quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Restou o apelido de ‘senador’


Torna-se necessário, e importante, que ressaltemos aqui, nas páginas do CONTEXTO, como o advogado Vicente de Paula Alencar, nosso grande amigo, companheiro e defensor num dos momentos mais violentos da Ditadura Militar de 1964, deixou escapar a oportunidade de ser eleito deputado estadual, para insistir numa inviável candidatura ao Senado em 1978, enfrentando Henrique Santillo e Juarez Bernardes na Convenção do Movimento Democrático Brasileiro.

O prestígio do grupo autêntico, o grupo santilista, era fantástico em Goiás. Especialmente em Anápolis. Os arenistas pressionavam, usavam toda espécie de casuísmo; cassaram o mandato do prefeito José Batista Júnior; transformaram Anápolis em Área de Segurança Nacional; prenderam e torturaram gente humilde do MDB; usavam e abusavam do poder econômico, fecharam rádios que nos pertenciam, forjavam documentos para nos processar, mas a toda eleição nosso número de votos mais crescia.

Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB, dizia sempre quando vinha a Goiás:

- O MDB de Anápolis é como clara de ovo, quanto mais apanha, mais cresce!

Nesse quadro, ligado, umbilicalmente, ao grupo autêntico santilista desde o surgimento do MDB, estava evidente que a candidatura de qualquer companheiro, por mais valoroso que este fosse, não prosperaria entre os convencionais que defendiam a postulação de Henrique Santillo ao Senado, por ser ele a maior liderança do grupo no Estado. Único em condições de vencer ao lado de Juarez Bernardes, a Arena, no voto popular. Ao mesmo tempo, o único capaz de ganhar de Juarez dentro do Partido.

De nada valeram nossos apelos para que Vicente Alencar refluísse da ideia de candidatar-se ao Senado e disputasse uma cadeira para a Assembleia Legislativa. Afastou-se, totalmente, do nosso convívio político. Ficou isolado e muito fragilizado. Fez sua campanha através de notinhas diárias em jornais, rádio e televisão. Nada mais que isso.

Já às vésperas da convenção partidária, com o afastamento voluntário de Vicente Alencar e sua firme disposição de não disputar uma cadeira para Assembleia Legislativa, compusemos a chapa emedebista para a disputa. Disputei a reeleição à Câmara Federal. Para a vaga de deputado estadual, que era ocupada por Henrique Santillo, foram lançados o vereador Joceli Machado, eleito em 1976 e Wolney Martins de Araujo, que fora nosso adversário dentro do MDB, nos pleitos de 1970 e 1974. A reaproximação se deu pelo trabalho de Lázaro Barboza, nosso amigo comum.

Na Convenção do MDB, numa acirrada disputa, Henrique Santillo foi o mais votado entre os convencionais ocupando a sublegenda nº 1 do MDB; Juarez Bernardes ficou com sublegenda nº 2. Espremido entre essas duas postulações, Vicente Alencar não conseguiu número de convencionais para, sequer, lançar sua candidatura. Refluiu, candidatando-se a deputado estadual. Nossos companheiros que queriam votar em Vicente, como forma de homenagear o extraordinário trabalho que ele prestava à luta pela redemocratização do País através do MDB, àquela altura dos acontecimentos, já haviam comprometido voto e trabalho a Joceli Machado ou Wolney Martins.

Wolney e Joceli se elegeram, enquanto Vicente Alencar, a quem queríamos transformar no mais votado para a Assembleia Legislativa, naquele pleito, conseguiu insignificante votação. Passado o pleito, Vicente de Paula Alencar continuou levando tudo na brincadeira, gozação mesmo, e voltamos à amizade antiga. Quando falávamos sobre o episódio, dizia:

- Não fui candidato ao Senado, mas o apelido pegou. Por onde ando, me chamam de senador!

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