– Pequi? Eu gosto de pequi. Desde Resplendor que não como pequi!
Essa foi a reação eufórica de Vicente Alencar em dia de festa na cidade de Corumbá de Goiás. Cidade movimentada, Cavalhadas no campo de futebol e muita movimentação religiosa na matriz. Vicente Alencar me acompanhou para participarmos das comemorações. Samuel Costa Araújo e Dona Aparecida, como sempre gentis e prestativos, comandavam o espetáculo. Alegria, marca registrada da brava gente corumbaense, facilmente identificada pelo largo sorriso que todos traziam no rosto.
Chegamos para os festejos antes das nove horas da manhã, seguindo para a fazenda de Antonio Julio, ex-prefeito e líder consagrado no município. Amigos de toda a região estavam em sua casa. Conversamos, traçamos planos para as eleições daquele ano. Depois de tomarmos café com leite e muita quitanda, nos despedimos e retornamos à cidade.
Shows artísticos, esportivos e malabarismo se realizavam por todos os lados, enquanto a banda de música do município apresentava seus recitais na praça da igreja. A multidão que transformava praças, avenidas e ruas em “vai e vem” dava a exata dimensão da festa.
Na hora do almoço, fomos para a casa do prefeito, onde nos juntamos a um grupo de amigos vindo de Goiânia. Vicente Alencar logo entrosou na conversa e contou muitas histórias dos seus avós e de Minas Gerais. Fez questão de narrar um caso que havia acontecido com ele quando era estudante de direito, em Belo Horizonte:
– Eu era estudante de direito, mas todos os dias fazia minhas caminhadas para manter a forma física e não me perder na ociosidade. Ao final do trajeto parava numa lanchonete para tomar um copo de leite e comer um pão de queijo.
Sem conhecer detalhes desse ritual diário Samuel perguntou:
– Sem açúcar, Vicente?
– Pelo contrário, com muito açúcar. E toda vez que pegava o açucareiro e despejava no copo, a moça que atendia o balcão me olhava dos pés a cabeça. Com o passar dos dias não tinha mais dúvida, a moça estava interessada em mim.
– Você nunca espichou um papo com ela?
– Numa amanhã, tomei coragem e no instante em que colocava açúcar no leite, fiz questão de avisá-la que gostava com muito açúcar!
– Qual a reação dela?
– Me disse: É por isso que você tem essa cara de lombriguento!
Intensas gargalhadas. Vicente provava todo tipo de cachaça e aperitivos postos à disposição dos convidados. Dona Aparecida, anfitriã de primeira, nos convidou para o almoço. Samuel sentou-se ao centro, tendo Alencar à sua direita e eu pela esquerda. O último prato colocado à mesa por Dona Aparecida foi o de pequi:
– Quem gostar de pequi, coma deste aqui que é da região e é de primeira.
Vicente que já estava bem tocado pelo aperitivo e muito alegre, exclamou:
– Pequi? Eu gosto de pequi. Desde Resplendor que não como pequi!
Voltamos ao almoço até que Samuel, olhando para o prato do comedor de pequi de Resplendor, viu aquela borra escura em seu prato:
– Doutor, o senhor está mastigando o pequi? Aparecida! Traga a pinça e a lupa para mim!
Vicente abriu a boca, estava com a língua tomada pelos espinhos:
– Não tem problema não, disse Vicente Alencar de forma inaudível, pela língua inchada e concluiu:
– O corpo humano rejeita até órgão transplantado, não vai rejeitar espinho de pequi?
Passamos a tarde toda ajudando Samuel, que, com uma pinça, extraía espinhos da boca e da língua do Dr. Vicente Alencar.
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