quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Genética no poder


A presença de parentes em disputas políticas é elemento de estudo de sociólogos e cientistas políticos, pelo significado de busca pela hegemonia no poder e de exemplo pela proximidade nos círculos familiares. Em Goiás são pródigos os exemplos de parentes que se sucedem nos cargos políticos e até se confrontam em disputas.

A premissa para disputar cargos eletivos é prevista na legislação como sendo brasileiro, maior de 18 anos e estar em pleno gozo de seus direitos civis e políticos. Entretanto, para alguns militantes da política, o parentesco é fundamento essencial para lograr êxito na atividade, quer administrativa ou legislativa.

O mais comum é alguém com pretensões políticas ingressar na vida pública primeiro e despertar o interesse de parentes depois. Diante da perspectiva de exercer um cargo de relevância e ter o poder ao alcance das mãos os demais parentes lançam seus nomes à consulta popular através do voto.

Dessa forma os casos de familiares na política são bem representativos e repetitivos. Os irmãos Santillo: Henrique, Adhemar e Romualdo estiveram na ribalta política dos anos 1970 e 1980 e somente o segundo ainda tem alguma presença. Henrique, o mais velho, foi um dos mais atuantes congressistas da oposição ao regime militar. Foi senador, governador de Goiás, ministro e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Faleceu após um derrame fulminante e deixou uma legião de admiradores. Adhemar foi deputado federal, secretário de estado e prefeito de Anápolis. Onaide Santillo, esposa de Adhemar também foi deputada estadual. Romualdo, o irmão caçula foi deputado estadual, atuante e respeitado, porém sem o mesmo brilho dos irmãos mais velhos.

Ainda no exercício do poder há uma família inteira na política de Goiás. O líder é o conselheiro do TCE, Sebastião Tejota, que foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa. Sua esposa, Betinha, também foi deputada estadual. Ela não disputou novo mandato em 2010 e a família lançou o filho, Lincoln Tejota para o Legislativo. O irmão de Betinha, Alfredo Bambu é vereador em Goiânia e com aspirações maiores para manter o nome da família na política.

          Carreira em casa

Outra família anapolina se destaca atualmente na política goiana. Os irmãos Antônio Roberto Gomide e Rubens Otoni Gomide militam juntos no PT e gozam de prestígio na política regional. Antônio foi vereador na cidade e atualmente é o prefeito de Anápolis, bem avaliado e com chances reais de ganhar a reeleição já no primeiro turno com grande votação. Sua administração é elogiada até por adversários e premiada por políticas públicas de sucesso. Rubens foi deputado estadual e é deputado federal pelo terceiro mandato.

O casal Iris Rezende e Iris de Araújo estão na vida conjugal há quase meio século e na vida pública quase isto também. Iris, o marido, foi praticamente tudo em política: vereador, prefeito de Goiânia, governador por dois mandatos, ministro e senador por Goiás. É um ícone que curiosamente não repassou para filhos ou irmãos a paixão pela política. Iris a esposa foi senadora e é deputada federal pelo segundo mandato. Sua desenvoltura mostrou ter brilho próprio e não ser mera coadjuvante do marido.

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, legou ao filho, Daniel Vilela a paixão pela política. Maguito foi deputado estadual, federal, senador e está à frente de Aparecida disputando a reeleição. Daniel foi vereador e é deputado estadual pelo mesmo partido do pai, o PMDB. A família Vilela tem outros dois expoentes na Câmara Federal: Leandro e Leonardo, que não são cantores. O curioso é que Leandro é do PMDB, enquanto que o primo Leonardo é destaque do arquirrival PSDB, tendo até presidido o partido em Goiás.

Pai e filho também estão no PTB. Jovair Arantes e Henrique Arantes seguem o mesmo padrão de familiaridade na disputa por votos. Jovair foi vereador, deputado estadual, é deputado federal e disputa a Prefeitura de Goiânia. Henrique seguiu os passos do pai até nos cargos: foi vereador e é deputado estadual licenciado para auxiliar no Executivo.

Há outros casos de familiares que se digladiam na política. Em Catalão a família é uma só: Faiad. Mas os primos Jardel Sebba e Adib Elias são igual cão com gato. Se encontrar um com o outro sai faísca e alguns imprompérios. Ambos disputam a prefeitura da cidade com uma gana que beira a arena de gladiadores. A esposa de Adib, Adriete Elias é deputada estadual pela segunda vez e auxilia o marido na campanha de Catalão.

          Panelinha

O publicitário e diretor do instituto de pesquisas Grupon, Mario Rodrigues Filho explica que a facilidade de entrar na política depois que outro parente já está na disputa facilita a vida de candidatos, mas pode ser um caminho perigoso.

“Fica sempre a impressão para as pessoas de que o exercício de um mandato é algo rentável e que querem a panelinha só para a família, coisa que a população tende a rejeitar”, frisa.

Mario explica que a facilidade de um se acoplar ao outro pode ser o outro gume da faca que apresenta grande risco de ferir o segundo candidato e que uma certa independência precisa ser mostrada para não permitir comentários mais desabonadores.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Furando o bloqueio do MDB de Luziânia


Estamos contando um pouco da política em Goiás, especialmente em Anápolis, no período difícil da ditadura de 1964. Escolhidos os candidatos que representariam o MDB nas eleições de 1978, à cadeira que seria disputada junto ao eleitorado goiano, foram realizados os acordos para o fortalecimento das duas candidaturas escolhidas na convenção do Partido. Ambos eram muito conhecidos das lideranças municipais. Por ser representante da região do Entorno de Brasília (nascera em Formosa) Juarez Bernardes era mais conhecido que Henrique Santillo nos municípios próximos a Brasília.

Luziânia, contando com distritos, hoje os municípios de Água Lindas; Santo Antônio do Descoberto; Novo Gama, Cidade Ocidental e Valparaíso, lançaria pela primeira vez um candidato da cidade pelo MDB, a deputado estadual. O escolhido foi o ex-vereador Joaquim Domingos Roriz. Empresário do ramo de material de construção em Brasília, não era do nosso relacionamento pessoal.

A mesma reunião do diretório municipal que lançou Joaquim Roriz a deputado estadual, fechou questão em favor de Juarez Bernardes para o Senado. Os demais diretórios do MDB, em todas as regiões do Estado, tinham suas preferências particulares, mas não fecharam as portas para o outro corrente do Partido. Em Luziânia foi diferente: foi fechado o apoio do diretório emedebista a Juarez Bernardes e as portas fechadas à candidatura de Henrique Santillo na região.

Contávamos, na cidade, com o apoio do saudoso vereador Carlos Melo que, semanalmente, comparecia a Brasília, na Câmara Federal, relatando-me as dificuldades que enfrentava para abrir uma brecha em favor de Henrique na região. Como Joaquim Roriz tinha que buscar apoio à sua candidatura a deputado estadual, Carlos Mello, o Carlinhos, sugeriu que conversássemos com Zequinha, irmão de Roriz, político experiente e que já fora prefeito em Luziânia, para tentarmos um acordo, abrindo espaço em alguns municípios que nos apoiavam, para que apoiassem, também, a Joaquim Roriz. Eu, Carlos Melo e Zequinha, almoçamos na Churrascaria Gaúcha, do Shopping de Brasília. Acertamos que conseguindo apoio de alguns diretórios municipais à candidatura de Joaquim Domingos Roriz, o diretório municipal do MDB de Luziânia, reconheceria Juarez Bernardes e Henrique Santillo como candidatos ao senado, democratizando a ação política no município.

Não solicitei apoio à minha candidatura a deputado federal. Nem pedi ao diretório de Luziânia que apoiasse só Henrique Santillo. Meu pedido foi no sentido de que não fechassem as portas da região a Henrique Santillo. Aceitaram o acordo. Mesmo assim, acordando que Henrique Santillo fosse aceito, democraticamente, pelo partido na região, faziam questão de ressaltar que tinham preferência por Juarez Bernardes. Imediatamente após o acordo procurei os companheiros de Alexânia, Corumbá de Goiás, Leopoldo de Bulhões, Vianópolis, Orizona, Pires do Rio, Goiatuba e Itapaci, cujos diretórios do MDB ficaram com a candidatura Roriz, a deputado estadual.

Em Goiânia montamos um esquema com líderes comunitários, lideranças universitárias e alguns comerciantes. Joaquim Roriz contava só comigo para o sua campanha política em todo o Estado. Depois que o trabalho se consolidou, fomos (Henrique e eu), a Luziânia. Pessoal satisfeito com a forma que trabalhei a candidatura de Joaquim Roriz, nos recebeu em festa. No mesmo encontro, o advogado Hélio Roriz, que se candidatara a deputado estadual no pleito anterior, ficando nas primeiras suplências do MDB, foi convidado por Henrique para ser seu suplente. Aceitou o convite... (Continua)

Atendimento de saúde acaba na Delegacia de Polícia!


Em Anápolis, a saúde pública é municipalizada. Exceção do Hospital de Urgências Henrique Santillo, administrado pela mesma entidade que administra a Santa Casa de Misericórdia, mantido com recursos repassados mensalmente pelo Tesouro Estadual, todos os demais hospitais públicos, filantrópicos e particulares que atendem pelo Sistema Único de Saúde –SUS fazem parte de organograma dirigido pela Secretaria Municipal de Saúde. Os recursos financeiros do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e os 15% da arrecadação municipal aplicados em saúde, ficam à disposição da Secretaria Municipal de Saúde. Somam neste ano, mais de 13 milhões de reais por mês. É muito dinheiro. Não se justificam as constantes reclamações contra o precário atendimento nos postos de saúde, falta de equipamentos e pessoal no Hospital Municipal ou que exames de laboratório estejam sendo marcados só para janeiro ou fevereiro de 2013.

Vários procedimentos médicos deixam de ser executados porque faltam médicos especialistas  ou  ausência total de estrutura física e equipamentos no local de trabalho. Outra coisa que tem causado insatisfação entre os trabalhadores na área de saúde do município é a diferença salarial entre os servidores que têm vínculo com a secretaria e os comissionados nomeados através de acertos políticos. Comissionados geralmente ganham duas ou até três vezes mais que funcionários de carreira. Geralmente não precisam cumprir horário de serviço. Isso tem sido grande foco de conflitos.

O ponto mais triste dessa situação de verdadeiro caos por que passa a área de saúde pública em Anápolis aconteceu na última terça-feira, dia 4 de setembro, quando José Ferreira, pedreiro registrado como trabalhador autônomo, se acidentou e necessitou de atendimento de urgência no Hospital Municipal. Instalando madeiramento numa casa que construía na Igrejinha de São Vicente, próxima ao trevo do Daia, na antiga estrada Anápolis-Goianápolis, acidentou-se com a máquina de cortar madeiras. Decepou o dedo polegar da mão esquerda.

Acondicionou o dedo cortado num pedaço de pano e estancou o derramamento de sangue da mão com sua camisa. Foi conduzido às pressas ao Hospital Municipal. Chegou à recepção às 14 horas e 18 minutos. Contorcendo-se em dores, implorou atendimento. Não foi atendido de imediato. Contudo, a todo instante recebia informação que aguardasse um pouco mais, mas  que seria atendido. Com muita dor, seu desespero acelerou. Indignação ficou maior quando via médicos e enfermeiras entrando e saindo do hospital, sem que lhe dirigissem uma só palavra. Ninguém o atendia. Queria ao menos fazer limpeza no dedo lesionado. Como chegou com o dedo embrulhado num pedaço de pano sujo pela poeira e camisa enrolada na mão acidentada, ficou o tempo todo à espera de atendimento médico. Depois de algumas horas de espera, foi orientado pela recepção que deveria colocar o dedo decepado num saco plástico com gelo. Foi informado pela recepcionista que só assim o reimplante poderia ser feito. Nessa angústia ficou sentado esperando atendimento até as 23 horas. Foram 9 horas e 42 minutos de angústia e expectativa  por atendimento que não chegou. Não foi sequer examinado pela equipe médica de plantão.Nem a camisa suja, contaminada, ensanguentada, que cobria o ferimento, foi substituída por gaze esterilizado. Depois dessa espera longa e cruel, disseram-lhe que o recurso seria procurar atendimento médico em Goiânia.

Às 23 horas saiu com destino a Goiânia. Chegando na Capital, perambulou por três pontos de atendimento de urgência. Em todos os locais em que esteve em busca de socorro não passou da recepção. A resposta que recebeu foi sempre a mesma:

– Você tem sua carteira de saúde de Anápolis! É lá que você deve buscar o atendimento.

O pedreiro José Ferreira voltou a Anápolis indo direto à Santa Casa. Chegou às 5 horas e 45 minutos. Graças à intervenção de um sargento da Base Aérea de Anápolis, que casualmente se encontrava na recepção da Santa Casa, o médico que se encontrava de plantão o atendeu prontamente. Já não havia qualquer possibilidade de reimplante do polegar decepado. Foram feitas limpeza do local lesionado, curativo e atadura. Recebeu ainda a medicação de prevenção a tétano e outros tipos de infecções.

José Ferreira, no exercício do seu direito de cidadão, terminou a manhã da quarta-feira nas dependências da Polícia Civil de Anápolis. Fez representação contra a direção do hospital pela falta de atendimento médico, menosprezo e desrespeito pela forma como foi tratado no Hospital Municipal de Anápolis. Sabe que se tivesse sido atendido logo que chegou ao hospital, poderia ter o dedo reimplantado.

Essa é a triste realidade de quem necessita de atendimento, mesmo de urgência, na saúde pública municipal.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Veta, Gomide!


Pela internet mais de oito mil aderiram ao movimento popular contra o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Goiânia, em que os vereadores aumentavam seus subsídios e salários do prefeito e seu vice, a partir de janeiro do ano que vem. Num momento em que autoridades federais, que cuidam da área econômica, comunicam à nação que não têm como oferecer os reajustes salariais reivindicados pelo funcionalismo público, em consequência da crise econômica que cada vez se aprofunda na Europa e está empacando a economia nos Estados Unidos, conceder 35% de aumento aos vereadores, prefeito e vice-prefeito estava sendo visto como privilégio escandaloso e inadmissível. A campanha para que o prefeito Paulo Garcia vetasse a matéria foi implacável. Tenham os vereadores acertado previamente com o prefeito a aprovação do projeto com aquele percentual, ou não, o certo é que não resistiu à pressão popular e o vetou. A Câmara Municipal, que tem poder para derrubar veto, não se atreveu a assim proceder. Vereadores, prefeito e vice ficarão em 2013 com os vencimentos de hoje.

Papel importante para que o final se desse da forma que se deu,  teve a imprensa do Estado. O jornal Diário da Manhã foi incansável no combate ao exagero cometido pela Câmara Municipal de Goiânia. Advertiu legisladores e prefeitos municipais sobre a crise na economia mundial; desemprego que se aprofunda cada vez mais na Europa; incansável batalha de Barack Obama para tentar equilibrar a economia americana; retração na produção industrial brasileira; efeitos da crise econômica mundial que se acentuam com mais intensidade no Brasil de hoje que na crise de 2008 e tantos outros argumentos sérios e inquestionáveis que não deixaram ao prefeito Paulo Garcia outra alternativa, outro caminho, que não fosse o de vetar o aumento aprovado pela Câmara Municipal.

Povo e imprensa livre caminhando juntos em busca de um mesmo objetivo moralizador e justo foi fundamental na correção do caminho que estava sendo desvirtuado. Não há dúvida que a movimentação dos internautas foi digna de todos os elogios, pela forma incisiva  e ininterrupta que combateu a extravagância legal, feita pela Câmara Municipal, mas não fosse a imprensa que destacou o movimento de indignação e revolta popular, em amplas reportagens e inúmeros editoriais, como fez o Diário da Manhã, o resultado poderia ter sido outro.

O clima serenou em Goiânia com o veto do prefeito ao projeto, mas surgiu agora em Anápolis de forma repentina, abusiva e  inconsequente. Os vereadores aprovaram, na sessão de segunda feira, dia 3 de setembro, os aumentos dos subsídios aos agentes políticos de Anápolis para  2013. Aumentaram os vencimentos do prefeito municipal de Anápolis, seu vice-prefeito, secretários municipais e seus próprios subsídios em 25% sobre os vencimentos atuais.

Os vereadores receberão, a partir de janeiro de 2013, R$ 9.288,03 (nove mil duzentos e oitenta e oito reais e três centavos).

Os mesmos R$ 9.288,03 (nove mil duzentos e oitenta e oito reais e três centavos) receberão os secretários municipais.

O salário mensal do vice-prefeito será de R$ 11.610,00 (onze mil, seiscentos e dez reais).

O salário do prefeito, a partir de janeiro do ano que vem, será de R$ 15.480,07 (quinze mil, quatrocentos e oitenta reais e sete centavos). 25% de aumento para todos de forma geral e irrestrita.

A inovação no projeto aprovado pela Câmara Municipal de Anápolis ficou por conta do seu artigo 8º:

Art. 8 – O valor do subsídio mensal do prefeito, vice-prefeito, secretários municipais, vereadores e presidente da Câmara Municipal poderá ser alterado anualmente, mediante revisão geral, através de lei específica, sempre na mesma data e sem distinção de índices, na forma expressamente prevista no inciso X, do artigo 37 da Constituição Federal.

São mais de 500 candidatos, por mais de 30 partidos, disputando 23 vagas na Câmara Municipal de Anápolis a partir de janeiro de 2013. Tanto os candidatos a vereador quanto os que disputam a prefeitura não se cansam de pregar que não estão em busca de ganho fácil ou de emprego. Garantem  que querem servir à cidade e ao seu povo.

Se querem é servir ao povo, atenda a vontade da gente anapolina:

Veta, Gomide!

Anápolis e sua caminhada histórica


Anápolis está completando 105 da sua Emancipação Política. Sua vida tem sido verdadeira epopéia de enfrentamentos históricos e vitórias consagradoras. A partir da mula que carregava numa das bruacas a imagem de Santana e empacou às margens do Córrego das Antas, quando os tropeiros aqui descansavam, sinalizando que ali nascia uma nova cidade, a luta dos anapolinos tem sido incessante e de infindáveis superações. Instalada em local privilegiado, centro das extremidades Sul e Norte do País, Anápolis é, permanentemente, surpreendida com novos desafios. Desafios fundamentais para Goiás e todo Brasil.

Suporte para que Pedro Ludovico pudesse construir, nos anos 30, Goiânia, a imponente e bela Capital do Estado; foi fato marcante na sua vitoriosa caminhada. Em 1935, ao receber a estrada de ferro, se incluiu no rol das grandes cidades com ligação direta a São Paulo e toda a região desenvolvida do País. Foi fundamental para que Juscelino Kubitscheck construísse Brasília, promovendo, de forma real, a verdadeira integração nacional. A Belém-Brasilia, na verdade São Paulo-Brasília-Belém, substituiu a precária estrada de tropeiros das regiões Sudeste, Centro e Norte por rodovias de união nacional. A Ferrovia Norte-Sul, que marcará uma nova fase do desenvolvimento nacional, por justiça e merecimento, cortará grande parte do município anapolino, numa homenagem à incansável luta da sua gente e sua estratégica localização geográfica.

Além dessas vitórias brilhantes e fundamentais em favor do desenvolvimento e pela unidade nacional, Anápolis abriga em seu seio a Base Aérea dos Mirage, que aqui foi instalada no início dos anos 70, para a defesa do seu espaço aéreo e soberania nacional. Agora, tendo ampliado suas atribuições de defesa aérea para toda a região amazônica brasileira. Em Anápolis se encontra o Porto Seco da região Centro Oeste do País alavancando não só seu progresso, mas o desenvolvimento nacional.

Da mesma forma que foi importante, fundamental, para a integração e consolidação da unidade nacional, Anápolis foi a mais marcante trincheira no combate ao autoritarismo implantado no Brasil a partir do golpe militar de março de 1964. Com suas lideranças populares cassadas, banidas da atividade política, o povo goiano contou com um grupo de anapolinos disposto a resistir. Com a convicção dos grandes estadistas e paciência de pacifistas tipo Gandhi, o grupo liderado pelo médico Henrique Santillo, não só substituiu as lideranças proscritas, como comandou a resistência democrática em todo o Estado de Goiás. Com firmeza, e sem radicalismo, não cedeu a nenhuma pressão.

Pela ação corajosa e persistente dos seus jovens representantes, Anápolis se destacou entre as principais trincheiras da oposição no combate à ditadura. Passou a ser conhecida e respeitada nacionalmente. Todo e qualquer anapolino, onde quer que se encontrasse, era visto e tratado, como democrata autêntico. Anápolis deixou de ser, apenas, uma cidade goiana com registro de fatos históricos marcantes na consolidação administrativa nacional, para se transformar em símbolo de amor à liberdade e à democracia. Esse é um capitulo do qual muito nos orgulhamos. Com uma vida recheada de conquistas administrativas e políticas, só temos que nos orgulhar de fazer parte desse time trabalhador, idealista e destemido. Parabéns gente anapolina pelos 105 anos de Emancipação Política. Obrigado pela sua participação na formação de um Brasil democrático e socialmente mais justo. Você, povo anapolino, é a coisa mais importante aqui existente, pela sua bravura e disposição para a luta. Sem essas qualidades, a Cidade seria insípida e sem vida!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Restou o apelido de ‘senador’


Torna-se necessário, e importante, que ressaltemos aqui, nas páginas do CONTEXTO, como o advogado Vicente de Paula Alencar, nosso grande amigo, companheiro e defensor num dos momentos mais violentos da Ditadura Militar de 1964, deixou escapar a oportunidade de ser eleito deputado estadual, para insistir numa inviável candidatura ao Senado em 1978, enfrentando Henrique Santillo e Juarez Bernardes na Convenção do Movimento Democrático Brasileiro.

O prestígio do grupo autêntico, o grupo santilista, era fantástico em Goiás. Especialmente em Anápolis. Os arenistas pressionavam, usavam toda espécie de casuísmo; cassaram o mandato do prefeito José Batista Júnior; transformaram Anápolis em Área de Segurança Nacional; prenderam e torturaram gente humilde do MDB; usavam e abusavam do poder econômico, fecharam rádios que nos pertenciam, forjavam documentos para nos processar, mas a toda eleição nosso número de votos mais crescia.

Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB, dizia sempre quando vinha a Goiás:

- O MDB de Anápolis é como clara de ovo, quanto mais apanha, mais cresce!

Nesse quadro, ligado, umbilicalmente, ao grupo autêntico santilista desde o surgimento do MDB, estava evidente que a candidatura de qualquer companheiro, por mais valoroso que este fosse, não prosperaria entre os convencionais que defendiam a postulação de Henrique Santillo ao Senado, por ser ele a maior liderança do grupo no Estado. Único em condições de vencer ao lado de Juarez Bernardes, a Arena, no voto popular. Ao mesmo tempo, o único capaz de ganhar de Juarez dentro do Partido.

De nada valeram nossos apelos para que Vicente Alencar refluísse da ideia de candidatar-se ao Senado e disputasse uma cadeira para a Assembleia Legislativa. Afastou-se, totalmente, do nosso convívio político. Ficou isolado e muito fragilizado. Fez sua campanha através de notinhas diárias em jornais, rádio e televisão. Nada mais que isso.

Já às vésperas da convenção partidária, com o afastamento voluntário de Vicente Alencar e sua firme disposição de não disputar uma cadeira para Assembleia Legislativa, compusemos a chapa emedebista para a disputa. Disputei a reeleição à Câmara Federal. Para a vaga de deputado estadual, que era ocupada por Henrique Santillo, foram lançados o vereador Joceli Machado, eleito em 1976 e Wolney Martins de Araujo, que fora nosso adversário dentro do MDB, nos pleitos de 1970 e 1974. A reaproximação se deu pelo trabalho de Lázaro Barboza, nosso amigo comum.

Na Convenção do MDB, numa acirrada disputa, Henrique Santillo foi o mais votado entre os convencionais ocupando a sublegenda nº 1 do MDB; Juarez Bernardes ficou com sublegenda nº 2. Espremido entre essas duas postulações, Vicente Alencar não conseguiu número de convencionais para, sequer, lançar sua candidatura. Refluiu, candidatando-se a deputado estadual. Nossos companheiros que queriam votar em Vicente, como forma de homenagear o extraordinário trabalho que ele prestava à luta pela redemocratização do País através do MDB, àquela altura dos acontecimentos, já haviam comprometido voto e trabalho a Joceli Machado ou Wolney Martins.

Wolney e Joceli se elegeram, enquanto Vicente Alencar, a quem queríamos transformar no mais votado para a Assembleia Legislativa, naquele pleito, conseguiu insignificante votação. Passado o pleito, Vicente de Paula Alencar continuou levando tudo na brincadeira, gozação mesmo, e voltamos à amizade antiga. Quando falávamos sobre o episódio, dizia:

- Não fui candidato ao Senado, mas o apelido pegou. Por onde ando, me chamam de senador!

Vivendo e aprendendo

No domingo passado estava de manhã, no alpendre de casa, apreciando a beleza das aves multicoloridas, seus cânticos estridentes ou suaves, mais extensos ou curtos, ao lado de borboletas bailarinas dançando de um lado para outro, na folhagem de um jardim com flores de todas as cores e formatos. Nem havia percebido que ao meu lado, em silêncio, Priscila e Rodrigo, meus netos, também apreciavam aquele momento mágico que só a natureza é capaz de nos proporcionar.

Aproveitei para contar-lhes um pouco mais sobre aves e frutos do Cerrado.Contei-lhes que quando tinha a idade deles morava ali perto, na Avenida Mato Grosso, do Bairro Jundiaí. Que  tive a alegria, intenso prazer, em saborear dezenas de frutas do Cerrado como mama-cadela, pitanga, caju do campo, ananás, gravatá, araçá, gabiroba, até da cabeluda, veludinho preto e vermelho, mangaba, araticum e outras que faziam parte da vegetação natural da região. Hoje tomada por edifícios horizontais e verticais criando para o local, outra paisagem. Dizia-lhe dos pássaros cujas espécies viviam no Jundiaí. Vimos que estes, com exceção da maria branca e o tesourinha, que praticamente não existem mais, se adaptaram aos tempos modernos. Urbanizaram-se. Convivem com os pombos domésticos e rolinhas. Povoam os quintais arborizados e floridos no Anápolis City, Jundiaí e Santa Maria de Nazareth. Mesmo com todo o conhecimento que a vida me proporcionou, desfrutando daqueles tempos quando não existiam ainda computadores e outros avanços que a tecnologia põe à disposição das crianças e jovens de hoje. Na nossa atenta observação,  descobri, tendo os netos como testemunhas, que por mais experiência que a gente tenha e acumule com o passar do tempo, sempre se aprende alguma coisa nova quando contempla e presta atenção nas coisas da natureza.

Convivendo com as aves o tempo todo, conhecia-as pelo nome. Geralmente o nome popular. A casa onde morava era cercada por arame farpado que dividia nosso terreno ao de  Humberto Batista e Dilica, dos quais meus pais foram testemunhas de casamento. Cerca  coberta e totalmente forrada daquela frutinha amarela, miolo com sementes vermelhas e doces, popularmente conhecida  por  São Caetano. Sinceramente não sei o porquê de São Caetano. Sei no entanto que, além das rolinhas, a cerca era frequentemente repleta de tizius, coleirinhas e anus. Nós aprendemos com os mais velhos que anus, tanto os pretos como o mais claros, pelas suas características semelhantes, eram anus preto e branco. Mesmo com a convivência diária com aquelas e outras espécies de aves, não tinha a menor ideia do porquê conviviam tão próximos. Tinha noção que rolinha, coleirinha e tiziu se alimentavam das sementes de capim que em abundância existia no local. Já os anus, nunca os vi comendo semente de capim ou semente de São Caetano. Mas que viviam juntos,  viviam!

Nesse domingo de descanso e contemplação, quando prestávamos atenção no vai e vem dos pássaros pelas folhagens do quintal, notamos que numa pequena parreira à nossa frente havia um ninho de rolinha. Dois pequenos filhotes recém-nascidos. Observávamos o zelo da mãe saindo do  ninho, apanhando com o bico pequeno inseto sobre a grama do jardim, retornando  com o alimento para eles, que pareciam famintos. Aquelas idas e vindas da mãe carregando comida para os filhos nos prenderam a atenção ainda mais. Nos embriagamos assistindo aquela verdadeira manifestação de amor e solidariedade. Para nós era descanso e higiene mental. Eu, então, estava totalmente desligado das agruras diárias da vida. Voltei meu pensamento inteiramente ao tempo de menino, desfrutando de um momento que pensava não existir mais. 

Nesse clima de paz e tranquilidade, surpreendentemente assistimos à chegada, não sobre a cerca de arame farpado coberta de São Caetano, mas sobre o muro que divide nosso quintal com o  de Vander Lúcio Barbosa, diretor do jornal Contexto, um punhado de anus. Iguaizinhos aos que conheci na infância, pretos e claros. Numa saída em busca de mais alimentos aos filhotes, a rolinha os deixou desprotegidos. Nesse instante, dois anus, que são aves lentas, deram rasante sobre o ninho. carregando ao bico os dois filhotes.  Desespero para nós que não tivemos tempo e nem como evitar a tragédia. Desespero maior enfrentou  a rolinha mãe, ao chegar e ver a casa vazia. Aprendemos, meus netos e eu,  naquela manhã de observação e atenção à vida das aves, que também na natureza nem tudo é beleza e convivência harmoniosa e pacífica.  Ficamos  sabendo, ao vivo, que a presença do anu ao lado de aves indefesas não é por amizade ou proteção aos mais fracos, mas sim em busca de alimento para sua sobrevivência. Aprendemos no jardim de casa, num domingo de descanso, o que não aprendi com as caçadas e andanças diárias pelo Cerrado coberto de frutos e repleto de aves, durante muitos anos.  Anu se alimenta de filhotes de rolinhas e outras aves menores, mais frágeis. Afirmo sem medo de errar que a natureza ensina-nos coisas novas a todo instante. Basta prestarmos atenção na sua forma de vida... 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Anápolis, a cidade de todos desde o seu surgimento!


A cada dia que passa, mais aumenta minha admiração pelo saudoso e inesquecível Moisés Santana. Sei que o jornalista teve com cada cidade onde morou e trabalhou uma história de respeito, interação e amor.  Percebe-se isso claramente nos nomes dos seus filhos. Por onde passou, sempre que possível, deu ao filho nome que fizesse lembrar a terra em que nasceu. Em Anápolis não foi diferente. A primeira escola pública municipal, a mais antiga da cidade, leva o nome da sua filha aqui nascida: Antesina Santana. Foi a forma de homenagear a terra das Antas,  local onde ela nascera. O mesmo comportamento adotou quando residiu noutras cidades. Mas seu pensamento e coração não se desligaram de Santana das Antas. Lugar em que foi bem recebido e admirado. Mesmo em Uberaba, onde encontrou a morte de forma trágica, perpetrada por ato tresloucado de um presidente da Câmara Municipal, muito mais atirador que legislador, Moisés Santana realçava em prosa e versos seu acendrado apego e amor à sua inesquecível Anápolis.

Longe do convívio direto com o povo da terra de Zeca Batista e Gomes de Souza Ramos, nunca se esqueceu da conversa que tivera com o deputado Abílio Wolnei, natural de Dianópolis, no nordeste goiano, quando passando por Anápolis lhe sugeriu, para que defendesse, ao município que estava  surgindo, o nome Anápolis.

Para Abílio Wolnei, a criação da Vila de Santana, próxima ao Córrego das Antas, onde foi construída  capela em homenagem à Santa, era a maior credencial para que o novo município se chamasse Anápolis. Cidade de Ana! A história da mula, integrante da tropa comandada por dona Ana, que empacou na atual Praça Santana, não era apenas uma ideia. Um desejo!  Mas sim realidade. Uma das bruacas carregadas pela mula empacadora continha imagem de Santana. A mula só se levantou quando a imagem foi descoberta. Elucidado o segredo, o que para alguns um verdadeiro milagre, os tropeiros interpretaram o acontecimento como a vontade Divina para que ali nascesse um núcleo habitacional urbano. Mesmo distante, lá em Uberaba-MG, Moisés Santana, lembrando-se da sugestão recebida, publicou numa das edições do Jornal da Lavoura daquela cidade, pela primeira vez, o nome Anápolis, para aquela que seria a mais importante cidade do interior goiano.

O trato cortês e fino do povo anapolino contagia não só os indivíduos como sensibiliza e cativa empresários. O maior exemplo disso pudemos sentir com o entusiasmo que a diretoria da indústria têxtil Hering fala sobre a cidade. Depois de 120 anos produzindo em Blumenau-SC, a Hering expandiu sua área de produção para Anápolis. Hoje, com poucos anos de atividade em Goiás, a empresa catarinense produz quase 50% da sua produção aqui. São 900 trabalhadores diretos. Dezenas de facções em Anápolis trabalhando em tempo integral para a empresa. Facções em dezenas de cidades goianas, produzindo emprego e desenvolvimento municipal. Deve inaugurar em Anápolis sua 3ª unidade de produção, próximo ao campus da UEG, às margens da BR-060. O carinho, amizade e respeito do povo, aliados ao capricho e valor profissional do trabalhador anapolino, sensibilizaram para sempre os empresários catarinenses. Hoje pode-se dizer, sem medo de errar, que a Hering de Anápolis, apesar de ser a caçula, é tão importante quanto sua  matriz em Blumenau.

Anápolis também já teve muito destaque e participação política. Do município saíram dezenas de deputados estaduais e federais. Vários senadores. Alguns vice-governadores. Jonas Duarte, Onofre Quinan e Henrique Santillo foram anapolinos que governaram Goiás. Mas foi no período ditatorial de 1964/1985 que Anápolis mostrou sua vocação democrática e amor à liberdade. Foi a trincheira avançada da resistência à ditadura em Goiás. Mesmo com os infindáveis atos de autoritarismo e casuísmos postos em prática pelos ditadores, em Anápolis, a Arena, partido oficial do governo, foi ininterruptamente derrotada de forma contundente pelo MDB. Se dependesse só do povo anapolino, a ditadura morreria logo no seu nascedouro. Os democratas brasileiros são eternamente gratos ao povo anapolino e aos seus líderes pela firmeza  que combateram a ditadura militar.

Como em qualquer outro município, em Anápolis acontecem fatos desagradáveis e desgastantes. As operações Monte Carlo e La Plata são exemplos dessas anomalias. A primeira, como se sabe, tinha seu núcleo de comando baseado no município. A segunda se transformou em enorme escândalo envolvendo agentes públicos municipais. São vereadores, destacados funcionários públicos municipais, denunciados como participantes  do maior propinoduto já ocorrido em Anápolis. Descoberto pelo Ministério Público do Estado a partir da apreciação e votação pela Câmara Municipal da  Lei Complementar nº 264, sancionada pelo prefeito municipal. Lei que fatiou o município, mutilando seu Plano Diretor.

Enquanto episódios como esses denigrem, ofuscam a imagem de gente séria e respeitada dos anapolinos nacionalmente, novos acontecimentos positivos realçam a capacidade de superação da sua gente,  como esse do momento, em que o Colégio Militar Dr. Cezar Toledo classificou-se em primeiro lugar dentre todos colégios públicos estaduais, nas provas do Ideb, do Ministério da Educação.

Com fatos como os aqui relatados e milhares de outros idênticos ou semelhantes, Anápolis tem sido exemplo de superação e a cidade de todos!

História que se repete


Durante o período mais duro e fechado da ditadura militar de março de 1964, entre os anos 70 e 80, vozes que se erguiam numa multidão sem voz  e vez, denunciando e criticando as atrocidades praticadas pela repressão, além de perseguidas eram censuradas por moralistas a serviço do regime opressor. Geralmente civis, eram arregimentados  para  execrarem publicamente os denunciantes, aos meios de comunicação a serviço da ditadura. Faziam parte das campanhas ufanistas como a do “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Todos, sem exceção, que exigiam respeito aos direitos humanos, liberdade de imprensa, eleições livres e diretas, fim da ditadura, anistia, extinção do AI-5 e das leis de exceção. Assembléia Nacional Constituinte e democracia eram tidos como arautos do negativismo, subversivos, maus brasileiros e inimigos da Pátria. O patrulhamento que a ditadura efetuava sobre os democratas, usando serviçais do regime ou inocentes úteis, era tão repugnante quanto as mazelas vindas da repressão oficial com suas torturas e desrespeito aos mais elementares direitos humanos. Para os mais moderados desse grupo de choque, esses que eram conhecidos oficialmente como “maus brasileiros,” com suas cobranças insistentes, estavam pregando o negativismo prejudicando a imagem do Brasil.

Conquistamos a democracia graças a ação destemida de gente que agiu assim. Brasileiros que deram a própria vida em favor da liberdade, respeito ao ser humano e Justiça social; figuras exponenciais da política nacional como Ulysses Guimarães, incansável contestador aos ditadores;  patriotismo e coragem de jornalistas compromissados com o Estado Democrático de Direito, cujo maior representante em Goiás, foi Batista Custódio, com o seu Cinco de Março;  milhões de brasileiros anônimos que resistiram em silêncio.

Mesmo em plena democracia continuamos a conviver com o perigo. Neste momento as truculências da ditadura cedem lugar ao esquema de corrupção implantado em todo Brasil. Não que na ditadura essa não fosse praticada, mas pela censura rígida à imprensa era abafada e não chegava ao conhecimento público. Combate às torturas, prisões arbitrárias, sequestros e todo tipo de desrespeitos à pessoa humana, legalizados por leis de exceção, instrumentos usados pelos ditadores se manterem no poder através do medo, era prioridade.

Hoje, em plena democracia, com liberdade da imprensa, destemor de centenas de jornalistas, eles conscientizaram a maioria da nação que a corrupção é o “cupim que corrói a República” e precisa ser combatida por todas as pessoas honestas e amantes de um País livre e soberano. É dever de toda sociedade “não roubar, não deixar roubar e punir quem rouba.” Parafraseando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire e o escritor Lima Barreto, com a expressão marcante: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil,” afirmamos sem medo de errar, ou acabemos com a corrupção, ou a corrupção acaba com a República.

É nessa luta necessária e primordial, de todas as pessoas conscientes, sérias e responsáveis, combatendo com tenacidade os que roubam ou deixam roubar,  que muitos a pretexto de defenderem a tranquilidade e paz dos cemitérios, preferem o silêncio a denunciar a corrupção, este câncer que destrói de forma avassaladora todo o tecido social. Muitos, por comodismo e falsa tranquilidade, entendem que essas denúncias de intermináveis atos de corrupção e malversação do dinheiro público, comprometem o País interna e externamente. A imagem do Brasil é comprometida interna e externamente pela ação dos corruptos, não pelas denúncias.

Da mesma forma que denunciamos as atrocidades da ditadura militar de março de 1964, enfrentando torturadores de arma em punho, prontos para prenderem, torturarem e até matarem a todos que exigiam respeito aos mais elementares direitos  humanos, liberdade  de expressão e fim da ditadura, devemos nos unir contra a corrupção que se torna em escândalos cada vez mais frequentes e maiores. Enfrentamos ao mesmo tempo as campanhas ufanistas, morais e cívicas, dos amigos e simpatizantes dos ditadores. Aquela mesma atuação corajosa e patriótica desenvolvida contra a tirania de um governo ilegítimo, deve ser realizada agora, contra corruptos e corruptores, que denigrem um governo legitimo, saído das urnas pela vontade popular. Mesmo que contrariando os que a pretexto de que não se pode dar ênfase ao combate à corrupção porque compromete a imagem do Brasil aqui dentro e lá fora, temos que continuar nessa cruzada. Quem combateu o regime arbitrário de 64, é convocado agora para garantir as liberdades democráticas, conquistadas a duras penas, agindo contra a corrupção, “cupim que corrói a República”, como dizia Ulysses Guimarães.