domingo, 29 de julho de 2012

CPMI se distanciando mais das suas atribuições


Até agora as principais informações chegadas ao conhecimento da sociedade brasileira, nas escutas telefônicas gravadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo e divulgadas pela imprensa, apontam Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, figura principal dessa operação, envolvido diretamente com políticos, só nos vídeos prometendo que deu e daria dinheiro ao deputado Rubens Otoni (PT-GO) e negociação com prefeito de Palmas, Raul Filho (PT-TO), quando candidato. Vídeos amplamente divulgados pela imprensa e internet. Gravados por ocasião das eleições municipais de 2004. Nos demais diálogos, os gravados pela Polícia Federal, onde há apenas áudio, as propinas seriam mantidas pela Delta Construções e suas subordinadas.

Tendo como referência a decisão colegiada, adotada pela Câmara Federal, que absolveu a deputada  Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, caixa pagador de propina, usado pelo DEM em Brasília,  por ter ocorrido antes que ela exercesse o mandato de deputada, foi absolvida, a Corregedoria da Câmara Federal solicitou o arquivamento da denúncia contra Rubens Otoni. Já Raul Filho, por ter sido eleito prefeito, estando no seu segundo mandato, foi convocado e prestou  depoimento à CPMI do Cachoeira para prestar esclarecimento sobre o contrato firmado pela Prefeitura de Palmas e a Delta Construções. A partir daí, a empresa  se transformou na  artéria que irrigou dezenas de escândalos com propinas, tem manchado currículos de políticos que eram tidos como respeitados e sérios.

Aos poucos a Operação Monte Carlo, com auxílio da imprensa  e pequenas novidades reveladas pela CPMI do Congresso Nacional, vai repetindo o que ocorreu na CPMI dos Correios. Naquela investigação criada para apurar um caso específico de propina a funcionário dos Correios, evoluiu para o mensalão, denunciado pelo deputado Roberto Jeferson (PTB-RJ). Salário mensal e sistemático para comprar votos de parlamentares, nas matérias do interesse do Executivo petista.  Forçados pela opinião pública, com respaldo total da imprensa livre, deputados e senadores, integrantes da CPMI, desvendaram o maior esquema de corrupção até então montado no Brasil. O que era para esclarecer fato específico de corrupção nos Correios se transformou no grande e rumoroso escândalo do mensalão do PT.

A Operação Monte Carlo veio para desarticular a contravenção de jogos eletrônicos ilegais no Centro-Oeste. Gravou esquemas comprometedores envolvendo policiais, agentes públicos e políticos, com o grupo  investigado. A grande surpresa foi a descoberta da empresa Delta Construções e suas subordinadas de fachada, empresas fantasmas, no esquema de corrupção. Novos agentes públicos e políticos das administrações municipais, estaduais e federal, a cada instante, aumentam o número de envolvidos. O que menos se houve falar nos escândalos levantados pela Operação Monte Carlo é sobre contravenção e propinas pagas pela exploração de jogos ilegais. Fala-se mais em propinas em concorrências e licitações vencidas pela Delta, que em bingos e caça-níqueis. Os grandes esquemas, as grandes negociatas até agora descobertas, contam com dinheiro da Delta e não dos jogos ilegais.

Há grande diferença entre a atual CPMI do Cachoeira e a CPMI dos Correios. Enquanto a dos Correios evoluiu para o mensalão, pela pressão popular e da imprensa, a do Cachoeira esbarra na resistência da maioria de deputados e senadores  que não aceita ouvir a figura mais importante do esquema investigado: Fernando Cavendish, presidente nacional da Delta Construções.

Mesmo com os escândalos já  denunciados  em contratos para execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); afastamento da Delta em obras contratadas em vários Estados; condenação da empresa por uso de documentos falsos para participar de concorrências públicas, como em Palmas-TO; concorrências fraudulentas, como ocorreu em Anápolis; montagem de empresas fantasmas para alimentar o esquema de propinas a governantes, servidores públicos e políticos detentores de mandato; classificação de empresa inidônea, a CPMI não marca data para depoimento de Fernando Cavendish.

Revelaria métodos de ação e nomes dos beneficiários do seu propinoduto. Poderia falar de outras empresas que usam o mesmo esquema da sua Delta. O medo de que poucos se salvem numa situação dessa avalanche de corrupção, tem evitado sua ida à CPMI.

Compensando essa ausência, a CPMI marcou para 7 de agosto o depoimento de Andressa Mendonça, atual companheira da Carlos Cachoeira. Para o dia 8 de agosto será a vez de Andréia Aprígio, ex-esposa de Cachoeira. Por certo, com ampla divulgação da imprensa, bisbilhotarão sobre assuntos particulares das vidas delas com Carlos Augusto Ramos. Contudo, não darão a resposta que o Brasil espera e exige: envolvimento de empresários corruptores com  políticos corruptos.

(Diário da Manhã - 28/07/2012)

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