domingo, 13 de março de 2011

Anapolino de Faria, uma vida de coerência


Anapolino de Faria, médico, filho de família tradicional em Anápolis, sempre conciliou sua atividade profissional com a participação política. Coerente, sincero e sistemático, referência positiva e fez escola na política goiana e nacional. Democrata, mas anticomunista convícto, mesmo assim era admirado e respeitado pelos esquerdistas que o conheceram. Seu compromisso com a democracia foi mais forte que sua ideologia. Desde a primeira hora, se colocou contra o golpe militar de 1964. Nas tribunas da Assembleia Legislativa, Câmara Federal, praças públicas, concentrações simpósios e palestras, se firmou como uma das vozes mais importantes no combate à ditadura.

Anapolino de Faria era respeitadíssimo como cirurgião. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trouxe para Anápolis a técnica de operação de bócio, que por aqui era endêmico. A hipertrofia da tireoide fazia com que os “papos”, dos mais simples aos de corda, aqueles bem compridos, surgissem deformando as pessoas. Além de afetar-lhes a saúde, diminuía intensamente sua autoestima. Com o médico Anapolino de Faria, o sonho de vida normal, recuperação da beleza estética, sorriu para centenas de indivíduos que foram restaurados como que por milagre.

O respeito e amor que dedicava aos pacientes, maioria oriunda das camadas mais pobres da população, fez com que Anapolino de Faria percebesse que poderia ajudar o povo de forma mais abrangente, através da política partidária. Elegeu-se vereador e foi presidente da Câmara Municipal de Anápolis. A partir daí sua carreira política decolou repleta de vitórias: deputado estadual, deputado federal, prefeito de Anápolis...

Anapolino de Faria foi um dos responsáveis pelo fim do coronelísmo em Anápolis. Em 1969, ficou a favor da candidatura do vereador Henrique Santillo à prefeitura, contra as forças tradicionais e conservadoras do município que queriam Thales Reis, genro do cel. Achiles de Pina. Embora nacionalmente fizesse parte do grupo moderado do Movimento Democrático Brasileiro – MDB, no município, esteve sempre ao lado dos progressistas, ou autênticos, liderados por Henrique Santillo.

Quando foram cassadas lideranças tradicionais da política goiana, como Pedro Ludovico, Olimpio Jayme, Iris Rezende Machado, João Abraão e outras figuras expressivas do MDB, assumiu a presidência regional do partido.

Em 1996, quando me candidatei à prefeitura de Anápolis, ficou ao meu lado, no PSD, mesmo pertencendo ao PMDB. Não concordou com o comando do seu partido em Anápolis, que apoiou Pedro Canedo (PFL) tendo a deputada federal Lídia Quinan(PMDB) na vice. Deixou de apoiar seu amigo e líder de inúmeras eleições, Henrique Santillo, por ser candidato pelo PSDB.

Em 1983, cumprindo dispositivo constitucional o governador Iris Rezende Machado o indicou para assumir a Prefeitura de Anápolis. Assim a prefeitura ficaria com o PMDB, amplamente majoritário em Anápolis e no Estado. A princípio rejeitou totalmente a ideia:

– Não aceito! Não quero carregar essa mancha na biografia.

O convencemos que à frente da prefeitura seria mais um instrumento do povo, pelo retorno de eleição direta no município.

Aceitou a indicação. Deixou o cargo quando o substituí. Fui eleito pelo voto direto em 1985, depois de Anápolis ter perdido por 12 anos sua autonomia política ao ser enquadrada como do interesse à Segurança Nacional, em 28 de agosto de 1973.

Anapolino, eterno apaixonado pela educação, contatava com os mestres de forma direta. Mesmo que o intermediário fosse o sindicato. Egmar José de Oliveira (PCdoB), vereador e presidente do sindicato dos professores, precisava discutir assuntos da categoria com o prefeito. Por não conseguir agendar a audiência, decidiu pressioná-lo, fazendo seu enterro “simbólico.” A manifestação aconteceu em frente ao seu gabinete, na Praça Abílio Wolney. Encerrado o protesto, enterro “simbólico” do prefeito realizado, caixão abandonado no saguão da prefeitura, Egmar foi ao gabinete na tentativa de acertar a audiência. Tomando conhecimento que o presidente do sindicato estava à sua procura, determinou ao secretario Nelson Gomes que o conduzisse à sua presença. Egmar adentrou à sala todo sorridente. Anápolino, em pé, atrás da sua mesa de despacho, antes que houvesse o aperto de mãos:

– O senhor deseja marcar audiência, não é?

– Sim, prefeito! Há questões importantes que precisam ser discutidas.

– O senhor deveria saber que defunto não concede audiência...

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