terça-feira, 28 de agosto de 2012

Denúncia contra mordomia teria evitado cassação

Estes relatos de fatos ocorridos na política brasileira, no período da ditadura militar de 1964 a 1985, os fazemos para que fiquem registrados na história. Essa foi a saga de um grupo político, do qual fiz parte, na luta incansável em favor da redemocratização do País. Gente humilde e idealista que honrou as tradições de luta do povo goiano.

O fechamento do Congresso Nacional, conforme anunciara o deputado Tancredo Neves, se confirmou. O MDB fechou questão pela rejeição da Reforma do Judiciário, proposta pelo, então, Presidente Geisel. As especulações sobre a revanche que viria em seguida continuaram. Ninguém imaginava o tamanho do retrocesso político que viria. Todos eram unânimes em garantir que cabeças rolariam.

O deputado Carlos Wilson, da bancada arenista de Pernambuco, chegando do Recife, veio com a informação que estivera no gabinete do governador daquele Estado, e que viu na sua mesa de despacho, uma lista de deputados que seriam cassados:

- Seu nome, até por começar com a letra A, é o primeiro da lista!

Estava consciente que assim que Geisel decidisse pelo casuísmo que daria às novas regras eleitorais, anunciaria, também, os parlamentares cassados. Pelas informações que me chegavam de companheiros da Câmara e com jornalistas, se houvesse alguma cassação, eu figuraria na relação.

Como passei a ser muito visado depois de haver feito a denúncia contra os gastos com alimentação e material de higiene na residência oficial do Ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, tinha convicção de que tudo fariam para me afastar da atividade política.

A repercussão da denúncia caíra como uma bomba. Por mais que o Ministro e os setores de comunicação do Governo se esforçassem para minimizá-la, o estrago foi grande.

Quando Geisel anunciou o “pacote de abril”, como ficou conhecido o ato de fechamento do Congresso Nacional, após a rejeição da Reforma do Judiciário pelo MDB, além das introduções nas regras eleitorais, todas fechando ainda mais a possibilidade do MDB chegar ao poder pela via eleitoral, foi realizada uma única cassação: a do deputado Alencar Furtado, líder do partido, na Câmara Federal.

Foi uma surpresa para os congressistas. Todos acreditavam numa lista extensa e da qual meu nome figuraria. Mas, justamente o fator que os companheiros acreditavam me levaria à cassação, teria sido o que, na verdade, me salvou da degola. Na reunião do Conselho de Segurança Nacional, segundo é citado no livro “Por trás do Poder”, de autoria do general Hugo Abreu, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, no momento de se decidir por cassações, deixaram de optar pelo afastamento de um deputado, (não é citado o nome), por que ficaria mal junto à opinião pública, por ser o que denunciara integrante do governo.

Verdadeiros, ou não, esses fatos, o certo é que fui poupado. Com a minha não inclusão, o ato autoritário, com base no AI-5 atingiu, apenas, o deputado Alencar Furtado (MDB-PR).

Outras cassações como as dos deputados Lysâneas Maciel; Amauri Müller; Nadir Rosseti e Marcus Titto, aconteceram em outro contexto: Amaury e Nadir por que criticaram a política do Presidente Geisel num comício para eleições municipais de 1976, em Palmeira das Missões, interior do Rio Grande do Sul. Lysâneas por que leu, da Tribuna da Câmara, o discurso que levou os dois gaúchos a serem cassados. Marcus Tito porque fizera pronunciamento criticando a política econômica do Governo, usando dados publicados no editorial do jornal “Voz Operária”, do Partido Comunista Brasileiro... (Continua).

Nenhum comentário:

Postar um comentário