quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No Passado Foi Diferente

Alguns amigos, principalmente eleitores que sempre me apoiaram nas disputas eleitorais, me perguntam se não foi difícil para mim tomar a decisão de deixar o PMDB. Para todos respondo que sim. Ingressei na vida política me filiando ao MDB. Partido que muito fez para que a ditadura de 1964 caísse e ressurgisse a democracia. Nunca havia militado noutro partido. Já em 1966, quando ajudei fundar o Movimento Democrático Brasileiro, em Anápolis, participei da eleição de Henrique Santillo a vereador. Garantir sua posse foi batalha heróica e nos moldou para a verdadeira guerra que teríamos pela frente. Em 1970 me elegi a deputado estadual. Com a cassação do mandato do prefeito Iris Rezende e suspensão dos seus direitos políticos por 10 anos, o MDB quase acabou em Goiânia. A principal trincheira da resistência democrática em Goiás foi construída em Anápolis. As vitórias que conseguíamos contra a Arena, eleição após eleição, davam visibilidade à luta oposicionista que sustentávamos. Graças a esse quadro nossa responsabilidade na formação do partido de oposição verdadeira foi enorme.

Os companheiros do interior admiravam o trabalho que fazíamos em Anápolis. Sabiam das perseguições que sofríamos, mas não fraquejávamos. Pelos estreitos caminhos que as leis de exceção nos ofereciam resistíamos indo à frente. Não nos acovardávamos e nem temíamos os prepotentes. A cada eleição inventavam enxurrada de denúncias na tentativa de nos intimidar.

Cassação do mandato do prefeito José Batista Júnior (MDB), com a transformação do municipio em Área de Interesse à Segurança Nacional; invasão da Rádio Carajá, que havíamos adquirido do ex-deputado Plínio Jayme, pela Policia Militar do Estado, devolvendo seu comando ao antigo proprietário; fechamento da Rádio Santana que adquirimos em substituição à Carajá; prisão do bravo e saudoso vereador Walmir Bastos Ribeiro e prisões de auxiliares do ex-prefeito Henrique Santillo, não nos amedrontaram. Revigoraram nossas forças.

Em Anápolis nos fortalecíamos dia a dia com nossa pregação diária em favor das liberdades democráticas no programa radiofônico, “ O povo falou tá falado”. Fazíamos reuniões domiciliares preparando novos quadros de autênticos resistentes à ditadura. Simpósios trabalhistas e estudantis completavam nosso pacote na formação de lideranças.

No interior, mesmo com a simpatia de expressivas lideranças pela nossa atuação, questões políticas locais falavam mais alto. Essas lideranças preferiam ficar agasalhadas em sublegendas dentro da Arena a formar o MDB. No início o partido contou com adesão de posseiros, pequenos sitiantes, lavradores e trabalhadores braçais. Mesmo assim enfrentamos a resistência dos políticos locais.

Em Estrela do Norte, o caminhoneiro Hilton Lucena de Oliveira foi preso, prisão preventiva decretada pelo Juiz da Comarca, porque estava filiando eleitores ao MDB. Altivo, conhecido carroceiro da cidade, que o ajudava no trabalho de filiação, apanhou tanto da polícia que sumiu da cidade. Em Jaraguá, Militino, conceituado farmacêutico no município, juntamente com a companheira Maria filiaram gente da zona rural. Quando completaram as filiações necessárias foram ao Cartório Eleitoral para o registro dos filiados. Encontraram nas mãos do escrivão, carta renúncia assinada por cada um dos filiados. Em Mara Rosa lançamos a candidatura Zériaco, à prefeitura. A única propaganda que fez foi um cartaz com seu nome e caricatura, desenhados por sobrinho seu. Em Silvânia, Geraldo Bonfim, pequeno comerciante de secos e molhados enfrentou o poderio arenista dos Caixeta. Em Goianápolis, os vereadores emedebistas Lucas Gonçalves e João Leite de Morais tiveram os mandatos cassados por trabalharem em Anápolis. Assim surgiu e se fortaleceu o MDB.

Graças à resistência dessa gente humilde e batalhadora, Iris Rezende Machado chegou ao governo de Goiás em 1982, depois de 10 anos afastado compulsòriamente da vida política. O partido de hoje não é o mesmo do seu nascimento. Deixamos o PMDB mas não deixamos a luta. Estaremos noutra trincheira com os mesmos ideais do passado. Não nos sentiríamos confortáveis, num partido moldado na resistência democrática e que hoje pune as vozes internas que democraticamente discordam da sua prática política.

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