sexta-feira, 22 de junho de 2012

Dez anos sem Santillo, por Waldemar Curcino de Morais Filho


Faz dez anos que Santillo se foi. Tinha 62 anos. Sem exagero, creio que só estamos aqui graças a ele. Fosse outro o governador no episódio do Césio 137, sabe-se lá onde teríamos ido parar.

Henrique Antônio Santillo. Henrique com “h” de honestidade, honra, hombridade, humildade, humanismo. Antônio com “a” de austeridade, amizade, amor, afeto. Santillo com “s” de seriedade, sabedoria, serenidade, solidariedade. Grande homem.

Paulista de Ribeirão Preto, para Anápolis veio ainda criança. Cresceu com a cidade e a amou como berço natal. Estudou em escolas públicas do primário à universidade, de onde saiu médico formado, pediatra, doutor das crianças, principalmente das mais pobres, os anjos da periferia.

Não foi fácil chegar lá. Deu aulas em cursinhos em Belo Horizonte, enquanto cursava medicina. Desonerou o bolso do pai, que assim pôde cuidar dos demais filhos. Santillo nunca foi problema, só solução. Nunca foi tristeza, só. Alegrias. Probo, íntegro, reto, honesto.

Aprendeu e ensinou que a vida não é sorte, é luta e conquista. Que não devemos esperar pelo cavalo passar areado e, sim, campeá-lo e laçá-lo, selá-lo e montá-lo, num esforço próprio, resultado da autodeterminação. Ensinou que cada dia é um cavalo a ser pego, selado e montado. O prazer estava em consegui-lo.

Santillo, o doutor das crianças. Por causa delas, ao vê-las no sofrimento em meio à pobreza e desatenção, ingressou na política partidária, fazendo despertar lá dentro a chama da política estudantil mantida perene, acesa, pronta para a luta. Foi vereador, prefeito de Anápolis, deputado, senador, governador, ministro de Estado. Era conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, quando se despediu de nós. Ele dignificou todas essas funções.

Eu o admirei por tudo o que era. Rico sem dinheiro, sua riqueza era o caráter e a sua honra o patrimônio. Nunca se submeteu a coisas materiais. Via o poder como algo efêmero, finito num abrir e fechar de olhos. Construímos uma amizade sólida e respeito mútuo. Além de amigo, eu me tornei seu genro. D. Sônia lhe deu Soninha, que a criou com base nos valores herdados do pai – honradez, humildade, honestidade, firmeza de caráter, sobriedade, solidariedade. Orgulho-me dizer isso.

Riqueza e poder não lhes interessavam. A ele bastava o pedaço de chão e a casa onde morava. “Muito menos que isso eu vou precisar quando morrer” – dizia ele.

Convivi com ele 22 anos, como genro e secretário particular. O pai amoroso e marido afetuoso eram o mesmo que, audaz, botou o dedo no nariz da ditadura para pedir democracia e respeito aos direitos humanos. Não temeu os anos de chumbo.

Teve poder, mas nunca o usou em benefício pessoal ou dos seus. Nunca fez da coisa pública instrumento particular. Dele jamais se ouviu falar que usou a caneta poderosa ou terceiros em prejuízo de alguém. Não foi com gritos ou força que demonstrou honestidade. Será leviano aquele que disser que Santillo usou a máquina pública para promoção pessoal, Nunca precisou de advogados e seguranças, nunca teve problemas de ordem moral, legal, administrativa. Santillo era um homem limpo e dele aprenderam virtudes todos os que assim quiseram.

Eu precisaria do jornal inteiro para discorrer sobre este grande homem, este maiúsculo brasileiro. Ele mesmo pediria a mim parcimônia. Até o ouço dizendo, sorrindo: “Elogio seu não vale, você é suspeito, Waldemar”. Eu e Soninha lhe demos netos por ele adorados. Abençoados, também e principalmente.

Neste junho, quando se fecha uma década da sua partida, nós nos reunimos para agradecer a Deus o rico legado que tanto nos orgulha e do qual não abrimos mão: honradez, decência, dignidade, respeito e tudo o mais que enobrece o homem.

Obrigado, amigo Santillo. O mundo sente falta de gente decente como você.


Waldemar Curcino de Morais Filho
Ex-Secretário Particular de Henrique Santillo
http://sebastiansp.blogspot.com/2012/06/henrique-santillo.html

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