terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (Final)

Contando com 40% do diretório nacional do PMDB e percentual teoricamente semelhante junto aos delegados estaduais, José Sarney imaginou que aquele era o momento certo para impor candidato seu à presidência da República, uma vez que os ulyssistas estavam divididos em três pré-candidatos: Valdir Pires, Álvaro Dias e o próprio Ulysses Guimarães. Sarney acreditava que seu indicado ficaria em primeiro lugar.

Foi escolhido Iris Rezende para representar o grupo Sarney e compor o quarteto que disputaria os votos dos convencionais. Ulysses mesmo com sua base de apoio dividida, continuava o preferido dos aliados. Era o grande líder da resistência democrática. Iris Rezende carregava o estigma da fraca administração de José Sarney. Saiu dos quadros da Arena, onde sempre militou, para se transformar em peemedebista, e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Tancredo Neves. A Constituição Federal, não permitia coligações entre partidos. Os arenistas que haviam formado o PFL e não apoiavam Paulo Maluf, só poderiam participar da chapa de Tancredo, caso o candidato a vice-presidente se filia-se ao PMDB. Assim o udenista bossa nova e empedernido arenista José Sarney se transformou em peemedebista. Ulysses Guimarães, por ser o mais idoso entre todos os candidatos dentro e fora do PMDB, sofria a discriminação do eleitorado, traumatizado com a morte repentina de Tancredo Neves, antes mesmo de tomar posse. A síndrome da velhice o prejudicava.

Realizado o seu lançamento por Brasília, Iris Rezende passou a contatar com as lideranças estaduais do PMDB. O primeiro que visitou foi Henrique Santillo, governador de Goiás. Sonhando com a unidade do PMDB, Santillo lhe disse que não se comprometeria com nenhuma das pré-candidaturas, para ter mais condição de diálogo com todos. Entendia que para o partido ter alguma viabilidade eleitoral naquele pleito teria que marchar unido. Embora se transformando em peemedebista por arranjo, Sarney desgastou tremendamente o partido em todo o Brasil.

Para discutir a pretensão de Iris, várias vezes conversei com Henrique acompanhado de Joaquim Roriz ou sozinho. Em todas as conversas repetia que tudo fez para manter a unidade do PMDB em Goiás e que batalharia pela unidade nacional com força redobrada. Era amigo pessoal de todos os candidatos, mas que nenhum dos postulantes uniria o partido. Defendia a substituição dos quatro postulantes por um único nome que pacificasse e representasse todo o partido. Ulyssista convicto tinha noção que o comandante das Diretas Já, não possuía viabilidade eleitoral. Não queria assistir pacificamente a derrota do PMDB. Para o governador goiano o partido dividido, qualquer que fosse seu candidato sua derrota seria inevitável. Acreditava que naquele momento, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, seria o ideal para aglutinar novamente o PMDB, evitando uma derrota para Collor de Melo.

Enquanto isso Iris Rezende viajava pelos Estados em busca de apoio. Todas as vezes que conversei com ele, reclamava da indagação que lhe faziam:

- E o governador do seu Estado, está lhe apoiando?

Respondia que Henrique Santillo estava lutando pela unidade do partido, com o lançamento de uma única candidatura.

O tempo passava e a unidade pregada e trabalhada por Henrique Santillo não se concretizava. A disputa cada vez mais acirrada e radicalizada. Na quinta feira que antecedeu a convenção, Iris Rezende me procurou para que acertasse o apoio do governador à sua candidatura, pois a unidade pregada por ele não aconteceu. As quatro chapas foram registradas. Fui ao Palácio das Esmeraldas falei com Henrique sobre a solicitação. Me autorizou a dizer que seu voto pessoal seria de Iris Rezende. Essa informação lhe dei num encontro em Brasília, com convencionais favoráveis a sua candidatura, em Águas Claras, residência oficial do governador Joaquim Roriz.

Na convenção Henrique e sua esposa Sônia, ambos delegados titulares, não compareceram. Cedaram as vagas a eleitores de Iris. Aos dois primeiros suplentes, deputados Sólon Amaral e Rubens Cosac, que votaram a favor de Iris Rezende. Encerrada a votação Ulysses Guimarães e Valdir Pires foram os dois mais votados e formaram a chapa peemedebista.

Vencido, Iris Rezende ficou magoado. Disseram-lhe que peemedebistas ligados à fundação Pedroso Horta teriam comemorado sua derrota, num hotel em Brasília. Desse espisódio em diante, conhecidos os resultados da Convenção Nacional do PMDB, o presidente José Sarney perseguiu Henrique Santillo, administrativamente. Não honrou compromisso feito com o governador de financiar o asfaltamento nos municípios de Goiás, pelo programa de Pavimentação Municipal. Esse financiamento foi garantido por Sarney a Henrique Santillo antes da Convenção Nacional. Naquela época a convivência entre Henrique e Iris era boa. Essa atitude do governo federal obrigou o governador a saldar os compromissos com as empreiteiras que realizaram o PPM, emitindo Letras do Tesouro Estadual.

Na disputa para a presidência da República, os peemedebistas goianos liderados por Sarney ficaram contra a candidatura de Ulysse Guimarães. O abandonaram. Apoiaram Fernando Collor de Melo.

Assumindo a presidência, Collor por não ter tido apoio de Henrique Santillo, o persiguiram ainda mais. No primeiro turno Henrique ficou com o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães. A ala de Sarney a favor de Collor. No segundo turno Henrique Santillo esteve ao lado de Lula, enquanto o PMDB de Sarney continuou em Goiás apoiando Collor. Foi Fernando Collor de Melo quem desferiu o tiro final na administração Santillo, ao exigir o pagamento imediato das letras emitidas pelo governo estadual. O governador teve que comprometer quase todo Fundo de Participação do Estado, no resgate das letras. Para completar a persiguição, por capricho político, Collor fechou a Caixego, extrajudicialmente.

Na campanha para sua sucessão ao governo do Estado em 1990, Henrique liberou seus companheiros, mas não participou da campanha. Terminado o pleito, Iris Rezende eleito, Henrique Santillo deixou o PMDB.

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