domingo, 29 de agosto de 2010

Vitória ou derrota, só depois dos votos apurados

Publicado na edição de 29/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Quando no final de 1964 os três principais times da cidade, Anapolina, Anápolis e Ypiranga , se afastaram da Liga Anapolina de Desportos ingressando na Federação goiana de Desportos, a impressão que tínhamos é que a LAD seria extinta. Sem direito de usar o Estádio Jonas Duarte e com o Manoel Demóstenes transformado em loteamento particular, não havia local para a realização dos jogos. Sem uma sede própria, faltando dinheiro para pagamento de aluguel e compra de material para expediente, seu futuro não era nada animador.

Com esse quadro desalentador Valdivino Reginaldo, presidente do União e Ilídio Garcia, presidente do Flamengo, me convidaram para assumir sua presidência. No dia da eleição, como candidato único, o pleito foi realizado numa pequena sala, sem móveis e iluminada à luz de lampião, na Travessa Gedeon. Sem outra alternativa já saí da reunião levando arquivo com documentações e registros dos atletas, instalando a sede da entidade em minha residência, na Rua Rui Barbosa. Durante três anos esse foi o endereço oficial da Liga Anapolina de Desportos. Só mudou, quando no final de 1968, o prefeito Raul Balduíno nos entregou o local no Estádio dos Amadores Zeca Puglisi, para sua sede própria.

Antes que o estádio dos amadores fosse construído os jogos aconteciam nos campos do Anatex na Vila Jaiára, Mago na Vila Fabril, Flamengo no bairro Frei Eustáquio e Anhanguera onde foi construído o Zeca Puglisi. Mesmo com toda essa precariedade realizamos campeonatos e torneios memoráveis. O principal torneio foi o octogonal Anápolis- Goiânia. O futebol amador de Anápolis era verdadeiro celeiro de craques para os clubes profissionais. Fui três vezes consecutivas presidente da liga,-seis anos - sempre como candidato único.

Com minha eleição a deputado estadual, em 1970, preferi encerrar ali minha trajetória pelo futebol amador. Em consenso foi escolhido João Leite de Morais, que havia sido secretário geral da entidade, para presidi-la. Foi ótimo presidente. O futebol amador continuou crescendo. Como fui eleito deputado e o futebol amador crescendo, a presidência da LAD passou a ser muito cobiçada. O Estádio Zeca Puglisi ficava lotado de espectadores, em todos os finais de semana. Os tempos de crise tinham ficado para trás. Agora a entidade trazia dividendos eleitorais. A cassação do prefeito José Batista Júnior em 28 de agosto de 1973, aguçou ainda mais o interesse pela sua presidência.

Em 1975, João Leite de Morais foi candidato à reeleição. Os clubes mais antigos, que conheciam o sufoco pelo qual a entidade passou, estavam fechadinhos com a sua candidatura. Os mais novos só conheciam o momento grandioso da entidade. Não viveram tempos de dificuldades que enfrentamos e vencemos. O número de clubes novos não parava de crescer.

Seis novos clubes, representando bairros importantes, se inscreveram para o campeonato de 1976. Toda documentação e registro foram feitos pela diretoria da liga. Publicado o edital convocando as equipes para eleição da LAD, os presidentes das seis novas agremiações assinaram procurações em branco, ao presidente João Leite de Morais. Por gratidão ao presidente, passavam-lhe o direito de indicar quem quisesse, para votar em nome deles, nas eleições.

Mesmo assim o ex-presidente do Ypiranga, David Esteves de Azevedo, candidatou-se pela oposição. Sua derrota era tida como certa. Ildeu Amâncio e Vicente Terra participaram como observadores da Federação Goiana de Desportos. Feita leitura do edital e dos clubes com direito a voto, pelo presidente da entidade, a Veraneio pertencente ao prefeito nomeado Jamel Cecílio, estacionou à porta da liga. Desceram os seis presidentes que haviam passado procurações, por gratidão ao presidente. Dispensaram os procuradores de confiança de João Leite de Morais e votaram em David Esteves de Azevedo, dando-lhe a vitória num pleito que lhe parecia perdido.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Antiga estação pode acabar com integração

Publicado na edição de 26/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Nas cidades brasileiras de portes médio e grande, o maior desafio enfrentado pelos prefeitos municipais, tem sido o transporte coletivo urbano. Por mais que os governantes se esforcem, o transporte de massa, principalmente o rodoviário, sempre está faltando alguma coisa. Em Anápolis, mesmo com o excelente serviço prestado pelo Transporte Coletivo de Anápolis-TCA, do grupo Odilon Santos, frequentemente renovando sua frota, veículos passando por vistorias de manutenção diárias, motoristas e cobradores submetidos a constantes cursos de relacionamento humano, ainda assim há reclamações. Poucas ! Mas há.

Em 1986, quando assumi a prefeitura municipal, depois de 12 anos de prefeitos nomeados, a população reclamava do preço da passagem e falta de local onde pudesse fazer o embarque e desembarque com segurança e um mínimo de conforto. Todos os ônibus que serviam a população operavam numa das laterais da Praça Americano do Brasil. Sem cobertura para agasalhar o usuário da chuva ou sol. Não havia um só banco para o descanso de idosos, gestantes ou pessoas doentes e com necessidades especiais. Bares e lanchonetes funcionavam num complexo de alvenaria – o minhocão – construído pela prefeitura, no meio da Rua Tonico de Pina, em frente ao estacionamento dos ônibus.

Cidade crescendo territorial e demograficamente. O povo clamando por novas linhas e mais ônibus. Decidimos construir no antigo parque de manobras da estação ferroviária, ao lado da Praça Americano do Brasil, um terminal de passageiros. Em outubro de 1986 foi inaugurado. Além de dar segurança e conforto ao usuário, criamos o sistema total de integração das linhas existentes e das que viessem a ser implantadas. Assim o passageiro já não teria que pagar duas passagens quando, por exemplo, saia da Vila Jaiara para trabalhar nas empresas do Daia ou no Friboi, da Vila Fabril. De um ponto a outro da cidade com uma única passagem. O terminal funciona como o centro de uma roda de bicicleta. Os raios, são as linhas convergindo todas para o centro. A conquista do anapolino foi dupla: local confortável e seguro para embarque e desembarque e aproximadamente 30 mil usuários com redução imediata de 50% nas despesas com transporte, com a integração.

Como o crescimento populacional de Anápolis tem sido maior que o da média nacional, quando retornamos à prefeitura em 1997, onze anos após à construção do terminal urbano, realizamos sua ampliação. Utilizamos a parte da frente da antiga estação. Os ônibus que servem as linhas mais recentes, atendendo bairros novos, mas densamente habitados, foram instalados na área ampliada. O atendimento ao usuário se aproximou da perfeição. Não se tem notícia de nenhuma outra cidade brasileira que possua sistema tão perfeito. Os ônibus chegam e saem do terminal no horário pré-determinado. São poucas as estações rodoviárias interestaduais que oferecem serviço, limpeza e estrutura do terminal urbano de Anápolis.

Toda conquista social, segurança e conforto obtidos pelo usuário do transporte rodoviário urbano da cidade, podem desaparecer, caso prevaleça proposta do Ministério Público determinando a destruição da ampliação do terminal, feita há 12 anos. A alegação para a derrubada dos melhoramentos é a de que a antiga estação ferroviária, construída em 1935, ficou encravada e com pouca visibilidade externa, na parte ampliada. Alegam que embora totalmente preservada a estação não está totalmente à vista dos que frequentam ou passem pela Praça Americano do Brasil. Só a destruição do terminal daria a visibilidade ao prédio, tombado pelo patrimônio histórico municipal.

Destruir parte ampliada, significa destruir o terminal inteiro. Sem a parte ampliada e condenada à destruição, o terminal não suporta mais que 60% dos ônibus. O prejuízo será total para o usuário que ficará sem o benefício da integração. Voltará ao estágio humilhante de 24 anos atrás quando era atendido na rua, tomando chuva, enfrentando sol e correndo risco de ser atropelado. Há forma mais inteligente e eficaz de preservar o patrimônio histórico. A substituição do alambrado metálico que separa o público externo da parte interna, por vidros transparentes e resistentes seria saída mais lógica. Aliás, a estação só está intacta e preservada por estar dentro do terminal urbano. Sendo isolada como querem, em pouco tempo poderá ser abrigo de marginais, pichada e destruída por vândalos.

Para a empresa que explora o serviço, acabar com o terminal não haverá prejuízo, porque implantará a bilhetagem eletrônica. Porém, os usuários perderão o mais perfeito sistema de integração existente no Brasil. Cobradores da empresa serão desempregados. O prejuízo para o intenso comercio da redondeza será incalculável.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Jogo da despedida de MDB e Arena

Publicado na edição de 23/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Na década de 70, embora a convivência entre os parlamentares da Arena e MDB no Congresso Nacional fosse respeitosa e cordial, as discussões eram tensas. O momento mais crítico que vivemos foi quando, em abril de 1977, o presidente Geisel baixou o “pacote de abril”. Colocou em recesso o Congresso Nacional, extinguiu as eleições diretas para os governos estaduais previstas para 78; cassou o mandato do deputado Alencar Furtado, líder do MDB, e criou a escandalosa figura do senador sem voto, o senador biônico. Nesse episódio, o presidente nacional do MDB, deputado Ulysses Guimarães, fez um dos mais belos discursos até então pronunciados da tribuna da Câmara Federal. Foi quando comparou Ernesto Geisel ao sanguinário ditador de Uganda, Idi Amim Dada.

Em 1979, ainda no governo Geisel, crescia a convicção entre todos nós parlamentares e no seio da sociedade brasileira de que o regime de força estava chegando ao fim. A mobilização nacional para a volta dos exilados e foragidos políticos foi colossal. As negociações entre oposição e governo para a concessão da anistia eram ininterruptas. Setores das Forças Armadas participaram ativamente dessas discussões. O campo estava sendo preparado para a travessia da ditadura à democracia. Se discutia também o fim do bipartidarismo.

Antes que os dois partidos fossem extintos, a revista Manchete programou uma partida de futebol entre parlamentares do MDB e Arena, para seu campo gramado, no Setor Gráfico de Brasília. A grande imprensa nacional esteve presente ao clássico. A Manchete, na sua edição da semana seguinte, deu ampla cobertura ao evento. Tivemos nosso dia de seleção brasileira. Todas as atenções foram dirigidas ao jogo que marcava a despedida de MDB e Arena. Orlando Brito, um dos mais destacados fotojornalistas do Brasil, registrou os melhores momentos do “jogo do ano”, vencido pela equipe do MDB. Tarcisio Delgado, cuja infância passara na zona rural, aprendeu jogar descalço. Mesmo assim mostrou seus dotes de artilheiro ao infernizar a defesa arenista. Álvaro Dias, que na adolescência treinou algumas vezes na equipe do Londrina, time principal da sua terra natal, foi ao lado de Tarcísio a dupla do meio campo, que desestabilizou o time arenista. No ataque, o destaque ficou por conta de Roberto Freire. Atuei pela zaga direita fazendo o trio de zagueiros com Alceu Colares e Pimenta da Veiga. No gol jogou da Manchete, foram disponibilizados na Internet por Canindé Soares, pelo site o craque mais jovem do MDB, Carlos Alberto.

Fotos e comentários sobre essa partida de futebol, realizada há 31 anos no campo, http://canindesoares.blog.digi.com.br/.

A equipe do MDB foi composta pelos deputados Carlos Alberto (RN), Adhemar Santillo (GO), Alceu Collares (RG),Olivir Gabardo (PR), Pimenta da Veiga (MG) e Jorge Viana ( BA).Tarcisio Delgado (MG), Álvaro Dias (PR), Roberto Freire (PE), Jorge Uequed ( RG) e Evilasio Vieira senador (SC).

Pela Arena jogaram, dentre outros, Paulo Lustosa (CE), Hugo Mardini (RG), Paulo Guerra, João Carlos de Carli, Carlos Wilson , ministro da Previdência, Jair Soares.

Pouco tempo após essa partida, MDB e Arena deram lugar ao surgimento do pluripartidarismo. A Arena transformou-se em PFL e o MDB em PMDB. Alguns integrantes do grupo autêntico, comandados por Roberto Freire, fundaram o Partido Comunista Brasileiro-PCB. Sob o comando de Lula, Airton Soares, Eduardo Suplicy, Antônio Carlos de Oliveira, Edson Kahir e outros fundaram o PT. Com a Anistia ampla, total e irrestrita, os exilados e perseguidos políticos puderam retornar ao Brasil e à prática política. Estava pavimentada a estrada para a redemocratização do País.

A importante partida de futebol realizada num domingo pela manhã no campo gramado da revista Manchete em Brasília foi testemunha do encerramento, em confraternização, dos partidos políticos MDB e Arena, existentes durante a ditadura militar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rombo no BEG poderia ter sido maior

Pubicado na edição de 19/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Na reportagem concedida a Vandré Abreu, da editoria de Economia do Diário da Manhã, na edição de sábado, dia 14 de agosto de 2010, o ex-presidente do Banco do Estado de Goiás Walmir Martins de Lima apresenta sua defesa frente as acusações que lhe pesam pelo rombo ao BEG, de R$ 1,35 bi. Sob seu comando aquela instituição financeira teria realizado verdadeiro festival de ações irresponsáveis. Uma melhor explicação deve ser prestada pelo ex-presidente.

O primeiro questionamento já foi feito por um dos acusados como responsável pelo rombo, o ex-governador Maguito Vilela: “ por que Walmir Martins só faz a denúncia agora, onze anos após a venda do banco? Qual o interesse do denunciante em botar a boca no trombone, em plena campanha eleitoral?” Não concordando com o uso político criminoso do Banco do Estado de Goiás, por governantes estaduais, enquanto foi diretor comercial da instituição de 1991-1994 e seu presidente de 1995 a janeiro de 1999, por que Walmir não deixou o banco e denunciou os governantes que, segundo afirma, o obrigavam a cometer irregularidades?

Segundo a reportagem, em seu livro Os coveiros do BEG, Walmir Martins de Lima afirma que as empreiteiras que executavam obras no Estado deviam ao banco, em 4 de novembro de 1966, a expressiva quantia de R$ 28.669.642,92, enquanto a dívida do governo às empreiteiras do Dergo, no período de 1991 a 1994, bancadas pelo BEG, correspondia R$ 38.807.965,37. Disso se conclui que a empreiteira executava a obra, mas como o Dergo não pagava, recorria ao BEG e obtinha empréstimos que, em quase sua totalidade, depois de vencidos, não eram pagos, sendo provisionados.

Ainda segundo Walmir Martins, o verdadeiro rombo do BEG chegou a mais de R$ 1,35 bi. Só da dívida mobiliária foram R$ 738 milhões. Mais US$ 180 milhões em dívidas de antecipação de receita orçamentária ao Tesouro estadual, em empréstimos não honrados e adiantamentos a depositantes (pagamentos de cheques sem fundos) a orgãos do Estado, provisionado no período de 1983-1986. Com empreiteiras a dívida em 1999 chegou a R$ 40 milhões...

Fosse lícito proceder como a diretoria do BEG procedeu, de acordo com o narrado no livro do ex-presidente da instituição Walmir Martins, teria havido incompetência da diretoria do banco, no governo Henrique Santillo. Por ser extremamente ético e zeloso, Henrique terminou sua administração amargurado pela crise financeira que abalou a estrutura do Estado. Crise originária na falta de respeito de José Sarney ao governador de Goiás e mesquinharia política de Collor de Melo.

Quando foi lançar o Programa de Pavimentação Municipal – PPM, Henrique Santillo conversou e recebeu sinal verde do presidente Sarney, em financiá-lo pela Caixa Econômica Federal. Passadas as eleições, o presidente da República não honrou a palavra empenhada. Usou mil e uma desculpas para não realizar o empréstimo. As empresas credoras queriam e precisavam receber do Estado. O governador usou do único expediente legal que dispunha: emissão de Letras do Tesouro Estadual. Saldou todos os compromissos do Estado com as empreiteiras, sem comprometer sua estabilidade financeira. O Banco do Estado de Goiás foi o avalista das letras que venceriam a longo prazo.

Fernando Collor ao assumir a presidência proibiu que Estados e municípios emitissem Letras do Tesouro. Tornou nulas as já lançadas ao mercado. Henrique Santillo, para não prejudicar o BEG, avalista das letras que emitira, as resgatou dentro da sua administração. Para isso usou grande parte do Fundo de Participação do Estado – FPE. Enormes parcelas eram retidas pelo Banco Central, mensalmente, dentro do curto espaço de tempo que ainda dispunha como governador. O valor total das letras foi pago pelo governador Henrique Santillo. Ficou sem recursos para bancar as mínimas despesas da máquina administrativa, no dia a dia.

Tivesse Janides Fernandes, presidente do BEG no seu governo, recebido crédito podre das empreiteiras, sem nenhum valor, lhes fazendo vultosos empréstimos desprovidos de garantia, o BEG se endividaria, quebraria mesmo, mas o governador terminaria seu governo sem crise financeira. Como garantia bastaria a promessa dos empresários, “quando o governo pagar, eu pago ao banco.” Isso teria ocorrido na gestão Walmir Martins de Lima, de acordo com seu próprio relato em Os coveiros do BEG. Fizesse como outros fizeram, Santillo não enfrentaria a tormenta que enfrentou. O “mico” seria apenas mais um escândalo a ser contabilizado nos prejuízos do Banco do Estado de Goiás. Seriam alguns milhões de reais à mais no seu rombo bilionário, final. Coisa normal no entendimento dos que não têm compromisso com a seriedade administrativa. O ex-presidente Walmir Martins de Lima disse que o BEG sempre foi usado políticamente pelos governadores. Janides Fernandes não usou indevidamente o BEG como moeda de troca, negociatas ou motivação política. Prova que no governo Henrique Santillo o BEG não se envolveu em negócios nebulosos, escusos e nocivos à sua saúde financeira.

domingo, 15 de agosto de 2010

A rodinha do café

Publicado na edição de 15/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Geralmente, aos sábados, vou tomar café na pastelaria do David Bispo, no Mercado Municipal, em Anápolis. É a turma da Rodinha do Café. Só não discutimos assuntos da época de Dom Pedro II, Santos Dumont ou Rui Barbosa. Conversamos sobre tudo que acontece no mundo. Desde os assuntos municipais às questões internacionais. O professor Watison Ferreira é o que sempre traz ao debate as questões do Irã, Estados Unidos, China, Índia, Paquistão, Iraque e outros países em que os acontecimentos políticos e econômicos se alteram em alta velocidade.

João Divino Cremonez, que estourou uma das mãos quando soltava foguetes por ocasião que o prefeito Raul Balduino inaugurava o asfalto da Avenida Goiás à Vila Fabril, prefere contar aventuras sobre pescaria. Como bom pescador, anda sempre acompanhado do Aluisio, que compulsoriamente é forçado a confirmar as aventuras narradas pelo chefe, no clássico estilo Pantaleão e Terta, de Chico Anísio. Aluísio, o Mosquito, é motorista do carro de som do Cremona.

Oscar Luiz de Oliveira exerce o papel de revisor dos casos contados, aventuras narradas e conceitos emitidos. Advogado consagrado, ex-procurador jurídico da prefeitura, culto e intelectual, com diplomacia, sem causar ressentimento ou mágoa aos companheiros, coloca em ordem os fatos expostos nas discussões. Oscar é sobrinho do saudoso professor João Luiz de Oliveira, ex-prefeito de Anápolis.

O futebol dos anos 50 é discutido com conhecimento e competência, por Glicério Mellazo. Um dos maiores goleadores do futebol anapolino na sua época do amadorismo. Glicério, o principal atacante do Ypiranga, ao lado de Carlinhos e Paulo Choco, pertencentes ao Anápolis, se revezavam na artilharia dos campeonatos organizados pela Liga Anapolina de Desportos.

Num desses encontros semanais, Glicério foi questionado sobre qual seu melhor momento como atleta. Sem ter que puxar pela memória, disparou:

- Foi quando servi ao Tiro de Guerra 53! Sem dúvida em 1955 foi quando marquei mais gols. Os gols mais bonitos da minha carreira são da época de atirador.

- Por que dessa vinculação de serviço militar com sua carreira esportiva? Indagou alguém da Rodinha.

- Porque foi a época que mais me preparei fisicamente. Eu, como os demais jogadores da minha época, gostava de jogar futebol. Quando marcavam treino físico, fazíamos corpo mole. No TG, não. A gente tinha que atravessar o pântano que existia entre a Avenida Goiás ao encontro dos córregos das Antas com João Cesário, ao lado do Ginásio Internacional, atolando na lama, sendo cortado pelo capim navalha. Determinação do tenente Ataíde e sargentos instrutores. Não havia moleza. Ganhei grande preparo físico. Isso serviu para que marcasse muitos gols.

David Bispo, torcedor fanático do Anápolis, o Galo da Comarca, vai servindo o café, pão de queijo e pastel, ouvindo tudo e confirmando ou desaprovando o que é dito, com simples aceno de cabeça. David está com seu café no mesmo local desde a fundação do Mercado Municipal. Enche-se de orgulho e satisfação quando seus frequentadores o classificam de o “dono do Café Central” de Anápolis. Quando ia a Goiânia para assistir jogos do Anápolis contra Atlético, Goiânia e Goiás, David fazia questão de passar pelo Café Central, na Avenida Anhanguera. Lá os acontecimentos mundiais eram renovados a todo instante. Como na internet o assunto de agora, dois minutos depois já estava superado, mesmo com a precariedade dos meios de comunicação existentes à época.

domingo, 8 de agosto de 2010

Despacho do Divino Euripedes

Publicado na edição de 08/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Divino Euripedes Batista, o Curiango, assim como meu amigo Ronnie Baptista Soares e muitos outros Batista, são integrantes de uma das famílias mais tradicionais de Anápolis. Sua maior referência foi Zeca Batista, o fundador de Anápolis. Curiango, o popularíssimo Curi, nasceu no Bairro Jundiaí, casa próxima à Praça dos Trabalhadores. Seus pais eram fanáticos pela cidade. Tinham tanto orgulho de Anápolis, que esmeraram-se nas ações e emoções, conseguindo que Curi nascesse no dia 31 de julho. Data da Emancipação Política do Município. Divino Euripedes quando jovem praticou intensamente o futebol. Meio campista cobiçado por todos os times varzeanos do Jundiaí. Hoje é tido como o “homem que evitou o desaparecimento do campo Barro Preto.”

O Barro Preto fica na quadra residencial mais valorizada da Vila Santa Maria de Nazareth. Única área de lazer da região. Pertencia ao médico Ivan Roriz, que por generosidade admitia que fosse ocupada como campo de futebol. Por ser área nobre e grande, sempre foi cobiçada por todas as imobiliárias locais. Assim que as lideranças da região foram informadas que o Barro Preto iria desaparecer, Curiango foi com dezenas de dirigentes esportivos da Santa Maria e outros bairros, ao meu gabinete, na prefeitura municipal. Pediram-me que impedisse a venda da área. Desapareceria único ponto de união e confraternização dos habitantes da região. Graças ao empenho e liderança do Divino Euripedes, fizemos sua permuta por outra área. Garantimos o Barro Preto aos barropretanos. Tem sido palco de grandes e emocionantes partidas de futebol.

Na década de 60, clássico no Jundiaí, era entre Serraria e Castilho. Equipes pequenas que disputavam campeonato patrocinado pela Liga Anapolina de Desportos. A rivalidade entre elas era tão grande quanto a de Anápolis x Anapolina ou Ypiranga x Anápolis. Mexia mesmo com o sentimento dos torcedores que residiam das proximidades da estação ferroviária de Engenheiro Castilho, no Jundiaí Industrial à Santa Maria de Nazareth.

Num desses clássicos, a diretoria do Castilho foi informada que num terreiro de Umbanda, existente na Vila Santa Terezinha, havia uma fotografia do seu time completo, espetada por enorme agulha de crochê, de cabeça para baixo, na parede da sala. A descrição da cena impressionou a toda equipe e torcedores do Castilho. Os dirigentes preocupados com apavoramento dos seus atletas e torcedores, trataram de encontrar a maneira de minimizar o problema. Queriam principalmente recuperar psicologicamente o astral dos jogadores.

Procuraram Curi que era amigo do chefe do terreiro. Embora muito católico, Curiango conhecia e era amigo dos chefes de todos os terreiros da cidade. Narraram-lhe o drama que viviam. Precisavam de contra-ofensiva eficaz e imediata. A convite foi à reunião com jogadores e torcedores, na noite de sexta feira que antecedia o grande clássico do domingo. Ao chegar foi logo presenteado com um frango índio, colocando-o sob o braço. Aplaudidíssimo, Divino Euripedes se emocionou. Chorou de alegria. O frango assustado se mexia para fugir do sufoco.

O dirigente da reunião teceu elogios ao Curi. Falou dos compromissos dele com a vitória do Castilho:

- Curi é nosso amigo e vai acabar com a macumba encomendada pelos nossos adversários. (aplausos). O despacho do retorno, será à meia noite de hoje, na principal encruzilhada da região. (aplausos). Vamos fazer a macumba virar contra o macumbeiro! Aplausos calorosos e intermináveis.

Encerrada a apresentação da grande estrela da noite, Curiango falou em voz pausada e firme:

- Obrigado pela homenagem. Obrigado pelas palavras e conceitos sobre mim, ditos pelo Zé das Velhas.

- Você merece! Disse a platéia de forma uníssona.

- Mais uma vez obrigado. Gosto de vocês. Lamento estejam apreensivos e temerosos. Para mim o temor de vocês é motivo de alegria e satisfação. Sou torcedor convicto do glorioso Serraaaaría...

Teve que sair escoltado pela polícia que passava no momento pelo local. Foi comer frango à caçarola, com diretores do Serraria.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Waltinho, um exemplo de coerência política

Publicado na edição de 05/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Na primeira eleição para a Câmara Municipal de Anápolis com candidatos do MDB e da Arena, em 1966, dez dos vereadores eleitos pertenciam ao MDB, e cinco, à Arena. Foi nesse pleito que Henrique Santillo iniciou sua carreira política, sendo o vereador mais votado. Valmir Bastos, o mais dinâmico e competente vereador de todos os tempos no município, ficou na quarta suplência do MDB. Antes de encerrada a legislatura em 1970, Valmir Bastos Ribeiro se tornou titular. Quatro emedebistas – João Furtado de Mendonça, Adão Mendes Ribeiro, João Luiz de Oliveira e Oscar Miotto – faleceram durante a legislatura.

Com o falecimento de Adão Mendes Ribeiro, a maior liderança do partido em Rodrigues Nascimento, hoje Campo Limpo de Goiás, convidei Walter Gonçalves de Carvalho, morador daquele distrito e funcionário público municipal, para que se candidatasse a vereador, em 1970. Waltinho, por ser prestativo, extrovertido, desportista e profundo conhecedor de todos os moradores da região, não teve dificuldade em se eleger. Exerceu mandato de vereador por sete legislaturas. Durante 30 anos, representou o povo de Campo Limpo, na Câmara Municipal. Só deixou a vereança após a emancipação política de Campo Limpo, em 1997.

Assim que se elegeu, Waltinho chegou à secretaria da Câmara. Para a presidência, Antônio Marmo Canedo (MDB), e Valmir Bastos (MDB) para a vice presidência. Canedo faleceu no exercício do mandato. Valmir Bastos, o vice presidente, foi impedido pela maioria arenista de assumir o cargo. Para forçá-lo à renuncia, o prenderam várias vezes com a conivência das forças policiais repressoras. Como único membro da mesa presente às atividades, coube a Walter Gonçalves presidir as sessões. Evitou que afastassem, pelo golpe, o prefeito Henrique Santillo.

Os cinco arenistas, reforçados por três do MDB que eram comandados pelos adversários do prefeito dentro do partido, queriam afastá-lo das funções por meio da Câmara Municipal. Aproveitaram-se da morte de Marmo Canedo para a aplicação do golpe. Prenderam Valmir Bastos, sob a alegação de não ser ele preparado para exercer a presidência. Elegeram ilegalmente o mais idoso para comandar a mesa, montando processo fajuto contra Henrique Santillo. Sete vereadores leais ao prefeito passaram a se reunir no prédio da antiga biblioteca Zéca Batista, na Praça Americano do Brasil, sob a presidência de Waltinho. Os golpistas se reuniam no prédio da Câmara Municipal, situado à Rua Barão do Rio Branco. O juiz Clementino de Alencar considerou como única e legal a Câmara presidida pelo secretário, Walter Gonçalves de Carvalho. Pressionaram e o ameaçaram de todas as formas, mas Waltinho não se intimidou. A tudo resistiu. Só se afastou da presidência quando Valmir Bastos foi libertado. Essa é uma página importante da história escrita pela resistência democrática em Goiás.

Com a emancipação política de Campo Limpo de Goiás, Waltinho teve que se afastar da atividade política anapolina, ficando na cidade que sempre lhe apoiou. Como prefeito municipal, tem se constituído em extraordinário administrador. Ao assumir o posto em 1° de janeiro de 2009, encontrou uma prefeitura desorganizada. Concurso público municipal, realizado pelo antecessor alguns dias antes de deixar o cargo, efetivou os comissionados. Não lhe restou espaço para nomear sequer seus secretários. Com habilidade, dentro do seu espírito de homem público experiente e democrata, Waltinho é hoje aplaudido por todos. Com minoria na Câmara Municipal, tem vencido todos os obstáculos com o apoio total da população. Em quase todas as sessões da Câmara Municipal, uma multidão comparece se transformando na bancada do prefeito. Graças a isso, os entraves políticos vão sendo resolvidos. Waltinho já é reconhecido como o prefeito que possui a maior bancada de apoio: o povo. A população faz parte da sua administração.

domingo, 1 de agosto de 2010

O espinafre revigorante

Publicado na edição de 01/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Sempre gostei muito de futebol. Deixava de ir à escola para treinar com o Flamengo, no campo que ficava entre Visconde de Itauna e Benjamim Constant, no bairro São Jorge, ou com Araguaia, na Coréia, avenida Souza Ramos, na Vila Santa Isabel. Meu sonho era jogar pelo Ypiranga. Em 1957 fiz parte da sua equipe juvenil ao lado de Pepey, Zanone, Roberto, Roosevelt Guerra, Dada, Ronaldo Pistolinha, Euripinho, Roldão e Teotônio Brandão. Nosso técnico era Anastácio Ferreira Barbosa. A rapaziada alvinegra era imbatível. Em 1959 juntamente com mais quatro ou cinco juvenis fomos para a equipe titular que ganhou o campeonato daquele ano.

A maior satisfação, gloria, de qualquer atleta do futebol goiano naquele tempo, era jogar contra o Goiânia Esporte Clube. Derrotá-lo se constituía em proeza para poucos. A primeira experiência que tive num confronto assim, não foi nada confortante. Jogamos contra os juvenis de Goiânia, num jogo noturno no estádio Pedro Ludovico. Nossa seleção anapolina dos novos, perdeu para a seleção juvenil goianiense, à base do Goiânia, por 9 x 0. Alguns dias após essa humilhante derrota o Ypiranga recebeu a equipe vencedora, na festa de colocação de faixas de campeão anapolino de 59. Vingou o futebol anapolino derrotando a seleção goianiense por 2 x 1, no estádio Manuel Demóstenes.

Com a conquista do campeonato anapolino, o Ypiranga disputou o estadual vencendo a equipe do Ceres , no Vale do São Patrício, por 1 x 0. Em seguida enfrentou o todo poderoso Goiânia Esporte Clube no estádio Manoel Demóstenes. Goiânia contava, dentre outros, com Uberaba, Manduca, Cisquinho, Foca, Salsicha, Lili, Osmar e outros consagrados craques do futebol goiano.

As acanhadas depedências do estádio estavam superlotadas. O Goiânia dominava a partida. Quem marcou primeiro foi o Ypiranga, numa jogada bem tramada de Glicério, Guerrinha e Edson Galdino. Em pouco tempo Foca empatou, para Salsicha fazer 2 x 1, no minuto final do primeiro tempo. No intervalo, nós os mais novos da equipe Ypiranguista, fomos ao Botéco do Zé, reforçar nossas energias, com uma dose de capilé. Fazíamos isso desde a época que atuávamos no juvenil. O Boteco do Zé ficava do lado de fora do muro do estádio Manuel Demóstenes. Uma abertura feita no muro servia de balcão para que o público interno fizesse suas compras de bebidas alcoólicas, refrigerantes, quitandas e salgados.

Pepey, Zanone, Roberto, outros atletas e eu, sabiamos que o capilé, por ser um melado de açúcar, repunha as energias perdidas. Já era nosso hábito proceder dessa forma. Só depois íamos para o vestiário receber as instruções técnicas.

Euripinho, o mais completo driblador da nossa equipe, só se aproximava do Botéco do Zé depois que havíamos saído. Nunca tomou o capilé ao nosso lado. Nesse dia fiquei um pouco para trás e ainda o vi pedindo ao Zé:

- Quero o espinafre revigorante!

Pegando a garrafa, Zé colocou o líquido no copo e lhe entregou. Não deu para que eu pudesse perceber o que era o espinafre revigorante, pois me encontrava relativamente distante do botéco. Só sei que não era capilé. Nós que sempre tomávamos capilé, não tínhamos o habito de dar “dose para o santo.” Não retorcíamos o corpo fazendo careta. Não estalávamos o dedo indicador dando chicotada, conforme fizera Euripinho. Aguardei seu retorno para irmos ao vestiário:

- Euripinho, que é espinafre revigorante? Perguntei.

- Capilé misturado a groselha! Respondeu.

- Os dois não são a mesma coisa? Indaguei.

- Misturados produzem efeito multiplicador. Ressaltou.

No segundo tempo, bastante vermelho, suando por todos os poros, lépido e endiabrado, Euripinho desequilibrou a partida. Marcou em pouco mais de 15 minutos, dois gols que nos deram a vitória por 3 x 2. Ao final do jogo, sem teste anti-doping, Euripinho nos disse de forma espontânea que espinafre revigorante era o nome da cachaça artesanal fabricada pelo Zé.