quinta-feira, 8 de abril de 2010

Diferença entre Santillo e Alcides

Publicado na edição de 08/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Depois de enfrentar e resolver até mesmo o local para o armazenamento do lixo radioativo, do terrível acidente com o césio 137, em setembro de 1987, sem qualquer participação do governo federal, Henrique Santillo ainda sofreu dura retaliação política da dupla José Sarney e Fernando Collor de Melo, no final do seu governo.

Sarney se comprometera a financiar pela Caixa Econômica Federal o programa que o governador realizou asfaltando ruas e avenidas dos municípios goianos. Não honrou o compromisso, obrigando o governador a se utilizar de Letras do Tesouro Estadual para saldar a dívida com as empresas que realizaram a pavimentação. Collor, em seguida, exigiu que as letras emitidas fossem resgatadas pelo governo estadual alguns dias após a emissão, comprometendo grande parte do Fundo de Participação do Estado – FPE. Desequilibrou a finança estadual, inviabilizando o final da administração Henrique Santillo.

Cidadão responsável, o governador abriu mão do seu projeto eleitoral pessoal para 1990, não passando o governo ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Milton Alves. Entendeu que seria deslealdade entregar administração desequilibrada ao companheiro. Ficou no cargo até o último dia do seu mandato, enfrentando o caos financeiro-administrativo, criado por Sarney/Collor.

Na escolha do candidato do PMDB à sua sucessão, Henrique Santillo optou por Antônio Faleiros, secretário da Saúde. Queria homenagear o companheiro que lhe foi solidário no episódio com o césio 137. Incumbiu-me de conversar com Iris Rezende Machado, que ocupava o Ministério da Agricultura, sobre sua decisão. O ministro disse-me que não tinha nenhuma restrição política ou pessoal a Faleiros, mas que na sua avaliação o PMDB goiano possuía outros companheiros que, no seu entendimento, possuíam mais serviços prestados ao partido. Henrique, escolhendo um desses nomes, o apoiaria.

O governador e alguns assessores chegaram à conclusão que Iris Rezende queria ele próprio ser o candidato. Qualquer outro nome que fosse aventado seria pelo ministro descartado. Insistiu com o nome de Faleiros. Convocou as lideranças peemedebistas a Goiânia para ouvi-las. A maioria se mostrou de acordo.

Ao mesmo tempo Iris Rezende Machado em outro ponto de Goiânia se reunia com o mesmo pessoal. Mostrava-se disposto a disputar o governo, desde que todos lhe dessem o apoio integral. Só seria candidato com o partido unido.

Sendo Iris Rezende conhecido de todos e que, com ele, a vitória era certa, as lideranças foram abraçando seu projeto, afastando-se de Faleiros. Eram amigas e respeitavam Henrique Santillo, mas queriam ganhar a eleição. Fui a voz isolada que trabalhou junto ao governador para aceitar a candidatura de Iris ao governo. Os chamados “luas pretas”, dos dois lados, não queriam conciliação. Queriam tirar vantagem pessoal com a divisão.

Sentindo que era impossível enfrentar Iris, que tinha maioria no diretório regional do PMDB, maioria dos delegados municipais e maioria nas bancadas de deputados estaduais e federais que formariam a Convenção do partido, o governador refluiu da ideia de lançar Faleiros.

Henrique Santillo liberou seus companheiros para apoiarem Iris Rezende e continuou administrando a crise que lhe foi montada por Sarney/Collor. Não teve sequer o direito de mostrar aos goianos a violência perpetrada contra seu governo. Por absoluta falta de condição política não participou do horário eleitoral gratuito. Sofreu tudo calado! Só lhe restou deixar o PMDB após as eleições.

Hoje o governador Alcides Rodrigues vive situação semelhante a que viveu Henrique Santillo em 1990. Seus companheiros, esmagadora maioria, preferem Marconi Perillo a Vanderlan Cardoso. Entendem que se há alguém na base governista que possa enfrentar de igual para igual Iris Rezende, este é Marconi Perillo. Além de governar Goiás por oito anos, Marconi participou da eleição municipal ao lado deles. É natural que não se deixem afetar pelos desentendimentos pessoais dos caciques. Desejam governar por mais quatro anos. Sabem ser muito mais fácil conseguir essa proeza com Marconi que com Vanderlan.

Por pertencer a outra legenda, o que interessa a Alcides Rodrigues é mostrar para a população a herança recebida e o que fez como governador. Aproveitará o horário eleitoral gratuito para defender sua administração. Essa a grande diferença entre Henrique Santillo e Alcides Rodrigues: mesmo que por pragmatismo eleitoral perca companheiros, terá horário no rádio e televisão para fazer sua prestação de contas aos goianos!

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