sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Abrimos mão do PTB e fomos para o PT


Tínhamos conversado com Leonel Brizola, acertando nosso ingresso ao PTB, seu partido. Antes que encerrássemos o acordo, o prefeito de Luziânia, falando em nome dos companheiros do Entorno de Brasília, nos alertou que Brizola, por ter comandado o “grupo dos onze”, em 1964, era estigmatizado na zona rural de Luziânia, maior reduto político do PMDB daquela região. Acompanhariam-nos por qualquer rumo que tomássemos, mas gostariam que não fôssemos para o PTB. As ponderações de Walter Rodrigues não pararam por aí. Em nome da turma, sugeriu que ingressássemos no Partido dos Trabalhadores, fundado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Nós sabíamos que o PT era composto pelas lideranças sindicais mais radicais e abrigava, também, grupos de universitários trotskistas. Lula teria que lutar muito para evitar que seu partido se transformasse numa federação de grupelhos trotskistas. Esses grupos não queriam nada dentro da legalidade. Queriam a luta clandestina. A história desses grupelhos, que pouca participação tiveram no combate à ditadura militar de 1964, era de desprezo total à luta institucional. Pregavam a queda da ditadura pela revolução popular. Autodenominavam-se integrantes das organizações operárias, contra qualquer acordo com patrões. Assim era o PT no seu nascimento. Os grupelhos aceitavam o comando de Lula porque sabiam ser líder carismático e de grande penetração popular. Queriam o Lula, mesmo sem embasamento ideológico. Tinham-no o inocente útil a serviço da causa revolucionária do proletariado.

Luiz Inácio Lula da Silva dizia aos trabalhadores que os trotskistas estavam sendo aceitos no PT, para atraírem intelectuais e a esquerda mais radical que não aceitavam o PC do B. Para Lula, o partido seria aberto a todas as correntes populares que dele quisessem participar. Nós, diante dessa proposta, fomos em frente. Sentimos que Lula e as demais lideranças que compunham o comando petista queriam, mesmo, organizar um partido para participar como os demais, dentro das regras institucionais.

Decidimos participar do Partido dos Trabalhadores. Ao lado dos deputados federais eleitos pelo MDB em 1978, Airton Soares (SP), Luiz Cechinel (SC), Antônio Carlos de Oliveira (MS) e Edson Khair (RJ) formamos a primeira bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara Federal. Henrique Santillo o primeiro senador do PT, no Senado.

Reunimos-nos com as lideranças municipais que estavam coesas com nossa prática política em Goiás, partindo para a organização petista pelo Estado todo. Enquanto isso, auxiliávamos Lula na pregação nacional, visitando outros estados, para a formação do Partido dos Trabalhadores. Respeitados pelo comando petista nacional, continuávamos com as visitas aos companheiros de Goiás, levando a candidatura de Henrique Santillo ao governo, em 82.

Em Brasília, nós, os cinco componentes da primeira bancada petista, nos reunimos e os companheiros me elegeram o primeiro líder do PT na Câmara Federal. Foi um período bastante difícil, como inúmeras ações arbitrárias, principalmente contra Lula e outros líderes sindicais. Usávamos, intensamente, os microfones das sessões plenárias, para, como líder, denunciar as ações violentas e criminosas praticadas contra as lideranças do ABC paulista. O partido ganhava respeito das demais lideranças partidárias no Congresso Nacional e da imprensa que fazia a cobertura dos trabalhos legislativos. Ainda não havíamos nos reunido a nível nacional. Fazíamos encontros permanentes com Lula aguardando a Convenção Nacional do partido... (Continua)

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