domingo, 12 de setembro de 2010

Drama de um corintiano fora do ninho

Publicado na edição de 12/09/2010 do jornal Diário da Manhã

Menino, com idade de 13 anos, comecei a torcer pelo Sport Clube Corinthians Paulista. A primeira partida sua, que ouvi a narração por Pedro Luiz, da Rádio Bandeirantes de São Paulo, foi pelo torneio Rio-São Paulo de 1952, contra o Flamengo, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O rubro-negro contava com craques famosos como Joel, Dequinha, Rubens, Índio, Evaristo, Garcia... Já o Corinthians era composto de Cabeção, Homero, Olavo, Idário, Roberto e Goiano, Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Souzinha. No banco ficavam, dentre outros, Mário, Gilmar e Nono. O técnico era Osvaldo Brandão, que conquistou pela equipe o campeonato paulista de 1954. Título do IV Centenário de São Paulo. Naquele jogo de 52, a equipe paulista venceu o rubro-negro carioca por 6 x 0. Um dos gols foi de Mário, exímio driblador, que passando por toda defesa flamenguista adentrou ao gol com a bola, sentando-se sobre ela.

Daqueles áureos tempos até hoje muita coisa aconteceu. Para mim, como para qualquer outro corintiano, em momentos de vitórias ou reveses, a paixão pelo time continua a mesma. Nesse tempo todo acompanho as façanhas do Timão pelo rádio e televisão. Conto nos dedos da mão os jogos que assisti nos estádios. Prefiro a comodidade da poltrona. Preferencialmente sozinho. Minha vibração não é extravasada com gritos de euforia. Sinto a manifestação de alegria de todas as células e neurônios com os gols e vitórias do time. Da mesma forma alguma coisa me abafa e sufoca com os gols e vitórias dos adversários.

Em 2005, decisão do campeonato brasileiro da Série A, fui assistir o jogo contra o Goiás, no Estádio Serra Dourada. Esmeraldinos e alvinegros dividiam praticamente ao meio a enorme torcida ali presente. Cheguei minutos antes do início da partida. As coisas estavam bastante favoráveis ao Timão. Só mesmo enorme zebra, numa combinação de resultados quase impossível acontecer, lhe tiraria o título. A vitória do Goiás, por um gol de diferença, não seria suficiente para que o Corinthians não fosse campeão. O Internacional dependeria da vitória do Goiás por goleada, além de ter que golear seu adversário, no Olímpico, em Porto Alegre.

Sem maior preocupação, disposto a observar de longe as jogadas no gramado e a postura da torcida corintiana nas arquibancadas, fiquei ao lado dos torcedores menos radicais do Goiás. Fui recebido com satisfação por meus conhecidos esmeraldinos. Em pouco tempo o Timão abriu o placar. Ficou do jeito que gosto. Vibrei internamente ao lado de uma torcida calada, muito comportada. Assisti, de longe, a vibração dos jogadores em campo, e a fiel enlouquecida do outro lado, nas arquibancadas, como vejo pela televisão.

Dali em diante só deu Goiás. No empate, os alviverdes explodiram de satisfação. Em pé, subiam nas cadeiras, se abraçavam, desferindo palavras ofensivas aos corintianos. Eu que vibrei calado, sentado, sem nehuma explosão de satisfação no gol do meu time, tive que compulsoriamente levantar-me, confraternizando com os esmeraldinos, nas três vezes que o Goiás marcou. Não mudei de arquibancada porque meu neto estava se deliciando com a farra dos alviverdes. Só fui eu mesmo, nos dois gols do Corinthians. Os comemorei intimamente, sentado e em silêncio. Pelo menos isso a torcida alviverde me proporcionou. Durante os 90 minutos abracei muita gente, gritei numa falsa explosão de alegria e realizei muito exercício físico nos gols do Goiás. Com tantos senta-levanta e pulos nas arquibancadas, não tive ânimo para comemorar o título com a Gavião da Fiel, no estacionamento do Serra Dourada. Não sei o porquê, mas continuo preferindo assistir pela televisão os jogos do Timão. De preferência sem áudio. Dessa forma acompanho com maior segurança suas vitórias e derrotas. Não choro quando o time perde. Não preciso pular, gritar, abraçar e vibrar com os gols e vitórias dos seus adversários.

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