade política. Agora vai depender muito dos partidos políticos e os eleitores fazer a parte que lhes competem.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Nica se assustou como nunca


Nossos lideres, até aqueles mais experientes como Valdivino Pereira, Bertolino Santana e Nica, que enfrentaram as mais duras perseguições nos tempos mais tenebrosos do regime ditatorial, não estavam habituados a agressões pessoais. Resistiam sem perder a compostura. Naquela viagem, a primeira que faziam em forma de excursão, saíram de casa alegres e preparados para uma nova empreitada. Organizarem um partido que se anunciava diferente. Queriam Henrique Santillo no Governo, por que acreditavam na sua luta e suas propostas administrativas. Seguiam o nosso caminho por que sempre estiveram ao nosso lado enfrentando o regime militar. Já haviam sido presos, mas não abriam mão do ideal de melhores dias para o povo brasileiro. Foram rumo a São Bernardo do Campo felizes e satisfeitos. Era a viagem mais importante de todos eles.

Nica, nossa companheira de primeira hora na formação do bloco emedebista autêntico em Anápolis, grande líder comunitária dos anos 70/80, moradora no Bairro Nova Capital, me relatou o acontecido e que tanto a tinha desgostado, amedrontando a
turma de Anápolis:

“Por volta das duas horas da madrugada - disse - estávamos dormindo quando o arquiteto Wilmar Cardoso, pegou o microfone do serviço de som do ônibus, especial para turismo, acordou todos os passageiros. Iniciou, com o serviço de som na maior altura, a fazer entrevista com o pessoal da caravana, que ia para o encontro em São Bernardo do Campo:”

Wilmar - E, aí, Professor Athos Magno, por que você está no PT?

Athos - Estou no PT, porque é partido puro! Partido do trabalhador que se encontra explorado por esta minoria capitalista, magnatas burgueses. Sanguessugas do suor e sangue da classe proletária...

Wilmar - Escavu, esta grande liderança rural da região de Itauçu, por que você é PT?

Escavu - Sou PT porque acredito na força do trabalho. Já é hora de a gente sair dessa escravidão imposta pelo capital! Vamos operários, rumo ao governo dos trabalhadores...

Wilmar - Você Narciso Sapateiro, você optou pelo PT por quê?

Narciso Sapateiro - Como líder em Goiânia, tenho lutado por que acredito na força do povo. Estes exploradores, grandes capitalistas estão com os dias contados. Não resistirão a marcha do proletariado pelas ruas do Brasil inteiro. Fugirão como os ratos fogem quando sentem a presença do gato...

Wilmar - E, você, professor Martiniano, por que PT?

Martiniano - Porque o PT é o novo. É a estrela que surgiu no cenário nacional para brilhar mais alto e com maior intensidade. É o povo chegando ao poder...

Nisso, disse-me Nica, Wilmar Cardoso chegou à poltrona em que estavam ela e seu cunhado Bertolino. Nica sentava-se na cadeira do corredor. Por isso seria a primeira do grupo petista anapolino a ser entrevistada.

Wilmar - Qual o seu nome?

Nica - Divina da Silva Rodrigues! Sou mais conhecida por Nica!

Wilmar - Nica, nome de guerra desta mulher combatente e revolucionária. Nica, mulher à frente das mulheres do seu tempo. Nica, essa guerrilheira e revolucionária para que a classe operária assuma o lugar que é seu. Para que o proletariado assuma o poder no Brasil, expulsando essa elite que nos domina pelas armas e poder econômico... Nica, diga para todos nós, por que você está no PT?

A imprensa apenas informa acontecimentos do dia


Interessante como agredir a imprensa é o hobby preferido daqueles que são cobrados por ela para que tenham correção nos seus atos, respeito às leis e coerência no  comportamento. Algumas figuras que estiveram na linha de frente no combate à ditadura militar que se instalou no País de 1964 a 1985, imaginavam que aquela imagem positiva, de amor às liberdades democráticas e Estado Democrático de Direito, lhes daria salvo conduta  para todos os tempos. Que seriam eternizados como benfeitores da humanidade. Seriam inatacáveis, pois haviam sido lideres no combate à ditadura. Nunca serão esquecidos do bem que fizeram pela redemocratização do Brasil. Porém, com o fim do regime de exceção, imperando o respeito à Constituição e à leis, retorno à liberdade de imprensa, todos os brasileiros, tenham ou não participado do combate ao absolutismo que tanto infelicitou a nação, são iguais nos seus direitos e deveres. Não há como gozar de privilégios num País democrático. Aí está o valor da democracia. Cada um vale o quanto pesa. Pelo mérito, coerência, respeito às leis, crescem os mais competentes, esforçados e dedicados. As oportunidades  devem e têm que ser iguais. O valor individual é a principal e única medida que deve ser usada e observada.

Nesse caso do mensalão, em julgamento no Supremo Tribunal Federal, é o maior exemplo que que atos heróicos praticados no passado não credenciam ninguém a descumprir a Constituição e as leis.  As coisas não podem ser misturadas. Figuras como José Genoino e José Dirceu, foram importantes no combate à ditadura. A história daquela fase triste da nossa história política, sempre há de registrar o serviço que prestaram em favor da liberdade. Essa luta, contudo, não lhes dá  direito de  abusarem das normas democráticas que regem a sociedade brasileira. Usaram da estrutura do poder comprando apoio de parlamentares e partidos, para aumentar base de apoio ao governo ao qual pertenciam. O mensalão foi isso!  Tudo ficou claro, não só na CPMI, como nas votações do Supremo Tribunal Federal (STF).

Atribuir à imprensa o resultado das votações e condenações de pessoas influentes do Partido dos Trabalhadores (PT), é lhe atribuir  força desmedida que ela não tem, e nem pretende ter. A imprensa só não deixou, e isso é seu dever, que os fatos prescrevessem ou caíssem no esquecimento. Tem noticiado os debates intensos e acalorados que ocorrem a cada sessão do STF, mas não influência no seu resultado final. Quando notícia que “o esquema do mensalão foi uma trama contra a democracia,” ou “tentativa do Partido dos Trabalhadores em querer ficar no poder, por dezenas de anos” apenas levam ao conhecimento público o que ministros como Celso de Mello ou Ayres Brito, externaram ao proferirem seu voto sobre os réus, no processo. Fica no entanto a lição: na verdadeira democracia, ninguém está acima da lei. Nem aqueles que num determinado momento praticaram ações históricas e heróicas.

Da mesma forma, nas eleições agora do 2º turno, em São Paulo, o candidato do PSDB, José Serra experimenta do veneno que seus marqueteiros usaram contra o candidato petista, Fernando Haddad, no primeiro turno das eleições. Para captarem votos, principalmente de evangélicos pentecostais, difundiram nas igrejas e nos programas de rádio e televisão, que Haddad como ministro da Educação, quisera difundir a “Cartilha Anti-Homofobia”, no Brasil. Nesse momento os marqueteiros de Haddad, devolvem a acusação a Serra, que como governador de São Paulo, em 2009, defendera a idéia de distribuir cartilha nas escolas públicas paulistas sobre o mesmo assunto.

Ao abordar o assunto, segundo o jornal Folha de S.Paulo, do último dia 17, Serra criticou o modo como a imprensa trata o assunto. Após discutir com jornalista da CBN, disse que essa é uma “pauta petista furada”. Depois, falou a jornalista do UOL, do Grupo Folha, que ela deveria “trabalhar com Haddad”. Nos dois casos a imprensa noticia os fatos. Bem melhor que na época da ditadura em que era forçada a esconder os acontecimentos, publicando receitas de bolo ou previsão do tempo! Foi para isso que lutamos. Só desaprova essas conquistas quem não é democrata!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Enfrentando o radicalismo interno no PT


Nossa presença na organização do PT, em Goiás, alcançou grande repercussão pelo Brasil inteiro. Ulysses não queria que deixássemos o PMDB. Por várias vezes conversamos sobre isso. Nos encontros pelos corredores e plenário do Congresso Nacional. Ele lamentava que tivéssemos deixado o Partido. Ulysses não se cansava de repetir aos jornalistas, do grande serviço que havíamos prestado à causa democrática no Brasil. Tinha a maior admiração e respeito pelo grupo emedebista e depois peemedebista de Anápolis. Mas, ao mesmo tempo, o presidente Ulysses reconhecia como legitima nossa revolta. Sabia da força do grupo autêntico e santilista em Goiás. Torcia para que o grupo chegasse ao governo no Estado.

Depois de inúmeros contatos com a direção nacional do Partido dos Trabalhadores, chegou o momento de participarmos do grande encontro com militantes do Brasil inteiro, no Colégio Monte Sião, em São Bernardo do Campo. Lula e as mais expressivas lideranças trabalhistas, gente que combateu a ditadura, intelectuais e, nós, parlamentares, nos juntávamos às delegações de quase todos os estados brasileiros, num grande encontro comandado por Lula.

À exceção de Goiás e São Paulo, representados por lideranças preocupadas em organizarem um partido político diferente, pronto para disputar eleições, os demais estados estavam representados por grupos trotskistas, que detestavam a luta parlamentarista, a luta institucional. Repudiavam o ingresso no partido dos que não fossem operários. Patrão? Nem pensar! Até vendedores de quitanda, churrasquinho ou pamonha, que trabalhavam por conta própria, eram, no entendimento desses grupos, patrões. Tinham que ser vetados. Conviviam e nos respeitavam por que conheciam nossa atuação na Câmara Federal e Senado. Sabiam da nossa ação permanente contra a ditadura. Não se sensibilizavam, contudo, com a via congressual... Queriam, porque queriam, a luta revolucionária. Luta sem acordo ou concessão com a elite dominante. Queriam impor, fosse lá por que meio fosse, a ditadura do proletariado.

A delegação goiana foi composta de professores, profissionais liberais, intelectuais e lideranças comunitárias urbanas e rurais. Lideres de bairros, principalmente da cidade de Anápolis. Companheiros como os vereadores Walmir Bastos e Valdivino Pereira e, lideres comunitários como Bertolino Santana e sua cunhada Nica, foram a São Paulo, para o encontrão do PT, representando nossa militância. Henrique, a vereadora por Goiânia Maria Dagmar, eu e outros detentores de mandato, ex-integrantes do PMDB, fomos à frente para ajudarmos na organização do evento.

Nossa delegação, nas primeiras horas da manhã da convenção, chegou ao local do encontro. Valdivino Pereira, Bertolino Santana e Nica, não quiseram descer do ônibus. Fui informado disso pelo vereador Walmir Bastos, que estava no mesmo ônibus. Como se tratava de companheiros autênticos, sem “frescura”, fiquei preocupado. Fui ao encontro deles. O ônibus estava estacionado longe do Colégio Sião.

Amuados nas últimas poltronas resistiram muito para dizer o que acontecera. O que os levaram a ter receio até de descer, para participarem do encontro. Por fim, Nica, nervosa e trêmula, se dispôs a contar o ocorrido durante a viagem noturna de Goiânia a São Bernardo do Campo:

- Adhemar você sabe que nós somos amigos seu e do Dr. Henrique. Nós nunca fomos humilhados como fomos nessa viagem. Pessoal esquisito. Não respeita ninguém. Cada um, acha que é mais que o outro. Faço política com vocês há muito tempo, e para dizer a verdade, só estou vendo essa gente pela primeira vez, agora... (Continua)

PT aprendeu com o mensalão


O mensalão, cujo julgamento está assustando e indignando muita gente que jamais acreditou que poderosos poderiam ser condenados e correrem o risco de ir para trás das grades, começou com um funcionário dos Correios recebendo propina. Só que tudo foi gravado clandestinamente e levado ao ar pela televisão. Para se defender, o Marinho, pego em flagrante, disse que ocupava a função indicado por Roberto Jeferson, presidente nacional do PTB. Afirmou ainda que todos os comissionados indicados pelo PTB tinham que agir como ele agiu, para fazerem caixa para o partido. Jeferson, da mesma forma, para se desfazer da “batata quente”, denunciou o escândalo do mensalão. Mesmo com maioria esmagadora na CPMI do Congresso Nacional, tendo como presidente o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e relator, o deputado José Serraglio (PMDB-PR), a base governista foi forçada a ter uma atitude isenta, imparcial, dando no que deu.  Condenações agora, pelo STF, de   João Paulo Cunha, José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares.
A CPMI do Cachoeira também foi criada para investigar a prática de jogos ilegais por grupos contraventores. Tudo gravado na Operação Monte Carlo, pela Polícia Federal. Fluiu normalmente dentro do imaginado pelos integrantes da base de sustentação do governo, até que apareceram os primeiros resultados das quebras de sigilo telefônico, bancário e fiscal de pessoas e empresas envolvidas no esquema. Chegou-se ao núcleo do grupo. A contravenção passou a ser insignificante diante do envolvimento da Delta Construções e mais 12 empresas fantasmas, descobertas até agora, que abasteciam o sistema de corrupção por esse Brasil a fora. Com os levantamentos em andamento, os desvios, segundo o senador Álvaro Dias (PMDB-PR), ultrapassam os R$ 400 milhões.
Já escaldados, como acontecido na CPMI dos Correios, que evoluiu para a CPMI do mensalão, a base governista não quer pagar para ver. Prefere até não entregar o relatório do que já foi investigado a prorrogar seus trabalhos, como querem os oposicionistas. No máximo, admitem ampliar o prazo de funcionamento por mais 30 dias. Nada mais que isso. Os independentes e oposicionistas não aceitam essa proposta porque só serviria aos interesses governistas. Por mais evidências e documentos que não param de chegar à CPMI, os mais de 500 requerimentos requerendo convocação de empresários, governadores, prefeitos e políticos ligados ao governo, com indícios claros de envolvimento com o esquema Delta, não serão votados.
Não havendo mobilização popular para que a CPMI tenha seu curso normal e verdadeiro, ao final, o seu resultado acabará desabando sobre integrantes do PSDB, especialmente sobre o governador Marconi Perillo. Aliás, essa CPMI só entrou em funcionamento porque o Partido do Trabalhadores, por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, imaginava, e a imprensa noticiou isso insistentemente, uma oportunidade de se vingar de Marconi. Isso porque o governador goiano, depois que estourou o escândalo do mensalão, disse ao presidente Lula que o esquema realmente existia. 
Enquanto em Brasília os governistas tudo fazem para evitar o estouro de um escândalo maior que o do mensalão, abafando na marra o prosseguimento dos trabalhos investigativos da CPMI, a CPI da Assembleia Legislativa de Goiás pode se transformar, pela falta de investigação contra prefeitos envolvidos com a Delta, em mais um instrumento para atingir o governador. O deputado Mauro Ruben (PT) já revelou à imprensa “que o relatório da CPI tem que incluir a influência da quadrilha liderada por Cachoeira na Secretaria de Segurança Pública, no Detran e na Agetop”. Era só o que faltava. Já não basta o desgaste político que a CPMI de Brasília pode provocar, por se negar a investigar as mazelas provocadas pela Delta Construções para debaixo do tapete, a de Goiás, onde o PSDB é maioria, não investigou contratos nebulosos de prefeitos aliados do governo federal com a Delta, e ainda corre o risco de colocar o governo goiano mais uma vez na berlinda. De forma negativa.

O apoio decisivo do “padrinho político”

Embora tenham predicados – capacidade política, poder de articulação, boa oratória e espírito público – a maioria dos políticos que conquistaram mandato de governador, senador, deputado federal, prefeito e vereador, nas últimas décadas em Goiás, se ancoraram em um padrinho.

Levantamento feito pelo Diário da Manhã mostra que, nos últimos decênios, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e vereadores foram vencedores nas urnas, graças ao apoio que receberam de seus protetores político-eleitorais, normalmente um influente parente.

Essa interferência direta do líder político, em benefício de um correligionário ou mesmo de um filho ou filha, ocorre em todas as siglas partidárias, no passado e no presente. E com resultados surpreendentes, não só na época dos “currais eleitorais”, assim como nos tempos atuais, conforme revela esta reportagem.

A família Caiado, que teve como principal expoente político o ex-senador Totó Caiado, lançou vários políticos desde o início do Século 20 que conquistaram mandatos eletivos em Goiás. Para citar apenas alguns: Emival, Elcival, Edenval, Brasílio, Sérgio e Ronaldo Caiado chegaram à Assembleia Legislativa e Câmara Federal. Há outros exemplos de caiadistas que fizeram carreiras políticas na UDN, Arena, PDS, PFL e agora DEM.

Apartir da década de 60, Pedro Ludovico Teixeira, a maior expressão política do Estado e líder do forte PSD, lançou o jovem Mauro Borges, seu filho, na vida político-partidária, que elegeu-se deputado federal, governador, senador e novamente deputado federal. Paulo Borges Teixeira, irmão de Pedro, também chegou à Câmara Federal, pelo voto direto.

Mais tarde, Mauro Borges elegeu o filho Mauro Borges Júnior deputado estadual e outro filho, Pedro Ludovico Estivalet Neto, vice-prefeito de Goiânia.

O ex-governador Iris Rezende, outro expoente na liderança política do Estado, também exerceu e exerce forte influência na eleição de correligionários do PMDB e até parentes. Alguns exemplos: em 1994, foi o principal responsável pela eleição de Maguito Vilela a governador e a de Mauro Miranda a senador. Depois, Otoniel Machado chegou ao Senado como suplente do irmão, Iris. Dona Iris Araújo conquistou o primeiro mandato de deputada federal, na garupa e no prestígio do marido. Também o primo, Lívio Luciano, chegou à Assembleia Legislativa.

O ex-governador Henrique Santillo, que também construiu uma carreira política expressiva em Goiás pelo MDB e PMDB, deu respaldo aos irmãos Adhemar e Romualdo. Adhemar chegou à Câmara Federal e à Prefeitura de Anápolis. Romualdo à Assembleia Legislativa. Mais tarde, Carla Santillo, filha de Henrique, elegeu-se deputada estadual.

Marconi Perillo, três vezes governador de Goiás pelo PSDB, foi decisivo na eleição do primeiro mandato de senador de Demóstenes Torres (DEM). Mais uma vez, o apoio de Marconi desequilibrou a sucessão estadual e Alcides Rodrigues Filho (PP) conquistou o governo de Goiás. Para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa, Marconi deu respaldo a diversos candidatos vencedores e o exemplo mais destacado é o de Carlos Alberto Lereia (PSDB).

Maguito Vilela, ex-governador, senador e hoje prefeito de Aparecida de Goiânia pelo PMDB, turbinou as carreiras políticas do sobrinho, Leandro Vilela, deputado federal, e do filho, Daniel Vilela, deputado estadual.

Lúcia Vânia, que também conquistou, com brilhantismo, dois mandatos ao Senado da República e três à Câmara Federal, teve em Irapuan Costa Júnior, ex-governador e então marido, o principal cabo eleitoral no início da carreira, na década de 80.

O ex-governador Ary Valadão foi o responsável pela eleição do professor Anisio de Souza, à Câmara Federal. Maria Valadão conquistou dois mandatos à Câmara Federal, com o respaldo determinante do marido, ex-governador Ary Valadão (PDS).

Luiz José Bittencourt (PMDB), filho do ex-vice governador José Luiz Bittencourt, elegeu-se deputado estadual e deputado federal.

O ex-prefeito Hélio Seixo de Brito contribuiu diretamente para a eleição de dois filhos a vereador em Goiânia: Hélio de Brito Júnior e Ronaldo de Brito.

O deputado federal Jovair Arantes (PTB) lançou o filho, Henrique Arantes, hoje deputado estadual e seu provável sucessor na carreira política.

Thiago Peixoto, que elegeu-se deputado federal, pelo PMDB, teve como principal “cabo eleitoral” seu pai, o ex-ministro Flávio Peixoto.

Isaura Lemos (PC do B), deputada estadual, conquistou diversos mandatos tendo o marido, ex-vereador Euler Ivo, como principal “mentor” de suas campanhas.

Wagner Siqueira Júnior (PMDB) é deputado estadual em primeiro mandato. É filho do ex-deputado estadual e ex-deputado federal Wolney Siqueira.

Ademir Menezes (PSD) chegou à Prefeitura de Aparecida de Goiânia, por dois mandatos, com o apoio decisivo do deputado federal e empresário Sandro Mabel.

Lincoln Tejota (PSD) exerce o primeiro mandato de deputado estadual, com o respaldo dos pais – ex-deputado estadual Sebastião Tejota e da ex-deputada estadual Betinha Tejota.

Francisco Gedda, deputado estadual em primeiro mandato, tem como principal incentivador o ex-governador Alcides Rodrigues.

Frederico Nascimento (PSD), também deputado estadual, é filho do ex-deputado Oton Nascimento.

Flávia Morais (PDT), deputada federal, é esposa do ex-prefeito de Santa Bárbara e Trindade, George Morais.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carlos Limongi, um obstinado convicto


O juiz da Infância e Juventude da Comarca de Anápolis, Carlos José Limongi Sterse, é obstinado na luta pela reorganização da instituição, a família. Quando juiz em Orizona, cidade da região da Estrada de Ferro, envolveu toda a comunidade urbana e rural na verdadeira cruzada para combate ao vício do álcool e das drogas. Nas pesquisas que tinha em mãos e na sua avaliação pessoal, vício em álcool e drogas eram as causas maiores para a desintegração das famílias.

Em Anápolis, Carlos Limongi  deu dimensão maior ao movimento, com a criação e funcionamento da Associação Cruzada pela Dignidade (ACD), ONG que trabalha pelo fortalecimento da família. Para maior transparência do trabalho e em busca do fortalecimento da associação e solução dos gravíssimos problemas enfrentados por inúmeras famílias anapolinas, realizou na última quarta-feira, dia 10 de outubro, a marcha denominada a Bandeira da Família. De acordo com Carlos Limongi, com isso foram em “busca de, através desse símbolo, reforçar as ações que vêm sendo desenvolvidas pela Associação Cruzada pela Dignidade e demais parceiros. Também é um momento para mostrar que o BEM se organiza. Nós somos parte integrante de uma sociedade que trabalha pelo enaltecimento da família e dos valores éticos, religiosos, filosóficos e morais.”

Para Limongi, que, além de juiz da Infância e da Juventude em Anápolis, é também presidente de Honra da ONG Associação Cruzada pela Dignidade, a caminhada pelas ruas centrais da cidade na última quarta-feira serviu de instrumento para despertar a atenção de parceiros, entidades, clubes de serviços, igrejas e pessoas da comunidade a se engajarem numa verdadeira Corrente do Bem, através de ações positivas, construtivas e concretas.

Em Anápolis, segundo o juiz, há famílias totalmente desintegradas. Pai, mãe e filhos, cada um perambulando pela cidade, morando nas ruas, dormindo sob marquises ou bancos de jardins,  vivendo sob efeito do álcool e das drogas. “Só mesmo um trabalho efetivo da sociedade para reintegrá-las”, afirma Limongi.

No levantamento realizado pela Associação Cruzada pela Dignidade, uma das possibilidades seria a união das igrejas de Anápolis, por todas suas denominações, se responsabilizando pelo acompanhamento de algumas famílias que se encontram nessa situação de indigência total. Para os líderes do movimento de organização da sociedade em favor do bem, se cada igreja de Anápolis se dispuser a assumir três famílias dessas que estão praticamente desintegradas pelo vício e miséria, agasalhará todas as que se encontram nessa situação no município.

Segundo Limongi, com a união de esforços dos que estão preocupados com essa situação desumana em que vivem essas famílias, o problema do momento pode ser resolvido e assim “transformaremos  e melhoraremos a nossa sociedade”.

Lideranças católicas, evangélicas, espíritas, além de clubes de serviço, entidades de classe, sindicatos patronais e de empregados, empresários, comerciantes e comerciários, profissionais liberais e integrantes da sociedade anapolina apoiam a iniciativa da Associação Cruzada pela Dignidade. Estiveram representadas na caminhada “Corrente para o Bem”. Discutem agora de que forma poderão melhor participar. É uma iniciativa da sociedade toda, comandada pelo obstinado Carlos Limongi.

Abrimos mão do PTB e fomos para o PT


Tínhamos conversado com Leonel Brizola, acertando nosso ingresso ao PTB, seu partido. Antes que encerrássemos o acordo, o prefeito de Luziânia, falando em nome dos companheiros do Entorno de Brasília, nos alertou que Brizola, por ter comandado o “grupo dos onze”, em 1964, era estigmatizado na zona rural de Luziânia, maior reduto político do PMDB daquela região. Acompanhariam-nos por qualquer rumo que tomássemos, mas gostariam que não fôssemos para o PTB. As ponderações de Walter Rodrigues não pararam por aí. Em nome da turma, sugeriu que ingressássemos no Partido dos Trabalhadores, fundado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Nós sabíamos que o PT era composto pelas lideranças sindicais mais radicais e abrigava, também, grupos de universitários trotskistas. Lula teria que lutar muito para evitar que seu partido se transformasse numa federação de grupelhos trotskistas. Esses grupos não queriam nada dentro da legalidade. Queriam a luta clandestina. A história desses grupelhos, que pouca participação tiveram no combate à ditadura militar de 1964, era de desprezo total à luta institucional. Pregavam a queda da ditadura pela revolução popular. Autodenominavam-se integrantes das organizações operárias, contra qualquer acordo com patrões. Assim era o PT no seu nascimento. Os grupelhos aceitavam o comando de Lula porque sabiam ser líder carismático e de grande penetração popular. Queriam o Lula, mesmo sem embasamento ideológico. Tinham-no o inocente útil a serviço da causa revolucionária do proletariado.

Luiz Inácio Lula da Silva dizia aos trabalhadores que os trotskistas estavam sendo aceitos no PT, para atraírem intelectuais e a esquerda mais radical que não aceitavam o PC do B. Para Lula, o partido seria aberto a todas as correntes populares que dele quisessem participar. Nós, diante dessa proposta, fomos em frente. Sentimos que Lula e as demais lideranças que compunham o comando petista queriam, mesmo, organizar um partido para participar como os demais, dentro das regras institucionais.

Decidimos participar do Partido dos Trabalhadores. Ao lado dos deputados federais eleitos pelo MDB em 1978, Airton Soares (SP), Luiz Cechinel (SC), Antônio Carlos de Oliveira (MS) e Edson Khair (RJ) formamos a primeira bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara Federal. Henrique Santillo o primeiro senador do PT, no Senado.

Reunimos-nos com as lideranças municipais que estavam coesas com nossa prática política em Goiás, partindo para a organização petista pelo Estado todo. Enquanto isso, auxiliávamos Lula na pregação nacional, visitando outros estados, para a formação do Partido dos Trabalhadores. Respeitados pelo comando petista nacional, continuávamos com as visitas aos companheiros de Goiás, levando a candidatura de Henrique Santillo ao governo, em 82.

Em Brasília, nós, os cinco componentes da primeira bancada petista, nos reunimos e os companheiros me elegeram o primeiro líder do PT na Câmara Federal. Foi um período bastante difícil, como inúmeras ações arbitrárias, principalmente contra Lula e outros líderes sindicais. Usávamos, intensamente, os microfones das sessões plenárias, para, como líder, denunciar as ações violentas e criminosas praticadas contra as lideranças do ABC paulista. O partido ganhava respeito das demais lideranças partidárias no Congresso Nacional e da imprensa que fazia a cobertura dos trabalhos legislativos. Ainda não havíamos nos reunido a nível nacional. Fazíamos encontros permanentes com Lula aguardando a Convenção Nacional do partido... (Continua)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

CPMI poderá chegar aos municípios


A grande imprensa nacional está noticiando que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que está funcionando no Congresso Nacional, durante os 60 dias em esteve de recesso por conta das eleições municipais, recebeu toneladas de documentos, envolvendo a Delta Construções e a Alberto & Pantoja Construções, com prefeitos, principalmente de Goiás, além de governadores estaduais e outras empresas, em atos suspeitos de corrupção. Graças aos sigilos fiscais, bancários e telefônicos quebrados pela CPMI, novas gravações realizadas pela Policia Federal, na Operação Monte Carlo, foram enviadas ao presidente da comissão.

Esperamos que os integrantes da CPMI prorroguem o seu tempo de duração, para que seja feita essa averiguação dos atos suspeitos e com indício de corrupção, em vários municípios em que a Delta Construções atuava, principalmente aqui na Região Centro-Oeste. Nada mais justo e natural que isso aconteça, pois alguns administradores tiveram seu nome lançado ao questionamento público e nenhuma oportunidade foi dada até agora para que eles se defenderem. Estão mal na boca do povo e precisam se explicar. Nada melhor que comparecerem à CPMI, num debate aberto e pluripartidário.

Um fato muito estranho, envolvendo a Delta Construções, que por certo não chegou e provavelmente não chegará à CPMI, aconteceu a partir de agosto deste ano, na prestação do serviço de varrição, coleta e armazenamento do lixo no aterro sanitário, em Anápolis:

Depois de acusada pela Justiça Federal do Estado do Tocantins de ter usado documento falso para participar e vencer a concorrência da limpeza pública em Anápolis, a prefeitura rompeu o contrato com a empresa, assim que as informações com toda documentação chegaram ao Ministério Público em Goiás, e foi aberto o inquérito para apurar a irregularidade.

Neste ano de 2012 a Delta foi a responsável pelo serviço de limpeza em Anápolis até o mês de julho. Nos sete meses em que trabalhou na execução desse serviço, a Delta recebeu R$ 3.400 mi. A partir de agosto o serviço foi entregue ao Consórcio GC Ambiental, que ficou em 2º lugar na licitação em que a Delta Construções foi a vencedora.

A partir dessa nova realidade na execução do serviço de limpeza da cidade, ficou comprovado que os preços praticados pela Delta e pagos rigorosamente em dia pela prefeitura, estavam muito acima dos de mercado.

Hoje a tomar por base os meses de agosto e setembro, executados pelo Consórcio GC Ambiental, a diferença é astronômica. Nas quatro medições oficiais apresentadas pela GC Ambiental, feitas em agosto, constantes do “Portal de Transparência da Prefeitura de Anápolis”, foram gastos R$ 1.7l0.025,15. Em setembro, ainda de acordo com informações oficiais constantes do Portal de Transparência da Prefeitura de Anápolis, as quatro medições custaram aos cofres do Tesouro Municipal, R$ 2.433.461.59. A soma do gasto com a limpeza pública do Município, nos meses de agosto e setembro, com o Consórcio GC Ambiental foi de: R$ 4.143.487,54. O gasto mensal com o serviço de limpeza, depois do afastamento da Delta Construções, passou a ser de R$ 2.071.743,77.

Só em 2012, a prefeitura municipal pagou à Delta Construções, mês a mês , R$  l.328 mil a mais que o pago mensalmente ao Consócio GC Ambiental. O pago à mais nos meses de janeiro a julho, à Delta Construções, foi de R$ 9.296 mi.
 O caso está entregue ao Tribunal de Constas dos Municípios que já investiga a denúncia feita pela Abrelpe, associação brasileira que congrega as empresas que prestam serviço de limpeza aos órgãos públicos, de que a Delta vinha, desde 2010, superfaturando o serviço prestado à Prefeitura de Anápolis.

Decidimos deixar o PMDB


Episódio importante da política goiana, mas pouco conhecido do grande público, aconteceu em 1980, quando da organização do diretório regional do MDB, já com vistas à eleição direta ao Governo Estadual, em 1982. O grupo Santillo, o mais atuante do MDB estadual, foi inexpressivamente representado na chapa elaborada pela Comissão Executiva que comandava o Partido. Ao sermos procurados para apoiarmos o diretório sugerido, dissemos ao deputado João Divino Dorneles, secretário geral, que não concordávamos com a desproporção entre iristas e santilistas na sua composição. Dos santilistas, praticamente, estavam listados os detentores de mandato. Estes, sempre figuraram, obrigatoriamente, em qualquer diretório que se formasse. As lideranças, sem mandato, eram quase todas ligadas a Íris. Como a escolha dos candidatos, principalmente ao Governo e ao Senado, dar-se-ia pela convenção partidária que obedeceria ao comando do diretório regional, ficou claro que uma disputa entre Íris Rezende e Henrique Santillo seria totalmente desigual. Exigíamos aproveitamento de inúmeros companheiros da capital e do interior que ficaram de fora.

De nada valeram nossas argumentações e protestos. Argumentavam que Íris Rezende Machado, uma das vitimas da prepotência da ditadura, por ter sido grande símbolo das injustiças cometidas pelos ditadores militares contra lideranças políticas goianas, deveria ser candidato do partido em 82, em resposta às truculências que praticaram. Mesmo porque, argumentavam que Henrique Santillo, como senador, tinha mandato até 1986. Como não havia o instrumento da reeleição para Governador, afirmavam que Henrique Santillo seria o candidato à sucessão de Íris. Não nos convenceram. Um racha de grande proporção foi desenhado dentro das hostes emedebistas. Concordávamos, tranquilamente, que os dois, Íris Rezende e Henrique Santillo se mantivessem pré-candidatos e trabalhassem junto aos companheiros, para que a escolha ocorresse na convenção. Só não aceitávamos integrar um diretório parcialmente formado para beneficiar a candidatura de Íris.

Fizemos uma reunião com companheiros de Anápolis, Goiânia e de todo o interior. Conversamos com Joaquim Roriz; Walter Rodrigues; Joceli Machado; Línio de Paiva; Onofre Quinan; Zequinha Roriz; vereadores; líderes estudantis; intelectuais; professores, líderes sindicais e decidimos que, ou se democratizasse a formação do diretório regional do PMDB, ou deixaríamos o partido.

Leonel Brizola nos convidou para o PTB. Até aquele momento ainda não havia acontecido a disputa entre Alzira Vargas e Brizola, pelo comando nacional do PTB, cujo desfecho foi favorável a Alzira. O comando do PTB pertencia a Brizola. Ficou certo com Brizola, caso decidíssemos pela sigla do partido trabalhista, essa nos seria entregue e ele viria a Goiás para seu lançamento oficial. Fizemos imediatamente a consulta aos componentes do grupo santilista e aqueles que nos acompanhariam à nova proposta partidária. A proposta foi aceita. A Exceção veio do grupo de Luziânia, comandado pelo deputado Joaquim Roriz e pelo prefeito Walter Rodrigues. Diziam que ingressar no PTB, dirigido por Brizola, tornaria o trabalho difícil, pelos antecedentes de Brizola como incentivador do “grupo dos onze”, no governo de João Goulart. Segundo os companheiros do Entorno, o partido chefiado por Brizola causava arrepios aos líderes rurais. Não era tido como boa companhia. Enfraqueceria o grupo junto ao setor mais importante do eleitorado de Luziânia, o proprietário rural.

Walter Rodrigues, prefeito do município e porta-voz dos lideres do grupo em Luziânia e toda a região do Entorno de Brasília, sugeriu que fossemos em bloco para outro partido, menos para o PTB. Ouvi as explicações... (continua)

Com o voto popular e sem comando partidário

A vitória do MDB na eleição para o Senado, em Goiás, com a dupla Henrique Santillo e Juarez Bernardes, motivou toda a base do Partido. Sua chegada ao poder estava mais do que desenhada. De todas as regiões chegavam ao conhecimento do senador adesões e mais adesões ao MDB. Montou-se um competente esquema de comunicação com as lideranças municipais. Jornalistas arregimentados por ele e centenas de colaboradores implantaram o mais completo informativo político impresso até então em circulação no Estado. “Tempo de Luta” não divulgava, apenas, seu trabalho no Senado, mas análises sobre economia e política, com os mais renomados economistas e cientistas políticos do Brasil. Foi, durante muito tempo, o maior instrumento de politização aos emedebistas goianos. Criados diretórios do MDB em praticamente todos os municípios. Momento contagiante da política em Goiás. Companheiros entusiasmados e disposto a prosseguirem a luta. A vitória de Henrique Santillo ao Senado revigorou essas lideranças e as novas que surgiram, se preparando para a eleição direta para o Governo Estadual que, sem nenhuma dúvida, aconteceria no pleito seguinte. O ano de 1982 passou a ser esperado como o ano da grande alavancada rumo à redemocratização do País. A eleição direta para os governos estaduais seria o complemento da derrocada arenista, iniciado com vitórias marcantes do MDB, como a ocorrida em Goiás, no pleito de 1978.

Mesmo com sua força política inigualável, maior liderança política do Estado, Henrique Santillo não possuía a malícia de políticos profissionais. Nunca se interessou em controlar a máquina partidária. Vencia convenções e eleições sem precisar, ou utilizar-se da estrutura partidária. Na eleição de 78, poucas foram as lideranças que comandavam o partido em Goiás que ficaram ao seu lado. Até Íris Rezende Machado, ainda com seus direitos políticos suspensos, em Goiânia e regiões onde possuía propriedades rurais, trabalhou incansavelmente em favor de Juarez Bernardes.

Mesmo assim, sem usar da força política alcançada através das urnas, apoiávamos, na reorganização do diretório regional do MDB, os indicados pelos companheiros que comandavam o Partido. Sem vaidade e necessidade de mostrar força, comandando o partido, figurávamos como membros e parlamentares mesmo fora da executiva. Por acreditarmos na força individual, na democracia interna, nunca nos utilizando da estrutura partidária, fazíamos confiando na meritocracia. Combatíamos a ditadura com o maior vigor possível. Erramos estrategicamente, ao não impormos nossa força no comando partidário. Isso ficou claro dois anos depois, em 1980.

Com a anistia aos atingidos pelo regime de exceção, todos os que haviam sido punidos com a cassação de seus mandatos e suspensão dos direitos políticos, readquiriram o direito de participarem da política e disputarem eleições. Em Goiás, dentre os beneficiados encontravam-se Mauro Borges e Íris Rezende Machado. Foram recebidos com muita festa. Nós, que combatíamos a ditadura, estávamos eufóricos com mais essas vitória obtida. Era a justiça que começava a ser feita.

Na organização do diretório regional que comandaria a convenção para as eleições de 1982 pelo voto direto, a chapa foi montada pelo comando partidário, com predominância de simpatizantes à candidatura de Íris Rezende, ao Governo. Naquele momento já se sabia que Henrique Santillo, indiscutivelmente, a maior força política goiana, era pré-candidato natural ao cargo.

Íris Rezende, que retornava ao cenário político, da mesma forma, mostrou seu interesse em ser candidato. Duas grandes forças da política goiana. Coisa natural num regime democrático. O que perdesse a convenção apoiaria o vencedor... (continua)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O PAC está empacado


O município de Anápolis tem sofrido muito com o não andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, do governo federal, no ritmo normal programado. Tem trazido inúmeros transtornos à população. Transformando em exemplo péssimo de referência, as ações administrativas de responsabilidade federal.

O já famoso trevo do Daia, na BR-060, entrada para o Distrito Agroindustrial, licitado pelo Denit, em 2010, deveria, de conformidade com o organograma, estar concluído no início de 2011. Depois de realizada a licitação, o Ministério Público Federal descobriu que as firmas que participaram da concorrência pública haviam acertado os preços, numa de cartel, em que a quase totalidade dos itens constantes do edital foram de idênticos valores até nos centavos. Mais de 200 itens. Apenas num a vencedora apresentou valor menor que as demais concorrentes, saindo por isso vencedora. Ao analisar os preços apresentados pela empresa ganhadora da licitação, com auxílio da Polícia Federal, o representante do Ministério Público, que investigava a questão, concluiu que, em comparação com os preços normais de mercado, a obra estimada em R$ 40 milhões estava superestimada em mais de R$ 10 milhões. Com isso o Denit em Goiás não a homologou e ajustou os valores para uma nova licitação dentro do seu real valor. Até hoje não foi iniciada a construção, mesmo já decorridos mais de dois anos.


A Ferrovia Norte-Sul, trecho Anápolis-Uruaçu, programada para ser entregue no final de 2010 ou início de 2011, continua emperrada, sem sair do lugar. Até a fotografia em que o presidente Lula, prefeito de Anápolis, deputados estaduais e federais, vereadores e o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, aparecem no comando de uma locomotiva, anunciando a chegada da ferrovia a Anápolis, hoje só é vista nos álbuns oficiais da prefeitura e da Valec. Fala-se que a CGU estaria concluindo levantamento dos gastos com o serviço já feito, tendo descoberto inúmeras irregularidades que vão de preços a serviços que precisam ser refeitos. O mais certo é que nem 2013 a Ferrovia Norte-Sul esteja concluída.

O Parque Ambiental Horizontal, anunciado que seria construído com recursos repassados pela Valec à prefeitura de Anápolis, que cobriria desde o Central Parque Onofre Quinan, entre a Vila Nossa Senhora da Abadia e Nações Unidas indo até o Polo Centro, próximo ao trevo do Daia, com a descoberta do envolvimento da Delta Construções no esquema de exploração de jogos eletrônicos ilegais em Goiás, o serviço nem sequer foi iniciado. Ficou apenas na festa de lançamento. A Delta Construções, que faria o serviço, ficou cambaleando após a Operação Monte Carlo, perdendo toda a sua força nos esquemas oficiais no Estado.

Trincheira e passarela em construção na BR-153, ligando os bairros Parque dos Pirineus e Jardim Progresso, que deveriam, de acordo com cronograma do PAC, ser entregues no início de 2011, estão totalmente paralisadas. Só 50% dos serviços foram realizados. A empresa responsável pela construção da trincheira, galerias de águas pluviais e iluminação, teria realizado 60% do contrato que possui com o Denit. A responsável pela construção da capa asfáltica teria entrado em recuperação judicial. Por isso, se afastou da obra, onde deixou 40% dos serviços prontos. Enquanto se aguarda a recuperação da que faria o asfaltamento, a outra trabalha em obra estadual, construindo o futuro aeroporto de cargas em Anápolis. Diante disso, o Denit não realizou nova concorrência e não sabe informar quando o serviço na BR-153, ligando dois importantíssimos setores habitacionais do município, será reiniciado. Nestes últimos meses pelo menos 10 acidentes fatais, atropelando principalmente crianças, foram registrados pela polícia naquele trecho.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Líder se consolida com o casuísmo político


Estamos registrando, para historiadores do futuro, acontecimentos políticos verificados durante a ditadura militar de 1964, e que não foram registrados, pela severa e implacável censura à imprensa existente à época. Tempo em que o idealismo e a coragem realçaram o trabalho de um grupo de jovens, que a partir de Anápolis, montou a maior trincheira da “resistência democrática”, em Goiás. Políticos novos, sem os vícios da corrupção, originados, na maioria das vezes, pelo exercício do poder, que tinham como único objetivo, derrubar o regime ditatorial implantado no País a partir do golpe de março de 1964. Grupo que dia a dia sentia as violências da ditadura contra seus integrantes. Gente humilde e idealista sendo presa, torturada, processada e, até, cassado por defender as liberdades democráticas. Perseguições que aconteciam por que não se dobravam aos desmandos autoritários e arbitrários. Por mais que fossem perseguidos, não abriam mão do ideal democrático. Grupo que honrou as tradições de luta da gente Anapolina.

A eleição de Henrique Santillo para o Senado foi o divisor de águas na política goiana. O episódio, por acontecer no momento da maior crise política enfrentada pelos detentores do poder, não foi, até agora, melhor analisado por cientistas políticos. Henrique Santillo, ao contrário do acontecido em 1974, quando Lázaro Barboza se elegeu senador num verdadeiro golpe de sorte, venceu o pleito de forma consciente. Para isso, ele e Juarez Bernardes enfrentaram os maiores casuísmos utilizado pela ditadura.

Em 1974 com o horário político pelo rádio e televisão sendo usado ao vivo, Lázaro Barbosa, arregimentou dia a dia, milhares de simpatizantes. Nós, candidatos a deputado estadual ou federal, reforçamos sua candidatura de forma intensa. O transformamos de candidato simbólico, de início da campanha, no grande vitorioso. Essa liberdade de manifestação pelo rádio e televisão, fortaleceu a todas as candidaturas ao Senado pelo MDB. Até mesmo, só para marcarem posição, não deixarem o partido sem uma candidatura ao Senado, o MDB cresceu assustadoramente durante a campanha eleitoral, elegendo candidatos que jamais pensaram em vencer uma eleição. Em 1974 foram 16 senadores eleitos pelo MDB.

Em 1978 foi diferente. Das duas vagas ao senado que seriam preenchidas, uma foi transformada em biônica. Apenas uma foi preenchida com o voto do povo. No caso goiano, o MDB que preparara Henrique Santillo e Juarez Bernardes, as duas maiores lideranças das oposições no Estado para a disputa em sublegenda ao governo, com o “pacote de abril” eliminando a eleição direta para governador, viram o sonho de chegar ao Governo ser, mais uma vez, adiado por casuísmos de última hora. Henrique e Juarez, as maiores lideranças do MDB, disputaram a vaga para o Senado. A Arena lançou representantes de todas as suas correntes: Senador Osíres Teixeira, deputado federal Jarmund Nasser e ex-prefeito de Anápolis, Jonas Duarte.

A vitória do MDB nessa eleição de 1978, com todos os casuísmos utilizados pela ditadura, transformou o partido na maior força política em Goiás. Vencer a eleição usando, apenas, o currículo na televisão e rádio foi violento retrocesso. Por pragmatismo e oportunismo político centenas de lideranças deixaram o MDB para se aglutinarem à Arena. O “pacote de abril” acabara com eleição direta para os governos estaduais. Faltava dinheiro para a campanha. Só com muita garra, idealismo e convicção na resposta popular, para enfrentar esses obstáculos. Henrique foi mais votado que Juarez. Focou claro que a oposição em Goiás era mais forte que a Arena, e Henrique Santillo, sua maior liderança. Estava confirmado que qualquer eleição majoritária que acontecesse em Goiás, o MDB sairia vencedor e o senador por Anápolis, seu candidato natural...

Adhemar Santillo foi fundador do MDB; deputado estadual; três vezes federal; duas vezes prefeito de Anápolis e secretário estadual da Educação. E-mail: adhemar@santillo.com

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Consolidando candidatura e conquistando Goiás


Anápolis teve papel relevante na derrubada da ditadura de 1964. A vergonha que alguns políticos nos passam no momento manchando o nome honrado do seu povo, deverá ser superada rapidamente. Anápolis é maior que qualquer crise, por mais desmoralizante que seja. Já vivemos momentos melhores.

Voltemos à história que honrou as tradições anapolinas: decidido que o advogado Hélio Roriz seria candidato à suplência de Henrique Santillo a uma das sublegendas do MDB ao Senado, os companheiros do Entorno de Brasília, comandados pelos emedebistas de Luziânia, se agregaram à candidatura santilista e a defenderam com garra e determinação.

O acordo que fizemos com Joaquim Domingos Roriz e o diretório do MDB local, para que houvesse tratamento em igualdade de condições aos candidatos do partido ao Senado, sensibilizou a população de toda região. Henrique Santillo se transformou imediatamente no maior líder político do Estado. Hélio Roriz, conceituado advogado, membro influente do MDB local, trabalhou incansavelmente em toda região.

Por outro lado, eu que abrira caminho para a consolidação da candidatura de Joaquim Roriz a deputado estadual, em várias regiões do Estado, mesmo sem pleitear apoio à minha candidatura a deputado federal na região, por interferência de Roriz fui escolhido pelos companheiros de Luziânia e região do Entorno que apoiavam Joaquim Roriz, como candidato oficial do MDB.

Consolidada a região do entorno de Brasília partimos para fortalecer a candidatura de Henrique Santillo nas regiões da Estrada de Ferro, Vale do São Patrício e Médio Norte Goiano, de Uruaçu a Porangatu. Nosso prestigio nessa região era imenso. Nosso maior esforço se concentrou no Médio Norte. Por termos participado da organização do MDB em Uruaçu; Campinorte; Campinaçu; Mara Rosa; Mutunópolis; Estrela do Norte; Santa Tereza, Formoso e Minaçu, gozávamos de enorme prestígio e popularidade em toda a região. Nosso principal aliado nesse trabalho era o deputado estadual Juarez Magalhães.

Em Mara Rosa a maior liderança emedebista era José Maurício. Fundador da cidade e do distrito de Maralina, hoje município. Embora mais ligado a Juarez Bernardes do que a Henrique Santillo, terminou optando pela candidatura Santillo atendendo à nossa solicitação. No dia da convenção para a escolha dos candidatos que representariam Mara Rosa, nas eleições de 1978, José Maurício me relatou que o MDB de Mara Rosa apoiaria Juarez Magalhães para deputado estadual, Adhemar Santillo para a Câmara Federal e Juarez Bernardes para o Senado.

Advoguei apoio a Henrique Santillo. Disse-me que a família Santillo estava representada em Mara Rosa, pelo apoio que o município daria à minha candidatura a deputado federal. Argumentei que preferiria, se a questão era apoiar apenas um Santillo, mesmo com toda ligação que tinha com o povo daquele município, que apoiassem a Henrique Santillo ao Senado e colocassem outro deputado federal para me substituir. Com essa minha ação, o diretório decidiu apoiar Juarez Magalhães, Adhemar Santillo e Henrique Santillo.

Assim, com nosso trabalho em toda a região, as principais lideranças emedebistas, declararam apoio a nós três. A exceção ficou por conta de Formoso onde o prefeito Nelinho e todo diretório do MDB ficaram com Juarez Bernardes, José Freire e o candidato a deputado estadual Epitácio. Ao nosso lado em Formoso, ficou a vereadora Nilda Mota Lucindo, à época, a maior liderança feminina do Médio Norte. (Continua...)

Nascer, crescer e morrer!


As leis naturais mantêm seus enunciados, seus componentes imutáveis, mesmo com o decorrer do tempo. Assim, quando analisamos os fenômenos ocorridos na evolução natural das coisas, constatamos que o normal é nascimento, crescimento, reprodução e morte de todas as coisas. São ciclos normais na vida de animais, plantas e ocorrências de fenômenos e atividades humanas.  Doenças que no passado exterminaram milhares de pessoas, como hanseníase, peste bubônica, tuberculose, estão hoje sob controle absoluto. No plantio de alimentos, caso não haja cuidado por parte do agricultor, o mato, erva daninha e pragas impedem nascimento, crescimento e produção normal do seu roçado. Carros, navios e aviões estão cada vez mais sofisticados, confortáveis e rápidos a serviço do aperfeiçoamento da ambição ou necessidade humanas. Pode-se dizer que nessa caminhada da humanidade a evolução é um fator natural e permanentemente perseguido por alguns e acompanhados pelo povo.

Assim também tem ocorrido com  nossas obrigações tributárias. Na época do Império, Tiradentes foi enforcado porque, dentre outras coisas, não concordava com os impostos cobrados pelo Rei de Portugal. As colônias, como o Brasil, eram obrigadas a pagar à realeza o equivalente a 20% do que produziam. Hoje, a cobrança de impostos aumentou, quase dobrou. Naquele tempo, os 20% levaram os inconfidentes mineiros às mais severas punições. Hoje esses encargos tributários aos que produzem e trabalham no Brasil estão em mais de 34% da sua renda. Evolução também tem sido muito rápida e avassaladora na moral e ética, principalmente dos que militam na atividade política.

Quando cheguei à Câmara Federal, em 1975, conheci Cantídio Sampaio (Arena-SP), que fora líder na Assembleia Legislativa Paulista, do governador Adhemar de Barros (PP). Era vice-líder da Arena e eu vice-líder do MDB.  Num dos intervalos de uma sessão plenária, nos contou um fato interessante ocorrido na administração adhemarista:

“Naquela época, a televisão não possuía a força de hoje. Praticamente só existia no eixo Rio-São Paulo. O forte, para comunicação de massa, era o rádio. Para  renovar sua frota de veículos do Estado, o governador paulista conduziu as cláusulas do Edital de Concorrência para a General Motors. Os comentários foram intensos. Só se falava na negociata patrocinada por Adhemar de Barros, favorecendo a Chevrolet.”

De acordo com a sua narrativa, “Adhemar não queria contato com a imprensa. Principalmente com um repórter da Rádio Record, que, ‘furão’ e destemido,  fazia as perguntas mais indiscretas aos entrevistados. Mas numa noite, festa de gala da sociedade paulistana, o governador foi à inauguração de um teatro, onde seria homenageado pelos artistas. Ao chegar ao recinto, depois dos cumprimentos formais, foi lhe dada a palavra para o discurso de inauguração. Quando Adhemar de Barros terminou os cumprimentos aos organizadores do evento e autoridades presentes, o repórter Marronzinho, microfone em punho, misturou-se aos convidados e de supetão:

– Governador, para o senhor, o que quer dizer negociata?

Sem nenhum constrangimento, Adhemar de Barros respondeu:

– Para mim, negociata e todo bom negócio, do qual a gente não participa !”

O pensamento e comportamento de muitos políticos hoje são os mesmos adotados pelo ex-governador de São Paulo, mas que a modalidade e tamanho da corrupção aumentaram não há dúvida. Para colocar a ética na política e conduta dos desonestos no rumo certo, surgem o ministro relator do Mensalão no STF, Joaquim Barbosa, e a maioria dos integrantes do Supremo. Como os cientistas e médicos que, depois de milhares de mortes por pestes e males tidos como incuráveis, conseguiram o milagre da cura, os ministros prometem pôr um freio, acabar mesmo, com esse cupim que não para de crescer e corrói as bases que dão sustentação à República. Felizmente não há mal que cresça e perdure indefinidamente. Para todos os males, mais cedo ou mais tarde, sempre aparece um remédio apropriado!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os empresários e a política


As empresas funcionam como componentes de um sistema que é gerido pelo poder político. Assim, quanto menor o interesse dos empresários pela atuação dos políticos, mais distorções estes podem impor ao sistema, levando à deterioração do ambiente econômico, como ocorreu no Brasil dos anos sessenta e oitenta. Em nossos dias, o final melancólico do governo Berlusconi e o agravamento da crise em outros países europeus devido a má gestão da economia levaram um jornalista italiano a dizer que “os estadistas construíram a União Européia, os políticos a estão destruindo”.

As consequências das crises de ontem e de hoje são nefastas: prejuízos incalculáveis para as empresas e grande sofrimento entre os trabalhadores, que amargam a perda do emprego ou têm os salários reduzidos. Assim, ainda que os empresários não participem como candidatos, sua presença na política é indispensável porque deles são as iniciativas que criam a riqueza, gerando empregos e pagando impostos. A omissão dos homens de negócios nas disputas eleitorais e nos debates que precedem as decisões do poder público favorece a ascensão dos demagogos e aventureiros que prometem o irrealizável, insinuam confrontos quixotescos e desperdiçam o dinheiro dos contribuintes com medidas ineficazes e obras intermináveis, mantendo colaboradores ineficientes e corruptos.

Empresários e políticos devem interagir para resolver os problemas da economia e promover o desenvolvimento da educação, da pesquisa científica, das inovações tecnológicas, induzindo a modernização das cidades, potencializando as ações dos governos estaduais e a transformação do país. As empresas não são intrinsecamente más como acreditam os ideólogos do igualitarismo ingênuo. A propriedade privada dos meios de produção constitui um meio de outorgar autonomia aos indivíduos dotados de espírito empreendedor e capacidade de liderança para gerir as atividades produtivas, agregando renda e incrementando o consumo com a redução da pobreza e melhora das condições de vida de toda a população.

O empresário moderno não é um simples explorador da força de trabalho. Ele é visionário, estrategista e inovador. O lucro e a expansão de suas atividades energizam o sistema econômico, o qual tem por finalidade atender os indivíduos de todas as classes sociais segundo a capacidade de interagir das pessoas e o nível de desenvolvimento das comunidades. Por isso, Henrique Santillo, então prefeito de Anápolis, ao perceber os sinais de esgotamento do primeiro ciclo industrial da cidade, proclamou de utilidade pública a área onde se instalaria o distrito agro-industrial. E Marconi Perillo, no limiar do seu primeiro governo, constatando a estagnação do DAIA, empenhou-se com seus auxiliares na atração de novas empresas para manter o desenvolvimento do município de conformidade com sua vocação.

A corrupção não é, portanto, inerente aos negócios e ao exercício do poder público, mas desvio ocasional, acentuado pelas circunstâncias e suscitado pela disposição da ilicitude e as imperfeições do arcabouço institucional. Do exame dos fatos deve-se inferir que o pessimismo ocasionado pelo mau comportamento de alguns empresários e políticos não se justifica em face da necessidade de convergência do esforço dos homens públicos e do poder realizador da iniciativa privada para promover o desenvolvimento com a multiplicação das oportunidades de satisfação das necessidades humanas no âmbito da vida material, afetiva e comunitária.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Entre a saúde pública e o planetário


Há um velho provérbio que diz que “uma boa imagem vale mais que mil palavras”. Até hoje não surgiu algum outro método de avaliação dos acontecimentos que pudesse superar essa verdade. Ela tem sido tão resistente às transformações sociais e tecnológicas quanto a aritmética, ciência exata ao garantir que 2 + 2 = 4. No passado, hoje e no futuro, sempre 2+2 serão 4. Vamos a exemplos práticos das imagens que falam mais que longos discursos.

Quando Iris Rezende Machado chegou ao governo em 1983, para a Secretaria da Fazenda indicou Osmar Cabral. Preocupado com a evasão de Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM), agiu com rigor, principalmente nos postos de fiscalização das estradas, fazendo uma verdadeira operação “pente-fino”. O mesmo tratamento dispensou aos comerciantes. Logo a fama correu que o governo Iris (PMDB) não perdoava ninguém. A oposição gritava, os contribuintes atingidos reclamavam pelo rádio e televisão. Era uma chiadeira danada! Foi aí que um cartunista produziu charge descrevendo a questão, de forma bem-humorada. Numa encruzilhada qualquer de Goiânia, umbandistas foram fazer despacho. Quando sacrificaram a galinha preta e abriram a garrafa de pinga (aguardente), surgiu o fiscal da Receita estadual com o famoso bloquinho e aplicou a multa pela ausência de notas fiscais para a galinha e a cachaça. A repercussão foi imediata e pelo Estado todo.

Outro fato marcante dentro desse tema ocorreu por ocasião das eleições gerais de 1998. O PMDB reinava em Goiás de maneira soberana, total mesmo. As oposições  se aglutinaram em torno da candidatura do deputado Roberto Balestra. Sua candidatura não alavancava, enquanto a de Iris Rezende crescia sem parar. Balestra refluiu do seu projeto de disputar a governadoria, disputando mais uma vez cadeira para a Câmara Federal. Quase que para o sacrifício, em sua substituição, surgiu o nome do deputado Marconi Perillo. Enquanto isso, ciente da sua força esmagadora e confiando numa vitória arrasadora, Iris lançou sua esposa, Iris de Araújo, para ser suplente de Maguito. Foi buscar em Jataí, terra de Maguito, o deputado Romilton Morais, primo do candidato ao Senado, para ser seu companheiro de chapa como candidato a vice-governador. A oposição escreveu artigos para jornais e revistas, concedeu constantes entrevistas, realizou comícios por todo o Estado, criticando a “panelinha peemedebista”. Quanto mais batia, mais Iris c
rescia. Iniciado o programa eleitoral pelo rádio e televisão, a equipe de  marketing de Marconi contratou o humorista Nerso da Capitinga, que se transformou na grande estrela do “moço da camisa azul.” Com aquele jeitão simplório, colocando pé de frango, costela de porco, pescoço de pato dentro da caçarola roceira, e falando da panelinha, Iris e o PMDB não resistiram.

Na campanha de Anápolis, a grande queixa da população com a atual administração tem sido as falhas existentes no setor de saúde pública. Todos os candidatos adversários do prefeito usam os horários dos programas de rádio e televisão para comentarem a crise por que passa a saúde pública municipal. Não tem alcançado nenhum resultado positivo. Continuam lá embaixo nas pesquisas de intenção de votos. Gritam contra a política de construção e reformas de praças, com chafariz esguichando água para cima dia e noite. Não tem adiantado. É pregação no deserto! Essa semana o deputado José de Lima, um dos candidatos adversários do prefeito, visitando o Hospital Municipal, encontrou por lá ambiente de caos total. Uma mãe desesperada, filho de dois anos ao colo, febre altíssima, tossindo muito, já não tinha fôlego nem para chorar. Transtornada, gritava por atendimento. Nada de ser atendida. A chegada do deputado foi saudada com euforia por todos. A mãe logo gritou do meio da multidão

– Deputado, o que o senhor vai fazer?

– Vou fazer muitas praças. Vou construir uma grande praça que vai esguichar água até na lua...

A frase dita pelo deputado José de Lima, integrante da base aliada do governador Marconi Perillo, pode não lhe render votos, mas já é a mais comentada em Anápolis.

O deputado ainda não sabia que esguicho não, mas está sendo instalado um Planetário na Praça Jamel Cecílio, na divisa dos bairros JK-Nova Capital, para que a população possa ver a lua, planetas, estrelas e asteroides, com mais detalhes que a observação a olho nu.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Genética no poder


A presença de parentes em disputas políticas é elemento de estudo de sociólogos e cientistas políticos, pelo significado de busca pela hegemonia no poder e de exemplo pela proximidade nos círculos familiares. Em Goiás são pródigos os exemplos de parentes que se sucedem nos cargos políticos e até se confrontam em disputas.

A premissa para disputar cargos eletivos é prevista na legislação como sendo brasileiro, maior de 18 anos e estar em pleno gozo de seus direitos civis e políticos. Entretanto, para alguns militantes da política, o parentesco é fundamento essencial para lograr êxito na atividade, quer administrativa ou legislativa.

O mais comum é alguém com pretensões políticas ingressar na vida pública primeiro e despertar o interesse de parentes depois. Diante da perspectiva de exercer um cargo de relevância e ter o poder ao alcance das mãos os demais parentes lançam seus nomes à consulta popular através do voto.

Dessa forma os casos de familiares na política são bem representativos e repetitivos. Os irmãos Santillo: Henrique, Adhemar e Romualdo estiveram na ribalta política dos anos 1970 e 1980 e somente o segundo ainda tem alguma presença. Henrique, o mais velho, foi um dos mais atuantes congressistas da oposição ao regime militar. Foi senador, governador de Goiás, ministro e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Faleceu após um derrame fulminante e deixou uma legião de admiradores. Adhemar foi deputado federal, secretário de estado e prefeito de Anápolis. Onaide Santillo, esposa de Adhemar também foi deputada estadual. Romualdo, o irmão caçula foi deputado estadual, atuante e respeitado, porém sem o mesmo brilho dos irmãos mais velhos.

Ainda no exercício do poder há uma família inteira na política de Goiás. O líder é o conselheiro do TCE, Sebastião Tejota, que foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa. Sua esposa, Betinha, também foi deputada estadual. Ela não disputou novo mandato em 2010 e a família lançou o filho, Lincoln Tejota para o Legislativo. O irmão de Betinha, Alfredo Bambu é vereador em Goiânia e com aspirações maiores para manter o nome da família na política.

          Carreira em casa

Outra família anapolina se destaca atualmente na política goiana. Os irmãos Antônio Roberto Gomide e Rubens Otoni Gomide militam juntos no PT e gozam de prestígio na política regional. Antônio foi vereador na cidade e atualmente é o prefeito de Anápolis, bem avaliado e com chances reais de ganhar a reeleição já no primeiro turno com grande votação. Sua administração é elogiada até por adversários e premiada por políticas públicas de sucesso. Rubens foi deputado estadual e é deputado federal pelo terceiro mandato.

O casal Iris Rezende e Iris de Araújo estão na vida conjugal há quase meio século e na vida pública quase isto também. Iris, o marido, foi praticamente tudo em política: vereador, prefeito de Goiânia, governador por dois mandatos, ministro e senador por Goiás. É um ícone que curiosamente não repassou para filhos ou irmãos a paixão pela política. Iris a esposa foi senadora e é deputada federal pelo segundo mandato. Sua desenvoltura mostrou ter brilho próprio e não ser mera coadjuvante do marido.

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, legou ao filho, Daniel Vilela a paixão pela política. Maguito foi deputado estadual, federal, senador e está à frente de Aparecida disputando a reeleição. Daniel foi vereador e é deputado estadual pelo mesmo partido do pai, o PMDB. A família Vilela tem outros dois expoentes na Câmara Federal: Leandro e Leonardo, que não são cantores. O curioso é que Leandro é do PMDB, enquanto que o primo Leonardo é destaque do arquirrival PSDB, tendo até presidido o partido em Goiás.

Pai e filho também estão no PTB. Jovair Arantes e Henrique Arantes seguem o mesmo padrão de familiaridade na disputa por votos. Jovair foi vereador, deputado estadual, é deputado federal e disputa a Prefeitura de Goiânia. Henrique seguiu os passos do pai até nos cargos: foi vereador e é deputado estadual licenciado para auxiliar no Executivo.

Há outros casos de familiares que se digladiam na política. Em Catalão a família é uma só: Faiad. Mas os primos Jardel Sebba e Adib Elias são igual cão com gato. Se encontrar um com o outro sai faísca e alguns imprompérios. Ambos disputam a prefeitura da cidade com uma gana que beira a arena de gladiadores. A esposa de Adib, Adriete Elias é deputada estadual pela segunda vez e auxilia o marido na campanha de Catalão.

          Panelinha

O publicitário e diretor do instituto de pesquisas Grupon, Mario Rodrigues Filho explica que a facilidade de entrar na política depois que outro parente já está na disputa facilita a vida de candidatos, mas pode ser um caminho perigoso.

“Fica sempre a impressão para as pessoas de que o exercício de um mandato é algo rentável e que querem a panelinha só para a família, coisa que a população tende a rejeitar”, frisa.

Mario explica que a facilidade de um se acoplar ao outro pode ser o outro gume da faca que apresenta grande risco de ferir o segundo candidato e que uma certa independência precisa ser mostrada para não permitir comentários mais desabonadores.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Furando o bloqueio do MDB de Luziânia


Estamos contando um pouco da política em Goiás, especialmente em Anápolis, no período difícil da ditadura de 1964. Escolhidos os candidatos que representariam o MDB nas eleições de 1978, à cadeira que seria disputada junto ao eleitorado goiano, foram realizados os acordos para o fortalecimento das duas candidaturas escolhidas na convenção do Partido. Ambos eram muito conhecidos das lideranças municipais. Por ser representante da região do Entorno de Brasília (nascera em Formosa) Juarez Bernardes era mais conhecido que Henrique Santillo nos municípios próximos a Brasília.

Luziânia, contando com distritos, hoje os municípios de Água Lindas; Santo Antônio do Descoberto; Novo Gama, Cidade Ocidental e Valparaíso, lançaria pela primeira vez um candidato da cidade pelo MDB, a deputado estadual. O escolhido foi o ex-vereador Joaquim Domingos Roriz. Empresário do ramo de material de construção em Brasília, não era do nosso relacionamento pessoal.

A mesma reunião do diretório municipal que lançou Joaquim Roriz a deputado estadual, fechou questão em favor de Juarez Bernardes para o Senado. Os demais diretórios do MDB, em todas as regiões do Estado, tinham suas preferências particulares, mas não fecharam as portas para o outro corrente do Partido. Em Luziânia foi diferente: foi fechado o apoio do diretório emedebista a Juarez Bernardes e as portas fechadas à candidatura de Henrique Santillo na região.

Contávamos, na cidade, com o apoio do saudoso vereador Carlos Melo que, semanalmente, comparecia a Brasília, na Câmara Federal, relatando-me as dificuldades que enfrentava para abrir uma brecha em favor de Henrique na região. Como Joaquim Roriz tinha que buscar apoio à sua candidatura a deputado estadual, Carlos Mello, o Carlinhos, sugeriu que conversássemos com Zequinha, irmão de Roriz, político experiente e que já fora prefeito em Luziânia, para tentarmos um acordo, abrindo espaço em alguns municípios que nos apoiavam, para que apoiassem, também, a Joaquim Roriz. Eu, Carlos Melo e Zequinha, almoçamos na Churrascaria Gaúcha, do Shopping de Brasília. Acertamos que conseguindo apoio de alguns diretórios municipais à candidatura de Joaquim Domingos Roriz, o diretório municipal do MDB de Luziânia, reconheceria Juarez Bernardes e Henrique Santillo como candidatos ao senado, democratizando a ação política no município.

Não solicitei apoio à minha candidatura a deputado federal. Nem pedi ao diretório de Luziânia que apoiasse só Henrique Santillo. Meu pedido foi no sentido de que não fechassem as portas da região a Henrique Santillo. Aceitaram o acordo. Mesmo assim, acordando que Henrique Santillo fosse aceito, democraticamente, pelo partido na região, faziam questão de ressaltar que tinham preferência por Juarez Bernardes. Imediatamente após o acordo procurei os companheiros de Alexânia, Corumbá de Goiás, Leopoldo de Bulhões, Vianópolis, Orizona, Pires do Rio, Goiatuba e Itapaci, cujos diretórios do MDB ficaram com a candidatura Roriz, a deputado estadual.

Em Goiânia montamos um esquema com líderes comunitários, lideranças universitárias e alguns comerciantes. Joaquim Roriz contava só comigo para o sua campanha política em todo o Estado. Depois que o trabalho se consolidou, fomos (Henrique e eu), a Luziânia. Pessoal satisfeito com a forma que trabalhei a candidatura de Joaquim Roriz, nos recebeu em festa. No mesmo encontro, o advogado Hélio Roriz, que se candidatara a deputado estadual no pleito anterior, ficando nas primeiras suplências do MDB, foi convidado por Henrique para ser seu suplente. Aceitou o convite... (Continua)

Atendimento de saúde acaba na Delegacia de Polícia!


Em Anápolis, a saúde pública é municipalizada. Exceção do Hospital de Urgências Henrique Santillo, administrado pela mesma entidade que administra a Santa Casa de Misericórdia, mantido com recursos repassados mensalmente pelo Tesouro Estadual, todos os demais hospitais públicos, filantrópicos e particulares que atendem pelo Sistema Único de Saúde –SUS fazem parte de organograma dirigido pela Secretaria Municipal de Saúde. Os recursos financeiros do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e os 15% da arrecadação municipal aplicados em saúde, ficam à disposição da Secretaria Municipal de Saúde. Somam neste ano, mais de 13 milhões de reais por mês. É muito dinheiro. Não se justificam as constantes reclamações contra o precário atendimento nos postos de saúde, falta de equipamentos e pessoal no Hospital Municipal ou que exames de laboratório estejam sendo marcados só para janeiro ou fevereiro de 2013.

Vários procedimentos médicos deixam de ser executados porque faltam médicos especialistas  ou  ausência total de estrutura física e equipamentos no local de trabalho. Outra coisa que tem causado insatisfação entre os trabalhadores na área de saúde do município é a diferença salarial entre os servidores que têm vínculo com a secretaria e os comissionados nomeados através de acertos políticos. Comissionados geralmente ganham duas ou até três vezes mais que funcionários de carreira. Geralmente não precisam cumprir horário de serviço. Isso tem sido grande foco de conflitos.

O ponto mais triste dessa situação de verdadeiro caos por que passa a área de saúde pública em Anápolis aconteceu na última terça-feira, dia 4 de setembro, quando José Ferreira, pedreiro registrado como trabalhador autônomo, se acidentou e necessitou de atendimento de urgência no Hospital Municipal. Instalando madeiramento numa casa que construía na Igrejinha de São Vicente, próxima ao trevo do Daia, na antiga estrada Anápolis-Goianápolis, acidentou-se com a máquina de cortar madeiras. Decepou o dedo polegar da mão esquerda.

Acondicionou o dedo cortado num pedaço de pano e estancou o derramamento de sangue da mão com sua camisa. Foi conduzido às pressas ao Hospital Municipal. Chegou à recepção às 14 horas e 18 minutos. Contorcendo-se em dores, implorou atendimento. Não foi atendido de imediato. Contudo, a todo instante recebia informação que aguardasse um pouco mais, mas  que seria atendido. Com muita dor, seu desespero acelerou. Indignação ficou maior quando via médicos e enfermeiras entrando e saindo do hospital, sem que lhe dirigissem uma só palavra. Ninguém o atendia. Queria ao menos fazer limpeza no dedo lesionado. Como chegou com o dedo embrulhado num pedaço de pano sujo pela poeira e camisa enrolada na mão acidentada, ficou o tempo todo à espera de atendimento médico. Depois de algumas horas de espera, foi orientado pela recepção que deveria colocar o dedo decepado num saco plástico com gelo. Foi informado pela recepcionista que só assim o reimplante poderia ser feito. Nessa angústia ficou sentado esperando atendimento até as 23 horas. Foram 9 horas e 42 minutos de angústia e expectativa  por atendimento que não chegou. Não foi sequer examinado pela equipe médica de plantão.Nem a camisa suja, contaminada, ensanguentada, que cobria o ferimento, foi substituída por gaze esterilizado. Depois dessa espera longa e cruel, disseram-lhe que o recurso seria procurar atendimento médico em Goiânia.

Às 23 horas saiu com destino a Goiânia. Chegando na Capital, perambulou por três pontos de atendimento de urgência. Em todos os locais em que esteve em busca de socorro não passou da recepção. A resposta que recebeu foi sempre a mesma:

– Você tem sua carteira de saúde de Anápolis! É lá que você deve buscar o atendimento.

O pedreiro José Ferreira voltou a Anápolis indo direto à Santa Casa. Chegou às 5 horas e 45 minutos. Graças à intervenção de um sargento da Base Aérea de Anápolis, que casualmente se encontrava na recepção da Santa Casa, o médico que se encontrava de plantão o atendeu prontamente. Já não havia qualquer possibilidade de reimplante do polegar decepado. Foram feitas limpeza do local lesionado, curativo e atadura. Recebeu ainda a medicação de prevenção a tétano e outros tipos de infecções.

José Ferreira, no exercício do seu direito de cidadão, terminou a manhã da quarta-feira nas dependências da Polícia Civil de Anápolis. Fez representação contra a direção do hospital pela falta de atendimento médico, menosprezo e desrespeito pela forma como foi tratado no Hospital Municipal de Anápolis. Sabe que se tivesse sido atendido logo que chegou ao hospital, poderia ter o dedo reimplantado.

Essa é a triste realidade de quem necessita de atendimento, mesmo de urgência, na saúde pública municipal.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Veta, Gomide!


Pela internet mais de oito mil aderiram ao movimento popular contra o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Goiânia, em que os vereadores aumentavam seus subsídios e salários do prefeito e seu vice, a partir de janeiro do ano que vem. Num momento em que autoridades federais, que cuidam da área econômica, comunicam à nação que não têm como oferecer os reajustes salariais reivindicados pelo funcionalismo público, em consequência da crise econômica que cada vez se aprofunda na Europa e está empacando a economia nos Estados Unidos, conceder 35% de aumento aos vereadores, prefeito e vice-prefeito estava sendo visto como privilégio escandaloso e inadmissível. A campanha para que o prefeito Paulo Garcia vetasse a matéria foi implacável. Tenham os vereadores acertado previamente com o prefeito a aprovação do projeto com aquele percentual, ou não, o certo é que não resistiu à pressão popular e o vetou. A Câmara Municipal, que tem poder para derrubar veto, não se atreveu a assim proceder. Vereadores, prefeito e vice ficarão em 2013 com os vencimentos de hoje.

Papel importante para que o final se desse da forma que se deu,  teve a imprensa do Estado. O jornal Diário da Manhã foi incansável no combate ao exagero cometido pela Câmara Municipal de Goiânia. Advertiu legisladores e prefeitos municipais sobre a crise na economia mundial; desemprego que se aprofunda cada vez mais na Europa; incansável batalha de Barack Obama para tentar equilibrar a economia americana; retração na produção industrial brasileira; efeitos da crise econômica mundial que se acentuam com mais intensidade no Brasil de hoje que na crise de 2008 e tantos outros argumentos sérios e inquestionáveis que não deixaram ao prefeito Paulo Garcia outra alternativa, outro caminho, que não fosse o de vetar o aumento aprovado pela Câmara Municipal.

Povo e imprensa livre caminhando juntos em busca de um mesmo objetivo moralizador e justo foi fundamental na correção do caminho que estava sendo desvirtuado. Não há dúvida que a movimentação dos internautas foi digna de todos os elogios, pela forma incisiva  e ininterrupta que combateu a extravagância legal, feita pela Câmara Municipal, mas não fosse a imprensa que destacou o movimento de indignação e revolta popular, em amplas reportagens e inúmeros editoriais, como fez o Diário da Manhã, o resultado poderia ter sido outro.

O clima serenou em Goiânia com o veto do prefeito ao projeto, mas surgiu agora em Anápolis de forma repentina, abusiva e  inconsequente. Os vereadores aprovaram, na sessão de segunda feira, dia 3 de setembro, os aumentos dos subsídios aos agentes políticos de Anápolis para  2013. Aumentaram os vencimentos do prefeito municipal de Anápolis, seu vice-prefeito, secretários municipais e seus próprios subsídios em 25% sobre os vencimentos atuais.

Os vereadores receberão, a partir de janeiro de 2013, R$ 9.288,03 (nove mil duzentos e oitenta e oito reais e três centavos).

Os mesmos R$ 9.288,03 (nove mil duzentos e oitenta e oito reais e três centavos) receberão os secretários municipais.

O salário mensal do vice-prefeito será de R$ 11.610,00 (onze mil, seiscentos e dez reais).

O salário do prefeito, a partir de janeiro do ano que vem, será de R$ 15.480,07 (quinze mil, quatrocentos e oitenta reais e sete centavos). 25% de aumento para todos de forma geral e irrestrita.

A inovação no projeto aprovado pela Câmara Municipal de Anápolis ficou por conta do seu artigo 8º:

Art. 8 – O valor do subsídio mensal do prefeito, vice-prefeito, secretários municipais, vereadores e presidente da Câmara Municipal poderá ser alterado anualmente, mediante revisão geral, através de lei específica, sempre na mesma data e sem distinção de índices, na forma expressamente prevista no inciso X, do artigo 37 da Constituição Federal.

São mais de 500 candidatos, por mais de 30 partidos, disputando 23 vagas na Câmara Municipal de Anápolis a partir de janeiro de 2013. Tanto os candidatos a vereador quanto os que disputam a prefeitura não se cansam de pregar que não estão em busca de ganho fácil ou de emprego. Garantem  que querem servir à cidade e ao seu povo.

Se querem é servir ao povo, atenda a vontade da gente anapolina:

Veta, Gomide!

Anápolis e sua caminhada histórica


Anápolis está completando 105 da sua Emancipação Política. Sua vida tem sido verdadeira epopéia de enfrentamentos históricos e vitórias consagradoras. A partir da mula que carregava numa das bruacas a imagem de Santana e empacou às margens do Córrego das Antas, quando os tropeiros aqui descansavam, sinalizando que ali nascia uma nova cidade, a luta dos anapolinos tem sido incessante e de infindáveis superações. Instalada em local privilegiado, centro das extremidades Sul e Norte do País, Anápolis é, permanentemente, surpreendida com novos desafios. Desafios fundamentais para Goiás e todo Brasil.

Suporte para que Pedro Ludovico pudesse construir, nos anos 30, Goiânia, a imponente e bela Capital do Estado; foi fato marcante na sua vitoriosa caminhada. Em 1935, ao receber a estrada de ferro, se incluiu no rol das grandes cidades com ligação direta a São Paulo e toda a região desenvolvida do País. Foi fundamental para que Juscelino Kubitscheck construísse Brasília, promovendo, de forma real, a verdadeira integração nacional. A Belém-Brasilia, na verdade São Paulo-Brasília-Belém, substituiu a precária estrada de tropeiros das regiões Sudeste, Centro e Norte por rodovias de união nacional. A Ferrovia Norte-Sul, que marcará uma nova fase do desenvolvimento nacional, por justiça e merecimento, cortará grande parte do município anapolino, numa homenagem à incansável luta da sua gente e sua estratégica localização geográfica.

Além dessas vitórias brilhantes e fundamentais em favor do desenvolvimento e pela unidade nacional, Anápolis abriga em seu seio a Base Aérea dos Mirage, que aqui foi instalada no início dos anos 70, para a defesa do seu espaço aéreo e soberania nacional. Agora, tendo ampliado suas atribuições de defesa aérea para toda a região amazônica brasileira. Em Anápolis se encontra o Porto Seco da região Centro Oeste do País alavancando não só seu progresso, mas o desenvolvimento nacional.

Da mesma forma que foi importante, fundamental, para a integração e consolidação da unidade nacional, Anápolis foi a mais marcante trincheira no combate ao autoritarismo implantado no Brasil a partir do golpe militar de março de 1964. Com suas lideranças populares cassadas, banidas da atividade política, o povo goiano contou com um grupo de anapolinos disposto a resistir. Com a convicção dos grandes estadistas e paciência de pacifistas tipo Gandhi, o grupo liderado pelo médico Henrique Santillo, não só substituiu as lideranças proscritas, como comandou a resistência democrática em todo o Estado de Goiás. Com firmeza, e sem radicalismo, não cedeu a nenhuma pressão.

Pela ação corajosa e persistente dos seus jovens representantes, Anápolis se destacou entre as principais trincheiras da oposição no combate à ditadura. Passou a ser conhecida e respeitada nacionalmente. Todo e qualquer anapolino, onde quer que se encontrasse, era visto e tratado, como democrata autêntico. Anápolis deixou de ser, apenas, uma cidade goiana com registro de fatos históricos marcantes na consolidação administrativa nacional, para se transformar em símbolo de amor à liberdade e à democracia. Esse é um capitulo do qual muito nos orgulhamos. Com uma vida recheada de conquistas administrativas e políticas, só temos que nos orgulhar de fazer parte desse time trabalhador, idealista e destemido. Parabéns gente anapolina pelos 105 anos de Emancipação Política. Obrigado pela sua participação na formação de um Brasil democrático e socialmente mais justo. Você, povo anapolino, é a coisa mais importante aqui existente, pela sua bravura e disposição para a luta. Sem essas qualidades, a Cidade seria insípida e sem vida!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Restou o apelido de ‘senador’


Torna-se necessário, e importante, que ressaltemos aqui, nas páginas do CONTEXTO, como o advogado Vicente de Paula Alencar, nosso grande amigo, companheiro e defensor num dos momentos mais violentos da Ditadura Militar de 1964, deixou escapar a oportunidade de ser eleito deputado estadual, para insistir numa inviável candidatura ao Senado em 1978, enfrentando Henrique Santillo e Juarez Bernardes na Convenção do Movimento Democrático Brasileiro.

O prestígio do grupo autêntico, o grupo santilista, era fantástico em Goiás. Especialmente em Anápolis. Os arenistas pressionavam, usavam toda espécie de casuísmo; cassaram o mandato do prefeito José Batista Júnior; transformaram Anápolis em Área de Segurança Nacional; prenderam e torturaram gente humilde do MDB; usavam e abusavam do poder econômico, fecharam rádios que nos pertenciam, forjavam documentos para nos processar, mas a toda eleição nosso número de votos mais crescia.

Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB, dizia sempre quando vinha a Goiás:

- O MDB de Anápolis é como clara de ovo, quanto mais apanha, mais cresce!

Nesse quadro, ligado, umbilicalmente, ao grupo autêntico santilista desde o surgimento do MDB, estava evidente que a candidatura de qualquer companheiro, por mais valoroso que este fosse, não prosperaria entre os convencionais que defendiam a postulação de Henrique Santillo ao Senado, por ser ele a maior liderança do grupo no Estado. Único em condições de vencer ao lado de Juarez Bernardes, a Arena, no voto popular. Ao mesmo tempo, o único capaz de ganhar de Juarez dentro do Partido.

De nada valeram nossos apelos para que Vicente Alencar refluísse da ideia de candidatar-se ao Senado e disputasse uma cadeira para a Assembleia Legislativa. Afastou-se, totalmente, do nosso convívio político. Ficou isolado e muito fragilizado. Fez sua campanha através de notinhas diárias em jornais, rádio e televisão. Nada mais que isso.

Já às vésperas da convenção partidária, com o afastamento voluntário de Vicente Alencar e sua firme disposição de não disputar uma cadeira para Assembleia Legislativa, compusemos a chapa emedebista para a disputa. Disputei a reeleição à Câmara Federal. Para a vaga de deputado estadual, que era ocupada por Henrique Santillo, foram lançados o vereador Joceli Machado, eleito em 1976 e Wolney Martins de Araujo, que fora nosso adversário dentro do MDB, nos pleitos de 1970 e 1974. A reaproximação se deu pelo trabalho de Lázaro Barboza, nosso amigo comum.

Na Convenção do MDB, numa acirrada disputa, Henrique Santillo foi o mais votado entre os convencionais ocupando a sublegenda nº 1 do MDB; Juarez Bernardes ficou com sublegenda nº 2. Espremido entre essas duas postulações, Vicente Alencar não conseguiu número de convencionais para, sequer, lançar sua candidatura. Refluiu, candidatando-se a deputado estadual. Nossos companheiros que queriam votar em Vicente, como forma de homenagear o extraordinário trabalho que ele prestava à luta pela redemocratização do País através do MDB, àquela altura dos acontecimentos, já haviam comprometido voto e trabalho a Joceli Machado ou Wolney Martins.

Wolney e Joceli se elegeram, enquanto Vicente Alencar, a quem queríamos transformar no mais votado para a Assembleia Legislativa, naquele pleito, conseguiu insignificante votação. Passado o pleito, Vicente de Paula Alencar continuou levando tudo na brincadeira, gozação mesmo, e voltamos à amizade antiga. Quando falávamos sobre o episódio, dizia:

- Não fui candidato ao Senado, mas o apelido pegou. Por onde ando, me chamam de senador!

Vivendo e aprendendo

No domingo passado estava de manhã, no alpendre de casa, apreciando a beleza das aves multicoloridas, seus cânticos estridentes ou suaves, mais extensos ou curtos, ao lado de borboletas bailarinas dançando de um lado para outro, na folhagem de um jardim com flores de todas as cores e formatos. Nem havia percebido que ao meu lado, em silêncio, Priscila e Rodrigo, meus netos, também apreciavam aquele momento mágico que só a natureza é capaz de nos proporcionar.

Aproveitei para contar-lhes um pouco mais sobre aves e frutos do Cerrado.Contei-lhes que quando tinha a idade deles morava ali perto, na Avenida Mato Grosso, do Bairro Jundiaí. Que  tive a alegria, intenso prazer, em saborear dezenas de frutas do Cerrado como mama-cadela, pitanga, caju do campo, ananás, gravatá, araçá, gabiroba, até da cabeluda, veludinho preto e vermelho, mangaba, araticum e outras que faziam parte da vegetação natural da região. Hoje tomada por edifícios horizontais e verticais criando para o local, outra paisagem. Dizia-lhe dos pássaros cujas espécies viviam no Jundiaí. Vimos que estes, com exceção da maria branca e o tesourinha, que praticamente não existem mais, se adaptaram aos tempos modernos. Urbanizaram-se. Convivem com os pombos domésticos e rolinhas. Povoam os quintais arborizados e floridos no Anápolis City, Jundiaí e Santa Maria de Nazareth. Mesmo com todo o conhecimento que a vida me proporcionou, desfrutando daqueles tempos quando não existiam ainda computadores e outros avanços que a tecnologia põe à disposição das crianças e jovens de hoje. Na nossa atenta observação,  descobri, tendo os netos como testemunhas, que por mais experiência que a gente tenha e acumule com o passar do tempo, sempre se aprende alguma coisa nova quando contempla e presta atenção nas coisas da natureza.

Convivendo com as aves o tempo todo, conhecia-as pelo nome. Geralmente o nome popular. A casa onde morava era cercada por arame farpado que dividia nosso terreno ao de  Humberto Batista e Dilica, dos quais meus pais foram testemunhas de casamento. Cerca  coberta e totalmente forrada daquela frutinha amarela, miolo com sementes vermelhas e doces, popularmente conhecida  por  São Caetano. Sinceramente não sei o porquê de São Caetano. Sei no entanto que, além das rolinhas, a cerca era frequentemente repleta de tizius, coleirinhas e anus. Nós aprendemos com os mais velhos que anus, tanto os pretos como o mais claros, pelas suas características semelhantes, eram anus preto e branco. Mesmo com a convivência diária com aquelas e outras espécies de aves, não tinha a menor ideia do porquê conviviam tão próximos. Tinha noção que rolinha, coleirinha e tiziu se alimentavam das sementes de capim que em abundância existia no local. Já os anus, nunca os vi comendo semente de capim ou semente de São Caetano. Mas que viviam juntos,  viviam!

Nesse domingo de descanso e contemplação, quando prestávamos atenção no vai e vem dos pássaros pelas folhagens do quintal, notamos que numa pequena parreira à nossa frente havia um ninho de rolinha. Dois pequenos filhotes recém-nascidos. Observávamos o zelo da mãe saindo do  ninho, apanhando com o bico pequeno inseto sobre a grama do jardim, retornando  com o alimento para eles, que pareciam famintos. Aquelas idas e vindas da mãe carregando comida para os filhos nos prenderam a atenção ainda mais. Nos embriagamos assistindo aquela verdadeira manifestação de amor e solidariedade. Para nós era descanso e higiene mental. Eu, então, estava totalmente desligado das agruras diárias da vida. Voltei meu pensamento inteiramente ao tempo de menino, desfrutando de um momento que pensava não existir mais. 

Nesse clima de paz e tranquilidade, surpreendentemente assistimos à chegada, não sobre a cerca de arame farpado coberta de São Caetano, mas sobre o muro que divide nosso quintal com o  de Vander Lúcio Barbosa, diretor do jornal Contexto, um punhado de anus. Iguaizinhos aos que conheci na infância, pretos e claros. Numa saída em busca de mais alimentos aos filhotes, a rolinha os deixou desprotegidos. Nesse instante, dois anus, que são aves lentas, deram rasante sobre o ninho. carregando ao bico os dois filhotes.  Desespero para nós que não tivemos tempo e nem como evitar a tragédia. Desespero maior enfrentou  a rolinha mãe, ao chegar e ver a casa vazia. Aprendemos, meus netos e eu,  naquela manhã de observação e atenção à vida das aves, que também na natureza nem tudo é beleza e convivência harmoniosa e pacífica.  Ficamos  sabendo, ao vivo, que a presença do anu ao lado de aves indefesas não é por amizade ou proteção aos mais fracos, mas sim em busca de alimento para sua sobrevivência. Aprendemos no jardim de casa, num domingo de descanso, o que não aprendi com as caçadas e andanças diárias pelo Cerrado coberto de frutos e repleto de aves, durante muitos anos.  Anu se alimenta de filhotes de rolinhas e outras aves menores, mais frágeis. Afirmo sem medo de errar que a natureza ensina-nos coisas novas a todo instante. Basta prestarmos atenção na sua forma de vida... 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Anápolis, a cidade de todos desde o seu surgimento!


A cada dia que passa, mais aumenta minha admiração pelo saudoso e inesquecível Moisés Santana. Sei que o jornalista teve com cada cidade onde morou e trabalhou uma história de respeito, interação e amor.  Percebe-se isso claramente nos nomes dos seus filhos. Por onde passou, sempre que possível, deu ao filho nome que fizesse lembrar a terra em que nasceu. Em Anápolis não foi diferente. A primeira escola pública municipal, a mais antiga da cidade, leva o nome da sua filha aqui nascida: Antesina Santana. Foi a forma de homenagear a terra das Antas,  local onde ela nascera. O mesmo comportamento adotou quando residiu noutras cidades. Mas seu pensamento e coração não se desligaram de Santana das Antas. Lugar em que foi bem recebido e admirado. Mesmo em Uberaba, onde encontrou a morte de forma trágica, perpetrada por ato tresloucado de um presidente da Câmara Municipal, muito mais atirador que legislador, Moisés Santana realçava em prosa e versos seu acendrado apego e amor à sua inesquecível Anápolis.

Longe do convívio direto com o povo da terra de Zeca Batista e Gomes de Souza Ramos, nunca se esqueceu da conversa que tivera com o deputado Abílio Wolnei, natural de Dianópolis, no nordeste goiano, quando passando por Anápolis lhe sugeriu, para que defendesse, ao município que estava  surgindo, o nome Anápolis.

Para Abílio Wolnei, a criação da Vila de Santana, próxima ao Córrego das Antas, onde foi construída  capela em homenagem à Santa, era a maior credencial para que o novo município se chamasse Anápolis. Cidade de Ana! A história da mula, integrante da tropa comandada por dona Ana, que empacou na atual Praça Santana, não era apenas uma ideia. Um desejo!  Mas sim realidade. Uma das bruacas carregadas pela mula empacadora continha imagem de Santana. A mula só se levantou quando a imagem foi descoberta. Elucidado o segredo, o que para alguns um verdadeiro milagre, os tropeiros interpretaram o acontecimento como a vontade Divina para que ali nascesse um núcleo habitacional urbano. Mesmo distante, lá em Uberaba-MG, Moisés Santana, lembrando-se da sugestão recebida, publicou numa das edições do Jornal da Lavoura daquela cidade, pela primeira vez, o nome Anápolis, para aquela que seria a mais importante cidade do interior goiano.

O trato cortês e fino do povo anapolino contagia não só os indivíduos como sensibiliza e cativa empresários. O maior exemplo disso pudemos sentir com o entusiasmo que a diretoria da indústria têxtil Hering fala sobre a cidade. Depois de 120 anos produzindo em Blumenau-SC, a Hering expandiu sua área de produção para Anápolis. Hoje, com poucos anos de atividade em Goiás, a empresa catarinense produz quase 50% da sua produção aqui. São 900 trabalhadores diretos. Dezenas de facções em Anápolis trabalhando em tempo integral para a empresa. Facções em dezenas de cidades goianas, produzindo emprego e desenvolvimento municipal. Deve inaugurar em Anápolis sua 3ª unidade de produção, próximo ao campus da UEG, às margens da BR-060. O carinho, amizade e respeito do povo, aliados ao capricho e valor profissional do trabalhador anapolino, sensibilizaram para sempre os empresários catarinenses. Hoje pode-se dizer, sem medo de errar, que a Hering de Anápolis, apesar de ser a caçula, é tão importante quanto sua  matriz em Blumenau.

Anápolis também já teve muito destaque e participação política. Do município saíram dezenas de deputados estaduais e federais. Vários senadores. Alguns vice-governadores. Jonas Duarte, Onofre Quinan e Henrique Santillo foram anapolinos que governaram Goiás. Mas foi no período ditatorial de 1964/1985 que Anápolis mostrou sua vocação democrática e amor à liberdade. Foi a trincheira avançada da resistência à ditadura em Goiás. Mesmo com os infindáveis atos de autoritarismo e casuísmos postos em prática pelos ditadores, em Anápolis, a Arena, partido oficial do governo, foi ininterruptamente derrotada de forma contundente pelo MDB. Se dependesse só do povo anapolino, a ditadura morreria logo no seu nascedouro. Os democratas brasileiros são eternamente gratos ao povo anapolino e aos seus líderes pela firmeza  que combateram a ditadura militar.

Como em qualquer outro município, em Anápolis acontecem fatos desagradáveis e desgastantes. As operações Monte Carlo e La Plata são exemplos dessas anomalias. A primeira, como se sabe, tinha seu núcleo de comando baseado no município. A segunda se transformou em enorme escândalo envolvendo agentes públicos municipais. São vereadores, destacados funcionários públicos municipais, denunciados como participantes  do maior propinoduto já ocorrido em Anápolis. Descoberto pelo Ministério Público do Estado a partir da apreciação e votação pela Câmara Municipal da  Lei Complementar nº 264, sancionada pelo prefeito municipal. Lei que fatiou o município, mutilando seu Plano Diretor.

Enquanto episódios como esses denigrem, ofuscam a imagem de gente séria e respeitada dos anapolinos nacionalmente, novos acontecimentos positivos realçam a capacidade de superação da sua gente,  como esse do momento, em que o Colégio Militar Dr. Cezar Toledo classificou-se em primeiro lugar dentre todos colégios públicos estaduais, nas provas do Ideb, do Ministério da Educação.

Com fatos como os aqui relatados e milhares de outros idênticos ou semelhantes, Anápolis tem sido exemplo de superação e a cidade de todos!