quarta-feira, 21 de abril de 2010

O homem que dava nó em goteira

Publicado na edição de 20/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Depois de jogar futebol na equipe varzeana do Araguaia, ao lado de Jair Braz, Menezes, Manoel, Vicente, Evandro, Roque, Zé das Velhas, Geraldo Canseira e outros, comandados pelo técnico João Maquinista, fui para a equipe juvenil do Ypiranga, atuando ao lado de Roosevel, Zanoni, Pepei, Roberto, Roldão, Dadá, Teotônio e Ronaldo Sabag, dirigida por Anastácio Ferreira Barbosa. Conquistamos inúmeras vitórias, ganhamos incontáveis trofeus e medalhas.

Em 1959, realizei o sonho de jogar pelo time principal do Ypiranga, presidido por David Esteves de Azevedo, o Santa Luzia, treinado por Geraldo Bacalhau. Saindo da equipe juvenil ao lado de Zanoni, Roberto, Pepey e Dadá, compunhamos com Issinha, Tibico, Edson Galdino, Glicério, Luiz Pavão, Aires e Guerrinha o elenco alvinegro, campeão anapolino daquele ano, pela Liga Anapolina de Desportos.

O jogo final do campeonato foi contra nosso maior rival, Anápolis Futebol Clube. As duas equipes estavam com a mesma quantidade de pontos ganhos. Quem vencesse seria o campeão. Empate levaria a decisão para disputar melhor de quatro pontos. Naquele tempo, cada vitória representava dois pontos. O empate dava a cada time um ponto.

A decisão estava marcada para o Estádio Manoel Demóstenes. O tricolor anapolino possuía forte equipe, formada, dentre outros, por craques como Jair Braz, Osvaldo, Nera, Nilo, Girico, Aluísio, Carlinhos e Paulo Choco. Ypiranga e Anápolis jogariam com seus principais atletas. No círculo esportivo da cidade, só se comentava sobre a decisão do campeonato anapolino.

Surpreendentemente faltando 24 horas para a partida, a Junta Disciplinar Desportiva, da Liga Anapolina de Desportos, por solicitação feita pelo presidente do Ypiranga, David Esteves, marcou reunião extraordinária para julgar Paulo Choco, do Anápolis, expulso de campo num dos jogos anteriores, pelo campeonato.

O julgamento aconteceu no sábado, poucas horas antes da final, no auditório do Hospital Evangélico Goiano, na Praça James Fanstone. Atletas expulsos de campo, normalmente eram condenados, no mínimo, a duas partidas oficiais. A suspensão por uma partida não era automática, como acontece hoje. Enquanto não houvesse o julgamento, poderia jogar.

Encerrada a sessão de julgamento do maior craque da equipe tricolor, a estrela do Anápolis, a JDD, por maioria dos seus integrantes, suspendeu Paulo Choco por uma partida. De nada valeram os apelos e protestos dos anapolinos. Paulinho, como era mais conhecido, ficou fora do clássico decisivo, no domingo. No outro dia, portanto. O Ypiranga venceu a partida por 1 x 0, gol de Guerrinha, e foi campeão.

Quando os jornalistas perguntaram ao presidente alvinegro, após a reunião extraordinária da JDD, menos de 24 horas antes da decisão, como conseguira que fosse realizado o julgamento algumas horas antes do jogo, derrotando a forte equipe de advogados que defendia o tricolor, tirando da final a maior estrela do Anápolis, David Esteves, que possuía apenas o curso ginasial, respondeu com leve sorriso:

– Em futebol, 10% são letras; 90% são tretas!

Na festa de colocação da faixa de campeão, enfrentamos e vencemos o Goiânia, no Estádio Manoel Demóstenes, por 2 x 1.

David Esteves de Azevedo, longe do futebol, mora hoje em sua fazenda, no distrito de Souzânia, em Anápolis. É considerado um dos maiores dirigentes que o futebol anapolino teve em todos os tempos.

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