sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Unidos pela causa maior

Publicado na edição de 03/09/2010 do jornal Diário da Manhã

Goiás teve papel relevante na resistência à ditadura de 1964. Fez parte de uma oposição combativa e coerente. O grupo Santillo, autêntico, fez do Movimento Democrático Brasileiro–MDB de Anápolis, um dos mais respeitados em todo o Brasil. Seu lema era: liberdades democráticas já! Não fazer concessão aos ditadores. Para o MDB, liberdade era o caminho contra as desigualdades sociais. Não se curvava aos prepotentes. As violências praticadas pelos ditadores eram vistas como naturais e previsíveis. Prisões arbitrárias, cassações de mandatos, fechamento de emissoras de rádio, perda de autonomia política do município, supressão de eleições, censura à imprensa e perseguições não o amedrontavam. Ao contrário, isso o unia e purificava. Sim, purificava, porque nem todos resistiam.

Meu papel no grupo sempre foi desbravar a terra bruta. Era o primeiro a adentrar campo desconhecido e minado. Os companheiros diziam que esse era o trabalho do trator que abria picadas.

Fui lançado a prefeito de Anápolis, em 1969, pelo jornalista Moacyr Junqueira, integrante da executiva do MDB, forçando a candidatura de Henrique Santillo, que já despontava como a maior liderança da oposição no município. Atendendo ao clamor popular, Henrique disputou e venceu o pleito. Foi perseguido por adversários e correligionários adesistas que temiam sua liderança em ascensão. Em 1974, para que Henrique continuasse na ativa, abri mão da reeleição para deputado estadual disputando cadeira à Câmara federal. Henrique candidatou-se a deputado estadual. Na minha terceira reeleição, deixei o Congresso Nacional para assumir a Secretaria Estadual da Educação, em 1983, no primeiro governo de Iris Rezende Machado. Meu papel foi trabalhar pela educação no Estado e consolidar o nome de Henrique Santillo, como candidato ao governo em 1986. Deixei de ser deputado Constituinte em 86, para ser prefeito de Anápolis, em 1985, num mandato tampão de três anos. Desobstruí o caminho para que meu irmão chegasse ao governo do Estado. Vários deputados e candidatos a uma vaga na Câmara Federal ameaçavam abandonar sua candidatura, apoiando Mauro Borges, que até aquele momento pertencia ao PMDB, caso me candidatasse deputado.

Essas ações e mudanças repentinas na minha caminhada política, sempre as encarei como necessárias e normais. Faziam parte de um projeto maior: redemocratização do País e Henrique Santillo governador. Fizemos trajetória política de forma harmônica, memorável e vitoriosa. Mesmo quando Henrique decidiu ficar à frente do governo até o último dia, me tornando inelegível para o pleito de 1990, apoiei sua decisão. Ao seu lado estávamos Romualdo e eu, quando deixou o Palácio das Esmeraldas.

Juntamente com o senador Irapuan Costa Júnior, conseguimos apoio do governador Joaquim Roriz e da bancada do PP no Congresso Nacional, a seu favor para o Ministério da Saúde, no governo Itamar Franco. Onaide e eu ingressamos no PP em 1994, para que Henrique Santillo continuasse no Ministério. Pepistas tramavam seu afastamento sob a alegação de não ser correto o irmão do ministro do PP ser candidato a deputado federal pelo PMDB. Fiquei na primeira suplência. Obtive mais votos que os dois últimos eleitos pelo PMDB. Votos foram de peemedebistas, pois não tive condição de organizar o PP em lugar nenhum do Estado, pela exiguidade de tempo.

Só divergimos em 1986, com o Brasil redemocratizado. Democracia que tanto batalhamos por ela. Disputamos a eleição para a Prefeitura de Anápolis em legendas diferentes. Antes Romualdo e eu, acompanhados do radialista Geraldo Divino, fomos até sua residência para saber se não estaria disposto a disputar a prefeitura. Foi categórico ao afirmar que o perfil do eleitor de Anápolis já não era o mesmo de eleições anteriores e que estava pendurando as chuteiras. Diante da sua contundente resposta, lhe informei que seria candidato. Quando estava com campanha na rua, fui surpreendido pelo anúncio da sua candidatura também.

Ao lado da odontóloga Carla Santillo, sua filha, instalaram e executaram em Anápolis, na minha administração, o primeiro Programa Médico da Família, em Goiás. Só deixou o programa em 1999 para ser secretário da Saúde na administração Marconi Perillo.

O importante é que na luta maior, pela redemocratização, sempre estivemos juntos. É gratificante ouvir, como ouvi na semana passada, de outro baluarte do MDB goiano, ex-prefeito e construtor da atual Paranaiguara, Ênio Tiburcio:

– Vocês fizeram parte da verdadeira oposição em Goiás, nos tempos da ditadura. Vocês escreveram importante página na história da resistência democrática no Brasil!

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