terça-feira, 25 de setembro de 2012

Atendimento de saúde acaba na Delegacia de Polícia!


Em Anápolis, a saúde pública é municipalizada. Exceção do Hospital de Urgências Henrique Santillo, administrado pela mesma entidade que administra a Santa Casa de Misericórdia, mantido com recursos repassados mensalmente pelo Tesouro Estadual, todos os demais hospitais públicos, filantrópicos e particulares que atendem pelo Sistema Único de Saúde –SUS fazem parte de organograma dirigido pela Secretaria Municipal de Saúde. Os recursos financeiros do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e os 15% da arrecadação municipal aplicados em saúde, ficam à disposição da Secretaria Municipal de Saúde. Somam neste ano, mais de 13 milhões de reais por mês. É muito dinheiro. Não se justificam as constantes reclamações contra o precário atendimento nos postos de saúde, falta de equipamentos e pessoal no Hospital Municipal ou que exames de laboratório estejam sendo marcados só para janeiro ou fevereiro de 2013.

Vários procedimentos médicos deixam de ser executados porque faltam médicos especialistas  ou  ausência total de estrutura física e equipamentos no local de trabalho. Outra coisa que tem causado insatisfação entre os trabalhadores na área de saúde do município é a diferença salarial entre os servidores que têm vínculo com a secretaria e os comissionados nomeados através de acertos políticos. Comissionados geralmente ganham duas ou até três vezes mais que funcionários de carreira. Geralmente não precisam cumprir horário de serviço. Isso tem sido grande foco de conflitos.

O ponto mais triste dessa situação de verdadeiro caos por que passa a área de saúde pública em Anápolis aconteceu na última terça-feira, dia 4 de setembro, quando José Ferreira, pedreiro registrado como trabalhador autônomo, se acidentou e necessitou de atendimento de urgência no Hospital Municipal. Instalando madeiramento numa casa que construía na Igrejinha de São Vicente, próxima ao trevo do Daia, na antiga estrada Anápolis-Goianápolis, acidentou-se com a máquina de cortar madeiras. Decepou o dedo polegar da mão esquerda.

Acondicionou o dedo cortado num pedaço de pano e estancou o derramamento de sangue da mão com sua camisa. Foi conduzido às pressas ao Hospital Municipal. Chegou à recepção às 14 horas e 18 minutos. Contorcendo-se em dores, implorou atendimento. Não foi atendido de imediato. Contudo, a todo instante recebia informação que aguardasse um pouco mais, mas  que seria atendido. Com muita dor, seu desespero acelerou. Indignação ficou maior quando via médicos e enfermeiras entrando e saindo do hospital, sem que lhe dirigissem uma só palavra. Ninguém o atendia. Queria ao menos fazer limpeza no dedo lesionado. Como chegou com o dedo embrulhado num pedaço de pano sujo pela poeira e camisa enrolada na mão acidentada, ficou o tempo todo à espera de atendimento médico. Depois de algumas horas de espera, foi orientado pela recepção que deveria colocar o dedo decepado num saco plástico com gelo. Foi informado pela recepcionista que só assim o reimplante poderia ser feito. Nessa angústia ficou sentado esperando atendimento até as 23 horas. Foram 9 horas e 42 minutos de angústia e expectativa  por atendimento que não chegou. Não foi sequer examinado pela equipe médica de plantão.Nem a camisa suja, contaminada, ensanguentada, que cobria o ferimento, foi substituída por gaze esterilizado. Depois dessa espera longa e cruel, disseram-lhe que o recurso seria procurar atendimento médico em Goiânia.

Às 23 horas saiu com destino a Goiânia. Chegando na Capital, perambulou por três pontos de atendimento de urgência. Em todos os locais em que esteve em busca de socorro não passou da recepção. A resposta que recebeu foi sempre a mesma:

– Você tem sua carteira de saúde de Anápolis! É lá que você deve buscar o atendimento.

O pedreiro José Ferreira voltou a Anápolis indo direto à Santa Casa. Chegou às 5 horas e 45 minutos. Graças à intervenção de um sargento da Base Aérea de Anápolis, que casualmente se encontrava na recepção da Santa Casa, o médico que se encontrava de plantão o atendeu prontamente. Já não havia qualquer possibilidade de reimplante do polegar decepado. Foram feitas limpeza do local lesionado, curativo e atadura. Recebeu ainda a medicação de prevenção a tétano e outros tipos de infecções.

José Ferreira, no exercício do seu direito de cidadão, terminou a manhã da quarta-feira nas dependências da Polícia Civil de Anápolis. Fez representação contra a direção do hospital pela falta de atendimento médico, menosprezo e desrespeito pela forma como foi tratado no Hospital Municipal de Anápolis. Sabe que se tivesse sido atendido logo que chegou ao hospital, poderia ter o dedo reimplantado.

Essa é a triste realidade de quem necessita de atendimento, mesmo de urgência, na saúde pública municipal.

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