segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PT aprendeu com o mensalão


O mensalão, cujo julgamento está assustando e indignando muita gente que jamais acreditou que poderosos poderiam ser condenados e correrem o risco de ir para trás das grades, começou com um funcionário dos Correios recebendo propina. Só que tudo foi gravado clandestinamente e levado ao ar pela televisão. Para se defender, o Marinho, pego em flagrante, disse que ocupava a função indicado por Roberto Jeferson, presidente nacional do PTB. Afirmou ainda que todos os comissionados indicados pelo PTB tinham que agir como ele agiu, para fazerem caixa para o partido. Jeferson, da mesma forma, para se desfazer da “batata quente”, denunciou o escândalo do mensalão. Mesmo com maioria esmagadora na CPMI do Congresso Nacional, tendo como presidente o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e relator, o deputado José Serraglio (PMDB-PR), a base governista foi forçada a ter uma atitude isenta, imparcial, dando no que deu.  Condenações agora, pelo STF, de   João Paulo Cunha, José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares.
A CPMI do Cachoeira também foi criada para investigar a prática de jogos ilegais por grupos contraventores. Tudo gravado na Operação Monte Carlo, pela Polícia Federal. Fluiu normalmente dentro do imaginado pelos integrantes da base de sustentação do governo, até que apareceram os primeiros resultados das quebras de sigilo telefônico, bancário e fiscal de pessoas e empresas envolvidas no esquema. Chegou-se ao núcleo do grupo. A contravenção passou a ser insignificante diante do envolvimento da Delta Construções e mais 12 empresas fantasmas, descobertas até agora, que abasteciam o sistema de corrupção por esse Brasil a fora. Com os levantamentos em andamento, os desvios, segundo o senador Álvaro Dias (PMDB-PR), ultrapassam os R$ 400 milhões.
Já escaldados, como acontecido na CPMI dos Correios, que evoluiu para a CPMI do mensalão, a base governista não quer pagar para ver. Prefere até não entregar o relatório do que já foi investigado a prorrogar seus trabalhos, como querem os oposicionistas. No máximo, admitem ampliar o prazo de funcionamento por mais 30 dias. Nada mais que isso. Os independentes e oposicionistas não aceitam essa proposta porque só serviria aos interesses governistas. Por mais evidências e documentos que não param de chegar à CPMI, os mais de 500 requerimentos requerendo convocação de empresários, governadores, prefeitos e políticos ligados ao governo, com indícios claros de envolvimento com o esquema Delta, não serão votados.
Não havendo mobilização popular para que a CPMI tenha seu curso normal e verdadeiro, ao final, o seu resultado acabará desabando sobre integrantes do PSDB, especialmente sobre o governador Marconi Perillo. Aliás, essa CPMI só entrou em funcionamento porque o Partido do Trabalhadores, por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, imaginava, e a imprensa noticiou isso insistentemente, uma oportunidade de se vingar de Marconi. Isso porque o governador goiano, depois que estourou o escândalo do mensalão, disse ao presidente Lula que o esquema realmente existia. 
Enquanto em Brasília os governistas tudo fazem para evitar o estouro de um escândalo maior que o do mensalão, abafando na marra o prosseguimento dos trabalhos investigativos da CPMI, a CPI da Assembleia Legislativa de Goiás pode se transformar, pela falta de investigação contra prefeitos envolvidos com a Delta, em mais um instrumento para atingir o governador. O deputado Mauro Ruben (PT) já revelou à imprensa “que o relatório da CPI tem que incluir a influência da quadrilha liderada por Cachoeira na Secretaria de Segurança Pública, no Detran e na Agetop”. Era só o que faltava. Já não basta o desgaste político que a CPMI de Brasília pode provocar, por se negar a investigar as mazelas provocadas pela Delta Construções para debaixo do tapete, a de Goiás, onde o PSDB é maioria, não investigou contratos nebulosos de prefeitos aliados do governo federal com a Delta, e ainda corre o risco de colocar o governo goiano mais uma vez na berlinda. De forma negativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário