quinta-feira, 22 de julho de 2010

O início de uma dura caminhada (Final)

Publicado na edição de 22/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Em 1978, quando fui reeleito para a Câmara Federal, Henrique Santillo se elegeu senador, na vaga que restou ao povo escolher pelo voto. Continuamos inabaláveis na defesa dos marginalizados e oprimidos. Protestamos da tribuna, contra a expulsão do padre Vito Miracapillo, que trabalhava na Diocese do Pernambuco, dirigida por dom Helder Câmara. Defensor convicto dos miseráveis camponeses sem terra do interior pernambucano, padre Miracapillo foi expulso sob a acusação de ter se negado a celebrar missa em homenagem ao 7 de setembro.

Da mesma forma denunciamos da tribuna do Congresso Nacional a proibição ao bispo dom José Maria, celebrar missa aos posseiros do interior da Paraíba. Ameaça de expulsão ao bispo de São Felix do Araguaia, dom Pedro Casaldaliga. Ameaça de expulsão do padre Henri dês Roziens. Sequestro do missionário Nicola Arpone e processo contra o pastor Orvandil Barbosa, da Igreja Metodista de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Reverendo Orvandil Barbosa, seguindo o Credo Social da Igreja Metodista, transformou-se na maior liderança eclesiástica do interior do Rio Grande do Sul em defesa dos excluídos. Levava ensinamentos puros, esclarecedores, autênticos, e acima de tudo libertários, por onde passava. Foi perseguido e hostilizado pelos detentores do poder ditatorial, porque praticava o verdadeiro cristianismo. Não se acovardou. Recebeu apoio integral da igreja e do povo de Santa Maria.

Nos solidarizamos com ações corajosas e patrióticas como a do professor Elias Boaventura, reitor da Universidade Metodista de Piracicaba, que correndo todos riscos de repressão cedeu o campus da Unimep, para que os universitários realizassem ali o XXXII Congresso da União Nacional dos Estudantes – UNE. Numa democracia sua atitude seria normal. Ocorre que sua ação destemida ocorreu quando os que davam apoio aos movimentos universitários eram enquadrados como subversivos e inimigos da pátria. Sob todos os riscos colocou a Universidade Metodista de Piracicaba a serviço das liberdades democráticas.

Desse período, é nosso livro : És tu ó perturbador? Como na fábula de La Fontaine, O lobo e o cordeiro, os ditadores brasileiros cometiam os crimes e culpavam suas vítimas. Insultavam, maltratavam, agrediam e se diziam agredidos. Faziam como fez o Rei Acabe, ao profeta Elias, acusando-o de perturbador, quando este lhe chamou a atenção por estar se distanciando de Deus. Ficamos ao lado dos democratas, contra prisões arbitrárias e torturas.

Ainda no Congresso Nacional, denunciamos a grilagem de terras por governantes do Estado. Expulsão de humildes posseiros por grileiros gananciosos na região de Araguaína, hoje Tocantins. Tudo documentado, com certidões e processos oficiais do Idago – órgão estadual que tratava de questões fundiárias em Goiás.

Revelamos à Nação o escândalo feito por governantes da época, no Banco do Estado de Goiás e Caixa Econômica do Estado de Goiás. Pessoas privilegiadas tomavam dinheiro emprestado no BEG de Goiânia, e aplicavam o produto do empréstimo no próprio BEG em São Paulo, com rendimento maior que o que pagariam ao mesmo banco em Goiás, pelo empréstimo.

Relatório do Banco Central mostra que, em 1981, a Minascaixa, a Caixa Econômica de Minas Gerais, possuia ativo circulante de 26 bilhões e 60 milhões de cruzeiros. Seu Crédito em Liquidação foi de 52 milhões e 967 mil cruzeiros. Enquanto isso, a Caixego, com Ativo Circulante de 7 bilhões 514 milhões de cruzeiros, seu Crédito em Liquidação foi de 528 milhões e 469 mil cruzeiros. Quebraram a Caixego.

Políticos ligados à Arena tomavam dinheiro emprestado da Caixego, não pagavam. Os empréstimos não honrados iam para crédito em liquidação, com prejuízo total. As execuções foram extintas por falta de interesse da empresa em verdadeiramente executar os devedores. Conforme despacho, em centenas de ações de execução, o juiz de Direito Francisco Rodrigues de Souza, ressaltou esse desinteresse da Caixego em dar sequência às ações de execução. Invariavelmente, para extinção do feito, o juiz exarava em seus despachos: “Sendo evidente a inércia da autora (Caixego), por longos anos, e não podendo o feito se eternizar, decreto-o extinto. Dê-se baixa na distribuição e arquive-se. P.R.I. Goiânia, dia, mês e ano. Ass. dr. Francisco Rodrigues de Souza, juiz de Direito.”

Foram milhões e milhões de cruzeiros que viraram fumaça. Prejuízo colossal à Caixego. Lucro a políticos oportunistas. Tudo com documentos expedidos pelo Banco Central. Essas denúncias estão publicadas no livro Escândalos: os frutos do regime. Cumprimos com nossa obrigação no parlamento nacional.

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