quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sonho - Henrique Santillo

Eu sonho com uma sociedade solidária e justa, em que a vida possa ser vivida com dignidade por todas as pessoas, ricas ou pobres, brancas ou negras, índias ou mestiças. Uma sociedade em que ninguém seja ofendido pela cor de sua pele. Uma sociedade que se orgulhe da incalculável contribuição que recebeu do negro no trabalho, na cultura, na beleza. Uma sociedade que reconheça o quanto deve ao índio, primeiro habitante, dono desse território, e que tanto tem ainda a nos ensinar em matéria de organização política e social.

Eu sonho com uma sociedade que respeite as crianças. Elas não são o nosso futuro; elas são o nosso presente. São o fruto do nosso amor, do melhor que nós temos dentro de nós. São a nossa esperança de um mundo mais inocente, mais alegre, mais solidário, mais colorido. Eu sonho com um mundo em que nenhuma criança, nenhuma mesmo, não tenha o que comer. Em que nenhuma criança fique sem escola. Nenhuma criança deixe de brincar. Nenhuma criança sofra ou morra por falta de assistência médica. Nenhuma criança, mas nenhuma mesmo, fique sem lar e sem afeto.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os velhos. Mais que isso: uma sociedade que tenha um lugar para eles, o mais destacado, em casa, junto aos filhos, aos netos e aos bisnetos. O mais destacado na própria sociedade, o respeito à sua experiência, ao conhecimento adquirido na luta pela vida. Sonho com uma sociedade em que nenhuma pessoa idosa fique ao desamparo, ao desabrigo, sem recursos e sem afeto.

Eu sonho com uma sociedade que respeite as mulheres. Uma sociedade onde a discrimação e a violência contra a mulher estejam abolidas de uma vez por todas, sejam consideradas um absurdo. A mulher é o sonho do homem e a sua realidade. A mulher é a amada e é a filha. É a mãe e a namorada. A avó, a vizinha, a comadre, a amiga. A mulher é a grande companheira. A mulher é a luz do mundo.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os jovens, todos os jovens. Eles são a nossa parte melhor: o nosso idealismo, a nossa pureza, o nosso desprendimento, a nossa alegria de fazer, a nossa capacidade de acreditar.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os homens, sejam quem forem, façam o que fizerem, pensem o que pensarem. Uma sociedade que respeite o amigo e o adversário, o sócio e o concorrente, o irmão e o desconhecido, o vizinho e o distante, o parente e o estranho, o conterrâneo e o forasteiro, o nacional e o estrangeiro. Respeite todos os homens, o seu corpo e o seu espírito. Respeite e defenda a liberdade de cada um, em todos os momentos, em todas as circunstâncias.

Eu sonho com uma sociedade que respeite a natureza, pois não há vida digna desse nome sem o convívio pacífico com a natureza. Uma sociedade que respeite o sonho humano de banhar os pés nos rios e descansar à sombra das árvores. Acordar com o canto dos pássaros e alegrar os olhos com o esplendor das flores. Despertar para a vida com o sol que nasce e entregar-se ao recolhimento enquanto o sol se põe. E dormir em paz, enquanto a lua sobe no horizonte.

Eu sonho com uma sociedade em que vale a pena ser honesto e íntegro, digno e coerente. E sonhador, com a beleza de Goiás e o privilégio de viver aqui. Sonho com esse cerrado sem fim, com esse horizonte que não acaba, a não ser para revelar e esconder o sol. Sonho com essa pastagem infinita, só povoada pelo boi e pelo vaqueiro solitário. Sonho com o Araguaia e o Tocantins, suas águas e suas praias, seus barqueiros e seus pescadores. Sonho com os arrozais imensos do sul e com a pradaria de soja do sudoeste. Sonho com o norte orgulhoso, e o nordeste rude e cheio de mistérios. Sonho com os garimpos e com a história da Vila Boa. E sonho com Goiânia, a Goiânia construída por tantas mãos anônimas, vindas de tantos lugares, para erguer aqui seu sonho de felicidade.

Eu sonho com todos o goianos anônimos que constroem este estado com a força dos seus braços, o suor de seus rostos, a força de suas ideias, o vigor da sua fé.

Eu sonho com um Goiás em que ninguém seja negado o direito ao trabalho, o direito de construir o seu próprio sonho. Um Goiás que se modernize e dê vida a esse sonho de cada um, mas sem perder o seu jeito de ser, bem goiano. Um Goiás absolutamente novo e, no entanto, fiel à suas tradições. Um Goiás moderno, assentado no que há de mais nobre e belo em nosso passado. Um Goiás justo para todas as pessoas, como sonharam os nossos antepassados, e como nós lutamos até agora para implantar.

É esse o meu sonho. O sonho que quero compartilhar com todos os goianos. E agradeço, agradeço comovido, o privilégio que vocês me deram de durante esse tempo todo conviver com vocês. Muito obrigado.

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