quinta-feira, 19 de julho de 2012

Corinthians lava a alma dos brasileiros


Sei que não sou o torcedor mais velho do Corinthians, mas sou um dos mais antigos torcedores do timão. Foi paixão à primeira vista. Criança, fanático por futebol, ouvi falar pela primeira vez sobre esse bando de loucos  em 1952. Portanto, há exatamente 60 anos, jogavam no Pacaembu-SP Corinthians e Flamengo. Ao final da partida, o alvinegro do Parque São Jorge venceu o rubro-negro carioca por 6 x 0. Goleada com direito a gol de um desconhecido Mário, depois de driblar toda defesa flamenguista entrou junto com a bola marcando o sexto gol do timão. Daqueles gols que os narradores esportivos dizem que “entrou com bola e tudo”. Era, para um estreante corinthiano, só alegria. Completou  em 1954, com Corinthians campeão paulista do 4º Centenário da Cidade de São Paulo. Gilmar (Cabeção), Homero (Murilo), Olavo, Idário, Roberto, Goiano, Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Nono (Souzinha).

Mesmo sendo até hoje o time que mais venceu o campeonato paulista (ficou de 1955 a 1977). Portanto, exatos 22 anos consecutivos sem vencer aquele que era na época o mais importante campeonato que disputava. Paulistas e cariocas se enfrentavam no Rio-São Paulo, Torneio Roberto Gomes Pedrosa, mas não era tão emocionante como o campeonato regional. Foi graças a esse jejum de títulos que o torcedor corinthiano ficou nacionalmente conhecido  como ‘sofredor’.

Nesses  60 anos de fiel torcedor, dos 102 de fundação do Corinthians, passei por muito sufoco e humilhação: 22 anos sem vencer campeonato paulista; rebaixamento para a série B do brasileirão; necessitar do auxílio valioso do São Paulo Futebol Clube para não ser rebaixado no campeonato paulista; perder para o Tolima na primeira fase da Libertadores da América; ser conhecido pela imprensa como o principal freguês do Santos Futebol Clube, na era Pelé. O que mais doía em todos nós corinthianos sempre foi a gozação por não vencermos a Libertadores da América. Quantas vezes assisti palmeirenses, são-paulinos, flamenguistas e até gremistas, donos de um boteco qualquer, desses que vendem a prazo, através das chamadas cadernetas, dizerem: “Fiado para corinthiano só quando o time for campeão da Libertadores da América.” Outros mais agressivos inventavam que era mais fácil a terra ser invadida por extraterrestres que o Corinthians ganhar a libertadores. Mesmo com tantos tropeços, o alvinegro do Parque São Jorge é, ao lado do Flamengo, os que possuem as duas maiores torcidas. Não param de crescer, ganhando ou perdendo. Para o verdadeiro corinthiano, ganhar ou perder é o que menos importa. Hoje já são mais de 30 milhões de torcedores do timão pelo País inteiro.

Essa conquista da Libertadores foi diferente. O time terminou a competição invicto. Marcou 22 gols, sofreu apenas 4. Enfrentou na final a mais competitiva equipe do futebol das Américas: Boca Juniors, da Argentina. Equipe que já havia derrotado, em finais da mesma Libertadores da América, outros times brasileiros, aqui no Brasil, como Palmeiras e Grêmio. O Corinthians foi diferente porque ganhou na base da solidariedade entre os jogadores. Dr. Sócrates, estivesse vivo, constataria que a democracia que implantou no time, na década de 70, está dando frutos agora. O Corinthians não possui medalhão, todos são iguais. Contra o Vasco da Gama, o herói foi Paulinho. Contra o Santos na Vila Belmiro, foi Emerson. No Pacaembu, Danilo. Contra o Boca, na Argentina, o herói foi Romarinho. E no Pacaembu, o título  voltou a ser de Emerson.

Corinthians quando disputa uma final importante, como essa de quarta-feira, mobiliza todos os torcedores. Os corinthianos consomem tudo o que diz respeito ao time. Os adversários fazem o restante da festa, alegrando os comerciantes, comprando produtos vendidos pelo adversário do timão. Nessa disputa de quarta-feira milhares de palmeirenses tiveram que guardar todo tipo de rojões e fogos de artifícios nas despensas de casa para serem utilizados na quinta-feira contra o Curitiba, porque não tiveram o prazer de  utilizá-los antes, durante e depois do jogo no Pacaembu. Fogueteiros do Brasil todo venderam mais que em qualquer festa junina. É o Corinthians promovendo através do consumo o desenvolvimento econômico nacional. Graças à sua fiel torcida e inveja das torcidas  adversárias.

No mesmo dia em que o timão do Parque São Jorge colocava o Brasil à frente dos demais países das Américas, vencendo a Libertadores, a Fifa rebaixava a seleção brasileira de futebol, no ranking mundial. Hoje, segundo a Fifa, estamos atrás do Uruguai. Estamos abaixo até de Portugal, de Cristiano Ronaldo. Esporte Clube Corinthians Paulista é isso. Faz o seu torcedor sofrer, mas reabilita o futebol brasileiro nos momentos mais difíceis.

(Diário da Manhã - 2012/07/06)

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