sábado, 27 de fevereiro de 2010

Goianos de coração

Nossos pais eram filhos de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil por volta de 1900, se instalando na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Filho de Enrico Santillo e Carmela Muniz, Virginio era o mais velho de doze irmãos.

Virginio Santillo nasceu em Cravinhos, município do entorno de Ribeirão Preto, no dia 26 de maio de 1912. Até os dezoito anos morou na zona rural e, como sempre relembrava, só calçou seu primeiro par de botinas quando completou quatorze anos. Praticamente não freqüentou escolas, aprendeu apenas os ensinamentos básicos de primeira série.

Elydia, filha de André Maschietto e Inez Solera, a quinta dos onze filhos do casal, nasceu em Ribeirão Preto na região do Barracão, no dia 27 de julho de 1913 e, sendo de família da classe média, teve mais acesso à escolaridade. Concluiu o curso Clássico ao mesmo tempo em que freqüentava aulas de corte e costura, aprendendo a profissão que desempenhou em Ribeirão Preto e em Anápolis.

Ao completar dezoito anos, Virginio decidiu abandonar o trabalho de agricultor em Cravinhos mudando-se para Ribeirão Preto, onde exerceu a profissão de açougueiro. Num evento promovido pela colônia italiana da região, Virginio conheceu Elydia com quem se casou em 1935. Foram morar na Rua Saldanha Marinho e ali perto, na própria região dos Campos Elíseos, ficava o seu açougue. O casal teve três filhos, Henrique Antonio, nascido em 23 de agosto de 1937, Adhemar, nascido em 13 de novembro de 1939 e Romualdo, nascido em 09 de fevereiro de 1942.

Embora satisfeito com a profissão de açougueiro, o jovem e muito trabalhador Virginio, sempre buscando novas oportunidades para crescer economicamente, recebeu informações de amigos que estiveram em Goiás sobre as potencialidades da cidade de Anápolis, que crescia rapidamente com a implantação da Rede Ferroviária Federal. O casal, depois de avaliar com muito rigor as novas possibilidades de transferir a família para Goiás, decidiu se mudar em busca de um futuro melhor.

Em março de 1943, pelo trem de passageiros, chegavam a Anápolis, no período noturno, o casal Virginio e Elydia e seus três filhos, indo diretamente para a pensão Uberlândia, onde ficaram instalados até que fosse alugada uma casa, o que não demorou muito. Deste pequeno núcleo familiar são descendentes todas as pessoas que têm o sobrenome Santillo em Goiás, embora em São Paulo os familiares com este sobrenome sejam em grande número.

Enquanto Elydia costurava para uma pequena e exigente alta sociedade anapolina, Virginio vendia quitandas e refrigerantes, especialmente nas festas religiosas de Abadiânia e Trindade.

Ainda em Anápolis, Virginio foi comerciante de alimentos, distribuidor exclusivo da aguardente Amburaninha, meeiro em lavoura no Matão, hoje município de Ouro Verde, comprador de cereais na região de Itaguaru e Uruana e, posteriormente, proprietário da empresa Cerealista Santillo Ltda.

Mesmo com esta vida modesta e de muita dificuldade, Virginio realizou seu ideal de possibilitar estudos aos filhos que também, desde cedo, começaram a trabalhar para ajudar na renda familiar.

Nossos pais nunca fizeram objeções às nossas participações políticas que se iniciaram logo nas atividades estudantis e esportivas. Deram apoio, inclusive abrindo as portas da nossa casa para reuniões, como quando eu militava no Grêmio Literário Castro Alves, na União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis e como Presidente da Liga Anapolina de Desportos.

Cursando o Científico em Anápolis, Henrique era o redator responsável pelo jornal Clarim das Letras e das Artes do Colégio São Francisco de Assis. Como estudante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, lecionava no curso Alfredo Balena, em Belo Horizonte. Foi presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina, presidente do Diretório Central dos Estudantes de Belo Horizonte e presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais, sempre tendo o apoio dos nossos pais.

Assim foi o início da família Santillo no cenário político de Goiás. Enfrentando os desafios de uma vida difícil, mas sempre coerente com os princípios de simplicidade, humildade e desejo de servir ao próximo.

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