segunda-feira, 25 de março de 2013

Giannotti confirma nossa desconfiança


Na prática, dos integrantes do grupo santilista, fui o primeiro a sentir, que apesar de Lula nos tranquilizar, dizendo que os grupelhos trotskistas não dominariam as ações do Partido dos Trabalhadores, a realidade era outra. As atitudes tomadas por esses grupos eram todas no sentido de radicalizar ao máximo possível. Não queriam um partido político respeitando as regras democráticas. Para eles, o negócio era revolução popular. Guerra contra os inimigos da Pátria. Luta armada, de forma planejada e organizada, era o caminho. Vi a forma agressiva como atuavam, contaminando toda a militância petista, mesmo a pacifista, até àquele instante. Lula e seus companheiros de direção nacional sabiam disso. Mas, em todas as vezes que conversávamos, ele dizia que “os grupelhos estavam sob controle”. Saímos do encontro certos de que medidas saneadoras seriam tomadas. Acreditamos na palavra do maior líder do Partido.

No encontro que aconteceu no Colégio Sion, em São Bernardo do Campo, para a fundação do PT nós, parlamentares, estávamos presentes. O senador Henrique Santillo, primeiro integrante do Partido dos Trabalhadores no Senado e os deputados federais Airton Soares (SP); Luiz Cechinnel (SC); Antônio Carlos (MS), Edson Kahir (RJ) e eu pelo Estado de Goiás.

Pela forma com que fomos tratados na Plenária, sentimos que a alta direção petista não queria desagradar os radicais. Na formação da Mesa que conduziu os trabalhos da Convenção, foram chamados para sua composição Apolônio de Carvalho, os lideres canavieiros Abadia e Manoel Anunciação, alguns intelectuais representados por Welfort e Sérgio Buarque de Hollanda, e lideranças sindicais representadas por Olívio Dutra. Para presidir os trabalhos, Luiz Inácio Lula da Silva. Anunciado pelo cerimonial o nome de Lula, a platéia foi ao delírio. Enquanto, freneticamente gritava: “Um, dois, três, quatro, cinco mil! Queremos Lula, presidente do Brasil!!!” Foi convidado para secretariar os trabalhos, convite abafado pela gritaria dos convencionais, o senador Henrique Santillo. Teve mesmo assim, melhor sorte que nós deputados, que fomos orientados por um dos organizadores do encontro, que ocupássemos cadeiras que ficavam num dos cantos ao fundo do auditório. Mesmo com toda a credibilidade que tínhamos a nível nacional, pela
luta que todos nós travávamos pela derrubada da ditadura, parecia que a direção nacional do PT estava querendo nos esconder da militância ali presente. Majoritariamente, os presentes eram contra a atividade parlamentar.

Só agora, no dia 10 de outubro de 2012, na sua vinda a Goiás, o professor José Artur Giannotti, um dos mais consagrados filósofos do Brasil, que esteve presente à Fundação do Partido dos Trabalhadores, revelou o ocorrido no dia seguinte à Convenção. Jogou por terra os argumentos de Lula, de que quem mandava no partido era ele, e não os grupelhos. Em entrevista ao jornalista Renato Queiroz, do jornal O Popular, no caderno Magazine, da quarta feira dia 10/10:

“O senhor causou a ira dos petistas ao dizer que o PT chegou ao poder e virou um partido mole. O senhor continua achando que o partido fracassou?”

Giannotti: - “Você sabe minha história. Participei da fundação do PT e assinei a ata da fundação do PT no Colégio Sion. Depois pediram para eu passar na sede do Partido para assinar, porque o grupo mais radical achou que tinha muito burguês assinando o documento. Naquele momento achei que já era suficiente a minha militância partidária...”

Fica assim mais do que clara que, no seu nascimento, quem dava as cartas no PT, não era Lula, mas sim o grupo trotskista. Contra patrões, contra tudo e contra todos...

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