Até agora as principais informações chegadas ao conhecimento da sociedade brasileira, nas escutas telefônicas gravadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo e divulgadas pela imprensa, apontam Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, figura principal dessa operação, envolvido diretamente com políticos, só nos vídeos prometendo que deu e daria dinheiro ao deputado Rubens Otoni (PT-GO) e negociação com prefeito de Palmas, Raul Filho (PT-TO), quando candidato. Vídeos amplamente divulgados pela imprensa e internet. Gravados por ocasião das eleições municipais de 2004. Nos demais diálogos, os gravados pela Polícia Federal, onde há apenas áudio, as propinas seriam mantidas pela Delta Construções e suas subordinadas.
Tendo como referência a decisão colegiada, adotada pela Câmara Federal, que absolveu a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, caixa pagador de propina, usado pelo DEM em Brasília, por ter ocorrido antes que ela exercesse o mandato de deputada, foi absolvida, a Corregedoria da Câmara Federal solicitou o arquivamento da denúncia contra Rubens Otoni. Já Raul Filho, por ter sido eleito prefeito, estando no seu segundo mandato, foi convocado e prestou depoimento à CPMI do Cachoeira para prestar esclarecimento sobre o contrato firmado pela Prefeitura de Palmas e a Delta Construções. A partir daí, a empresa se transformou na artéria que irrigou dezenas de escândalos com propinas, tem manchado currículos de políticos que eram tidos como respeitados e sérios.
Aos poucos a Operação Monte Carlo, com auxílio da imprensa e pequenas novidades reveladas pela CPMI do Congresso Nacional, vai repetindo o que ocorreu na CPMI dos Correios. Naquela investigação criada para apurar um caso específico de propina a funcionário dos Correios, evoluiu para o mensalão, denunciado pelo deputado Roberto Jeferson (PTB-RJ). Salário mensal e sistemático para comprar votos de parlamentares, nas matérias do interesse do Executivo petista. Forçados pela opinião pública, com respaldo total da imprensa livre, deputados e senadores, integrantes da CPMI, desvendaram o maior esquema de corrupção até então montado no Brasil. O que era para esclarecer fato específico de corrupção nos Correios se transformou no grande e rumoroso escândalo do mensalão do PT.
A Operação Monte Carlo veio para desarticular a contravenção de jogos eletrônicos ilegais no Centro-Oeste. Gravou esquemas comprometedores envolvendo policiais, agentes públicos e políticos, com o grupo investigado. A grande surpresa foi a descoberta da empresa Delta Construções e suas subordinadas de fachada, empresas fantasmas, no esquema de corrupção. Novos agentes públicos e políticos das administrações municipais, estaduais e federal, a cada instante, aumentam o número de envolvidos. O que menos se houve falar nos escândalos levantados pela Operação Monte Carlo é sobre contravenção e propinas pagas pela exploração de jogos ilegais. Fala-se mais em propinas em concorrências e licitações vencidas pela Delta, que em bingos e caça-níqueis. Os grandes esquemas, as grandes negociatas até agora descobertas, contam com dinheiro da Delta e não dos jogos ilegais.
Há grande diferença entre a atual CPMI do Cachoeira e a CPMI dos Correios. Enquanto a dos Correios evoluiu para o mensalão, pela pressão popular e da imprensa, a do Cachoeira esbarra na resistência da maioria de deputados e senadores que não aceita ouvir a figura mais importante do esquema investigado: Fernando Cavendish, presidente nacional da Delta Construções.
Mesmo com os escândalos já denunciados em contratos para execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); afastamento da Delta em obras contratadas em vários Estados; condenação da empresa por uso de documentos falsos para participar de concorrências públicas, como em Palmas-TO; concorrências fraudulentas, como ocorreu em Anápolis; montagem de empresas fantasmas para alimentar o esquema de propinas a governantes, servidores públicos e políticos detentores de mandato; classificação de empresa inidônea, a CPMI não marca data para depoimento de Fernando Cavendish.
Revelaria métodos de ação e nomes dos beneficiários do seu propinoduto. Poderia falar de outras empresas que usam o mesmo esquema da sua Delta. O medo de que poucos se salvem numa situação dessa avalanche de corrupção, tem evitado sua ida à CPMI.
Compensando essa ausência, a CPMI marcou para 7 de agosto o depoimento de Andressa Mendonça, atual companheira da Carlos Cachoeira. Para o dia 8 de agosto será a vez de Andréia Aprígio, ex-esposa de Cachoeira. Por certo, com ampla divulgação da imprensa, bisbilhotarão sobre assuntos particulares das vidas delas com Carlos Augusto Ramos. Contudo, não darão a resposta que o Brasil espera e exige: envolvimento de empresários corruptores com políticos corruptos.
(Diário da Manhã - 28/07/2012)
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