terça-feira, 13 de abril de 2010

Xata, o segundo time de todos

Publicado na edição de 13/04/2010 do jornal Diário da Manhã

A Associação Atlética Anapolina, a Rubra ou Xata, como carinhosamente é conhecida, no passado foi um time de poucos adeptos. Seus próprios torcedores a classificavam como a equipe de 33 simpatizantes. Só a família Puglisi representava mais da metade de toda sua torcida. Simpática, formada por atletas dedicados, torcedores do São Francisco, Induspina, Anápolis e Ypiranga, se uniam aos poucos torcedores rubros quando o time enfrentava outra equipe que não fosse a sua. Dessa forma quando jogavam Anápolis e Anapolina, torcedores do Ypiranga torciam freneticamente pela Xata. O mesmo acontecia com os torcedores do Anápolis quando a Rubra enfrentava o Ypiranga. Por isso nunca se soube exatamente o tamanho da sua torcida.

Juca, Pedruca, Arnaldo, Joãozinho, Nego, Iberê, Fogueira, Célio Sabag, Zeca, Laudo, Celso Campos, Sergio, foram algumas das figuras importantes da Xata no tempo do amadorismo. Já próximo ao surgimento do profissionalismo fizeram parte da equipe Patinho, Calango, Ferracioli , Teles, Roberto e Roberto Bim, dentre outros vindos de Minas e São Paulo.

O mais emblemático torcedor de futebol em todos os tempos, em Anápolis, foi Caetano, da Anapolina. Mineiro de Uberaba, trazido para o município pelo seu sogro Garibaldi Paulino, que se encontrava na cidade desde 1933, a convite do prefeito dr. Valente, para o ajardinamento das praças Americano do Brasil, Bom Jesus e a Chácara das Rosas. Antes de vir para Anápolis, Antônio Caetano Júnior, o Caetano, já era torcedor fanático do Clube de Regatas Flamengo e do Uberaba Esporte Clube. Admirava tanto o Uberaba que o presidente da Xata, Anapolino de Faria, quando assumiu a prefeitura em 1982, acertou com o maestro da Banda Lira de Prata de Santana, que a banda iniciasse e finalizasse suas apresentações com marcha Uberaba Esporte Clube.

Cunhado do goleiro Juca, um dos craques mais queridos da Anapolina em todos os tempos, Caetano se simpatizou logo com a Xata, participando integralmente das suas atividades esportivas. Era show à parte. Chamava os torcedores de Anápolis e Ypiranga,seus principais adversários e cujos uniformes eram listrados, de “vestidos de zebra.” Onde quer que se encontrasse no Manoel Demóstenes fazia a alegria dos torcedores. Para Caetano, os atletas da Anapolina não tinham defeito. Adversário chutando errado, gritava “ Óh o pé dele Carpaneda!”.

Carpaneda era um ferreiro que tinha sua oficina em Anápolis. Quando alguém precisava de serviço de ferragem, principalmente que usasse bigorna, procurava a oficina do Carpaneda. Na base da bigorna, forno de alta temperatura e pesadas marretas, tudo se resolvia na ferraria do Carpaneda. Duelo extra-campo extraordinário acontecia quando jogavam Anapolina e Anápolis. Caetano do lado rubro enfrentando Mané Padeiro e Teodora, símbolos marcantes da torcida tricolor. Terodora comparecia aos jogos do Anápolis impecavelmente vestida, sempre carregando sua inseparável sombrinha, geralmente nas cores do seu time. Ficavam distantes um dos outros, se respeitando mutuamente.

Num desses jogos o atacante Zeca Puglisi driblou toda defesa do Anápolis, marcando gol de placa. Caetano foi ao delírio. Como havia evitado o tempo todo Teodora e Mane Padeiro, resolveu se aproximar dos dois, extravasando sua alegria pela frente no placar e beleza do gol marcado. Quando menos esperava, Teodora saiu do meio da torcida tricolor e partiu para cima dele quebrando a sombrinha na sua cabeça. Caetano socorrido pelo médico da Anapolina, já recuperado do susto e da agressão sofrida, foi abordado por Teodora lhe cobrando uma nova sombrinha. Não querendo briga, muito menos com uma dama, lhe deu a sombrinha.

Caetano faleceu em 18/11/1961, deixando lacuna impreenchível, nos estádios da cidade. Grande parte da simpatia que torcedores de outros clubes tinham pela Associação Atlética Anapolina, vinha da figura carismática de Antônio Caetano Jr., o Caetano de “Óh o pé dele Carpaneda”. Mais de 90% dos torcedores do Ypiranga torcem hoje pela Xata, a maior torcida de Anápolis.

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