sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Irmão caçula

Henrique, Romualdo e eu, sempre fomos amigos e muito unidos.

Desde nossa infância nunca tivemos atritos que pudessem deixar mágoas ou ressentimentos uns com os outros. Por ser o mais velho, sempre introvertido, mais calado, dedicado aos estudos, Henrique não teve comigo e com Romualdo a convivência nas nossas peraltices de criança.

Além de estudar e de ajudar aos nossos pais, Romualdo e eu encontrávamos tempo para diversão com meninos da vizinhança, embora tivéssemos gostos diferentes para as brincadeiras.

Jornalista competente, intelectual com apurado senso crítico, Romualdo sempre esteve envolvido diretamente na luta política pelo retorno à democracia, sem, no entanto, disputar mandato eletivo no primeiro instante.

A candidatura do Romualdo a Deputado Estadual pelo PMDB, em 1982, foi circunstancial. Nas eleições de 1978 fui candidato a Deputado Federal, fazendo dobradinha com Wolney Martins e Joceli Machado que foram os representantes do PMDB em Anápolis como Deputados Estaduais. Nas eleições de 1982 Wolney já havia deixado o PMDB e se filiado ao PDS, partido pelo qual buscou reeleição depois de passar pelo comando da prefeitura, por nomeação, enquanto Joceli Machado preferiu não disputar a reeleição. Romualdo foi lançado candidato a Deputado Estadual para não deixar o Município desprovido de representante do PMDB.

Romualdo foi eleito Deputado Estadual em 1982 com votos obtidos em Anápolis e exerceu seu mandato de forma discreta e responsável. Foi autor da lei que inspirou o Governador Iris Rezende a criar o FOMENTAR, programa de incentivo às novas empresas para que se instalassem em Goiás e de sua autoria, também, é a lei que criou a Universidade Estadual de Anápolis, UNIANA.

Através de requerimento de autoria do Romualdo quando Deputado Estadual, e tendo ele mesmo como relator, a CPI sobre Adoção de Crianças por famílias estrangeiras foi instaurada. A situação era de total desinformação sobre a preferência de adoções por casais estrangeiros cujas crianças eram enviadas ao exterior, preterindo casais brasileiros. Foi apresentando um relatório contundente sobre a situação, realçando que havia uma verdadeira quadrilha envolvida nessa questão de adoções por estrangeiros. A CPI da Assembléia Legislativa de Goiás desarticulou o processo criminoso, contando com participação eficáz do Ministro da Justiça, Paulo Brossard.

Foi autor da lei que obriga autoridades policiais a registrar no Judiciário todas as armas apreendidas.Sua intenção era acabar com a farra praticada por integrantes da polícia que apreendia armas, não as registrava , vendendo a terceiros. Com o registro junto ao judiciário esse crime diminuiu de intensidade.

Como jornalista, articulista do jornal Correio Braziliense, denunciou os gastos exagerados em jantares e recepções com recurso público pelo Chefe da Casa Militar do Governador Emilio Ribas Junior, o coronel Epitácio de Brito. Esse realizava lautos banquetes semanalmente no Palácio das Esmeraldas, trabalhando sua possível candidatura ao Governo do Estado de Goiás, pela UDN, em 1965. O artigo, sob o título “O homem que jantava demais”, escrito de forma corajosa e destemida, lhe resultou em prisão arbitrária na cadeia pública de Anápolis e pôs fim às pretensões políticas do coronel.

No radialismo, Romualdo sempre foi um apaixonado.

Em época que não se dispunha das facilidades dos meios de comunicação modernos, Romualdo foi o primeiro a noticiar em todo o Brasil o atentado a John Kennedy, em Dallas, no Texas, EUA. Ouvindo a “Voz da América” tomou conhecimento da morte do Presidente Kennedy no momento do acontecido, uma vez que o programa fazia a cobertura do evento do qual participava o presidente vitimado. Imediatamente, Romualdo Santillo transmitiu através da Rádio Carajá, antes mesmo que as emissoras do Brasil, do eixo Rio São Paulo noticiassem o fato.

Como não havia chegado o sofisticado sistema de comunicação hoje existente, tudo se fazia no rádionotícia, principalmente no interior, por rádioescuta ou em cima das notícias de jornais. Algum tempo antes do atentado contra o presidente norte americano, em Dallas, Clovis Guerra, comandante do jornalismo da Rádio Carajá, havia noticiado, em edição extrardinária, a morte do Papa João XXIII, que encontrava-se enfermo há alguns dias. Verdadeiramente o Papa só veio a falecer tres dias após o anúncio da sua morte . Foi equivoco imperdoável do noticiarista nacional ouvido por Clóvis.Como a Rádio Carajá era emissora de credibilidade houve esforço muito grande dos diretores e seus funcionários para justificar o erro da morte antecipada de João XXIII. Traumatizado com a informação sobre o Papa, o presidente da rádio, Plinio Jayme, subiu a escadaria, direto onde se encontrava o Romualdo:

- Rapaz nem bem saí da confusão em que ‘matamos’ o Papa João XXIII e voces vem agora noticiando morte do Presidente dos Estados Unidos?

Sempre muito criativo e atento ao que poderia agradar aos ouvintes, Romualdo observou com atenção o astrólogo Omar Cardoso que fazia o maior sucesso nas emissoras de rádio do Brasil, respondendo aos consulentes baseando na influência astral. Romualdo criou programa semelhante com Felipe Jorge Mattar no papel do astrólogo ”Professor Akinatton” respondendo aos ouvintes da emissora que o consultavam. Em pouco tempo, o “Professor Akinatton” era o líder absoluto em audiência no horário, desbancando o próprio Omar Cardoso.

O “Professor Akinatton” ganhou a audiência de Omar Cardoso na disputa radiofônica, porque enquanto Omar atendia consulentes de todo o Brasil o “Akinatton” atendia consultas de anapolinos e de cidades vizinhas, onde a Rádio Carajá tinha milhares de ouvintes.

Sua “prova de fogo” aconteceu no dia em que uma senhora, grávida, prestes a dar a luz, lhe escreveu:

– Professor, sou mãe de duas meninas, muito lindas. Devo dar a luz nos próximos dias, no Hospital Dom Bosco. Quero saber se será outra menina ou se desta vez será menino?

Precavido, o “Professor Akinatton” querendo ganhar tempo para não ter que descobrir se seria menina ou menino, alegou que precisaria de dados complementares, como idade dela e do marido e o signo de cada um deles, além da data de nascimento das duas filhas e se haviam nascido em parto normal e outras e informações que acreditava só chegariam após o nascimento da criança.

Antes mesmo de terminar sua apresentação daquele dia, o “Professor Akinatton” recebeu na urna de correspondências a resposta do que solicitara ao casal. Não houve como escapar.

No dia seguinte, 48 horas antes do nascimento da criança, respondeu:

– Querida consulente, diante das informações que me passou, você vai ter parto normal e a criança é do sexo masculino.

Nascida a criança, era mesmo um menino. Impressionou aos parentes e amigos do casal que faziam questão de conhecer pessoalmente o “Professor Akinatton”.

Em todos os lugares por onde passa Romualdo é estimado e respeitado pela sua alegria, fino humor, companheirismo e simplicidade. Sua esposa, Ruth Laboissière Santillo, acompanhando seu modo de vida simples, é uma batalhadora e forte aliada nessa caminhada tranqüila do Romualdo, irmão do qual muito me orgulho.

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