quinta-feira, 7 de abril de 2011

O glamour e a realidade da prostituição

Depois do sucesso com seu livro O Doce Veneno do Escorpião, verdadeiro best-seller com mais de 300 mil exemplares vendidos, a ex-garota de programa, Raquel Pacheco, hoje com 26 anos, faz o maior sucesso de bilheteria com o filme de sua história de vida na prostituição. Mais de dois milhões de expectadores já assistiram Bruna Surfistinha. A previsão é que chegue aos três milhões. Um punhado de fatores tem colaborado para isso: a forma espontânea e autêntica de Déborah Secco. Apresenta-se com notável talento artístico. A diferença da história de Raquel em relação a outras prostitutas. Jovens, grande parte dos seus expectadores, querendo saber mais sobre a vida da garota de programas que só teve sucesso como prostituta. Motivos para se assistir o filme não faltam. Corinthianos fanáticos, vibrando com Dentinho, sentado à beira do colchão, apreciando a beleza de Déborah Secco...

Nascida em Sorocaba, interior de São Paulo, Raquel Pacheco foi adotada por uma família da classe média. Tinha uma vida aparentemente feliz e cheia de regalias. Passeava com os pais, ia com a família à praia e estudava nos melhores colégios da cidade. Alegando ser discriminada na escola e ridicularizada pelos colegas, decidiu aos 17 anos abandonar todo conforto do lar que a adotara para ser garota de programa. Até aí nada de extraordinário. Os classificados de quase todos os jornais estão repletos de jovens universitárias se apresentando como acompanhantes, massagitas e para programas. Muitas não abandonaram o lar, mas vieram de outras cidades ou Estados. Alegam aos pais que ganham vida noutras atividades.

O que impressiona nessa história, mais que a interpretação de Déborah Secco, é o fato de Surfistinha não ter sofrido nenhuma agressão ou violência. O filme todo a retrata respeitada, querida, paparicada, desejada e aparentemente feliz. Viveu as aventuras que quis. Verdadeiro mar de rosas. Ganhou projeção na atividade e saiu numa boa. Vida de sucesso e satisfação. Agressões, mesmo que verbais, só das companheiras de profissão e de um parente. Deixou de ser prostituta no instante em que desejou, para casar-se com um ex-cliente. História linda e repleta de glamour. Digna das melhores produções de Hollywood. Sonho que pode induzir milhares de jovens à busca da mesma aventura.

Enquanto Bruna Surfistinha arrasta milhões para conhecerem a vida de sucesso e luxo da prostituta interpretada por Déborah Secco, o rapper paulistano Emicida mostra em seu videoclipe Rua Augusta, o outro lado da prostituição. O lado verdadeiro. Tanto em Santa Efigênia, rua do sexo, em São Paulo, como Vila Mimosa, onde há o maior centro de prostituição no Rio de Janeiro, Emicida mostra imagens reais, impressionantes, de prostitutas narrando seu dia a dia. Reúne depoimentos dramáticos das jovens relatando a violência que sofrem e as mortes que assistem: “Elas trampam com nome falso, ninguém conhece a família delas. O que resta é chamar o IML e enterrar como indigente. Não tem nada de neon nisso”, afirma. Nos versos de Rua Augusta, tema do seu videoclipe, Emicida, enfatiza a vida da garota de programa:

“A maquiagem forte esconde os hematomas na alma. Fumando, calma, ela observa os faróis que vêm e vão. Viver em vão. Os que vêm e não te têm. São, se necessário, homem de bem, fujão. Que não aguentou ser solitário. A mesma grana que compra o sexo mata o amor. Traz a felicidade, também chama o rancor. As madrugas que testemunha. Vermelho sangue na unha. Sem nome, várias alcunhas...”

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