domingo, 14 de março de 2010

A melhor defesa: sua vida e sua obra, por Adhemar Santillo e Romualdo Santillo

Publicado no jornal Diário da Manhã


Ele era um homem que estava bem à frente de seu tempo. Acreditava nas pessoas e sonhava com um mundo melhor, mais justo, mais humano, com uma distribuição de rendas e riquezas que realmente elevasse o nível de vida de todos, não apenas de alguns poucos privilegiados. Via cada cidadã, cada cidadão, via todos como agentes, participantes e beneficiários das mudanças sociais e econômicas. Não admitia que o povo fosse apenas um mero espectador do progresso e, muito menos, um instrumento de manobras em mãos de políticos sem escrúpulos.

Ele tinha aversão ao populismo.

Quantas obras públicas construiu quando governador de Goiás, entregou-as aos goianos sequer as inaugurando? Sem festas, sem bandas de música, sem foguetórios, sem gastanças em propagandas impressas e televisivas? Era ele um político diferente. Avesso às promoções pesssoais, perseguia tenazmente o ideal de seus sonhos, sem jamais pisotear na dignidade de quem quer que fosse para atingir os seus objetivos.

Em 1987, Henrique Santillo recebeu o Estado com uma dívida equivalente a 2 bilhões de dólares, a parte da receita futura comprometida com antecipações. Os servidores estaduais estavam em greve, e voltaram ao trabalho, dando-lhe um voto de confiança. Não se arrependeram disso, pois Santillo, naquela época de inflação galopante, nunca deixou que os salários do funcionalismo público se defasassem. Até hoje, grande parte dos servidores estaduais tem saudades da política salarial que foi adotada por ele em seus quatro anos de governo.

Mal tinha organizado a casa, ocorreu o episódio do Césio 137. Uma cápsula de aparelho radiológico, contendo material radioativo, foi achada nos escombros da antiga Santa Casa, no Centro de Goiânia, por um catador de papel e ferro velho, e cuja história os goianos e os brasileiros conhecem muito bem. Naquele episódio, praticamente sozinho, Henrique Santillo teve inclusive de definir onde depositar os rejeitos, uma vez que o governo federal, responsável pela fiscalização e pela destinação desse tipo de material, cruzou os seus braços, enquanto, interminavelmente, o Congresso Nacional discutia se mandava ou não aquele lixo para a Serra do Caximbo, no Pará, o que contava com a oposição ferrenha de todos os políticos do Norte e do Nordeste do País. Comandando pessoalmente, com auxílio da Polícia Militar do Estado de Goiás, levou o material radioativo para Abadia de Goiás, onde seria um depósito provisório. Hoje, passados quase vinte anos, o provisório virou permanente. Se fosse depender de decisão federal, até hoje o lixo atômico estaria no Centro de Goiânia. À época, Santillo lutou bravamente contra a discriminação que a grande imprensa do País impôs aos goianos.

Mesmo com tantas dificuldades, Henrique Santillo deu um avanço substancial na área de saúde do Estado, construindo sete Cais em Goiânia, cinco nas cidades do interior, dez hospitais regionais e o Hugo (Hospital de Urgências de Goiânia), 30 postos de saúde na capital, aumentando de 20 mil para 250 mil pessoas o atendimento médico público. Cidades menores que não contavam com médicos receberam 600 agentes de saúde treinados, um programa de saúde pública pioneiro no Brasil.

Levou água potável a praticamente todos os municípios de Goiás. Aumentou de 600 mil para 850 mil o número de famílias atendidas pelos serviços de energia elétrica, com programas sociais que iam de tarifas menores aos padrões econômicos fornecidos pela própria Celg. Assim foi no Jardim Tiradentes, no Jardim Curitiba, em bairros pobres de todos os centros urbanos de Goiás, onde milhares de famílias tiveram acesso a esse benefício. Mais de 46 mil famílias de mini e micros produtores rurais foram atendidas pelo programa de eletrificação rural.

Criou a Universidade Estadual de Anápolis (Uniana), construiu a Usina Hidrelétrica de São Domingos, dotou Anápolis do mais moderno sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário e deu início às obras da Estação de Tratamento de Esgotos de Goiânia.

Construiu 623 quilômetros de asfalto em ruas e avenidas de todas as cidades de Goiás, no mais arrojado programa municipalista já visto no Estado. Antes de iniciar esse programa de pavimentação municipal, Santillo conversou com o presidente Sarney, que se comprometeu em financiá-lo pela Caixa Econômica Federal. Com o passar dos meses, as obras em andamento em todos os municípios, aconteceu a Convenção Nacional do PMDB para escolha do candidato à Presidência da República, e o preferido de Sarney ficou em terceiro lugar, o que o irritou profundamente. Assim, o presidente encontrou um modo de retaliar o governador Henrique Santillo, a quem ele responsabilizava pela derrota do seu candidato. O governo federal não honrou os compromissos que foram assumidos com o governador. Diante da ação intempestiva do presidente, Santillo se viu obrigado a emitir letras do tesouro estadual, para saldar os compromissos assumidos com as empresas pavimentadoras do PPM. Com a chegada de Fernando Collor de Melo à Presidência da República, foi baixado decreto cancelando todas as letras emitidas pelos Estados, tornando sem feito aquelas emitidas por Goiás. Para não sacrificar o Banco do Estado de Goiás, que era avalista das letras, cuja liquidação extra-judicial poderia ser decretada pelo governo federal, Henrique Santillo negociou com o Banco Central do Brasil o pagamento de toda a dívida, até o final do seu governo (o que foi feito), com parte do Fundo de Participação dos Estados. Dessa forma, tais episódios desestabilizaram a sua administração no último ano de governo.

Embora fosse seu plano candidatar-se ao Senado em 1990, entregando o governo ao presidente da Assembléia Legislativa, deputado Milton Alves (uma vez que Roriz, vice-governador, estava governando Brasília), Santillo resolveu permanecer no cargo até o último dia, enfrentando, ele mesmo, as dificuldades que adviriam na reta final de sua administração.

Portanto, Henrique Santillo não precisa de ninguém para o defender de nada. Sua melhor defesa é sua vida e sua obra.

Adhemar Santillo
ex-prefeito de Anápolis e ex-deputado por Goiás

Romualdo Santillo
ex-deputado estadual de Goiás

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