
Como eles queriam de toda maneira deturpar o processo eleitoral de Anápolis, fazer uma reviravolta na política anapolina, queriam que Valmir renunciasse ao mandato. O Valmir não renunciava ao mandato. E, por não renunciar ao mandato, Valmir foi preso três vezes. Injustamente, sem qualquer justificativa, sendo que a última prisão do Valmir Bastos ocorreu na minha presença, no meu carro. Foi retirado do carro a base de metralhadora e levado para Brasília, onde ficou lá nas dependências do exército por mais de trinta dias. De lá só saiu quando assinou um documento para o Major Leopoldino, renunciando a presidência da Câmara e renunciando seu mandato. Só que para valer, teria que ser lido no plenário da Câmara Municipal. Esse documento nunca apareceu. Valmir terminou o mandato dele como verador, terminou o mandato como presidente da Câmara Municipal, e o Henrique terminou o seu mandato como prefeito da cidade de Anápolis. Nós estavamos lá na Assembléia, diariamente fazendo a defesa e fazendo também as denúncias gravíssimas do que os nossos adversários aqui queriam fazer contra a Democracia.

No dia da posse de José Batista Júnior, a Rádio Carajá - que nós haviamos adquirido do Dr. Plínio Jayme, que havia sido deputado estadual - foi invadida por policiais militares, na madrugada, no seu transmissor e nos seus estúdios. Veio uma ordem diretamente do DENTEL, em Brasília, determinando que a emissora voltasse para o seu antigo proprietário. Embora o Dr. Plínio não quisesse isso, foi obrigado a aceitar a emissora de volta, sendo que nós haviamos adquirido o controle da rádio em 1967. Fazíamos, todos os dias, eu e o Romualdo, o programa "O Povo Falou, Tá Falado". Não nos demos por satisfeitos. Fomos e adquirimos a Rádio Santana. Começamos a trabalhar com ela imediatamente. Em 1975, a Rádio Santana foi fechada. Não permitiram mais que nossa voz fosse levada ao ar. Mas nós continuamos a nossa tarefa com o povo de Anápolis.
Estou fazendo isso, amigos, pra dizer da minha satisfação, e como é gostoso poder trabalhar na política. Como deputado estadual, a minha tarefa foi de defender a Democracia, os princípios democráticos. Coloquei quase que todo o meu mandato na defesa do nosso prefeito, meu irmão, que era perseguido aqui em Anápolis. Graças a Deus, ele terminou o seu mandato.

Mas, quando foi fazer o registro da candidatura, o procurador de justiça do estado, no governo Leonino Caiado, simplesmente quis impugnar a nossa candidatura. Terminada a eleição de 70, os nossos adversários fizeram uma informação de que nós, eu e Anapolino de Faria, teríamos usado máquina da prefeitura no município de Goianápolis, no município de Ouro Verde e no município de Petrolina, para nós nos elegermos. Eles, então, mandaram para a Polícia Federal. A Polícia Federal fez um inquérito; não constatou nada. Mas estava preparada para oferecer argumentos para eles. Como ele não tinham condição de nos pegar, deixaram isso amoitado.
Em 74, na hora do registro da candidatura - por que naquela época existia um lei em que o cidadão, para poder ser impugnado, bastava o promotor, o ministério público, oferecer a denúncia e o juiz receber; feito isso, ele já estava impugnado; não precisava ser condenado, bastava oferecer a denúncia e ela ser recebida pelo juiz - tentaram fazer isso em Petrolina. Mas o promotor daquela cidade, o Dr. Decildes Sá Abreu, não aceitou fazer a denúncia por que não havia como oferecer a denúncia. Aí, o processo veio para Anápolis. E, aqui em Anápolis, ele encontraram um promotor que oferecesse a denúncia. O promotor ofereceu a denúncia contra mim e contra o Henrique. Mas ai, o Dr. Clementino Alencar, juiz da cidade, responsável pelos feitos, não concordou e mandou o processo para o arquivo.

Como deputado federal, procurei honrar também os nossos compromissos com a nossa população. Não tegiversar, não dar tréguas ao adversário. Estar permanentemente lá, fazendo um trabalho nas nossas três passagens. Está registrado no livro "Da Mesa Farta à Subnutrição", que falava a respeito das desigualdades sociais. Inclusive, fiz a denúncia contra o ministro do Trabalho daquela ápoca. Foi divulgada nacionalmente pelos principais jornais e revistas, onde o ministro do Trabalho pedia ao povo que "apertasse o cinto", por que ainda não era a hora de dar um salário mínimo digno, e ele consumia por mês mais de mil quilos de carne bovina, suína, frango, peixes e crustáceos. Mais de mil quilos! A ponto do jornal O Estado de São Paulo o publicar carregando uma bandeja e um touro em cima, dizendo que era a refeição do ministro. Foi um trabalho extraordinário que nós realizamos. Em todo o Sul do país, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do SUl, estados em que fui chamado para participar, os candidatos a prefeito e vereador da eleição de 76, apresentavam, atrás de sua propraganda eleitoral, o nosso pronunciamento e a denúncia que fizemos na Câmara Federal.
Fui eleito Vice-Presidente da Câmara no segundo ano do mandato, enfrentando o "Grupo Autêntico" com Getulio Dias e enfrentando o "Grupo Moderado" com Juarez Bernardes. Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros mais apoiavam Juarez, enquanto Alencar Furtado, Isâneas Maciel e outros mais do "Grupo Autêntico" apoiavam Getulio Dias. Trabalhei no meio deles e, ao final, estava eleito Vice-Presidente da Câmara Federal, o mais alto posto reservado a bancada oposicionista. Por isso, quero dizer aos amigos que vale a pena lutar. O que não vale é querer o poder pelo poder, e querer ser poder de qualquer jeito. Vale a pena lutar! A luta é dignificante!

Eu quero dizer que, nessas lutas todas, para mim a grande batalha foi a batalha pela Democracia, a batalha para voltar novamente a ter o direito a escolher nossos representantes, o direito de falar aquilo que quer, o direito de explanar o seu ponto-de-vista da forma que quer. Por isso eu sou um democrata autêntico. Eu não aceito o cidadão falar que é democrata, usar nos discursos a palavra democrata, mas no exercício do poder ser um autoritário, perseguidor. Foi contra isso que nós lutamos e conseguimos fazer com que houvesse a derrocada total dessa qualidade de pessoas, que não podem continuar convivendo no regime democrático.
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